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Versão 1.2 – 24/09/2013
(original: 12/09/13)

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Como vimos neste post,  a forma como construímos a verdade é a espinha dorsal do modelo das sociedades humanas. A produção da verdade, entretanto, não é fixa, muda por vários motivos  (muitos já estudados) e de forma radical  (ainda não estudado de forma profunda) quando temos uma Revolução Cognitiva. Para entender o que muda com a chegada da Internet, precisamos reproblematizar o tema.

Podemos entender verdade como as ideias hegemônicas que circulam pela sociedade e que vivem em tensão entre diferentes pontos de vista, mas ganham um ar de hegemônica.  Podemos dizer, assim, que as verdades aceitas são aquelas que vão basear a tomada de decisão.

As verdades, entretanto, não voam na sociedade.

Elas são distribuídas por uma tecno-aparato produtor das verdades que se estrutura ao longo do tempo moldadas por:

  • – contextos sociais, políticos e econômicos de cada época, região ( isso já foi bem estudado);
  • – pelo ambiente cognitivo de plantão, que pode controlar com mais ou menos intensidade essa produção (isso fica mais claro agora pós Revolução Cognitiva);
  • – pelo tempo de uso de um dado ambiente de produção que vai se tornando viciado;
  • – e pelo aumento da complexidade da espécie, principalmente pelo aumento demográfico que aumenta a latência pela sofisticação da produção da verdade.

É preciso criar uma anatomia da produção da verdade, de uma forma nova, pois estamos lidando com algo que era fixo e agora entra em movimento, portanto precisamo fotografar de novo para, só então, apresentar como ela é construída, através de processo produtivo tangível e intangível.

Podemos desenhar esse processo da seguinte maneira.

Temos o aparato da verdade, que cria três instâncias, escola, mídias e empresas públicas e privadas, que detalhei aqui. Este aparato se divide em duas camadas:

  • a cultural – que define como as verdades serão distribuídas, de uma forma mais ou menos centralizada (monoteísta e politeísta);
  • e a física (topológica) – quais são as redes e os canais, a partir das tecnologias cognitivas disponíveis, que podem ser usadas pela sociedade.

Na camada cultural, temos duas possibilidades:

  • A monoteísta – mais centralizada, que marca o fim de uma Era Cognitiva, a partir de uma Revolução Cognitiva, dentro de um movimento de pêndulo cognitivo em um processo de contração.
  • A politeísta – mais descentralizada, que marca o início de uma nova Era Cognitiva. a partir de uma Revolução Cognitiva, no mesmo movimento em um processo de expansão.

 

 

 

Versão 1.2 – 25/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

AVISO: COLOQUE ASPAS EM TODAS AS VERDADES DESTE TEXTO, OK?

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Verdade: O que é real ou possivelmente real. (Wikipédia).

Toda espécie seja humana ou não, precisa de “verdades”, pois é das verdades estabelecidas que tomamos decisões. Uma baixa qualidade de verdades nos leva a tomadas de decisão menos eficazes, o que causa mais sofrimento.

O aparato de produção da verdade, portanto, é algo fundamental para que uma sociedade possa sobreviver e ir ganhando melhor qualidade.

O aparato da verdade não funciona no vazio, pois não somos AINDA uma espécie telepata, que se comunica por pensamentos. Somos, aliás, uma tecno-espécie dependente de órteses tecnológicas.

Precisamos, assim, de um aparato tecno-cognitivo, que começou de forma biológica com a fala e depois, conforme fomos crescendo e nos espalhando, fomos sentindo necessidade de criar novas órteses para estabelecer as nossas verdades, tal como a escrita (manuscrita, alfabética e impressa), o rádio, a tevê, o computador e agora a Internet.

Se fôssemos uma espécie planejada, controlada, obediente, como é, por incapacidade cognitiva, a maioria dos outros animas, poderíamos viver com um modelo fixo de aparato produtivo da verdade, que nos leva a um modelo de governança da espécie. Porém, não somos esse tipo de espécie. Somos a única que cresce indefinidamente. E por causa disso a única que muda a forma de criar verdades e o jeito de como tomamos decisões ao longo do tempo.

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E, para isso, precisamos desenvolver e aperfeiçoar, pela ordem, novas tecnologias cognitivas que nos permitam administrar melhor a produção da verdade, tomar melhores decisões, aperfeiçoando, assim, o modelo de nossa governança da espécie, procurando taxas de sofrimento menor (bandeira de luta de qualquer líder legítimo). 

Portanto, vamos tentar traçar uma anatomia experimental do que seria uma governança da espécie sob este novo ponto de vista, apresentando a figura abaixo:

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  • A sociedade escolhe, aceita, com mais ou menos satisfação as autoridades da verdade e das decisões, aqueles que terão a capacidade de produzir verdades tangíveis e intangíveis na sociedade;
  • Tais verdades viram decisões, produtos, serviços, leis, aulas, reportagens, etc;
  • Que geram consequência para toda a sociedade, com respectiva taxa de sofrimento, o que nos permite (apesar da dificuldade que é esse tipo de medição) avaliar o sofrimento causado (que sempre terá uma forte subjetividade;
  • A partir deste sofrimento, que define a qualidade de vida, sobrevivência do grupo, podemos medir uma taxa da qualidade das decisões das verdades e decisões, o que, por sua vez nos leva a avaliar as autoridades de plantão;
  • Por fim, há uma taxa de retroalimentação das verdades, com novas verdades que podem apontar falhas e erros, bem como procurar mudar as autoridades, renovando o ambiente.

Como a produção da verdade é dependente de um tecno-aparato um item importante para que o ambiente esteja em melhor equilíbrio é a capacidade do aparato em permitir uma taxa mais alta de retroalimentação, que possa alterar autoridades e verdades hegemônicas.

Como vimos no impasse demográfico cognitivo, todo o ambiente começa a ter problemas se há um aumento da população, pois o tecno-aparato começa a perder qualidade das decisões, pois a retroalimentação das verdades e das autoridades e, por sua vez, das decisões tomadas vão perdendo qualidade, gerando cada vez mais sofrimento.

Uma revolução cognitiva, em última instância, visa reequilibrar tal ambiente, permitindo, principalmente, uma maior retroalimentação do ambiente, criando possibilidade de renovação das autoridades e dos métodos que usam para chegar às verdades, disseminá-las, tomar decisões e receber feed-back.

A governança da espécie, portanto, se recicla para produzir verdades mais verdadeiras e decisões que causem menos sofrimento, criando critérios de retro-alimentação para que isso possa ser feito de forma mais sistemática.

Uma crise da governança, portanto, aponta para:

  • – Autoridades que produzem verdade e tomam decisões de baixa qualidade (com aumento de taxa de sofrimento);
  • – Baixa retroalimentação que permita novas verdades de mais qualidade e a reposição das velhas por novas autoridades mais comprometidas com a taxa de sofrimento.

 

Versão 1.0 – 11/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Muitos pesquisadores da Antropologia Cognitiva (mesmo que eles não se chamem ou chamavam assim) desenvolveram a ideia que os meios eletrônicos rádio e televisão foram a oralidade secundária.

Tivemos a primeira, até o surgimento da escrita há 6 mil anos, na qual tivemos o que Eric Havelock chamou de fase inicial do “perito-letrado” – uma escrita elitizada até os dias de hoje . (Ver mais no livro Revolução da escrita na Grécia”). Uma longa fase da escrita com diferentes momentos, incluindo a prensa, a partir de 1450, no mundo ocidental.

Depois, tivemos a tal oralidade secundária com o rádio e TV, como um conceito de um retorno ao oral sob novos marcos.

A Internet podemos dizer que seria uma terceira oralidade, pois permite a transmissão de imagens e áudio, além de podermos até falar em uma escrita oralizada.

Podemos dizer que a característica básica da oralidade é a de permitir a troca entre pares, via fala.

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A fala, diferente da escrita, permite a troca rápida, no mesmo local e a interferência constante de um no discurso do outro, teoricamente, pois existem espaço como em um tribunal ou em uma sala careta que isso é possível, mas não permitido.

A fala é mais líquida, não registrada, a não ser mais recentemente.

A escrita veio sofisticar, por necessidade, a fala.

O problema principal da escrita foi o jogo do perde-ganha.

Ganhamos a diapasão do discurso de um lugar para outros sem o autor presente.

Porém, pagamos o preço dele ser fechado e com dificuldade de mudança.

Isso marcou a nossa espécie.

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A segunda oralidade que permitiu o retorno da voz a distância, entretanto, manteve, por incapacidade das tecnologias o discurso fechado de um emissor central para as pontas.

A segunda oralidade manteve o que tenho chamado de monoteísmo cognitivo, ou seja, um emissor de fora, que profere uma “mensagem sagrada” com a qual temos apenas uma relação de recepção e não de interferência.

Sim, podemos pensar o digital como um certo retorno a uma terceira oralidade, com as seguintes características:

  • – a produção coletiva de textos líquidos, passíveis de mudança, como um discurso oral;
  • – o fortalecimento pelo baixo custo e diversidade de informações orais, via áudio e vídeos, principalmente pelo Youtube;
  • – as trocas constantes entre pessoas em espaços distintos, principalmente, pelo Facebook;
  • – a forte interação em tora a Internet, pós mídias sociais.

Temos agora na terceira etapa a oralização digitalizada com a característica de termos tudo gravado. Ou seja, é mais líquida e deixa rastro, o que nos leva a uma flexibilidade maior e uma privacidade menor.

Vide espionagem como um problema central entre estados.

Bom, é isso, depois desenvolvemos mais.

Que dizes?

Versão 1.0 – 11/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Há uma certa confusão sobre fazer pesquisas de maneira geral e, em particular, no Brasil.

Quem faz pesquisa hoje no Brasil, de maneira geral, é um pesquisador de campo que coleta dados.

Uma pesquisa levanta um conjunto de dados e chega a alguma conclusão específica, mas não faz teoria, apenas repete a teoria alheia, baseada em um dado contexto filosófico. 

Não sei se as regras hoje de produção científicas no Brasil, suas formas, normas permitem a realização de teorias. É preciso uma certa liberdade para se criar novas teorias, que o inóspito atual ambiente não permite.

Podemos, entretanto, dizer que:

Um teórico é aquele que, basicamente, procura relações entre forças dentro de certos contextos para entender os equilíbrios e desequilíbrios de um determinado fenômeno em movimento. 

É diferente de um pesquisador de campo, que:

Aquele que coleta dados baseado em uma dada teoria já pronta.

Ou de um filósofo:

Aquele que organiza modelos de pensamento para permitir o desenvolvimento de teorias e metodologias, a posteriori, baseados em uma dada concepção do ser humano.

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Na “cadeia alimentar” da Ciência teríamos, então:

  • Os filósofos – que trabalham com adequação de linhas de pensamento, base para qualquer teoria;
  • Os teóricos – que trabalham com linhas de pensamento filosóficas, base para qualquer pesquisa de campo;
  • Os pesquisadores de campo – que trabalham com as teorias.

(Temos nesse meio os metodológicos, aqueles que criam as metodologias a partir das teorias, vou ver um lugar para encaixá-los depois.)

Ao se analisar um dado registro produzido com fim científico, principalmente na área humana, portanto, é possível classificar em que nível se trabalha e em cada um deles qual é a corrente ou as multi-correntes que abraça.

É isso, que dizes?

Versão 1.0 – 11/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Sequência deste post.

Vimos que há dois tipos de crises, as conjunturais, passageiras, que não deixam tantas marcas nos hábitos e as estruturais, que são definitivas, que nos obriga a mudá-los.

Vamos falar agora de dois tipos de crises estruturais.

  • As crises estruturais conhecidas – aquelas que já há teorias e filosofias disponíveis;
  • E as crises estruturais desconhecidas – que, além de tudo, exigem o desenvolvimento de novas teorias e filosofias. 

Temos como hábito, a priori, chamar toda crise de conjuntural, de que logo vão passar.

Temos dificuldade de encarar crises estruturais por natureza ainda mais aquelas que não temos teorias e filosofias prontas. Temos que inventá-las!

A Aids, por exemplo, foi uma pandemia que gerou uma crise estrutural, pois foi um vírus completamente desconhecido, com forte poder letal, alterando fortemente os hábitos e criando uma emergência em função das mortes que provocou.

Houve um esforço intelectual muito grande por parte de um conjunto grande de pesquisadores para:

  • Filosofia – admitir que se devia ter um pensamento diferente em relação à doença;
  • Teoria – compreender as forças envolvidas e como se relacionam;
  • Metodologia – chegar a uma nova metodologia, que é o tratamento em si, começando, só então, a reduzir mortes e preservar os já infectados com mais tempo de vida.

Temos dois autores que lidam com crises estruturais desconhecidas.

Thomas Kuhn e Gaston Bachelard.

Bachelard.

Bachelard.

De forma diferente, ambos definiram que temos em algum momento uma dada crise que as ciências de plantão precisam se reinventar de alguma modo.

O que nos leva a uma dupla crise.

  • A crise do fenômeno em si – que ocorre e precisa ser diagnosticado para ser tratado, pois vai alterando hábitos de forma radical e gerando sofrimentos inesperados;
  • E uma crise da visão (ou das ciências) – que não tem instrumentos para compreendê-lo e poder tratá-lo.

O que há nestes casos é uma procura de similaridade de abordagens e identificação na história de crises parecidas. No caso da Aids, certamente algo foi procurado nas pandemias da história, como a peste negra e algo de doenças transmissíveis pelo sangue/sexo, tal como a sífilis.

Podemos classificar a chegada da Internet como uma provocadora de crises sui-generis na sociedade, pois passou a tirar as organizações de seus velhos hábitos, obrigando-as a mudanças. Muitos gostariam que fossem incrementais, mas nos parece cada vez mais claro que são mudanças mais profundas do que imaginamos a princípio.

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É, portanto, importante diagnosticar a causa da crise, que por um conjunto de fatores não pode ser atribuída a uma longa carteira provocadora de crises que temos na gaveta, pois não é:

  • Uma crise econômica – pois as mudanças afetam a economia, mas não têm ali a sua causa principal;
  • Uma crise política – pois as mudanças afetam a política, mas não têm ali a sua causa principal;
  • Uma crise social – pois as mudanças afetam a sociedade mas não têm ali a sua causa principal.

Portanto, trata-se de uma crise provocadora de mudanças de hábitos de forma permanente e radical provocada por uma crise tecnológica específica. E o problema que temos nas ciências de plantão é de que há estudos sobre influências das tecnologias na sociedade, mas não em mudanças tão profundas, rápidas e radicais.

E isso nos leva a uma crise filosófica profunda, pois é preciso rever certas invisibilidades para que possamos compreender como algo assim é possível.

Precisamos rever como nos vemos, a partir das tecnologias para, só então, conseguir voltar para entender a atual crise estrutural que estamos vivendo.

Que dizes?

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Nosso cérebro procura sempre gastar a menor quantidade de energia possível. Por isso, criamos hábitos e ligamos o piloto automático para operar nas nossas vidas com o baixo desgaste cerebral.

Tudo que é estável nas nossas vidas tendemos a tornar invisível para nos preocupar só com aquilo que não nos deixa viver nossos hábitos. Porém, nem sempre o que consideramos invisível é estático. Nossa visão de mundo e forma de agir esbarra na vida, que bate na porta e nos diz que não é bem assim que a banda toca.

E aí reside o problema, pois não estamos olhando para os lados e acabamos picados por algo que achávamos ser uma pedra e era uma “cobra”.

Uma crise, sob esse ponto de vista, é algo que vem de um lado que não nos preocupava, não víamos, que era incapaz de nos tirar o sono e acaba por nos obrigar a mudar nossa forma de pensar e nossos hábitos, sair da caixa, da zona de conforto, o que nos exige mudanças provisórias ou definitivas.

Há sempre uma má vontade quando nos deparamos com crises, pois elas atrapalham aquilo que mais gostamos: viver sem gastar muita energia cerebral.

Temos uma vontade enorme de ficarmos seguindo na mesma direção, mas acredito que o piloto automático é bom na reta, mas não faz curvas.

Queremos desesperadamente voltar aos hábitos e, para isso, ou negamos a crise nos agarrando a eles ou procuramos resolvê-la para voltar à zona de conforto dos hábitos, que podem ser os antigos ou os novos, conforme o tamanho da crise.

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As crises, portanto,  podem ser provocadas:

  • pela continuidade de alguns hábitos –  que nos torna pouco flexíveis ou repetidores de práticas nocivas, onde se inclui também as crises existenciais de tédio e de vazio. Ex: uma doença por excesso de álcool, ou sal, ou chocolate;
  • ou por fatos novos externos aos nossos hábitos – que nos exigem uma mudança parcial ou definitiva. Ex: uma enchente, o aumento do aluguel, etc.

Podemos dizer, assim, que há crises e crises.

  • Há crises que são conjunturais e passageiras – aquelas que alteram temporariamente nossos hábitos, mas depois de sua passagem nos permitem voltar para eles, uma doença de baixo impacto é um exemplo típico.
  • Ou crises estruturais – aquelas que alteram definitivamente nossos antigos hábitos e que depois de sua passagem que não nos permitem mais voltar para os hábitos antigos, tal como uma doença grave ou a morte de alguém muito próximo (Veremos neste outro post que temos dois tipos de crises estruturais).

De maneira geral, toda vez que temos uma crise nossas velas e rezas pedem que seja uma crise conjuntural e passageira, pois não queremos alterar nossos hábitos, pois isso vai exigir esforço extra do cérebro e um tempo maior de dedicação para superá-la.

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A princípio, portanto, sempre tendemos a diagnosticar, por comodidade,  qualquer crise como passageira e conjuntural. E adoramos todos aqueles que nos apresentam esse diagnóstico e vice-versa.

As crises conjunturais e passageiras são tratadas sempre por uma baixa reflexão, com dedicação parcial, que nos leva a promover um ajuste pequeno em um dado hábito, provocando baixo esforço de energia do pensamento. Assim como crises estruturais e definitivas (paradigmáticas ou epistemológicas)  exigem mais tempo de reflexão, pois nos obriga a um ajuste bem maior, um alto esforço de energia do pensamento.

Um diagnóstico de uma crise é a tentativa de procurar saber de que tipo de crise estamos lidando e como superá-la, já sabendo que a tendência será sempre por optar por aqueles que apontem para crises conjunturais e não estruturais.

  • As crises conjunturais – geralmente são tratadas com pequenos ajustes metodológicos ou no máximo de baixo uso de teoria e filosofia;
  • As crises estruturais – são teóricas e filosóficas, pois exigem um novo olhar sobre aquilo que não considerávamos ser capaz de alterar nossos hábitos. Havia algo que nos levaria a mudar nossos hábitos, mas nós não sabíamos e é preciso repensar o que era invisível.

Portanto, podemos definir:

  • Mudanças metodológicas são indicadas para crises conjunturais, já que as metodologias lidam com crises dentro de um contexto teórico- filosófico inquestionável, muitas vezes invisível para se voltar a antigos hábitos.
  • Mudanças teóricas-filosóficas são indicadas para crises estruturais, já que as teorias e filosofias lidam com crises em contexto metodológico questionável, quando as práticas conhecidas não são capazes de lidar com a crise para se retornar aos novos hábitos.

Desenvolvi duas tabelas para ajudar nessa discussão:

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Que dizes?

Vou aplicar o conceito de crises na chegada da Internet.

 Versão 1.2 – 22/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

 

Versão 1.0 – 10/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Não se pode acreditar que nada vai mudar e nem que tudo vai mudar, de uma hora para outra, pois a construção da verdade é a mola principal que estrutura toda a sociedade. E é justamente isso que estamos mudando com a Internet.

O modelo atual de construção da verdade é baseado no modelo tecno-impresso-eletrônico, que tem duas características, como todos os modelos cognitivos que entram em obsolescência.

  • O tempo de uso – o período que durou e seu desgaste natural frente à novas complexidades;
  • A sua anatomia própria – que é o modelo suas qualidades e defeitos, independente seu desgaste.

Podemos dizer, assim, que se fosse possível isolar um país de todo o mundo e da influência da Internet, com um tamanho de complexidade similar, o atual sistema cognitivo impresso-eletrônico poderia se perpetuar ad-infinitum, pois tem seus méritos, não é melhor ou pior do que o atual, é ajustado para uma dada complexidade que não existe mais.

Entrou em obsolescência, pois há o tempo de uso, que faz com que as organizações tenham aprendido a se utilizar dele, criando um círculo vicioso, tornando o método de validação da verdade cada vez mais menos dinâmico, representativo e meritocrático, além de ser confrontado com o novo que surge e se massifica trazido pela nova tecnologia cognitiva.

É bom separar as duas coisas, pois o ambiente cognitivo é feito por um dado momento histórico, que acaba por moldar a sociedade. As suas qualidades mais dinâmicas, como ocorreu nos últimos 200 anos, permitiu um salto demográfico de 1 para 7 bilhões.

Foi justamente essa virtude, entretanto, que nos trouxe para a atual crise de obsolescência do modelo, em função da nova complexidade de 7 bilhões de almas  Não podemos, portanto, julgar ou avaliar o antigo sistema cognitivo e a atual sociedade (democracia/capitalismo) pela atual decadência, pois vamos ignorar o desgaste do tempo de uso e seus modelos criados para uma complexidade muito menor sem a atual alternativa para resolver suas crises.

Não se trata nem de uma crise do capitalismo ou da democracia, mas do modelo democrático e do capitalismo dentro de um ambiente cognitivo obsoleto. É preciso reinventar os três, a partir das novas possibilidades que o novo ambiente permite e essa é a construção que temos pela frente, separando o que deve ser preservado e o que deve ser alterado.

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Isso é muito importante para se pensar as novas alternativas, pois qualquer posição dogmática, livre de tensões contraditórias, seja pela manutenção do passado, ou a imposição do futuro, passa por um equilíbrio daquilo que deve ser preservado e o que deve ser alterado.

Por isso, o momento da crise de transição pede calma e cuidado.

Não se pode acreditar que nada vai mudar e nem que tudo vai mudar, de uma hora para outra, pois a construção da verdade é a mola principal que estrutura toda a sociedade. E é justamente isso que estamos mudando com a Internet.

Como vimos neste post, a base principal do processo de mudança passa pela nova possibilidade que temos agora de criar uma conversa nova e inédita entre tribos que não se falavam.

Há uma quebra da construção da verdade vertical por uma renovada conversa entre indivíduos que estavam isolados. Todos sabemos que o isolamento é o principal fator de loucura, neuroses e visões distorcidas da realidade.

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Assim, o primeiro passo para criar um método mais representativo da construção da verdade é a abertura dos canais do diálogo para que eles aconteçam no presencial ou a distância.

Não temos métodos, entretanto,  dentro do atual ambiente cognitivo para que este diálogo aconteça a distância a não ser que baseado no controle vertical de alguém que afere de cima para baixo a importância de uma dado texto, discurso, pessoa, vídeo, blog, etc…

Ou seja, é preciso abrir o diálogo a distância tal como comentários em jornais, mas é preciso que possamos aferir o que é relevante para o coletivo e o que não é. Nessa linha, é preciso inovar com o novo ambiente e é essa a sua principal novidade: a comunicação algorítmica ou química, que estamos imitando das formigas.

Ao visitar um dado registro/pessoa, clicando, de forma involuntária, ou curtir, estrelar ou comentar, um dado registro de forma voluntária estamos dando ao sistema, agora completamente digital e rastreável, a possibilidade de gerar um significado coletivo, antes impossível, através de algoritmos (a la Google) que podem, conforme o trabalho do gestor da plataforma, gerar mais relevância.

Esta é a base principal para que possamos construir uma nova verdade que podemos confiar.

Nada impede que os antigos validadores possam, de alguma forma, como é feito em vários sites, no qual se separa a indicação coletiva da feita pelos especialistas, agregar, para quem deseja, a opinião do antigo validador, sem perder a opção da avaliação coletiva.

Há, assim, algo a ser preservado e outro a ser profundamente alterado, só a sabedoria nos ajudará a separar os dois.

Que dizes?

 

 

Versão 1.0 – 10/09/13

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Continuação deste post.

A base de uma sociedade é a confiança e como ela constrói sua verdade, seja as intangíveis (ideias), seja as tangíveis (produtos e serviços).

A verdade é construída por organizações, que a sociedade, em um ambiente aberto com uma taxa de democracia maior, aceita que funcionem para lhes servir, dentro de uma tensão constante entre está servindo bem/não está e as formas que temos de regular essa insatisfação/possibilidade de mudança.

Sabemos que todo o dinheiro que temos no banco não é real, pois se houver uma corrida não haverá dinheiro para todos, mas acreditamos nos bancos, assim como no governo, nas escolas, nas empresas.

Estamos aprendendo agora que a construção das verdades tangíveis e intangíveis é moldado pelo ambiente cognitivo de plantão, pelos limites físicos das tecnologias cognitivas que temos disponíveis.

Assim, a verdade hoje é modelada pelo papel impresso e pelos meios eletrônicos.

O que eles dizem tem um peso social muito mais do que qualquer outro como algo que é verdadeiro. Pessoas que ali aparecem gozam de uma certa autoridade, pois são legitimados como pessoas importantes, “aquele que portam algo de relevante” para a sociedade.

Porém, como o que importa é a aparição nos canais controladores das ideias muitos que aparecem não portam nada de importante, a não ser a possibilidade de aparecer nos meios com baixa meritocracia.

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O que cria um fenômeno cada vez mais comum em um ambiente de ideias controladas de uma falsa-importância, aquele que não porta nada de relevante, mas é considerado relevante, pois tem visibilidade nos meios.

A crise de representação é bem isso: pessoas que acabam sendo consideradas importantes, que deveriam portar algo, mas não tem nada para aportar, a não ser a capacidade de estar, conseguir aparecer no canal, que lhe dá importância não pelo que porta, mas pelo aparecimento.

Somos inconscientemente viciados na falsa-importância, que vai se constituindo como modelo de construção das autoridades em todas as organizações, pois vai se espalhando na sociedade a baixa meritocracia para se conseguir status.

A baixa meritocracia cria uma autoridade que precisa se manter baseado não no que porta, importa, mas na capacidade de se tornar uma pessoa conhecida nos meios, seja eles quais forem, quem consegue lidar bem com a mídia, esvaziando lentamente o mérito e a importância das organizações.

Vivemos a crise do vazio da importância e da falsa importância.

Por aí, que dizes?

 

Versão 1.0 – 10/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Bom, vivemos o fenômeno da Revolução Cognitiva.

Há com a chegada de uma nova tecnologia cognitiva, uma abertura para trocas entre pessoas que antes não era tecnologicamente possível na intensidade que temos hoje.

Abaixo vemos a situação de como era estruturado o modelo de informação, com um centro (ou vários) muito potente, com baixa interação entre as diferentes tribos e baixo poder de promover a anti-narrativa hegemônica:

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Quando começamos a massificar a Internet há algumas mudanças na forma como o fluxo das ideias passa a circular na sociedade, note que as setas aumentam na troca horizontal, se reduz a força do centro e aumenta-se a possibilidade da contra-narrativa.

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Obviamente que as setas apontam apenas uma tendência, pois vai variar de país para pais, do estágio de cada região no acesso à Internet, etc.

Porém, esta realidade do crescimento da anti-narrativa é um dos fenômenos principais nas mudanças que virão na sociedade.

Note que temos algumas premissas aqui:

  • – avalio que o ser humano é egoísta por natureza, na linha de Kant e menos da de Rousseau;
  • – quando as organizações, formadas por nós egoístas, conseguem criar um fluxo vertical (com setas grossas de cima para baixo), com baixa taxa de controle social, a tendência é se voltarem para elas mesmas;
  • – o objetivo hegemônico passa a ser preservar o status quo e não mais servir à sociedade, mas se servir dela;
  • – cria-se uma narrativa hegemônica cada vez menos baseada em argumentos e na força do diálogo, mas na repetição, na propaganda, o que podemos chamar de baixa qualidade de narrativa, ou falsa narrativa;
  • E coloca-se isso no tempo continuado, o que vai gerando cada vez mais um empoderamento das autoridades de baixa meritocracia.

Assim, se estabelece uma crise de representação social, pois as organizações não passam mais a estar voltadas para os indivíduos, mas para seus próprios interesses de permanência.

Porém, o controle que mantinha a situação estável não existe mais.

Ou seja, não se pode mais manter o controle com a falsa-narrativa, precisa-se estabelecer atos de mudança concretos, pois o ambiente estava equilibrado, em função dos limites da tecnologia cognitiva anterior. Existia um desequilíbrio que agora começa a se equilibrar pró-sociedade.

Cresce a taxa de sofrimento, pois as organizações passam a uma maior taxa de geração e não mais de minimização de sofrimento.

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Todo o modelo de produção de bens tangíveis e intangíveis que era modelado por este fluxo vertical de cima para baixo precisa ser remodelado em um ambientem, no qual a sociedade se empoderou e exige um diálogo/atendimento mais equilibrado.

Todas a representação, bem como a escolha, manutenção, criação e preservação social se molda a esse modelo, que passa a ser questionado, pois a troca horizontal entre tribos que não conversavam antes, vai gerando uma nova narrativa, que pede argumentos mais lógicos e menos falsos.

É dessa discussão entre tribos que nasce a demanda da filosofia, do questionamento das verdades hegemonicamente estabelecidas.

O rei passa a estar nu, pois a sua vestimenta era uma falsa vestimenta, que permaneceu “verdadeira” enquanto durou o modelo de controle que era subordinado as características físicas das tecnologias anteriores hegemônicas: papel impresso, ondas de rádio e televisão, comum fluxo vertical e fechado de cima para baixo.

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Todo o movimento pós-papel impresso, a partir de 1450, foi nessa direção, a partir da criação de novas narrativas, que vieram questionar a verdade absoluta da monarquia e do clero, através do contato entre tribos dispersas, via papel impresso, quebrando o fluxo oral e a escrita manuscrita, não massificada, através de pensadores e revolucionários que construíram a nova ordem depois de 350 anos, estabelecendo a democracia e o capitalismo.

É o que estamos vivendo agora.

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 09/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Vimos neste post o problema do paradoxo cognitivo.

Temos, assim, em determinados momentos da história um momento de consolidação de um dado ambiente cognitivo, que tem seu ciclo de criação, consolidação e decadência. A decadência se deve ao tempo de uso versus o aumento de complexidade.

No momento que surge uma nova tecnologia cognitiva que descontrola as ideias inaugura-se a crise da transição. Anteriormente, havia uma crise difusa que se confundia com os modelos sociais, políticos e econômicos.

Não estava claro o suficiente que o DNA da crise, que é do próprio modelo cognitivo vigente, que parecia estático e imutável.

A chegada do novo ambiente cognitivo vai criando novas alternativas de produção de valor (tanto de bens como de conhecimento) que vai, aos poucos, demonstrando a crise cognitiva como o epicentro de todas as demais.

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A crise de transição pode, assim, ser caracterizada pelo início da chegada da nova tecnologia cognitiva descentralizadora e sua massificação.

Talvez, em duas etapas:

  • da sua fase inconsciente – pois não tínhamos ainda uma teoria que a compreendesse de forma mais clara;
  • de uma fase consciente – quando começamos a diagnosticar a crise e propor metodologias de superação.

Se analisarmos o passado, podemos identificar com mais clareza a crise de transição pós-papel impresso, que se inicia a partir de 1450 e vai até 1800 quando surge um novo modelo de governança, que permitiu a sociedade lidar melhor com a complexidade emergente. O final da crise culmina com a consolidação da democracia e do capitalismo, gestado entre filósofos, pensadores e revolucionários ao longo destes 350 anos.

O interessante, como temos insistido em demonstrar, foi que o novo modelo de governança permitiu uma sofisticação muito acentuada da gestão da espécie, possibilitando um salto demográfico como nunca havia ocorrido anteriormente (talvez em algumas civilizações antigas das quais ainda não tive registro) como vemos no gráfico abaixo:

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Hoje, ao estarmos em plena crise da transição já vemos os sinais da nova governança e a crise da anterior, mas tudo nos parece ainda muito enevoado, pois não temos ainda capacidade de ver com mais clareza o cenário como um todo.

Há mais inconsciência do que consciência.

Por enquanto é isso, que dizes?

Versão 1.0 – 09/09/13

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Podemos dizer que o estudo da Antropologia Cognitiva nos leva a um  paradoxo cognitivo similar ao que propôs Malthus com uma adaptação:

Um dado ambiente cognitivo se estabelece para lidar com uma dada complexidade que aumenta geometricamente, enquanto a capacidade de gerir aumenta aritmeticamente, levando ao ambiente ou toda a sociedade a uma crise de governança. 

Para que a crise seja superada é preciso uma nova tecnologia cognitiva que possa superar a limitação do ambiente cognitivo anterior, criando uma nova  governança para lidar com uma complexidade muito maior.

O ambiente cognitivo social vigente, prestes a ser modificado gradualmente, assim, vive três problemas:

  • o tempo de uso – que cria um círculo vicioso, de aprendizado de uso do individual em detrimento do coletivo das autoridades com baixa meritocracia que se estabelecem nas organizações de plantão;
  • a obsolescência – da baixa qualidade de governança diante  do aumento constante da complexidade, principalmente diante do aumento demográfico;
  • o surgimento de uma nova tecnologia cognitiva mais dinâmica – que denuncia o ambiente anterior e apresenta alternativas mais dinâmicas, porém completamente incompatíveis com o modelo atual.

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O que era sustentável e até eficaz em um dado momento entra em um processo de decadência, pois o tempo de uso do ambiente vai dando tempo para que vá se conhecendo as brechas não meritocráticas do antigo ambiente, tornando-o cada vez mais voltado para ele mesmo em um círculo cada vez mais vicioso.

Podemos ver isso:

  • – na Grécia pré-filósofos, pré-alfabeto grego;
  • – na Europa pré-Revoluções liberais, pré-papel impresso;
  • – no mundo globalizado do século XXI, pré-Internet. 

A Revolução Cognitiva vem para restabelecer uma nova governança para lidar com o problema geométrico da complexidade e gerar, entretanto, ainda mais complexidade, nos resolvendo um problema de médio prazo e criando outro de longo em tempos cada vez mais curtos.

Há uma inviabilidade de fazer a governança no antigo modelo, mas,  obviamente, uma resistência ao novo, pois as autoridades de plantão, que se estabeleceram no antigo modelo perderão o espaço que conquistaram no novo.

A crise da transição, conforme será administrada pode gerar mais ou menos violência.

Falarei da crise da transição neste post.

Que dizes?

 

 

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É comum trabalharmos com os absolutos, ainda mais agora no fim da etapa de decadência cognitiva da era impressa-eletrônica.

Porém, tenho desenvolvido a ideia, não achei ainda pensadores que a reforcem, mas com certeza acharei, na direção das taxas de problematização e de aferição de uma dada hipótese.

Já discuti muito o termo, por exemplo, “Sociedade do Conhecimento”.

Considero uma hipótese com baixa taxa de problematização, com argumentos inconsistentes e uma baixa taxa de aferição do uso e prática de sua metodologia correspondente a gestão do conhecimento.

(Desenvolvi aqui mais sobre isso.)

Ou seja, podemos ter determinados conceitos que podem se espalhar na sociedade e ganhar corpo pela sua capacidade de propagação na mídia, porém são produzidos por falsas-autoridades, que têm legitimidade não pela força de seus argumentos, mas pela sua capacidade de influenciar.

É uma verdade que tem força de mídia, mas não força de argumentação.

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O objetivo de uma nova ciência é o regate da capacidade de diálogo, do aumento da taxa de argumentações.

Como a academia se fecha nas suas próprias portas, tais termos, que ganham relevância na sociedade se propagam.

Por enquanto, é isso, depois falamos mais sobre isso.

 

Versão 1.0 – 09/09/13

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Sugiro ver este post anterior aqui.

A ideia de uma ciência politeísta-ninja que vem renovar a atual ciência monoteísta-monja passa, como vimos, por uma nova forma de produção científica, revendo escolha de problemas, produção e distribuição das pesquisas.

Sim, de fato a base da produção científica passa pela confiança dentro e fora da academia de acreditar que aquilo que vem sendo produzido é o melhor possível e que tem critérios claros de aferição de uma dada verdade provisória.

Criamos uma academia hoje, que adotou o critério de validação, a partir de um “convento monástico”, que é característico da cultura escrita, que precisa organizar antes para distribuir depois, o que chamei de forma provocativa de Ciência Monja.

Os pareceristas realizam o filtro necessário para evitar que o que vá para a sociedade contenha pseudo-inverdades, não importando muito a relevância, meritocracia e abstração das verdades produzidas.

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A produção acadêmica e o aprendizado passaram naturalmente com o o tempo a ser feito baseado em problemas pré-escolhidos, divididos por assuntos, uma sequência lógica de passagem dos mesmos.

Criou-se um modelo de certificação de quem quer se credenciar dado pelas autoridades de plantão, que estabeleceram critérios para aprovação baseados nos padrões vigentes.

Nada mais natural, porém os padrões foram ficando, com o tempo, obsoletos diante do aumento da complexidade e das novas opções de produção.

 O sintoma mais grave é que, aos poucos, os problemas debatidos foram se distanciando do sofrimento da sociedade. A ciência passou a ser feito por critérios cada vez mais formais, porém com resultados cada vez menos significativos por quem deveria se aproveitar deles – a sociedade.

É uma ciência que formalmente chegou a sua maturidade dentro de uma tecno-ecologia-cognitiva, mas teve que abrir mão para isso de sua relação com a sociedade, pois perdeu conteúdo significante.

Podemos dizer que fazemos uma ciência “correta”, mas que serve muito pouco a quem sofre.

O tempo de uso do modelo fez com que o sistema fechado de produção do conhecimento fosse se auto-canibalizando, pois sem o olhar externo fiscalizador e cobrador levou a academia ao isolamento que tem hoje, assim, como as outras organizações sociais.

Aprendi com a história que vivemos ciclos tecno-cognitivos que entram em decadência com o aumento da complexidade x a obsolescência do uso de um dado ambiente.

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A ciência Ninja, com um novo modelo de produção, baseado fortemente em plataformas digitais, tem como missão,  basicamente resgatar o caráter ético da ciência, recolocando como prioridade os problemas mais significativos, aqueles que minimizam mais sofrimento como prioridade da pesquisa.

Vamos entrar em um novo ciclo, no qual vai se abrir mão de alguns formalismo, em nome da relevância!

E aí teríamos algo interessante, pois teríamos uma inversão dos papéis, pois o que é considerado ciência passa a ser problemas relevantes e tudo que possamos agregar para que eles possam ser trabalhados de forma a causar menos sofrimento.

O modelo de seleção/produção/distribuição de conhecimento deixaria o modelo vertical (de poucos que sabem muito) e passaria para um horizontal (da valorização daquele que sabe mais dos que os demais em uma determinada bolha).

Ou seja, o importante não é saber tudo, mas saber mais do que aqueles que estão dentro da bolha no qual atua, sendo uma ferramenta de conhecimento anti-sofrimento.

Não havendo, portanto, um critério vindo de cima de quem está apto a produzir/ensinar, mas um processo de que é importante aquele que pode agregar mais valor para uma dada bolha de conhecimento, desde que agregue conhecimento em prol da redução de sofrimento. 

A medida da sua eficácia é a capacidade de cada pesquisador/professor de reduzir sofrimento dentro daquele ambiente e não mais no modelo atual de que exige uma super-capacitação para problemas nem sempre relevantes.

É um regresso ao mundo oral/tribal/politeísta, só que agora digital, da produção do conhecimento descentralizada, com a aferição do valor de baixo para cima com critérios definidos por quem está sofrendo e a capacidade de cada um em cada ambiente reduzir a taxa de sofrimento.

Tais sinais farão com que aquela pessoa seja considerada relevante como produtor/repassador de conhecimento.

Visto assim, deixamos nessa fase inicial da crise de transição o formalismo para um informalismo, pois procuramos resgatar, mais do que tudo, o retorno a problemas relevantes e a eficácia na redução de sofrimento.

Ainda pode parecer abstrato, mas prometo aprofundar.

É isso, que dizes?

Versão 1.0 – 09/09/13

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Sugiro ver este post anterior aqui.

Toda Revolução Cognitiva provoca uma crise do modelo tecno-cultural passado, na qual a sociedade humana se estrutura, criando uma “crise de transição”.

Todos os valores da sociedade, que estruturam a “verdade social hegemônica“, na qual as organizações são baseadas começam a ser questionados.

É o fim de um longo período que marca o início da crise de transição. Por um lado, a sociedade cresceu de complexidade – geralmente pelo aumento demográfico – e, por outro organizações que aprenderam a utilizar o controle das ideias a seu favor são surpreendidas com a rápida massificação de um novo ambiente tecno-cognitivo, que cria uma nova cultura humana que vem renovar a anterior.

Assim, nestes momentos temos pelo tempo de uso de um dado controle de ideias e um modelo topológico tecno-cognitivo:

  • baixa relevância – organizações voltadas mais para si do que para o social, com problemas de pouca relevância para a sociedade;
  • baixa meritocracia – o que implica em escolha de problemas de baixa relevância e autoridades de pouca representação;
  • baixa capacidade de abstração –  pratica-se um modelo de pensamento dos fatos para o geral, através de inovações incrementais e não radicais (filosofia pragmática e não problemática).

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Assim, neste momento podemos dizer que temos uma decadência de valores e princípios universais e um reforço de interesses particulares e específicos. Há, entre outras, uma crise ética geral, incluindo o fazer científico, que faz parte da decadência do modelo tecno-cognitivo de toda a sociedade.

Para que fazemos ciência? Para quem? De que forma?

O resgate ético do fazer científico estará no bolo da discussão filosófica-teórica-metodológica que se abre e acho que temos que começar por ele para repensar a ciência já que agora há a possibilidade de novas alternativas.

É o início do novelo.

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Do ponto de vista prático, a ciência foi criada para resolver problemas.

Porém, a bomba atômica e o holocausto, de certa maneira, foram fruto do fazer científico, pois se pensou em formas melhores para matar pessoas. Portanto, não podemos lidar com a inovação sem incluirmos a questão ética na sua produção.

Tenho desenvolvido a ideia que podemos medir taxas de sofrimento, mesmo que o método seja complexo. (a procura de um já é um caminho melhor do que não procurar).

Portanto, defendo aqui que o papel ético de cada pessoa, das organizações, deve ser focado na redução do sofrimento, já que não existe sociedade sem sofrimento, apenas com taxas menores.

Assim, do ponto de vista prático e ético poderia defender que:

A ciência deve servir para resolver problemas na sociedade, de forma cada vez mais eficaz, com o que há de mais moderno, na tentativa de reduzir sofrimentos humanos.

Uma “boa” ciência, ou uma ciência moral,  é aquela que consegue uma taxa melhor de redução de sofrimento e vice-versa.

Assim, do ponto de vista do que se quer aqui é a procura de uma ciência que consiga lidar com a atual complexidade, reduzir a taxa de sofrimento, pois uma ciência pouco eficaz é causadora de sofrimento, pois não está dando respostas aos que precisam. Ou seja, a ineficácia da ciência é também causadora de sofrimento!

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O primeiro passo nessa direção aponta para a qualidade dos problemas a serem debatidos.

Hoje, a academia tem um critério meio “Monja” da escolha de seus problemas.

Sob um signo de autonomia universitária, que gera a falta de controle social, os problemas são muito fechados nos interesses particulares de seus pesquisadores, do que voltados para problemas que poderiam reduzir a taxa de sofrimento de quem está lá fora, inclusive, financiando as pesquisas.

(Bem expresso neste vídeo do prof. Marcos Cavalcanti sobre o ronco do boi.)

Imaginar uma nova ciência mais aberta e produzida com/para a redução de sofrimento da sociedade implica em se rever o critério de quais pesquisas serão feitas, bem como, como serão feitas e de que forma seus resultados serão compartilhados com a sociedade.

Nos três aspectos, temos a Ciência Monja atual com o seguinte perfil:

  • Quais pesquisas? – a sociedade quase nada interfere nos rumos da pesquisa;
  • Como são feitas? – é produzida toda de forma fechada com pesquisadores isolados, numa produção que lembra os séculos passados, com apenas o resultado final apresentado e não uma produção de forma colaborativa;
  • Como são divulgadas? – o critério é impresso, com publicação em revistas, muitas nem eletrônicas, muitas pagas, sem acesso aberto, com forte estímulo, no caso do Brasil, para a produção neo-colonialista apenas para o exterior SÓ em inglês, sem correspondente oral pra ajudar a reduzir o gap de não alfabetização.

A Capes, paga por nós, endossa essa visão premiando quem segue o modelo da Ciência Monja, sem nenhum estímulo a uma nova Ciência Ninja.

A base de uma nova ciência passa, assim, por uma abertura tecno-cultural, através de plataformas colaborativas, nas quais deveríamos gradualmente criar mecanismo que possam de forma eficaz, com os recursos da colaboração digital, definir quais pesquisas devem ser feitas, como o processo de produção da mesma e de que forma serão divulgadas.

Por aí,

Que dizes?

Versão 1.0 – 09/09/13

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Sugiro ler antes este post.

A ciência atual é produzida pela academia.

A academia é uma organização como qualquer outra que opera dentro da atual tecno-cultura hegemônica, fortemente baseada na produção escrita.

Como vimos, a escrita é definidora de uma cultura de produção da verdade que podemos chamar de monoteísta que, a título de provocação, vou chamar de “Ciência Monja”.

A Ciência Monja, regulada pela escrita é produzida:

  • – dentro de um ambiente fechado, no qual a validação é feita pelos pares;
  • – há uma regulação do que vai ser publicado;
  • – o tempo de produção é lento;
  • – o que sai da produção, considerada “consistente” é repassado para a sociedade com um carimbo “isto é o mais próximo da verdade que chegamos”;

O modelo da Ciência Monja não é bom ou ruim, mas o possível dentro da tecno-ecologia-cognitiva impressa monoteísta.

Não havia outra forma de se fazer ciência.

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Isso criou uma tecno-cultura cognitiva e, como o tempo, três fatores distintos colocaram-no em crise:

  • – o longo tempo de duração do modelo de produção de verdades sem alteração substancial nas suas bases, que permite que se aprenda com suas brechas, criando desvios não meritocráticos que de periféricos passam a ser padrão;
  • – o crescimento da complexidade do mundo, com o aumento não só de pesquisadores mais de demandas da sociedade com agora 7 bilhões de pessoas;
  • – a chegada de novas alternativas de produção de conhecimento, que não só torna os defeitos do modelo mais visíveis, mas apontam novas alternativas, que o questionam.

Assim, a crise da Ciência Monja é na sua base principal, ou seja, de como se produzir a “verdade”, o critério de validação de sua produção. Estamos saindo da Ciência Monja (que é feita fechada em um mosteiro e repassada ao mundo exterior) para uma Ciência Ninja (que passa a ser feita de forma aberta pelo/com o mundo exterior).

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Se analisarmos a história da ciência veremos o quanto ela foi influenciada pela chegada da escrita nas civilizações mais antigas, pois não há nenhuma que tenha avançado se não tenha criado ferramentas mais adequadas para preservar a memória. E depois com a massificação do papel impresso, a partir de 1450, que foi a base para a ciência moderna.

Podemos dizer, assim, que estamos à beira de uma guinada na produção acadêmica, mas, por uma questão de conservadorismo emocional estamos evitando uma discussão desse tipo em um espaço que deveria ser racional por natureza. Estão defendendo o modelo monoteísta de produção do conhecimento atual como se fosse uma religião da produção da verdade, porém não é. A Ciência está aí para resolver os problemas da sociedade, o sofrimento, da melhor maneira possível, com as melhores ferramentas possíveis. E será alterada quando a tecno-ecologia for alterada.

Sem o papel impresso não estaríamos com 7 bilhões de pessoas no mundo e sem uma Ciência Ninja, uma nova forma de produção, não conseguiremos superar os desafios que a complexidade do século XXI exige. A nova cultura tecno-acadêmica-digital nos coloca desafios interessantes que vou discutir no próximo post.

Que dizes?

 

 

Mundo Ninja

Versão 1.0 – 09/09/13

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Toda as organizações da sociedade são regidas pela cultura hegemônica das tecnologias cognitivas de plantão, que formam o que podemos chamar de tecno- cultura-cognitiva.

Note que toda tecnologia é a natureza transformada. E a natureza não pode ser transformada a nosso bel prazer, pois há limites que nos impedem de ir adiante em dado momento  histórico, criando “paredes” nas quais temos que nos (con) formar.

Somos, portanto, moldados pela nossa capacidade de adaptar as tecnologias às nossas vidas.

Estamos, com a chegada do digital, fechando um ciclo de 6 mil anos, quando surgiu a escrita e, com ela, criamos a cultura geral tecno-monoteísta, não entendendo teísta, como vindo de Deus, mas de um modo de construir a verdade e suas divindades/autoridades, que nos representam.

A escrita, como todas as outras mídias, é condicionadora da nossa tecno-cultura. Não somos uma espécie como as outras, somos uma tecno-espécie, que transforma a natureza para sobreviver e assim estabelece uma tensão dialética condicionada-condicionante no processo de evolução (entenda-se evolução como caminhar de ontem para hoje e não melhoria ou progresso).

A escrita pressupõe, por suas características técnicas condicionantes:

  • – uma mensagem que precisa ser preparada, empacotada para ser distribuída;
  • – há um centro que se encarrega de realizar essa tarefa;
  • – é uma mensagem fechada, que não permite alteração ao ser consumida com taxas de baixa interação pelos seus limites físicos;
  • – pressupõe um longo tempo para revisão do seu conteúdo;
  • – é feita por um autor que vem de fora de um lugar distante para o convívio presente, longe de quem produziu.

Podemos observar que todos os modelos organizacionais antes da escrita (orais e politeístas), foram, aos poucos, migrando para uma hegemonia da tecno-cultura-escrita-monoteísta.

A bíblia, o alcorão e a torá têm em comum uma verdade que é “psicografada” por alguém, que a transcreve em um livro “sagrado” que ninguém pode alterar apenas, no máximo, interpretar. Não estamos aqui falando apenas de religião, mas esta definição/limitação é da própria escrita, quanto tecnologia cognitiva, que, por ser mágica naquele tempo, passou a ser sagrada e religiosa.

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  • Não estamos, portanto, saindo da modernidade para a pós-modernidade como gostam os filósofos.
  • E nem migrando para a sociedade do conhecimento ou para o mundo pós-industrial, como preferem os economistas.

Mas saindo de um longo ciclo tecno-escrito-monoteísta, aliado depois à tecno-eletrônica do rádio e televisão (que mantém a mesma topologia de produção) para um novo modelo digital. Tal mudança altera radicalmente a tecno-cultura geral, pois a produção da “verdade” (que é a base de todas as sociedades)  se altera na forma como é produzida.

Vamos às mudanças:

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O que temos agora é uma mudança radical nessa tecno-ecologia e isso vai significar uma mudança tecno-cultura da produção do conhecimento, pois as paredes tecnológicas que tínhamos anteriormente caíram, mas não a tecno-cultura, que vai resistir a se manter dentro da zona de conforto do que é conhecido, com todos os interesses que o mundo atual propicia para as autoridades de plantão.

Todo o modelo social onde se inclui (as empresas, a escola, a academia, a justiça, o governo, a representação política, etc) foi condicionado, ao longo dos últimos milênios por esse tecno-monoteísmo-escrito-eletrônico. Porém, temos agora uma mudança de paradigma tecno-cultural, que fará com que este modelo tenha que se alterar, pois passamos a ser regido por um novo ambiente tecno-cultura condicionante-condicionado.

Vivemos muitas crises pela continuidade do modelo passado e a impossibilidade de criação do modelo futuro.

Note que este modelo centralizado, monoteísta que estamos deixando provocou – pelo tempo de uso –  um fortalecimento desequilibrado do centro emissor de verdades, o que acabou gerando um conjunto de crises para a sociedade. Isso se agravou com o aumento da população, pois a complexidade aumentou, mas a construção do modelo das verdades permaneceu culturalmente, do ponto de vista hegemônico, inalterado.

A migração para a nova tecno-cultura é um movimento que vai obrigar a uma revisão em todo o modelo de forma profunda. E justo no momento em que:

  • – as organizações atuais estão cognitivamente embriagadas de seu falso-poder;
  • – com baixa capacidade de mudança em função dessa embriaguez.

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Os desafios não são pequenos.

Que dizes?

Versão 1.0 – 06/09/13

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A notícia é antiga, mas é uma forte tendência:

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Vocês vão me perguntar por que?

A explicação está aqui nestes quadros que fiz neste post.

  • Quando temos um movimento de contração da espécie tendemos a trabalhar com parâmetros filosóficos já conhecidos, pois está se procurando consolidar um dado modelo.
  • Quando temos um movimento de expansão da espécie tendemos a trabalhar com novos parâmetros filosóficos , pois está se procurando consolidar um novo modelo.

Note que na:

  • Contração da espécie –  trabalhamos em uma sociedade em que há uma tampa do quebra-cabeça conhecida. Ou seja, sabemos o que é o mundo, onde estamos e onde vamos chegar em uma visão de mundo fechada, da qual temos controle, pois as ideias  e novos projetos são conhecidos e controlados;
  • Expansão da espécie – trabalhamos em uma sociedade em que não há mais uma tampa do quebra-cabeça conhecida. Ou seja, não sabemos mais para onde vai o mundo, onde estamos e onde vamos chegar em uma visão de mundo aberta, da qual não temos mais controle, pois novas ideias e projetos surgem de todos os lugares, muitas desconhecidas e descontroladas.

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Na verdade, as mudanças ocorrem toda no nosso cérebro e de como vemos ou não conseguimos ver a realidade.

  • Nosso cérebro é condicionado pelas tecnologias cognitivas que expandem ou inibem nossa capacidade de pensar;
  • As tecnologias cognitivas são condicionadas pelo tamanho da espécie;
  • Quando crescemos demais precisamos de novas tecnologias cognitivas compatíveis com a complexidade que surge, alterando a plástica cerebral.

Na contração, temos uma preguiça mental e na expansão começamos, de novo, a exercitar essa musculatura.

É a passagem de uma plástica cerebral estabelecida por outra, em função do uso intenso de uma nova mídia descontrolada, que abre cabeças por necessidade demográfica de criar uma espécie mais complexa.

Podemos dizer que na contração teremos – do ponto de vista das ciências – um reforço das teorias mais metodológicas, pois as teorias filosóficas estarão consolidadas e, de certa forma, estagnadas, pois o modelo já está estabelecido.

Não precisamos pensar como pensamos, mas continuar pensando como já havíamos pensado!

Assim, se pensarmos nas necessidades básicas da sociedade hoje é por filósofos que consigam resignificar as ideias, criar cenários  que nos possam dizer as grandes tendências, não mais baseados em dados, mas em conceitos.

Veja o quadro abaixo:

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  • Quando temos a contração, temos a ilusão, pois ela tem um quê de real, de que o mundo está pronto e os fatos induzidos se encaixam bem naquilo que conhecemos.
  • Quando temos a expansão, temos a ilusão, pois ela também tem um quê de real, de que o mundo está em aberto e os fatos deduzidos, precisam sofrer um processo de reconceituação dentro de um novo paradigma.

(Minha crítica o livro do Castells vai nessa direção.)

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O valor não está mais nos dados que você pode colher, mas na capacidade de antecipar macro-tendências, pois os dados – ao serem analisados – vão sempre serem trabalhados pelos paradigmas passados, com conclusões fechadas e não abertas.

O modelo de pensamento indutivo/pragmático/metodológico nos leva sempre para a consolidação de uma dada tampa da caixa e o que precisamos hoje é conseguir trabalhar em um mundo de uma tampa da caixa indefinida com modelos abertos e dedutivos.

O que fará a diferença para o futuro das organizações é a qualidade dos filósofos que serão consultados.

Que dizes?

Versão 1.0 – 06/09/13

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Uma boa teoria é aquela que faz da história sua principal aliada.

O estudo da sociedade tem pode agora ser revisado  a partir das novas considerações feitas pelo estudo da antropologia cognitiva.

Podemos ver claramente que a história da espécie humana é fortemente influenciada pela chegada de novas tecnologias cognitivas reintermediadoras, que descontrolam ideias em movimentos de contração e expansão.

Na contração, há um forte controle de ideias e na expansão um descontrole, tendo como causas o que podemos ver na tabela abaixo:

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O que nos leva as seguintes consequências:

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Se analisarmos os desdobramentos da Revolução Cognitiva podemos ver que todas as iniciativas que não estão na direção da tendência da expansão estão indo contra a história.

Que dizes?

Versão 1.0 – 05/09/13

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Por aprofundamento do tema sobre a chegada da Internet, acabei chegando no conceito de “era monoteísta” ou fim da “escola monoteísta”, “empresa monoteísta”, etc. Ou passagem para a “era politeísta” “escola politeísta”, “empresa politeísta”.

Uma amiga disse que não gostou, não faz muito sentido.

Gostaria de discutir algumas coisas sobre esse tema, a partir dessa sadia provocação e defender o uso deste conceito, pois tem sido muito útil em vários sentidos. Para isso, vou detalhar:

  • – primeiro uma ideia geral sobre conceitos;
  • – depois a construção de conceitos neste nosso novo mundo líquido;
  • – e, por fim, problematizar o termo em si (monoteísmo politeísmo) e seu uso .

Ideia geral sobre conceitos:

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A partir do Wikipédia:

Conceito (do latim conseptus, do verbo concipere, que significa “conter completamente”, “formar dentro de si”), substantivo masculino, é aquilo que a mente concebe ou entende: uma ideia ou noção, representação geral e abstracta de uma realidade. Pode ser também definido como uma unidade semântica, um símbolo mental ou uma “unidade de conhecimento”. Um conceito corresponde geralmente a uma representação numa linguagem ou simbologia.

Tiro do termo a ideia de representação de algo em um determinado pedaço, uma unidade semântica, que forma dentro de um conjunto de outras uma narrativa, que pretende explicar uma teoria. E aí temos algo interessante, pois:

  •  Teoria – é o estudo de forças em determinados contextos, que explicam variações de estabilidade e instabilidade de um dado problema estudado sempre em movimento.
  • Narrativa teórica –  é a forma que conseguimos repassar esta teoria para que se torne inteligível e possa ser útil as outras pessoas para que tomem decisões mais adequadas, a partir de uma dada teoria;
  • Conceitos – imagens semânticas que ilustram a narrativa, de tal forma a não prejudicar a coerência da teoria e nem a possibilidade de comunicação.

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Note, assim, que há uma separação, mesmo que tênue, entre a teoria, algo mais matemático e intangível na cabeça do pesquisador, que é um trabalho individual de cada um e da narrativa de como ele consegue expressar as conexões novas que conseguiu fazer, a partir do desenvolvimento do seu trabalho, procurando tangibilizar o que conseguiu concluir.

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  • Há muitos pesquisadores que não conseguem transformar teorias em narrativas.
  • E há muitos que desenvolvem ótimas narrativas para teorias nem tão eficazes.
  • O ideal, e acho que Freud é um bom exemplo, que consegue equilibrar as duas tarefas.

Os conceitos, assim, devem se encaixar bem dentro de uma dada teoria, serem expressos em uma narrativa, que consiga não desvirtuar a lógica e, ao mesmo tempo, deve ser eficiente para “vender” a ideia.

E quando digo vender a ideia devemos pensar em algo que seja muito curto, rápido, que pegue e leve as pessoas a pensar/aceitar/questionar o que se quer passar.

Um bom exemplo é o conceito contido nessa frase: “O meio é a mensagem” da Escola de Toronto, via McLuhan.

A frase original, título de um livro, era: “O meio é a massagem“, na qual estaria embutida, a “massagem no cérebro”. Mudaram o título por engano e a coisa vingou, pois era de fácil provocação. 😉

Assim, conceituar é algo de equilíbrio entre uma percepção e uma expressão da mesma, que seja mais popular (de fácil comunicação) possível, sem ser populista (conceder além do que se pode).

Construção de conceitos neste nosso novo mundo líquido

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A criação de teorias e narrativas, bem como de conceitos, está sofrendo uma abalo com a chegada da Internet.

Note que a produção acadêmica tinha/tem como característica:

  • – isolada do pesquisador sem feed-back até a publicação final;
  • – com longa duração e produção a “portas” fechadas;
  • – debates restritos, muitas vezes sem debate;
  • – repasse em aulas de forma vertical, nas quais a construção da teoria não era feita com os alunos, que apenas eram/são receptores da mesma;
  • – avaliação apenas por pares.

Dentro da ideia da Teoria Ninja, que desenvolvi aqui, temos algo bem diferente:

  • – compartilhada em posts abertos, em blogs (ou outras ferramentas), com intenso feed-back ao longo de toda a pesquisa (este debate demonstra isso);
  • – com curta duração/revisão e produção a “portas” abertas;
  • – debates intensos;
  • – produção coletiva em aulas de forma horizontal, nas quais a construção da teoria passa a ser feita com os alunos, que são co-autores da mesma;
  • – avaliação dos pares fica bem reduzida, pois objetiva-se resolver os nós de quem precisa da teoria para resolver/ver problemas de forma diferente.

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Nestes novos ambientes as teorias, as narrativas e os conceitos ganham uma liquidez muito maior, pois são beta-testados o tempo todo para saber se estão afinados:

Gosto de brincar com meus alunos que não se deve “casar” com conceitos, mas apenas “ficar”, pois eles são ferramentas de construção de narrativas e teorias, que estão em processo contínuo de interação.

Não são, na verdade, tão relevantes, pois podem ser usados em um dado ambiente e em outro pode-se procurar algo mais apropriado. Não se deve lutar por conceitos, mas analisar se eles estão fazendo bem para o tripé como um todo.

  • Ajudam a repensar a teoria sem atrapalhar a coerência?
  • Caem bem na narrativa, facilita ou confunde a compreensão?

Problematização do termo  (monoteísmo politeísmo) e seu uso 

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Dentro deste espírito, vamos analisar os conceitos monoteísmo/politeísmo dentro da minha teoria/narrativa.

Tenho ampliado o estudo das revoluções cognitivas.

Minha tese de doutorado trabalhou bastante com a comparação entre Revolução Cognitiva Digital e do papel impresso. Precário isso, pois é algo que dá margem de que é apenas uma situação e não várias.

Depois do meu novo livro “Gestão 3.0“, comecei a ir mais fundo na Escola de Toronto, chegando a Havelock, que estuda o impacto do alfabeto na Grécia e depois iniciando em Innis, que vai estudar a comunicação em civilizações ainda mais antigas, como os babilônios.

Nestes estudos bati com a ideia de que a chegada da escrita manuscrita é muito ligada à chegada do monoteísmo, que altera a visão do mundo de algo poli para algo mono. São seis mil anos (o judaísmo está completando este ano 5774 anos) o que nos leva a algo  muito próximo enter monoteísmo/escrita. A relação me pareceu fortemente evidente.

De novo Wikipédia:

A palavra monoteísmo é derivado do grego μόνος (monos) que significa “único” e θεός (theos) que significa “divindade”.

Note que não necessariamente Deus.

Divindade:

Divindade é um ser sobrenatural, mitológico, com poderes especiais, superior, criado espontaneamente ou por outra divindade, e muitas vezes sua imagem é tida como semelhante à do homem. Cultuado, é tido como o santo, divino ou sagrado, e/ou respeitado por seres humanos. Normalmente as divindades além de mostrarem-se superiores aos seres humanos, controlam ou são superiores à própria natureza.

Há uma aproximação muito clara entre divindade e autoridade.

De Deus com as autoridades divinas, que o representam na terra.

Assim, a passagem humana de algo que era oral e poli-visão, multi, para algo que passou a ser mono, visão mais fechada da verdade, de Deuses para Deus.

Se fosse algo no abstrato, tudo certo, mas o novelo nos leva a:

Judaísmo -> cristianismo -> modelo de igreja católica (papa, cardeal, bispo, padre), que nos traz ao modelo de hierarquia dos exércitos e, por sua vez, as atuais organizações. Não seria muito longe, portanto, dizer que, apesar de vários ciclos, a escrita trouxe o monoteísmo/ou as autoridades únicas, líder-alfa, que defendi no meu livro, uma governança da espécie piramidal para uma mais aberta.

Uma coisa chama a outra, mas o  conceito monoteísmo leva uma vantagem, é muito mais comunicativa e próxima das pessoas. Não se trata de trocar, mas ter mais alternativas à gestão da espécie, que é algo ainda meio inusitado para as pessoas.

E isso nos leva para algo mais interessante, quando com a Internet desenvolvemos uma oralidade-escrita, como é claramente o Wikipedia, que é um texto coletivo e líquido. Assim, começamos de novo a sair de uma visão mono para uma poli.

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Se imaginarmos o monoteísmo e o politeísmo de forma mais fechada mono-poli Deus, realmente teremos dificuldade no conceito, mas se pensarmos em algo aberto, como mon0-visão, piramidal, verdade fechada x poli-visão, horizontal, verdade aberta, aí sim começa a ser algo interessante.

Ou seja, olhando do alto, para a teoria é algo que a torna mais consistente e nos leva a inquietação intelectual, do estudo mudanças das religiões, que são as bases organizacionais da sociedade (com muitos textos) x revoluções cognitivas.

Olhando para a narrativa, nos permite mostrar de forma clara e evidente o fechamento de um ciclo de 6 mil anos, que era algo que não estava claro antes.

Por fim, em termos de ajuda para repensar coisas, tenho visto com outros olhos, por exemplo, a reforma de Lutero que foi uma reforma de um monoteísmo mais radical, ou da revolução francesa, idem para algo mais brando. Como temos agora as revoltas nas ruas que questionam o próprio monoteísmo em si – sem autoridades, cada um com a sua verdade/deus.

Estou bem confortável com o termo e foi bem aceito na primeira palestra que apresentei.

Vamos ver os desdobramentos.

Você, o que diz?

 

Versão 1.0 – 04/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação

Estive fazendo palestra no evento 3º Fórum de Gestão Educacional. A palestra segue abaixo:

Depois assisti e participei da mesa de apresentação sobre o método Senac de Aprender Fazendo, a partir de problemas e gostaria de levantar aqui algumas questões sobre escola e futuro.

O método de aprender, a partir de problemas é algo muito interessante e vem, entre outros, de John Dewey, da escola pragmática, O Wikipédia resume bem sua visão:

“A ideia básica do pensamento de John Dewey sobre a educação está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno.”

Dewey acreditava no estudo a partir de problemas práticos e não em assuntos sem nexo desencadeados.

A visão parte, assim, como é o caso do Senac de uma dada realidade que existe, organizações que existem, que têm seus métodos de trabalho. Analisa-se o que precisam em termos de profissionais, sua capacidade de resolver problemas e molda-se um currículo para atender a essa necessidade.

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Em termos de ensino profissionalizante, é um salto grande em relação a algo abstrato e de formar um aluno para o lugar nenhum. Aumenta-se, assim, a efetividade, pois rapidamente se absorve este aluno para o mercado atual e o que é bem louvável e merece aplausos.

O aumento da necessidade da inovação, a partir de ambientes mais variáveis, faz com que Dewey volte à cena, mas ele precisa ser revisitado.

É preciso saltar do pragmatismo imortal para o pragmatismo mortal.

Explico.

O modelo de Dewey parte de um ambiente fechado, conhecido e eterno, no qual aprende-se com o que existe para se preparar melhor para empresas imortais, que têm métodos que funcionam hoje e vão continuar a funcionar amanhã. Há muito de Hegel nisso, que ele era um seguidor, do conceito de totalidade absoluta.

É a ideia de que as empresas são e continuarão imortais.

O mercado, entretanto, em vários segmentos está demonstrando um novo perfil de empresas – as mortais, ou seja aquelas que podem desaparecer se não reinventarem o seu futuro constantemente.

Obviamente, que estamos falando hoje de um mercado de empresas inovadoras, ligadas à tecnologia e geralmente fora do Brasil, pois aqui não estamos, por enquanto, com grande demanda nesse perfil para empresas mortais.

Mas até quando?

Precisamos de um pragmatismo mortal, que parta da ideia de que as empresas não são mais imortais e precisam se reinventar o tempo todo, a partir do abismo do futuro. E aí o perfil de formação visa não mais se encaixar ao presente que existe, mas para inventar o futuro que não existe!

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Na minha experiência, a formação para um jovem inovador para empresas mortais, necessita fortemente de um trabalho filosófico específico para questionar as interpretações da realidade.

É preciso sair da percepção da realidade real para a realidade interpretada, veja mais sobre isso aqui. Ou sobre o conceito da realidade-suruba.

Ou seja, é preciso que ele consiga perceber que a vida é fortemente inventada e que pode estar mal inventada e precisa ser reinventada, a partir de novos valores, parte do que não existe para o que vai existir e não do que existe.

  • É alguém que desconfia das autoridades e é capaz de ver aquilo que ninguém mais vê.
  • É um “alpinista de montanhas filosóficas”, que consegue ver do alto os movimentos acima das cabeças dos demais.
  • É alguém que vai inventar mercados e não se adaptar aos mercados.

Tal formação fortemente empreendedora e inovadora não seguirá na linha indutiva-pragmática, a partir de problemas existentes, mas é alguém que vai trabalhar em uma linha dedutiva-problemática, sim, a partir de problemas, mas para soluções inexistentes hoje para até problemas invisíveis.

Tal formação constrói novas empresas, novos produtos, novos serviços e uma nova sociedade. É uma linha de trabalho que deve ser aberta quando se tratar de mercados muito instáveis e talvez seja um mercado assim não mais exceção, mas regra em um futuro próximo.

Por enquanto, seria interessante zonas de inovação para experimentar esse novo perfil de profissional para atender a uma fatia já presente aqui e ali no país.

E desse tipo de profissional que empresas como o Google estão demandando hoje lá fora. Por fim, tal método pragmático seja mortal ou imortal vai esbarra na centralização monoteísta do vestibular, dos currículos centralizados, do material didático fechado.

Temos muito a avançar!

Que dizes?

 

 

 

Versão 1.0 – 04/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

escrita

Comecei faz pouco tempo a discutir e associar os conceitos monoteísta e politeísta ao mundo oral e escrito para compreensão melhor da chegada da Internet, que considero que inaugura um politeísmo-digital.

Isso se tronou necessário, pois não podemos falar de oralidade e escrita de forma pura, imaginando que a escrita é centralizadora (monoteísta) ou a oralidade é descentralizadora (politeísta).

Há algo a mais nisso, pois temos as estruturas de poder e o tempo de uso de cada mídia.

Note que tivemos um período de 4 mil AC até até a prensa de Gutemberg, em 1450, uma fase de escrita-oral.

Ou seja, a escrita era usada por uma elite, que interpretava os “textos sagrados” a seu bel prazer e, principalmente, interesses, alterando diversas vezes, no caso da Bíblia, através de concílios interpretativos.

O povo lia, não sabia latim, que era o idioma da elite e de Deus.

Assim, a escrita produziu uma verdade que vinha de cima e de fora, sem possibilidade de uma interpretação que não fosse de pessoas também “sagradas”.

(As mídias de massa estão na mesma situação como veremos depois.)

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A prensa de Gutemberg, que barateia o custo da circulação de ideias no papel, permitiu o fortalecimento da escrita-escrita, ou melhor, da interpretação por mais gente dos textos sagrados.

A Reforma Protestante, por votal de 1500, na Alemanha teve como eixo estas bandeiras:

  • – o direito a traduzir a bíblia para o alemão do latim, democratizando o texto;
  • – o direito a interpretar a bíblia diretamente;
  • – o direito de pensar diferente da Igreja romana;
  • – a reintermediação do padre;
  • – a destruição dos símbolos vazios de significados (imagens de santos).

Na verdade, note bem, que há um movimento questionador da oralidade-escrita, pois percebe-se, isso aparece bem neste filme do Lutero, que há uma grande diferença no entender dos reformistas do que está escrito na Bíblia e no que se acaba interpretando de forma equivocada pela igreja multinacional da época, que tinha uma interferência direta na vida política, econômica e social das pessoas em várias partes da Europa.

(Se analisarmos a história, podemos ainda mais para trás, dizer que Cristo faz uma revisão do judaísmo, renegando a ideia de um povo fechado e escolhido de Deus, uma religião  para escolhidos, para um novo modelo mais aberto e evangelizador, criando um novo texto sagrado, rejeitando alguns princípios da Torá.)

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Veja que a oralidade pura, digamos assim, só ocorre até 6 mil anos atrás quando não havia nenhuma possibilidade de registro em um dado suporte. A oralidade pura não produziu tribos monoteístas, pois não havia nada que unificasse ideias em torno de uma determinada entidade.

As pessoas conversavam, discutiam, chegavam a suas conclusões sobre diversos assuntos e a seus deuses que explicavam e se responsabilizavam pelos fenômenos inexplicáveis da natureza e dos homens.

Freud no livro “Moisés e o Monoteísmo” especula que o judaísmo foi fruto de uma corrente religiosa egípcia, que já tinha alfabeto e optou por um Deus único. Assim, o surgimento do monoteísmo só é viável a partir de um texto que  unifique pensamentos

Todos nascem de alguém que recebe a palavra de Deus, escreve e distribui, eliminando, em parte, a possibilidade de produção local de Deuses, tais como foi o judaísmo/Torá, Bíblia/Cristianismo e Alcorão/Muçulmanos.

Imagino eu que a escrita era algo tão sagrado, tão diferente, tão mágico que as pessoas só podiam achar que era a palavra de Deus.

(Uma das defesas, inclusive, do Alcorão é de que Maomé, um analfabeto, que se isola em uma caverna não teria condições de produzir os versos que conseguiu, só podia ser obra divina. Pode-se ver mais sobre isso neste vídeo da NetGeo.)

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Podemos especular, a partir disso, que a escrita que trabalha mais com a razão e estabelece um modelo fechado, vindo de fora, fortalece a centralização. E a oralidade que permite a troca mais horizontal tem o efeito contrário que é a da descentralização.

Porém, se analisarmos a escrita e a oralidade, vemos que a oralidade pode ser centralizadora, assim como escrita descentralizadora, não é uma característica específica, mas do seu tempo de uso e o apoderamento destas mídias pelo poder de cada época.

Esse paradoxo ocorre pelo controle que as estruturas de poder exercem sobre a mídia de plantão, seja qual for.

Aprendem e conseguem controlar as ideias, estabelecendo cada vez mais a interpretação da “verdade comum” a partir de seus interesses.

Assim, a escrita do seu nascimento até a chegada da prensa é uma escrita-oralizada pela interpretação dos rabinos e padres dão ao texto sagrado. Neste período, em função da oralidade das pessoas, surge o fortalecimento dos santos e das imagens, quase um politeísmo dentro do monoteísmo.

Admite-se variações, desde que a crença seja em torno da bíblia.

É bom frisar que o tempo de uso de uma dada mídia dá sempre no mesmo lugar: os símbolos vão crescendo de importância e vai se perdendo o sentido original para os quais foram criados, pois a interpretação é sempre filtrada pelos interesses e não mais pelas ideias originais. Toda reforma/revolução cognitiva vem depois de um longo ciclo de centralização (como estamos vivendo agora) nos leva para um questionamento das falsas-imagens-autoridades.

O interessante na Reforma Protestante é que há o retorno intenso da releitura da bíblia, do incentivo à leitura/alfabetização, ou da massificação da mesma, provocando um surto de reinterpretação e a racionalidade que nos leva à rejeição (e mesmo destruição) dos santos e imagens, voltando-se e centralizando, de novo, na figura de Jesus, como demonstra a imagem abaixo.

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Há, assim, uma relação clara da religião-mídias e mídias-organização social, pois é do monoteísmo que surge a ideia de reis e das reformas liberais pós-prensa que surge a ideia da democracia de representantes mais rotativos.

A base das organizações atuais vem da herança monoteísta-hierárquica e já agora na escrita-oralizada pelos meios de massa eletrônico, que foram, aos poucos desvirtuando os ideais da revolução francesa, fundadora da nossa época, que pregava: liberdade, fraternidade e igualdade.

Tivemos, desde o surgimento do rádio, um retorno a uma oralidade eletrônica (chamam de segunda oralidade), primeiro com o rádio e depois com a tevê, porém, da mesma forma pré-prensa, de uma forma vertical, através de uma oralidade-escrita direcionada, impedindo a interpretação das “verdades comuns”.

Isso tudo nos leva a ter mais clareza para analisar o impacto que a Internet nos traz, pois ela inaugura:

  • – uma oralidade descolada do local;
  • – o retorno da constante interpretação/comentário dos textos, inclusive, pela primeira vez, a possibilidade de textos coletivos, wiki;
  • – a construção coletiva de “verdades comuns”;

A oralidade digital no leva não mais a uma revisão do monoteísmo, como foi no caso do Lutero, mas o retorno às condições de um politeísmo oral, no qual a figura de líderes centralizadores e verdades únicas tende a perder espaço. 

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Diferente da massificação da prensa, que nos levou ao aperfeiçoamento do monoteísmo, estamos agora diante de um retorno a uma oralidade-global, na produção mais líquida e descentralizada de conhecimento, o que nos leva a um momento pré-surgimento da escrita há 6 mil anos.

Isso me parece bem razoável.

Há, como vimos nas ruas em Junho de 2013 no Brasil, uma rejeição no fundo ao monoteísmo de 6 mil anos, através da produção de cartazes individuais, de múltiplas pautas, da rejeição a representação de mono-autoridades, através da procura de um novo modelo de representação mais complexa, fortemente baseado em uma oralidade global.

Que é uma oralidade-escrita-digital politeísta, na qual não se aceita um texto sagrado, mas vários textos que são produzidos coletivamente.

É o retorno ao conceito de tribos, porém globais e líquidas, a procura de seus deuses particulares.

Repare que há, como houve na reforma, o questionamento dos símbolos vazios da oralidade interpretada pelo rádio e televisão, tais como bandeiras, siglas, personalidades, porém não restabelecendo um centro, mas procurando uma descentralização – um politeísmo.

Assim, só podemos entender o mundo de hoje se começarmos a problematizar mais a fundo a relação das tecnologias cognitivas com a forma que produzimos a nossas “verdades comuns” para as quais é impossível pensá-las se não estudarmos a história das mitologia das religiões x revoluções cognitivas.

O que é um avanço em relação ao meu último livro.

É isso.

que dizes?

 

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Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

Aviso: este post é ainda especulativo e ainda está em uma linguagem muito cifrada, mas já aponta um novo caminho novo de pesquisa. Ajudem a melhorar.

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A base da compreensão do século XXI está na chegada de um novo ambiente cognitivo pós-escrita e pós-meios eletrônicos de massa.

Ambos, por características tecnológicas completam um longo ciclo de monoteísmo escrito-eletrônico.

Temos que analisar que a escrita surgida há 6 mil anos trouxe para o mundo e influenciou fortemente na maneira que víamos/vemos o mundo. Note que há uma relação entre o modelo cognitivo e o monoteísmo, marcados na mesma época pelo surgimento da escrita manuscrita pelo judaísmo/Torá. Depois, na sequência, veio, pela ordem, o Cristianismo/Bíblia e a doutrina Muçulmana/Alcorão – todos baseados na palavra escrita.

  • A escrita é a mídia eletrônica de massa estabelece a chegada de uma mensagem que vem de fora, de outro lugar, de alguém que não está presente,vem de longe, é fechada, contém uma verdade, que não será mudada por aqueles que acessam à mesma, no lugar da oralidade que pode ser contestada no local e na hora que é formulada, que permite a diversidade de opiniões e a multiplicidade de verdades.
  • O monoteísmo tem relação com ela, pois é um modelo de pensar o mundo, através de uma mensagem (psicografada para alguém) que vem de fora, de outro lugar, de alguém que não está presente, que vem de longe, é fechada, contém uma verdade, que não será mudada por aqueles que acessam à mesma, ocupando o espaço do politeísmo que não pode mais diante da mensagem fechada ser contestada no local e na hora que é formulado, que inibe assim a diversidade de opiniões e a multiplicidade de verdades..

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O monoteísmo/escrita, seguida depois pelos meios eletrônicos de massa, que seguem o mesmo fechamento da mensagem, estabelecem um modelo religioso-hierárquico, a base para as organizações sociais, do presidente, gerente, chefes, professores, juízes, parlamentares, prefeitos, governadores.

Podemos dizer que o monoteísmo faz parte de um longo ciclo da atual governança da espécie, na qual temos líderes-alfas bem marcados, mas que estão obsoletos diante da nova complexidade.

O modelo de diversidade e desmassificação já era um fator cultura evidente, mas agora vai ganhar toda a força com um ambiente cognitivo que favorece ainda mais a diversidade.

O modelo da governança da espécie, assim, segue o espírito religioso de uma época. Estaríamos com a chegada da Internet fechando o ciclo monoteísta de 6 mil anos e abrindo um novo politeísta-digital, no qual a mensagem não é mais fechada, pois permite que seja alterada – por qualquer um de qualquer lugar, sem hierarquias, por quem está na ponta, via wiki, por exemplo, ou, pelo menos, contestada, via comentários.

Abre-se o início de um ciclo politeísta, o que será a base das organizações do futuro e do novo modelo religioso/organizacional que vamos enfrentar.

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Podemos dizer que o politeísmo oral e sua governança das tribos permitiu um tipo de modelo de administração da espécie em uma dada complexidade.

A escrita/mídia eletrônica serviu para estabelecer um novo modelo, que viabilizou o crescimento e a expansão que ocorreu nos últimos séculos.

Porém a complexidade demográfica exigiu/exige agora, já no início do novo século uma mudança de outra natureza.

O monoteísmo exige uma verdade única, ou poucas verdades únicas, o que nos leva para um bloqueio à inovação tão necessária quanto aumentamos a complexidade. O monoteísmo/escrito/eletrônico entra em decadência justamente quando saltamos de 1 para 7 bilhões e precisamos de novos “deuses” diversos para resolver a nossa nova complexidade.

Há, assim, um retorno (casual?) a uma oralidade agora digital, porém agora não mais encarcerada no local, mas mundial, que permite um novo modelo de governança mais politeísta, na qual pode haver várias verdades em paralelo, desde que atenda às necessidades de uma determinada tribo digital.

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Isso cria algumas coisas interessantes.

Note que o modelo de conhecimento hoje é baseado em assuntos, pois os principais problemas são definidos pelo Deus/monoteísta/líder-alfa, que prepara seus “súditos” informando sobre os assuntos desconexos para que possam mais adiante servir para dar respostas as perguntas,  que foram definidas de cima para baixo. Tal situação é necessária como uma forma de organização, inviável com uma mídia fechada como tínhamos.

O modelo de produção/repasse de conhecimento é, assim, baseado na falta de perguntas e questões vindas da ponta, apenas na absorção das “verdades-didáticas” contidas nos materiais impressos. Os “súdito” do monoteísmo não são formuladores de problemas, mas são preparados de forma alienada para que possam ajudar a resolvê-los, com respostas que são validadas pelas autoridades de plantão.

No modelo politeísta-digital, entretanto, temos uma inversão disso, pois volta-se, de novo, a formulação de  perguntas debaixo para cima, mas, no entanto, é preciso uma base nova para que se saiba se estão corretamente resolvidas – se contém uma “verdade”.

E aí temos algo bem interessante, pois não há mais a figura da autoridade vinda de cima que vai definir se a pergunta é relevante ou se foi propriamente respondida, pois esta verdade era coletiva, nacional, global, pois a mídia tinha pouco espaço para multi-verdades de tribos.

Estabelece-se, assim, uma nova aliança de formulação da verdade e das perguntas não mais com autoridades monoteístas, mas com aquele pequeno grupo que tem interesse em vê-la respondida.

Define o que é verdade o grupo que considera-a útil para algum propósito!

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Tenho desenvolvido a tese, ainda inicial, de que tal nova forma de produzir conhecimento visa – e tem como método de validação – a redução de sofrimento daqueles que sofrem pela falta de uma resposta mais eficaz para algumas perguntas não respondidas no monoteísmo. É uma verdade tribal, que é validada por um pequeno grupo, é a verdade que faz sentido para aquele pequeno grupo, só fazendo sentido quando se pensa em um politeísmo.

É um movimento de inversão.

A validação no politeísmo não vem de cima de um Deus monoteísta, mas é validado por aqueles que  geram redução do sofrimento de quem está ali debaixo, procurando uma alternativa de solução para problemas que eram impossíveis de serem resolvidos no monoteísmo-impresso-eletrônico.

Não é importante, assim, o conhecimento de assuntos universais, para os quais o Google já está dando conta, mas a procura das micro-verdades de várias tribos politeístas, produtoras de micro-verdades validadas internamente.

É um salto relevante para a humanidade.

É isso, que dizes?

Versão 1.0 – 03/09/13

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Comecei neste post e continuo neste a análise do livro “Revolução da escrita na Grécia” de Eric Havelock.

Veja a página 85 do livro (íntegra da página no final do post).

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Destaco o item: “Estava em curso uma revolução tanto psicológica como epistemológica”.

Havelock luta contra os que acreditavam que o alfabeto teve apenas o impacto da mudança da transmissão de conhecimento oral, via poesia, para a prosa, uma mudança estética, mas ele vê impactos mais profundos.

A poesia era necessária, bem como as canções, pois permitiam a fácil memorização. Era difícil memorizar prosa. O que ele defendia é que quando o cérebro está sobrecarregado com tarefas como memorizar tem pouco espaço para outras atividades, tais como criar ou conceituar.

Vejamos o trecho:

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A chegada do alfabeto, que era a possibilidade de uma escrita mais barata, colocou no papel o que era guardado na memória e isso abriu espaço psicológico e epistemológico para que pudéssemos nos dedicar a criar, o que acabou resultando em todo movimento filosófico posterior na Grécia Antiga, tendo como expressão social principal o conceito de democracia.

Ele chama de energia psíquica que era gasta e passou a ser potencializada para a criação.

(Se formos ler Clay Shirky ele fala de excedente cognitivo que foi liberado.)

Por fim, outro ponto interessante é de que há um estímulo para criar o novo quando há a possibilidade de que se possa preservar as ideias para o futuro. Se você pensa apenas para um conjunto de pessoas e não pode ser preservado para o futuro, há a falta de incentivo para se ter ideias novas.

Este é um conceito novo e interessante, vejamos:

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Note que aqui temos dois desdobramentos práticos e atuais:

  • A ideia de liberação do cérebro para não mais memorizar e poder criar é algo que podemos atribuir aos buscadores. Os jovens hoje alegam que não precisam mais de tanto decoreba e nem decorar, mas conseguir juntar os fatos, já que o Dr.Google a tudo responde – pede-se articulação de informações.
  • E acredito que temos uma nova abordagem em relação aos blogs e canais do Youtube, pois podemos imaginar que muitas ideias que estavam aí sem estímulo de expressão agora ganham corpo na vontade de seus autores serem ouvidos e lembrados no futuro (este blog é um bom exemplo disso).

O que podemos analisar lendo Havelock é que quando uma nova mídia chega ela consegue liberar áreas desperdiçadas do cérebro que uma mídia anterior – menos sofisticada não permitiam – e que isso gera um fluxo de inovação de ideias não só por essa liberação (e mudança da plástica cerebral/minha interpretação) bem, como um novo estímulo para a produção de novas ideias.

Se somarmos tudo isso a hipótese que defendo da necessidade de inovar para gerenciar um número maior da espécie vamos juntando peças do quebra-cabeças.

É isso, que dizes?

Segue a página completa:

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Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Estou lendo o livro “Revolução da escrita na Grécia” de Eric Havelock.

O livro defende uma tese na linha da Escola de Toronto de que para entender a cultura grega, berço do mundo ocidental é preciso compreender a relevância da chegada do alfabeto (escrita).

O livro é relevante, pois aprofunda mais uma Revolução Cognitiva (já tínhamos trabalhado bem com a chegada da prensa) dentro da linha de que se mudamos o ambiente cognitivo, mudamos a sociedade. Que é a base da escola de Toronto, na qual o bordão é “O meio é a mensagem”.

E nos permite ver com mais segurança os fatos pós-Internet hoje.

É um livro que nos ajuda a ver melhor o que ocorre agora.

O livro tem algumas novidades para minha pesquisa.

Ele compara a espécie humana com outras espécies. Afirma que o código genéticos de comportamento humanos são sempre artificiais, pois são transitórios, pois o homem, diferente de outras espécies, e seu estoque de informação é um programa aberto.

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E há algo importante nisso, pois o programa aberto, visto dessa maneira, sofre modificações quando mudamos as tecnologias de troca destes estoques de informação, as tecnologias cognitivas.

Lembra ainda – e isso também é algo interessante – de que o que nos diferenciou de outras espécie não foi o uso de tecnologias, mas junto com elas a chegada da linguagem, sendo a chegada dela, citando um livro de Ernst Mayr, responsável pelo largo crescimento do cérebro.

Eu talvez optasse por algo mais dialético.

Quando optamos enquanto espécie, obviamente de forma inconsciente, por usarmos tecnologias como ferramentas para sobreviver e não incorporá-las ao nosso corpo, como fazem os outros animas (garras, asas, caudas) tivemos a necessidade de um cérebro melhor e mais dinâmico.

Num tripé: demografia, tecnologias e evolução cerebral.

Ou seja, uma regra que tenho desenvolvido:

Quanto mais complexidade demográfica, mais tecnológicos seremos com um cérebro mais adaptado a esse ambiente.

(Note que não chamo de cérebro mais ou menos sofisticado apenas mais adaptado ao ambiente cognitivo).

Bom, é isso.

Ainda me deliciando aqui com ele.

Talvez tenha mais logo adiante.

Que dizes?

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Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Tenho feito um exercício com todos meus alunos logo no início das aulas sobre o que é a realidade.

De maneira geral, colocam a realidade como algo tangível, atingível, por um lado, e as percepções de outro. Uma realidade a-histórica, fixa como o sol, fruto do fim da era monoteísta-impressa-eletrônica. 

Já disse aqui que vivemos um momento particular na história da humanidade do fim da contração cognitiva rumo à expansão cognitiva (algo como um politeísmo-digital). Hoje, posso constatar que nossa taxa de abstração atingiu um número muito baixo. Encaramos a realidade de forma muito pouco crítica, apesar dos protestos em todo o mundo e em particular de junho 2013 no Brasil.

Se fosse a mim perguntado o que é a realidade eu diria que é uma verdadeira suruba entre:

  • – os fatos;
  • – as interpretações;
  • – as percepções;
  • – os interesses;
  • – e os contextos.

Como vemos na figura abaixo:

surubaPodemos dizer que a realidade é constituída de fatos interpretados em dadas percepções, a partir de interesses, em um dado contexto por cada pessoa ou um dado coletivo.

Assim, a realidade é tudo menos algo que possamos dizer que aquilo é a realidade.

Podemos dizer que é pouco provável que aquilo não seja um fato, dependendo muito do fato.

A morte de alguém é algo nessa direção, desde que o corpo esteja ali para ser visto e reconhecido.

É importante também analisar o contexto.

Hoje, com as ferramentas que temos, o momento que vivemos, com os pensadores de plantão (que nos dão uma taxa de qualidade de percepção) e com as mídias que temos, mais ou menos controladas e no momento sócio-político-econômico podemos ver algumas coisas que serão vistas de forma completamente diferente depois.

A suruba do real depende de muitas coisas, até mesmo de como acordamos ou vamos dormir, pois nosso humor de manhã pode ser um para um determinado fato e de noite outro completamente diferente.

Assim, o que podemos ter, como visão filosófica diante da realidade, é uma atitude de humildade e de completo respeito, pois o que hoje parece ser chão, amanhã é buraco e vice-versa.

Que dizes?

 

 

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AVISO ATUALIZEI ESTE POST POR UM MAIS COMPLETO AQUI.

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Se analisarmos a história da chegada e da consolidação de novas tecnologias cognitivas teríamos assim dois macro-movimentos cognitivos um de expansão e outro de contração das ideias com reflexos na capacidade de ver, ou não, a realidade interpretada:

  • Expansão cognitiva – a partir de uma tecnologia cognitiva descentralizadora (fala, escrita, computador) na qual ficaria mais evidente a taxa de interpretação, com um aumento do uso da filosofia pela sociedade, pois percebe-se que o mundo é interpretado;
  • Contração cognitiva – , a partir de uma tecnologia cognitiva centralizadora (rádio, tevê, jornais de grande circulação) na qual ficaria menos evidente a taxa de interpretação, com uma redução do uso da filosofia pela sociedade, pois percebe-se cada vez menos que o mundo é interpretado.

Vivemos hoje o final de um período de contração de ideias, que já dura quase 200 anos e estamos no início do processo de expansão em função da chegada da Internet. Nossa capacidade de observar a interpretação e dos interpretadores do mundo é muito baixa.

Para que isso faça sentido teríamos que defender a teoria de que são estas as principais variáveis que regem nossa espécie:

  • a) a demografia que impõe determinadas complexidades de existência e nos levam a ter que nos reinventar para sair das crises;
  • b) o ambiente tecnológico que conseguimos inventar, que acaba nos condicionando.

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Os movimentos de contração e expansão, que podem ser vistos do ponto de vista macro, com a chegada da escrita, do alfabeto ou do papel impresso também se dá no micro, quando uma dada ditadura é vencida e se abre um ciclo de descentralização das ideias.

Diante destes ciclos temos movimentos interessantes, que vou desenvolver aqui neste post.

É isso que dizes?

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Estive lendo o novo livro do Castells sobre as manifestações.

“Redes de indignação e esperança – Movimentos sociais na era da internet”.

Ouso afirmar que Castells analisa o novo fenômeno com teorias antigas.

E temos algumas discussões interessantes sobre isso.

  • O que é uma teoria?
  • Por que agora precisamos de novas teorias tanto na forma de como é feita/elaborada quanto no seu conteúdo para entender os fenômenos pós-Internet?

Uma teoria, aqui na rua, por enquanto, é a capacidade que temos de:

  • Identificar os movimentos de equilíbrio e desequilíbrio de um dado ambiente analisado;
  • Extrair um genoma das forças que provocam a mutação;
  • Procurar este genoma na história para uma visão comparativa e mais segura;
  • Colocar estas forças nos seus contextos comparativos;
  • Por fim, diagnosticar, propor metodologias reparadoras do equilíbrio e, só então, fazer prognósticos.

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Assim, novos fenômenos que causam desequilíbrio precisam passar por uma revisão teórica, pois as forças desequilibradoras não foram ainda estudadas com mais profundidade. É o que Thomas Kuhn chama de ciência extraordinária no lugar da ciência normal. Ou que Gaston Bachelard gosta de batizar como corte epistemológico.

NÃO ( e não em caixa alta e negrito) podemos analisar os atuais protestos em todo o mundo como se fossem forças estudadas pelas atuais ciências sociais (Revoluções cognitivas são fenômenos raros.). Como se fosse possível analisá-los com as velhas teorias, pois são forças que já existiam, mas eram apenas invisíveis para o nosso radar teórico. Não podemos achar que a ciência normal vai dar conta de algo tão diferente. Temos que partir para a ciência extraordinária, que podemos chamar, no caso agora, de Ciência Ninja. 😉

Há no conteúdo dos protestos mundiais (não líderes) e forma (velocidade/modelo) algo que chama a atenção pelo seu ineditismo.

Há assim um fenômeno novo que deve ser tratado de forma diferente pelas teorias.

É preciso procurar novas ferramentas com destaque o papel de mudanças radicais de tecnologias cognitivas e seus efeitos na sociedade.

Assim, urge uma nova teoria que promova revisão de forças antes invisíveis e a procura no passado de momentos similares para podermos fazer um prognóstico mais adequado, que é o objetivo principal de uma boa teoria.

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Assim, colocando dessa maneira podemos dizer que os atuais protestos fazem parte de algo maior, aplicando o método:

  • Identificar os movimentos de equilíbrio e desequilíbrio de um dado ambiente analisado;
    • Por exemplo: o aumento demográfico, o surgimento de uma tecnologia cognitiva reintermediadora;
  • Extrair um genoma das forças que provocam a mutação;
    • Chegada de tecnologias cognitivas reintermediadoras na história;
  • Procurar este genoma na história para uma visão comparativa e mais segura;
    • Chegada do mundo oral, escrito, alfabeto, papel impresso;
  • Colocar estas forças nos seus contextos comparativos;
    • Na Europa pós-medieval, por exemplo, ou na Grécia pós alfabeto;
  • Por fim, diagnosticar, propor metodologias reparadoras do equilíbrio e, só então, fazer prognósticos.
    • Trata-se de uma revolução cognitiva, que vai mudar a sociedade, é preciso migrar para um novo modelo organizacional e vai alterar toda a sociedade.

Se analisarmos assim o livro do Castells é muito informativo, mas não nos dá a perspectiva futura. Paramos nele, pois não se está procurando uma teoria, apenas apresentar um cenário. Não está, portanto, muito distante da cobertura midiática.

Já disse aqui que em termos de preparação de futuro o trabalho de Lévy é muito mais eficaz para fazer prognósticos, pois o pesquisador canadense está propondo uma teoria (baseada na Escola de Toronto) e Castells está apenas registrando o fenômeno com muita informação (o que ele faz muito bem).

Agora, vamos a segunda questão:

Por que agora precisamos de novas teorias tanto na forma de como é feita quanto no seu conteúdo? 

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No caso específico do fenômeno tratado, estamos lidando com uma mudança na forma de se produzir conhecimento. Há hoje um novo modelo de produção, através de espaços abertos, colaborativos, interativos, que as mídias sociais permitem.

Obviamente, que um pesquisador poderá chegar a boas conclusões no modelo tradicional, mas terá um problema da lentidão da publicação, da falta de diálogo com seus interlocutores e precisará, isso é o mais grave, seguir os modelos padrões de citação, que impedem que se desgarre muito do que existe hoje.

O tempo de publicação de um blog de um canal do Youtube, as críticas que são feitas e o espaço de diálogo possível coloca as teorias expostas em uma berlinda virtuosa.

Ou seja, era o teatrólogo russo do início do século passado, Maiakovski que dizia que não há arte revolucionária sem uma forma compatível.Digo o mesmo sobre o atual momento e as teorias.

Não haverá uma teoria nova, se usarmos o mesmo modelo de produção das teorias, pois estamos entrando em um novo modo de produção de conhecimento, que exige que haja uma coerência entre o que se pensa e como se pensa.

Tal modelo conta, assim, com a colaboração de desconhecidos, sugerindo mudanças, novos autores, melhorias, mostrando contradições ao longo de todo o tempo.

É uma produção aberta, dialógica e contínua, com mudanças rápidas.

E talvez o mais importante: mostrando como nós pensamos e os que têm acesso ao conteúdo demonstram a cada dia quais são os nós cognitivos-afetivos mais relevantes a serem superados.

É preciso, assim, criar uma teoria extraordinária (como sugere Kuhn) se aproveitando da força da colaboração, por isso chamei de teoria ninja.

Algumas ideias que cheguei, até aqui no tempo só foram possíveis pelo intenso debate que consegui produzir a distância e de forma presencial com meus alunos e colaboradores conhecidos e desconhecidos.

Por aí…

Que dizes?

Para o 3º Fórum de Gestão Educacional – Senac RJ.

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É importante compreender o momento que estamos passando: uma passagem de um longo período, no qual estamos deixando de ter um cérebro impresso-analógico monoteísta para outro digital politeísta.

O cérebro se modifica, conforme a complexidade demográfica que temos a administrar e as tecnologias cognitivas quem temos disponíveis.

E quando se fala cérebro entenda-se não só o tamanho físico, como foi o aumento que tivemos no passado, mas agora modificações na plástica cerebral, de como os neurônios se entendem entre si, através de sinapses.

Uma tribo pequena exige uma determinada plástica cerebral específica, assim como uma cidade grande. Para cada uma destas plásticas temos que desenvolver tecnologias cognitivas que deem suporte a essa complexidade.

Numa cidade pequena admite-se que não se use celular intensamente, mas isso é pouco provável em uma megalópoles.

O aumento da complexidade vai, aos poucos, criando modelos de expansão e contração. Se formos olhar o passado, veremos que também define o modelo das nossas crenças mais profundas, tais como o monoteísmo e o politeísmo.

Há um período de crescimento demográfico, um salto em direção e uma sociedade mais complexa, na qual se inclui o econômico, o social e o político para um processo de consolidação e, por sua vez, de expansão novamente.

Podemos dizer que o monoteísmo cumpriu um papel nos últimos 6 mil anos, que foi fortemente marcado pela chegada da escrita, mas que agora com o digital, chega-se ao final de um longo ciclo.

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As características das tecnologias cognitivas definem a topologia da governança da nossa espécie, como vemos abaixo:

monoteísmo

Quando falamos de monoteísmo – adoração sobre um só Deus, estamos falando da força das autoridades baseadas em uma dada verdade que veio de alguém e precisa ser seguida com baixa taxa de questionamento.

Tal modelo atende à uma dada complexidade humana e com um tamanho demográfico específico.

Note que o monoteísmo surge com força, a partir da chegada da escrita há 6 mil anos, pela ordem, com a Torá, a Bíblia e o Alcorão – filhos diretos do papel/tábuas manuscritas, que definem pela característica da topologia, a mensagem que vem de alguém que não está presente e se estabelece sem que seja possível modificar.

A escrita é a introdução de uma verdade que vem de fora, muitas vezes absoluta, que não permite questionamento por quem está recebendo-a, pois a escrita é um código de transmissão de conhecimento em um canal fechado.

Podemos dizer assim que todo o período dos últimos 6 mil anos foi o de consolidação do modelo piramidal do monoteísmo, que consolidou uma governança específica na sociedade, que foi reforçada pelos canais de comunicação de massa, que também tinha um código fechado.

A chegada da Internet, com a sua possibilidade aberta de construção de conhecimento, que lembra a oralidade, mesmo que em texto, áudio ou vídeo e a fluidez das mudanças em produções coletivas, nos abre uma nova possibilidade de uma governança mais politeísta – na qual cada um é um pouco seu próprio Deus, a seu critério.

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Começamos, assim, uma procura de organizações não mais baseadas em uma autoridade única e, por sua vez, monoteísta – dona de uma verdade externa ao que estão presentes em uma dado tempo e lugar.

O monoteísmo é obsoleto para lidar com a atual complexidade, que pede uma topologia de governança politeísta.

Inaugura-se um novo longo ciclo, que vai influenciar fortemente o modelo das organizações, pois vamos construir uma sociedade menos monoteísta e mais politeísta, na qual deverá se administrar as múltiplas visões, através de plataformas digitais e algoritmos que terão a tarefa de ser uma espécie de “fazedores de bíblias dinâmicas” que conterá nossas verdades líquidas.

É uma primeira abordagem nessa direção, que dizes?

Versão 1.0 – 02/09/13

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Estou vendo o seguinte vídeo no canal da USP no Youtube:

Estou ouvindo enquanto caminho na Lagoa o MP3 (que baixei direto do Youtube, através de um programa de conversão no celular) professor da USP Franklin Leopoldo e Silva, discutindo a questão da modernidade. Este vídeo acima é o de número 5, no qual apresenta a contradição do capitalismo em que precisa ter algumas bases fixas, mas que precisa permitir a inovação constante.

Ele parte do manifesto comunista de Marx e Engels, no qual a classe burguesa é apresentada como a mais revolucionária da história, mas que para se manter dominante precisa se reinventar.

É interessante, pois ao falar dos últimos 200 anos podemos dizer que tivemos como forças motoras principais da história:

  • – o surgimento da democracia, a partir da revolução francesa;
  • – que dá a base para o capitalismo muito mais dinâmico que os modelos econômicos anteriores;
  • – que, por seu dinamismo, necessidade, possibilidade cria o salto demográfico de 1 para 7 bilhões neste período;
  • E, na sequência, os meios de comunicação de massa que consolidam o modelo.

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Assim, podemos dizer que a base para a expansão capitalista foi por um lado permitir uma dada liberdade, mas que foi, aos poucos, limitada pela concentração das ideias. Ou seja, a liberdade esbarrou nas paredes das tecnologias cognitivas vigentes.

O capitalismo que temos hoje foi estruturado por uma alta taxa de controle das ideias, que permitia um tipo de inovação controlada. Há inovação, porém dentro de um determinado parâmetro.

O fator principal que nos traz para uma forte crise de todo o modelo do século XXI é o aumento progressivo da população que só foi viabilizado pela inovação permitida pelo sistema atual.

Digamos que fomos até onde se pode com o seguinte modelo:

  • – concentração das ideias;
  • – complexidade demográfica.

capitalismo

O surgimento da Internet e principalmente a sua adesão massiva pela sociedade é uma válvula de escape sistêmica à procura da macro-solução para a crise.

Vou desenvolver mais este assunto neste ebook sobre o capitalismo digital.

encontros

Veja as palestras recentes nesta página do meu canal do Youtube.

 

Versão 1.0 – 29/08/13

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Aprender é algo complexo.

A espécie humana tem um grau de aprendizado e criação sofisticado.

Já vimos neste post “A invisibilidade da interpretação” que a nossa maior dificuldade é não conseguir enxergar que o mundo é sempre interpretado e nós enquanto espécie temos uma inviabilidade de conhecer a realidade real. Ou seja, só conseguimos chegar na realidade interpretada.

Vou colocar algumas variantes no processo de conhecimento em qualquer área.

Nosso primeiro problema é interno, pois a sociedade para se estabelecer como sociedade cria uma rede de poder (usando ideias de Foucalt). Para ele, o poder não é um centro, mas uma grande rede que se estabelece dentro e fora das pessoas, de forma mais ou menos coercitiva, conforme o contexto.

Ou seja, há uma subjetivação das ideias da sociedade dentro de cada uma das pessoas, que aceita uma dada macro-interpretação da realidade e passa a agir conforme esta. Esta narrativa hegemônica teria alguns conceitos chaves que seriam os centrais, tal como hoje a ideia do lucro, força do mercado como motivador principal de todo o sistema. Como a ideia de Deus foi relevante e estruturante social no passado.

(Não estou questionando, apenas exemplificando.)

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Qualquer sociedade precisa dessa, digamos, “fé social” em uma dada interpretação geral para que possa se estruturar. Esta “fé social” é imposta pela força (ditadura) ou pelo convencimento (democracia, através do controle das ideias).

Esta fé social é um conjunto de forças em tensão, que provocam uma “narrativa hegemônica” aceita e é sobre ela que se estruturam os instrumentos de produção ou seja, a economia, a política, as organizações sociais, com suas demanda, ofertas e, obviamente, interesses de continuidade e perpetuação.

O interessante que esta narrativa, que podemos chamar de senso comum é introjetada em cada pessoa, via  organizações reprodutoras da narrativa hegemônica, tanto do ponto de vista cognitivo como afetivo, começando pela família, escola, mídia, amigos,conhecidos.

Há, assim, dois processos de conhecimento distintos quando pensamos em aprendizado, pois há:

  • Os pró-hegemônicos – que atestam, reforçam, mantém a narrativa oficial, que são estimulados fortemente. São conhecimentos em geral incrementais a base do que já existe. Reforçam os interesses vigentes, o que Kuhn definiu como ciência normal.
  • Os anti-hegemônicos – que questionam, contrapõem narrativa oficial, que é desestimulado fortemente, são conhecimentos em geral radicais, de ruptura, abrindo um crise paradigmática naquilo que já existe. Questionam os interesses vigentes. o que Kuhn definiu como ciência extraordinária (pois vai contra a ordem – isso vou discutir mais depois).

O problema é que temos que colocar esse cenário dentro de contextos de expansão ou contração cognitivas (ver mais sobre isso aqui.)

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Tenho dito que a escola não é uma organização revolucionária da sociedade.

Ela é uma organização conservadora e reprodutora da narrativa hegemônica.

Sempre será assim, com exceções que justificam a regra.

(Ver mais sobre isso aqui.)

O processo de aprendizado, assim, quando se quer “sair da caixa” é a procura de uma narrativa anti-hegemônica, que vai ferir interesses e é uma luta interna de cada um para superar as  autoridades introjetadas, que não só aceitam a narrativa oficial, mas são, mesmo que de forma tímida, sua defensora.

Conhecer assim, quando se quer ter uma visão anti-hegemônica é lutar contra as autoridades dentro e fora de nós para que possamos re-interpretar a realidade de forma a questionar alguns de seus princípios básicos.

Por enquanto, é isso.

Que dizes?

Versão 1.0 – 29/08/13

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Ontem, fiz mais um interessante exercício da diferença de percepção e realidade com os alunos da Veiga. (Veja o vídeo completo aqui.)

Há uma intoxicação Matrixiana (o filme Matrix detalha bem), no qual se apresenta o extremo da  invisibilidade das interpretações. O filme se passa em um período que vou chamar de “Contração Cognitiva”, explico mais abaixo, no qual as interpretações ficam invisíveis.

Veja o desenho.

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No desenho mostro que entre a realidade e a nossa percepção existe uma taxa (medida pela régua) que varia de visibilidade ou invisibilidade das interpretações. Quanto menos se vê as interpretações mais intoxicada está a pessoa do que podemos chamar de uma realidade real, na qual não se consegue ver as interpretações mais exposta à manipulação pelas autoridades de plantão que constroem a realidade na subjetividade alheia, a partir de seus interesses, que podem até ser contrários ao que carrega aquelas ideias!

Quando pergunto qual a diferença entre percepção e realidade normalmente se acredita em uma realidade real e não interpretada.

  • Realidade real – existe e vamos um dia chegar nela. Existem autoridades que detém a autoridade e podem interpretá-la para nós;
  • Realidade interpretada – independente se existe ou não, o ser humano nunca vai chegar nela a não ser por interpretação. Ou seja, que é possível se tocar na realidade e que não existe interpretação entre nossa percepção da realidade e ela em si. E que as autoridades podem estar equivocadas na sua interpretação.

A figura abaixo representa bem a visão de quem está na Realidade Real:

realidade real

Note que o espaço de observação da interpretação é pequeno, pois se acredita que se vê a realidade de forma “pura”.

Essa visão é – apesar de estarmos em pleno século XXI – resultado do que estamos chamando de “ditadura cognitiva e seus efeitos“. Diferente do que achava antes, não vivemos evoluções filosóficas, mas períodos de controle e descontrole de ideias, o que nos leva a uma visão não evolucionista do pensamento humano, detalhei mais isso aqui.

(Obviamente que há escalas diferente entre as pessoas, mas estamos colocando uma visão global e geral como uma tendência.)

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Teríamos assim dois macro-movimentos cognitivos um de expansão e outro de contração das ideias com reflexos na capacidade de ver, ou não, a realidade interpretada:

  • Expansão cognitiva – a partir de uma tecnologia cognitiva descentralizadora (fala, escrita, computador) na qual ficaria mais evidente a taxa de interpretação, com um aumento do uso da filosofia pela sociedade, pois percebe-se que o mundo é interpretado;
  • Contração cognitiva – , a partir de uma tecnologia cognitiva centralizadora (rádio, tevê, jornais de grande circulação) na qual ficaria menos evidente a taxa de interpretação, com uma redução do uso da filosofia pela sociedade, pois percebe-se cada vez menos que o mundo é interpretado.

Vivemos hoje o final de um período de contração de ideias, que já dura quase 200 anos e estamos no início do processo de expansão em função da chegada da Internet. Nossa capacidade de observar a interpretação e dos interpretadores do mundo é muito baixa.

Por isso, fala-se muito em sair da caixa.

A caixa nada mais é do que a incapacidade de ver a interpretação que temos do mundo, olhar para ela e conseguir superá-la, questionando a existente e procurando colocar algo no lugar.

Sair da caixa, então, como foi em Matrix é a tomada de uma pílula vermelha que olha e questiona a Realidade real e passa a perceber a Realidade interpretada.

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No momento que se aceita que a realidade é interpretada abre-se a possibilidade de ver – de fora – a realidade, vendo os códigos, o que nos leva a possibilidade de criar uma nova interpretação, saindo da caixa da realidade real.

Ou seja:

  • Sair de Matrix, a pílula vermelha, é a capacidade de ver a interpretação.
  • A interpretação da realidade é a base da organização social e da estrutura de poder.
  • Na interpretação aceita – e invisível – se esconde os interesses e o modus-operandi.
  • Na caixa, assim, existe uma caixa de interesses.

Mas isso vou falar em outro post.

Que dizes?

Proposta: uso da colaboração de massa para combater a complexidade da fiscalização do transporte urbano do Rio de Janeiro (ônibus).

 

 Apresentação no dia 27/08/13 

Veja o vídeo.

 


Talvez possamos dizer que somos naturalmente tecnológicos, ou tecnológicos naturalmente.

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Toda a base da Antropologia Tecno-cognitiva defendida nesse blog parte de uma revisão filosófica de ser humano.

A filosofia tem esse papel de definir nossas potências, impotências e onipotências, ao responder uma das perguntas centrais da nossa existência: quem somos?

(Ver mais sobre as questões fundamentais da filosofia aqui.)

Parto da visão de uma filosofia tecno-cognitivista, extraída das principais ideias da Escola de Toronto.

A base de tudo é o conceito da tecno-espécie.

Causa um certo incômodo nas pessoas quando afirmo que somos uma tecno-espécie e que não somos naturais.

Na palestra da Veiga de Almeida um aluno me questionou, pois disse que já fomos naturais, antes de termos tecnologias. Mas talvez possamos dizer, conforme o filme “2001 – uma odisseia no espaço” sugere, de que é justamente a hora que adotamos a primeira tecnologia que passamos a ser humanos. Ou seja, naturalmente tecnológicos nos tornou humanos e não o contrário.

Ou seja, só fomos humanos quando resolvemos definir que seríamos a primeira – e única espécie – que pode resolver seus problemas não criando tecnologias naturais, no próprio corpo, mas que teríamos um cérebro dinâmico que nos permitiria modificar e cria novas tecnologias.

Na evolução e competição com outras espécies, resolvemos investir no cérebro como um inventor de tecnologias que iria criar órteses que a natureza não ia nos dar.

  • Se há algo que nos define é essa relação de cérebro e tecnologias.
  • E principalmente cérebro e tecnologias cognitivas, que serviram para aprimorar essa nossa flexibilidade de criar.

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Ou seja, quando definimos que a nossa aposta biológica não seria o desenvolvimento de “tecnologias naturais”, tais como garras, asas, caudas, mas que seria num cérebro com capacidade de usar/criar tecnologias.

Só nos tornamos humanos, quando nos colocamos nas condições de tecnos, quando resolvemos não adotar tecnologias naturais, mas tecnologias artificiais, que não seriam incorporadas ao nosso corpo, mas que as usaríamos, quando conveniente, conforme cada necessidade conjuntural, através de órteses.

Ser humano é naturalmente tecnológico, qualquer pensamento que fuja disso, a meu ver, nos cria um problema de percepção básica do que realmente somos.

E nos cega para determinadas mudanças que ocorrem na sociedade, pois se somos uma tecno-espécie não vivemos em uma ecologia, mas em uma tecno-ecologia condicionada pelas introduções de novas tecnologias de todos os tipos, como maior ou menor escala.

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É essa condição de tecno-espécie que nos fez tão versáteis e poderosos. Porém tal condição não é incorporada como um fator fundamental para compreender as nossas sociedades, pois, como disse aqui, as tecnologias se tornam invisíveis, ao serem desenvolvidas, incorporadas na plástica cerebral.

E são vistas não mais como tecnologias artificiais, mas como algo natural ao nosso ser.

Nos achamos naturais, pois nosso cérebro e depois a cultura incorpora a tecnologia como algo natural e não mais inventado. E isso se é bom para vivermos, nos cria um problema teórico, pois não conseguimos enxergar os efeitos que ela têm na nossa vida, principalmente quando sofrem uma mudança radical.

  • Há, assim,  uma falsa-naturalidade.
  • Ou uma tecno-naturalidade invisível.

Tal fenômeno pode ser mantido ao longo do tempo, acredito, pois:

  • as tecnologias demoram um longo tempo para provocar seus efeitos;
  • o cérebro as trata de forma a se tornarem parte integrante das nossas vidas, as tornando invisíveis.

Porém, essa pré-condição da tecno-espécie sofre de forma abrupta quando alteramos de forma radical as tecnologias cognitivas, tal como a chegada da fala, escrita, computador e depois o computador em rede, pois elas alteram o epicentro da espécie. O cérebro que é o nosso solucionador de problemas e desenvolvedor de tecnologias fica mais potente do que era antes.

No passado, tanto a escrita, ou o papel impresso conseguiram uma certa invisibilidade nesse processo, pois o mundo vivia menos conectado e globalizado, a expansão foi muito mais lenta. Note algo engraçado que mostra tal absurdo: a história moderna, vide no Wikipédia, é considerada moderna, em 1453, quando houve a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos.

Na mesma data, 3 anos antes, Gutemberg fazia suas primeiras experiências com a prensa, permitindo que as ideias circulassem de forma completamente diferente na Europa.

Qual fato, podemos dizer a luz de hoje, colaborou mais com nossa presente?

A prensa que mudou o cérebro ou a queda de Constantinopla.

Note que a história não consegue ainda ver a relação das tecnologias e as macro-mudanças, que é onde a Escola de Toronto ganha relevância.

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A prensa foi algo lento, em um mundo que demorou  muitas décadas para assistir a uma modificação gradual do nosso cérebro. A Internet e as mídias sociais já não têm esse modelo, pois é algo explosivo, rápido, com resultados muito diferentes em um período muito curto de tempo.

Todas as teorias que temos das ciências sociais se tornam obsoletas, pois nunca havíamos problematizado como devíamos a questão da tecno-espécie com um fator fundamental para compreensão do humano e seu caminhar no planeta.

A base da antropologia tecno-cognitiva e de várias abordagens sobre o ser humano é, portanto,  a passagem do ser humano como algo natural para um ser artificial, como condição básica da humanidade.

Esta tese está razoavelmente explicada no meu livro impresso – Gestão 3.0.

Os argumentos parecem bem lógicos e estão abertos para questionamentos:

  • a) alguns animais se utilizam de tecnologias, lembro de dois (castores e joão de barro);
  • b) porém, eles repetem as mesmas técnicas, pois não são pensadas, apenas vêm no instinto;
  • c) o ser humano é o único animal que usa tecnologias e as vai aperfeiçoando, pois tem um cérebro especial.

Quando temos problemas desenvolvemos tecnologias para sobreviver.

E nossa vida, física e cognitiva, se adapta a esse novo ambiente tecno-artificial.

Assim, só podemos analisar o humano quando olhamos as tecnologias que nos rodeiam.

Note que os estudos da sociedade sempre incorporaram a ideia das variantes sociais, políticas e econômicas, mas pouco das tecnologias, pois incorporamos tanto e tão bem, a coisa cai como uma luva de tal forma, que se torna invisível.

A base dos argumentos de mudança da espécie passam por essa fonte básica e primária.

Abaixo um vídeo sobre este tema, no qual discuto que:

  • Não conseguiremos entender o século XXI com a ferramentas teóricos-filosóficas do século passado;
  • A montanha filosófica-teórica da economia, política e sociedade como motor da história;
  • A nova montanha filosófica-teórica dos efeitos das tecnologias;
  • Os efeitos das tecnologias cognitivas;
  • As causas endógenas e exógenas.

Veja o vídeo #1:

 

Siga a trilha dos vídeos.

 Versão 1.1 – 22/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

 

 

Versão 1.0 – 28/08/2013

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Quando somos surpreendidos por um novo fenômeno relevante na sociedade temos, antes de tudo, que analisar duas coisas:

  • 1- é novo, já aconteceu, ou é inusitado?
  • 2- se aconteceu, quando, de que forma e o que pode ser de similar no que temos hoje?
  • 3- quais desdobramentos tivemos no passado e o que podemos projetar para o futuro?

Isso é a base de uma teorias mais consistente.

O problema é quando lidamos com o novo, o inusitado, ligamos todas as nossas defesas para não aceitar que aquilo que achamos da realidade não corresponde à mesma.

Há dentro de nós uma autoridade, que foi introjetada, que nos domina cognitivo-afetivamente. Lidar com algo novo é ter que questionar essa força estruturante. Dependendo do espaço cognitivo-afetivo de cada um uma nova teoria vem abalar completamente as estruturas.

Os dogmáticos, por exemplo, não conseguem lidar com isso e ficam cada vez mais dogmáticos. (Tenho para mim que o dogmatismo crônico é um desvio afetivo-cognitivo-genético, que as ressonâncias no futuro comprovarão esta tese.)

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É como se a realidade estivesse dizendo de diversas maneiras:

  • “Mentiram para você”;
  • “Seu mundo está sob ataque”;
  • “Reaja”.

Pergunta-se, em pânico: o que vou colocar no lugar, qual a autoridade vai assumir o antigo papel? Com que nova verdade?

Se o fenômeno ainda envolve perda de poder, de sobrevivência, mudanças no modus-operandi o problema fica ainda mais agudo. Assim, se estrutura uma dada verdade e um fenômeno vem demonstrar que havia uma ilusão e é preciso de uma ou mais visões restauradoras, pois as disponíveis não o explicam mais – é uma crise paradigmática, ou epistemológica.

Há uma forte tendência de se procurar analisar o fenômeno:

  • – do ponto de vista emocional, com opiniões;
  • – racional, mas com as ferramentas disponíveis, mas insuficientes;
  • – através da construção de uma nova teoria, com novas bases filosóficas-teóricas.

Uma nova teoria, a meu ver, deve conter, assim, um reestudo de (novas ou velhas) forças visíveis ou invisíveis que não estão devidamente sendo pesadas na sociedade, que estão forçando mudanças em um dado contexto em equilíbrio e que não conseguimos analisá-las devidamente.

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No caso específico da chegada da Internet, podemos destacar duas forças que não são consideradas relevantes, mas que exercem uma forte influência:

  • – o aumento demográfico;
  • – a chegada de tecnologias de maneira geral e de tecnologias cognitivas reintermediadoras, em particular.

Note que são dois movimentos que são considerados “naturais” sem impacto na nossas vidas.

São considerados naturais, repare, não pelo seu impacto, mas pela sua capacidade de serem algo que vão entrando de forma lenta, sendo disseminados aos poucos e que não percebemos as suas consequências, pois elas criam uma falsa-naturalidade.

E vão criando modificações ao longo do tempo que consideramos “naturais”, mas que por essa invisibilidade acabam por não fazer parte de nossa avaliação de “coisa relevantes para se observar”.

Toda a teoria que desenvolvo no meu livro, se for ler, a base dela é de que:

  • – as tecnologias são a base do humano, que é uma tecno-espécie;
  • – a população obriga que nossa espécie se modifique no tempo para fazer a sua governança.

São obviedades invisíveis que se tornam pertinentes, a partir de uma problematização, quando conseguimos pensar fora do senso comum.

As pessoas, ao serem problematizadas, logo vêem algo que é meio óbvio, mas que por toda intoxicação que temos acabamos por não ver.

É isso, que dizes?

Versão 1.0 – 27/08/13

escola de toronto

Quem tem acompanhado o blog e minhas reflexões sabe que eu baseei minhas teorias sobre as mídias sociais, a partir da Escola de Toronto. 

Um bom texto para discutir esse assunto é esse aqui: “Pensamento comunicacional canadense: as contribuições de Innis e McLuhan – de Luiz C. Martino“.

Martino apresenta um pouco a contribuição da escola de Toronto para a comunicação e vou destacar o seguinte:

  • – afirma que uma escola se caracteriza como tal, quando tem um elo, um fundamento que une todos os pesquisadores;
  • – que a escola de Toronto tem uma teoria sobre a comunicação e não apenas observações;
  • – que a teoria deles se baseia em olhar a comunicação como elemento central do modelo de sociedade, que se resume na frase conhecida de McLuhan: “O meio é a mensagem”.

O texto mostra que a principal crítica dos pensadores de comunicação sobre tal tese “o meio é a mensagem” é seu determinismo tecnológico. Ou seja, o ser humano seria colocado como uma “marionete” das tecnologias e isso não estaria próximo dos fatos.

Martino se coloca afeito à Escola de Toronto como uma teoria promissora, citando inclusive Childe, um historiador conhecido e famoso, que critica excessos (pelo que li com razão), mas acredita em algo interessante a ser aprofundado).

Martino

Martino

As críticas que vejo e tenho lido, normalmente, nem sempre compreendem bem a proposição dos canadenses. As que compreendem apelam para o livre arbítrio e as outras forças que não seriam as da tecnologia.

Acredito que base da escola de Toronto é algo mais profundo e filosófico, que eu tenho tentado desenvolver com o conceito da tecno-espécie.

Não faz sentido pensar o ser humano como uma espécie animal como as demais. Lévy aborda bem isso nos seus livros.

Somos COMPLETAMENTE dependente das tecnologias para sobreviver, vide o filme “Naufrágo” do Tom Hanks, no qual ele cai em uma ilha e para sobreviver precisa resgatar as tecnologias básicas já desenvolvidas pela humanidade: ferramenta de caça, corte, produção do fogo, roupa para se aquecer, etc.

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Ou seja, falar em determinismo tecnológico sob esse ponto de vista é criar uma fumaça onde não se deve.

O que podemos dizer que somos condicionadores e condicionados pelas tecnologias, desde que ganhamos um cérebro com meia dúzia de neurônios.

Assim, temos que fazer uma revisão filosófica de como nos vemos como espécie para que possamos nos ver como uma tecno-espécie, dentro de uma tecno-economia, uma tecno-política, uma tecno-sociedade, em uma tecno-comunicação, refletindo em uma tecno-filosofia, em uma tecno-escola, tecno-etc. 😉

Nossa tecno-espécie é adaptativa às conjunturas existentes, a partir do desenvolvimento de tecnologias diversas que exercem diferentes condicionamentos na sociedade.

O que a Escola de Toronto tem como base – e eu tendo a achar que tem lógica – é de que as tecnologias cognitivas (conceito melhor detalhado por Lévy das tecnologias que expandem o cérebro) têm um poder maior de alterar os modelos, pois expande a capacidade de pensar, comunicar, informar, aprender, produzir novas tecnologias e mudar nossa tecno-sociedade.

Novas tecnologias cognitivas tornam nossa espécie mais flexível, mais inovadora e adaptativa.

O cérebro dentro dessa linha de raciocínio seria o epicentro da sociedade humana, sendo ele algo mutante, pois, conforme a neurociência tem demonstrado, varia a sua plasticidade, conforme as tecnologias à sua volta – vide estudos do Nicolelis com macacos e humanos.

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Assim, a crítica ao determinismo tecnológico parte da ideia de uma espécie não-tecnológica. Se pensarmos assim, sim faz sentido, mas se nos vermos com uma tecno-espécie, temos que graduar as tecnologias que chegam e como elas vão influenciar nas nossas tecno-vidas.

É justamente o contrário!

A base da reflexão crítica está antes disso, na própria maneira filosófica de se ver o  humano, (falta um pouco de filosofia na Escola de Toronto, é fato, o que Lévy tem ajudado).

Assim, não é o meio (de comunicação) apenas que é a mensagem, mas toda a tecnologia, seja qual for,  é a massagem no nosso cérebro, que muda para poder se adaptar aos novos instrumentos.

Portanto, nosso cérebro muda quando novas tecnologias aparecem e muda mais e de forma mais rápida e visível, quando massificamos um novo meio de comunicação/informação/conhecimento, tal como a fala, a escrita, o alfabeto, o papel impresso, o computador e a Internet, podendo falar de vários outros.

O que falta acrescentar é o fator demografia como fator latente que torna essas mudanças cada vez mais emergentes. E acoplar ao conceito de demografia o da gestão da espécie que precisa de mais flexibilidade, conforme aumentamos a complexidade.

Ou seja, não se pode criticar as teorias da Escola de Toronto sem uma revisão filosófica mais ampla.

E é disso que se trata esse fase neo-“torôntica” para compreender os fenômenos provocados pelas mídias sociais.

Não há hoje nas teorias da comunicação nada que seja mais pertinente dos que nossos amigos canadenses.

Que dizes?

Proposta: uso da colaboração de massa para combater a complexidade da fiscalização do transporte urbano do Rio de Janeiro (ônibus).

 Apresentação no dia 22/08/13 

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Veja o vídeo.

 

Versão 1.0 – 26/08/13

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Estamos saindo de uma ditadura cognitiva.

Um período na história de forte controle das ideias, que já dura cerca de 200 anos, desde a Revolução Francesa.

Conforme tenho estudado estamos no final do antigo modelo de governança da espécie passado  (do líder alfa de baixa rotatividade) e passando agora para um ainda mais rotativo, com lideranças muito mais dinâmicas.

Ao final destas etapas de fim de governança, nos encontramos agora como no passado em um momento de alta taxa de decadência dos princípios coletivos em detrimento dos individuais. Isso se explica pelo controle que as organizações passaram a ter na sociedade e, por sua vez, o baixo grau de controle da sociedade sobre as organizações.

Assim, as organizações nestas fases estão:

  • mais voltadas para elas mesmas;
  • com autoridades sem uma narrativa convincente para se manter onde estão, pois fiam-se no controle das ideias para se manter onde estão;
  • baixa taxa de meritocracia;
  • critérios de validação dos esforços de cima para baixo (é a autoridade que diz quem está bem)  e não de baixo para cima (o consumidor/cidadão com poder de indicação).

Estamos, assim, saindo de uma fase na qual os esforços para reduzir o sofrimento da sociedade não dão Ibope.

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A produção de conhecimento nestas fases reflete essa conjuntura.

A produção acadêmica de maneira geral acaba por atender às demandas das organizações intoxicadas por autoridades com baixa meritocracia, que tendem a validar projetos distantes da solução dos sofrimentos sociais, pois tudo é feito para manter as falsas autoridades nas suas posições.

A redução do sofrimento, que deveria ser uma medida ética para balizar a relevância dos projetos, não é valorizada.

Assim, nestes momentos é preciso abandonar os antigos modelos para se dedicar a um novo, pois abre-se um novo ciclo de demanda/oferta de projetos de conhecimento que deverão atender a um novo modelo de organização, dentro da nova governança da espécie que surge, que tem uma forte carga em direção à redução de sofrimento da sociedade.

Os critérios de validação de conhecimento passados perdem o sentido ético, pois estão voltados para os projetos de baixa taxa de redução de sofrimento das falsas autoridades de plantão.

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Assim, é preciso pela ordem:

  • – definir projetos, perguntas, problemas que tenham forte impacto na redução de sofrimento;
  • – tais projetos serão construídos de forma alternativa e deverão ser balizados – de sua eficácia ou não – não mais pelas falsas autoridades, mas por aqueles que se está procurando um determinado conjunto de sofrimento;
  • – a leitura, avanço do pensamento, descobertas devem ser balizadas pela eficácia na melhoria do pensar e fazer ações que reduzam o sofrimento.

Ou seja, o que importa no seu projeto, na sua pesquisa, não é mais o que as autoridades dirão deles, pois elas, de maneira geral, perderam o senso ético da redução de sofrimento, mas aquilo que as pessoas que você está comprometida em reduzir o sofrimento dizem/acham/sentem/se beneficiam dele.

O seu público-alvo de redução de sofrimento passa a ser a sua nova autoridade de validação e não mais as antigas autoridades!!!

O conhecimento será feito/produzido com eles, para eles, de uma forma mais anárquica, menos estruturada.

Não me pergunte como você fará pesquisa nesse contexto dentro de uma organização atual. Há brechas e em alguns casos deve ser feito fora delas, através de projetos alternativos, até pensando em crowdfunding.

Por enquanto, é isso.

Que dizes?

Versão 1.0 – 22/08/13

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Desenvolvi no post passado a ideia de que a Escola não é uma organização autônoma na sociedade. Ela é formadora do cidadão e, portanto, se esforçará para, com graduações diferentes, preparar a criança/jovem para a governança hegemônica, seja ela qual for ao longo da história.

Assim, não existe, como a história tem demonstrado, um movimento massivo por uma escola diferente da tradicional, as exceções justificam a regra. A governança da sociedade, como vimos aqui, apesar de se modificar lentamente, se altera, a partir das variantes demográficas e tecnologias cognitivas disponíveis, uma influindo na outra. A escola não é revolucionária, ao contrário, ela é a base da conservação de qualquer sociedade.

Assim, se refizermos a cronologia da história escolar, a partir da Antropologia Tecno-cognitiva, podemos dizer que tivemos:

  • A escola oral – feita de maneira informal, via conversa;
  • A escola escrita – já com uma estrutura de ensino mais organizada, via papel impresso, com um “salpicado” de som e imagem eletrônica;
  • A escola digital – que é a que estamos entrando agora.

Cada uma destas passagens nos trouxe um novo modelo cerebral mais sofisticado para lidar com cada vez mais complexidade pelo aumento demográfico. As tecnologias cognitivas, assim, moldaram o modelo de governança escolar, definindo o papel do professor e o tipo da passagem do conhecimento possível/desejável, “da verdade e do modelo de autoridade/govenança que vocês irão enfrentar”.

A escola cumpre assim um papel objetivo de moldar pelo conteúdo e pela forma: de o que deve ser aprendido e de como deve se respeitar/confiar (em alguns casos temer) o modelo de autoridade hegemônica de plantão, na continuidade da família, para estar preparado para sair de lá “pronto” para o trabalho.

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Assistimos hoje, assim, a passagem:

  • de uma governança impressa – mais vertical com um conhecimento mais sólido, pois dura mais no tempo, bem demarcada, vindo de fora e fechada, como é a característica do papel impresso, do gerador do material didático (que não está presente em sala de aula) para os alunos, através de um professor transmissor e nada pesquisador;
  • para uma governança digital mais horizontal –  com um conhecimento mais líquido, pois tem um prazo de validade muito menor, dura muito menos tempo e tem suas fronteiras menos marcadas, entre o produtor e o consumidor do conhecimento, pois existem muito mais geradores do material didático, envolvendo, inclusive, os alunos, o professor e a escola nessa discussão.

Assim, se formos analisar o provável futuro da escola temos como desafio acompanhar as mudanças graduais da demanda das novas organizações nativas digitais (que hoje são periferia, mas rumam para a hegemonia) por uma nova governança da sociedade, que, a partir disso,  vão (como já fazem) demandar um tipo de formação de colaborador mais integrado ao digital.

Este novo colaborador/aluno deve ter como qualidades, a principio:

  • a) saber lidar com grandes volumes de informação, criando sínteses e alinhando diferentes informações para tomada de decisão;
  • b) deve-se acostumar em um mundo em que a cada semana o cenário, o produto, o serviço, o consumidor pode sofrer algum tipo de alteração;
  • c) deve ter fortemente uma capacidade criativa e não mais “memoriativa”, pois será demandado que seja ele a pensar sempre a novidade na frente de outros.

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Note que o modelo da escola hoje, na sua base, impede a formação deste tipo, pois:

  • a) não é estimulado capacitação para que se faça o alinhamento de diferentes informações para tomada de decisão, pois o conhecimento já vem pronto, dividido por disciplinas que não se conversam;
  • b) tem uma INcapacidade de lidar com mudanças do cenário, pois o material didático, que vem de fora é muito sólido e não faz parte da prática escolar ser alterado dentro da sala de aula ( a escola atual não tem cultura para isso e nem sabe como começar algo assim);
  • c) os itens a) e b) nos levam para a INcapacidade criativa, colocando o futuro colaborador com baixa taxa de abstração e incapaz para atender a nova governança emergente.

A mudança da escola, portanto, não será um pulo, mas um salto similar a que foi a passagem da escola oral para a escrita. Será uma escola que terá como base um novo modelo de governança emergente na sociedade, no qual teremos como princípios:

  • o professor como pesquisador e incentivador do diálogo aluno-aluno, professor-aluno, aluno-professor;
  • a produção de conhecimento em todos os espaços e não mais do centro para as bordas – e isso precisará de um uso intenso de tecnologia e metodologia, algo como o modelo Wikipédia, que vai se negociando e melhorando de forma colaborativa o que podemos chamar de “consensos provisórios”, como sugere Dewey. O material didático migra para o modelo Wiki, em torno de problemas e não mais de verbetes enciclopédicos sem conexão é mais um “how to”, eu resolvi assim e você como está fazendo/pensando?;
  • o foco fortemente em problemas, mas não na visão de o aluno pensa em um problema cuja a solução já existe e vem de fora, mas a discussão de problemas colaborativamente, a partir de soluções inovadoras/locais/adaptadas/provisórias, de que ninguém sabe a solução que vai ser encontrada, incluindo o professor.

Tal passagem, como tenho defendido no meu novo livro, deve ser feito de forma gradual, através de zonas de inovação e, acrescento agora, com parceria com empresas nativas digitais, que terão o maior interesse na formação desse novo profissional, garantindo uma sustentabilidade para o processo, formando a nova geração para um novo tipo de organização produtiva.

É preciso, por fim, um esforço grande para promover essa passagem de forma mais suave, menos traumática e com menos sofrimento para todos os envolvidos ao longo das próximas décadas.

Este é o nosso desafio.

Bom, por enquanto, é isso,

Que dizes?

Versão 1.1 – 21/08/13

O cérebro não é ideológico e isso mata muita gente do coração!

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(Continuação do post de ontem.)

Podemos dizer que a história ocidental dos últimos 2 mil anos foi marcada pelos seguintes ciclos de descobertas:

  • Da fé/emoção – de Cristo até o século XVI quando Decartes declarou que era preciso colocar razão na fé, “Penso, logo existo”;
  • Da razão absoluta – de Descartes até o século XIX – XX –  talvez até Heidegger: “Eu sou apenas um projeto de humano, que pode ou não se realizar”, o que levou Freud a desenvolver suas teorias do inconsciente e a redução de sofrimento pela conversa sobre o “outro eu” que eu não controlo;
  • Da subjetividade – com o reforço  das forças do inconsciente, que nos legou a ideia de que não somos tudo aquilo que queremos, mas temos que negociar o tempo todo com nossa subjetividade, tal como sugere Freud, que nos traz até os dias atuais, passando pela ideia de Foucault que o poder está em nós, pois nós o introjetamos;
  • Da força do cérebro – que com os estudos que vêm sendo desenvolvidos pela neurociência demonstram que ele é um agente ativo (porém invisível até aqui) nas mudanças da espécie humana, completamente fora – até aqui –  do radar das ciências sociais. 

O século XXI em diante será, a meu ver,  marcado pela descobertas do nosso cérebro, o que nos fará rever, pela ordem, a fé/emoção, razão, subjetividade, consciência, mente sob a luz magnética de máquinas que irão “radiografar” nossos neurônios à exaustão.

O meu campo de estudos ou área de pesquisa (a gosto) da Antropologia tecno-cognitiva ganhará muito com esse aprofundamento, pois desde o meio do século passado alguns pesquisadores da Escola de Toronto têm alertado que mudanças de mídia alteram algo mais profundo no ser humano. Não, não falavam em plástica cerebral, mas de mudanças na mente, de estado de consciência e agora podemos falar de forma mais segura em cérebro, ou mais detalhadamente em plástica cerebral.

Podemos especular, por exemplo, (pesquisas podem comprovar isso ao longo do processo) de que é muito mais plausível afirmar que as manifestações de Junho de 2013 no Brasil foram motivadas, antes de tudo e mais do que tudo por mudanças profundas no cérebro em função da massificação acelerada de uma nova mídia, como detalharemos.

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Podemos provocar, assim, o debate (papel fundamental de um blog) ao afirmar que os jovens não foram para as ruas por questão de fé, nem pela tomada de consciência, tramando coisas subversivas no Facebook, nem ainda alterando seu estado de consciência política ou mesmo foram movidos pela força do inconsciente coletivo.

Quem está aqui dentro – no caldeirão das redes sociais –  sabe que tudo isso não faz muito sentido, pois a explicação ainda está em aberto, à procura de uma teoria mais plausível.

A resposta pelo atípico das manifestações e pelo volume em número de manifestantes das mesmas é de que está/estava em curso uma repentina, massiva e rápida mudança na plástica cerebral promovida pela chegada de uma nova plataforma de conhecimento, que altera a forma com que trocamos sinapses, como deve já ter ocorrido (não temos ultrassonografia para comprovar) ocorreu na história com a chegada da fala, da escrita (em suas diferentes fases, incluindo o alfabeto na Grécia e o papel impresso na Europa), do rádio e televisão (estudados por McLuhan) e agora com o computador, internet e mais escandalosamente perturbadora mídias sociais.

Ou seja, podemos criar uma teoria interessante e especulativa (que só tomografias especializadas poderão comprovar) na seguinte direção:

  • a) novas mídias alteram a plástica cerebral, conforme defendem vários autores da Escola de Toronto;
  • b) a sociedade se organiza, portanto, tendo como epicentro central o nosso cérebro, que tudo define;
  • c) nosso cérebro se expressa e cria, através de plataformas cognitivas;
  • d) quando se modificam as plataformas cognitivas, modifica-se a plástica cerebral, a base de toda a sociedade;
  • e) e como é ela o epicentro da sociedade, modifica-se toda ela quando a plástica cerebral se modifica;
  • f) a demografia é a principal causa para a latência de uma nova mídia e por um cérebro mais complexos.

Estaríamos diante de um fenômeno “Galileuneano”, em uma mudança de percepção de afinal quem está no centro do universo humano? Não seria mais a fé, a razão, a consciência, a mente, mas o cérebro, que muda sua plástica cerebral, precisando ser mais complexos, conforme aumentamos a população.

Pode parecer estranho, mas tem uma  lógica razoável para desenvolver várias pesquisas, não?

McLuhan

McLuhan

Até o século passado, ficou meio como senso comum de que era a mente (embolada com o inconsciente) o centro do universo social, sendo ela que governa nossa vida. Mudanças sociais, portanto, ocorreriam pela tomada da consciência (política, social, econômica, corporal, do inconsciente) da mente que se organizaria, subjetividade inclusive para, só então, mudar o mundo.

Hoje, podemos especular que a mente tem o seu espaço, assim como a subjetividade e até a fé/emoção, mas em alguns momentos, como em guinadas tecno-cognitivas já estudadas no passado, quem assume o comando/o controle remoto das alterações químicas do corpo é o cérebro, que modifica radicalmente a sua plástica cerebral em um movimento espontâneo para se adaptar ao novo modelo de transmissão/recepção de ideias e num processo de sofisticação para lidar com problemas mais complexos.

Óbvio que a mente/subjetividade/emoção, que seriam os aplicativos, do qual temos algum tipo de inferência, resolvem:

  • Se vamos ou não sair à rua em passeata.
  • Se vamos ou não filmar a polícia.
  • Se se vamos ou não quebrar uma loja.

Mas o movimento coletivo, o desejo, a vontade, a possibilidade de ir para a rua e procurar um novo modelo de sociedade parte de uma mudança mais funda, que é a plástica cerebral, da qual não temos como alterar, pelo menos, até o momento.

Essa plástica cerebral que é algo difuso em termos de consciência, quando olha para fora, procura algo que a represente. E há essa dicotomia entre o novo modelo cerebral e a estrutura social vigente que foi organizada para um outro cérebro menos complexo.

Assim, o jovem mutante não se vê representado na sociedade e vai procurar quem a represente, buscando  um novo modelo de governança da espécie, que naturalmente vai se construindo, em função de uma forte latência provocada pelo aumento radical da população. Foi o que aconteceu na Grécia pós-alfabeto, como estudou Eric Havelock e ocorreu na Europa pós-papel impresso (diversos autores estudaram esse fenômeno) e com a Internet (segundo Pierre Lévy). 

Podemos dizer assim que a alterações de mídia é uma oferta/demanda por um cérebro mais complexo, que será mais apto a lidar com uma complexidade do mundo muito mais habitado.

Podemos dizer, assim, que a sociedade humana tem uma organização social e estabelece redes de poder, no modelo Foulcatiano de ver o mundo, mas que todo esse poder, essa relação se estabelece por sobre uma dada plástica cerebral mutante, que quando muda o modelo estruturado de poder simplesmente perde o poder de controlar a nova força jovem mutante.

É algo ainda mais especulativo, mas é um ponto de partida, a meu ver, mais eficaz para começar um bate-papo que as velhas ferramentas da fé,  emoção, da consciência, mente e da subjetividade isoladamente não conseguem dar conta.

Vou continuar falando mais sobre isso, mas por enquanto, é isso.

Que dizes?

Versão 1.0 – 20/08/13

Castells

Castells

Ao longo dos protestos de junho de 2013, a mídia brasileira recorreu fortemente a dois pensadores internacionais: Lévy e Castells. Hoje (20/08), o Valor publica uma página inteira sobre o novo livro de Castells: “Redes de Indignação e Esperança – movimentos sociais na era da internet”.

Qual é a diferença entre os dois e por que acho que Lévy nos levará mais longe.

Castells é um sociólogo, com formação marxista, e toda a sua análise sobre o tema, até aqui, pois ainda não li esse último livro, parte ainda de um ponto de vista econômico como motor principal da história.

É a economia que muda o mundo e a chegada da Internet provoca alterações econômicas sui-generis que ele chamou de “informacionalismo”. Eis o trecho que explica bem a visão de Castells, publicado no Valor, por Jorge Félix:

“Com base em uma metodologia historicista, Castells analisa a passagem do capitalismo industrial para um processo definido por ele como informacionalismo. Enquanto no capitalismo industrial as fontes de energia determinavam o ritmo de “modernização”, no capitalismo informacional a produtividade acha-se na tecnologia de geração de conhecimento, de processamento da informação e de comunicação em símbolos”.

Ou seja, as tecnologias cognitivas passam a influenciar AGORA E SÓ AGORA a economia, a partir da chegada da internet, pois criam um modelo de geração de conhecimento, de processamento de informação e de comunicação em símbolos.

A internet é vista como algo sui-generis na história econômica e, por sua vez, na sociedade.

Castells não vê a influência do papel impresso no surgimento do capitalismo. Não vê o papel da escrita no avenço econômico nas civilizações pré-gregas, do alfabeto na cultura grega, berço do pensamento ocidental. E não analisa, assim, que não não foi só a internet que trouxe tecnologias de geração de conhecimento, de processamento de informação ou comunicação de símbolos.

Isso é uma características das mídias na sociedade e não algo que agora acontece. O capitalismo atual é um tecno-sistema econômico movido, até aqui a papel impresso, mídias de massa e computador, antes sem rede e agora com rede digital.

Não faz um vôo filosófico-teórico mais alto, se limitando a trabalhar com algumas ferramentas filosóficas-teóricas que têm disponíveis, que obscurecem seu raio de visão e, o que é pior, seus prognósticos de longo prazo.

O mundo oral, a escrita e agora o digital tiveram o mesmo papel em escalas diferentes. Ou seja, é algo que torna a chegada da Internet NÃO COMO algo surpreendente e sem precedentes históricos, mas como mais uma mudança entre algumas outras.

Mas para isso é preciso sair de uma caixa que, a meu ver, Castells não consegue.

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Por outro lado, Lévy que é filósofo da informação, segundo o Wikipédia, parte das tecnologias cognitivas como o principal motor da história. Ele afirma, diferente de Castells, que toda a sociedade, incluindo a economia, são de alguma forma condicionados por ecologias cognitivas.

Vivemos, diferente dos animais, em ecologias cognitivas que, quando mudam, influenciam fortemente mudanças na sociedade.

Lévy com este ponto de vista defende que a sociedade vive momentos de estabilidade e quebras cognitivas, através da massificação e consolidação do uso de tecnologias cognitivas (fala, escrita e computador) que modificam toda a sociedade. Para Lévy, é a mudança tecno-cognitiva que altera os rumos da sociedade e a economia está dentro dessas mudanças e não o contrário, diferente de Castells. Lévy defende que vivemos MAIS UMA e não a única quebra desse tipo, que marca a diferença entre os dois autores de forma profunda.

A visão de Lévy é embasada na Escola de Toronto, que teve como representante principal MacLuhan, que defendeu que o meio é a massagem (mas acabou ficando o meio é a mensagem), quando defende que a mídia faz a nossa cabeça, modifica nosso cérebro, independente do uso que se faz dela. Que é um tipo de bordão dessa escola com vários representantes interessantes.

Note bem que há uma diferença aqui de mente e cérebro. A mente tem consciência ao agir e o cérebro não, se modificaria de forma anatômica sem a nossa consciência, que viria depois que a plástica já foi feita. Esse duelo mente x cérebro é a base de muita discussão que virá daqui por diante.

O que estamos a dizer se falamos de mudanças cerebrais profundas?

Que o ser humano é um animal tecnológico, que o nosso cérebro é uma espécie de gelatina, que os neurocientistas chamam de plástica cerebral, que se modifica, conforme cada contexto. Sendo que uma das quebras principais dessa plástica a chegada de tecnologias cognitivas, que mudam completamente o modo do cérebro operar.

E se o cérebro muda, a sociedade vem atrás dessa mudança.

Diria mais: que a estrutura de poder em rede, fora e dentro do sujeito (com uma visão de Foucalt aqui), se estabelece sobre uma plástica cerebral, que quando muda estabelece um outro patamar, havendo uma dicotomia entre os velhos instrumentos de poder e o novo cérebro que para ser dominado precisa de um novo modelo de autoridades muito mais complexas e sofisticadas que as atuais, que só sem mantém de pé em função da dicotomia modelo cerebral-instrumentos de controles compatíveis.

A mente seria muito mais escrava do cérebro do que supõe nossa vã filosofia!

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A proposta de Lévy e da escola de Toronto é muito mais arrojada do que a de Castells, pois implica em uma revisão filosófica-teórica que abala bastante as bases das ciências humanas, pela ordem:

  • Da relação do ser humano com a tecnologia, admitindo que somos uma tecno-espécie, que vive em ecologias cognitivas e não em ecologias como os outros animais;
  • Da percepção que as grandes mudanças histórias podem ser frutos e ter como origem as quebras e massificações das tecnologias cognitivas, como o monoteísmo (paralelo ao surgimento da escrita),  cultura grega (em função da massificação do alfabeto), da renascença e do iluminismo (depois do papel impresso) e da nova primavera ocidental, que se inicia (depois da Internet), tendo como especulei forte influência da demografia.

A divergência de Castells e Lévy, a meu ver, ainda tem razões filosóficas mais profundas do nosso tempo e encontram eco nas mudanças que estão por vir e marcam a cisão que teremos nas ciências humanas daqui por diante com o avanço dos estudos do cérebro.

Questões filosóficas

A base das divergências filosóficas que teremos daqui por diante  é o embate da visão pragmática/empirista/indutiva que acredito que Castells representa claramente para a racionalista/dedutiva que Lévy e a escola de Toronto procura trazer.

Castells nos seus livros parte de uma filosofia/teoria com dados, muitos dados para chegar a suas conclusões. Acho que até que é surpreendente o quanto consegue avançar, mas esbarra em uma parede que é do econômico-centrismo, que vem fortemente de Marx e outros, numa visão teórica-incremental.

Não fura essa bolha, pois está engolfado num pragmatismo típico da ciência atual, no qual a filosofia tem pouco espaço para grandes revisões do pensar humano.

Castells é o pensador que conseguiu ir mais longe, e aí há um grande mérito, com os instrumentos que temos hoje disponíveis para analisar a rede.

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Lévy já consegue ser mais amplo, adota novos instrumentos e já inaugura na forma e no conteúdo um novo modelo de ciência e filosofia mais apropriada para as fases de reforma/expansão pós revoluções cognitivas (ver mais sobre uma nova epistemologia aqui.)

Consegue dialogar com facilidade com a neurociência que é algo que ainda vai tirar muito sociólogo do sério.

Lévy sugere de forma light, sem fazer muita fumaça, que o olhar sobre o ser humano tenha uma mudança radical, pois não podemos nos pensar como seres naturais, mas um ser natural/artificial cercado e condicionado pelas tecnologias, principalmente tecnologias cognitivas.

Isso aparece de forma mais evidente em Walter Ong, outro membro da escola de Toronto, no livro “Oralidade e Escritura” quando defende as mudanças de estado de consciência humanos diante de novas mídias e uma necessidade de rever a nossa própria identidade.

Do ponto de vista prático, a Escola de Toronto, Lévy no bolo, nos permite estudar, como vários autores já têm feito, a influência das quebras de ecologias cognitivas, desde a Grécia, passando pela Europa pós-Gutemberg com todas as modificações que tais mudanças causaram na sociedade, na política, na economia, na filosofia, na ciência.

O que permite olhar para a Internet com mais maturidade, mais serenidade e menos espanto, sendo mais uma das mudanças provocadas pro mudanças de mídia, o que me parece uma ferramenta mais poderosa de análise do que considerar a Internet como algo inusitado, quase um disco voador sem passado terráqueo.

A Internet para essa visão antropológica tecno-cognitiva é apenas mais uma etapa nesse tecno-humano e não tem nada de sui-generis. Castells, até o momento tem passado longe disso.

O que me intrigou, entretanto, foi o final do artigo do Valor, no qual há uma frase perdida, que me fez querer ler o novo livro dele para saber até que ponto ele já estaria, de alguma forma, se “Torontizando”.

Vejam lá ao falar das mudanças em curso de várias manifestações e seus impactos na sociedade, o autor do artigo termina citando o pesquisador espanhol:

“Castells explica por que (estas mudanças ocorrem): as redes estão mudando a mente das pessoas”.

Se mudam agora, mudanças similares tiveram o mesmo efeito?

Seria a mente que se modifica (através da consciência?) Ou a plástica (cérebro de forma inconsciente) antes mesmo da mente, que viria depois?

Ou os dois em ordem de consciência e inconsciência diferentes, sempre começando pelo cérebro que é anatômico e muda com a nova mídia?

A ler.

Que dizes?

 

 

 

 

Versão 1.0 – 19/08/13

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O Brasil é dividido de várias formas e vou propor uma outra divisão baseado na antropologia tecno-cognitiva.

Podemos dizer que temos com graus diferentes:

  • Um mundo oral – daqueles que não sabem ler, ou leem muito pouco;
  • O mundo escrito – daqueles que dominam a leitura e a escrita, mas não usam o computador;
  • O mundo digital – daqueles que usam o computador e agora a Internet.

Do ponto de dos estados de consciência, como gosta Walter Ong, ou da plástica cerebral como eu tenho usado, são três estágios de mutação humana diferentes.

O interessante que é comum a todos o uso da televisão/rádio, que é filtrado de forma distinta por essas categorias básicas. O mundo oral foi o modelo da sociedade até 1450, a escrita impressa + rádio e tevê marcam a sociedade até 1990 e o mundo digital vem daí por diante.

Podemos dizer que a oralidade marca um tipo de pensamento mais mágico, pois não é condicionado pelo escrito, que força um tipo de reflexão maior. Sem a massificação da escrita não teríamos superado a verdade divina pós Idade Média.

Podemos dizer que um ser humano oral vindo do passado tende a um Deus mais poderoso, pois não há explicações mais razoáveis para os fatos, ficando mais a mercê da emoção do que da razão, o que nos leva a imaginar uma atração por líderes mais carismáticos, que desperte mais emoções. Líderes mais racionais não tendem a ter adesão nesse tipo de plástica cerebral.

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Um humano domesticado pela escrita tende a ter uma hierarquia do saber mais definida, pois o autor não está presente, vem de fora, de outra localidade, mas ganha em racionalidade, reduz o envolvimento emocional com o conhecimento, tendo mais espaço para explicações mais lógicas sobre os fatos da vida.

Já os digitais, principalmente os nativos pós-Internet, vivem algo interessante, pois vivem em muitos aspectos um resgate ao mundo oral, só que agora a distância, superando os limites do espaço. Criam uma espécie de mix restaurador da escrita e da oralidade, em uma liquidez sólida, no qual tudo ocorre, intermediado pelo computador.

Talvez isso explique um pouco a revisão da noção de autoridade, pois eles são horizontais no aprendizado e não conseguem mais ver tanta necessidade (ou importância) em alguém que faça a tutoria do saber e de todo o resto.

Podemos dizer que o Brasil, assim, diferente de outros países convive hoje com três modelos da espécie humana bem demarcados e que, pela história estariam, no mundo oral, pré-revolução francesa, no escrito pós e no digital, já querendo fazer uma nova.

Para quem tem um projeto de país é preciso começar – de forma consciente e inteligente – um trabalho para a redução desse gap para que se possa criar uma sinergia entre estes três mundos. É preciso estimular de forma efetiva e o Ministério da Educação e a Capes têm um papel vital nisso de que o conhecimento hoje escrito passe para a oralidade da rede.

Na criação de um modelo de escola oral (como já defendi aqui nestes vídeos).

Deve-se estimular que os pesquisadores ao invés de ganharem apenas pontos por publicar, via papel suas ideias, que sejam TAMBÉM tão pontuados se colocarem suas ideias na rede para que os brasileiros possam escutá-los/lê-los.

Quanto mais tivermos material didático oral principalmente e seu complemento escrito e em português, mais rápido poderemos criar modelos de ensino que consiga quebrar os gaps cognitivos que temos hoje.

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A meu ver, não haverá um modelo de governabilidade sustentável se não lutarmos pela redução desse gap, pois a demanda de um cidadão oral será sempre por um tipo de representante mágico e, como são a maioria, acabam criando um modelo de dirigentes que acabam sendo o de todos e levando o país para um pântano de representação de baixa qualidade.

Falam em acabar com o voto obrigatório, que reduziria o peso do mundo oral, mas depois de muito pensar, acredito que isso ocultará um Brasil profundo que precisa mudar e ganhar mais consciência eleição por eleição, mas desde que haja um trabalho consciente e uma prioridade absoluta de colocar computador e internet cada vez mais pelo país, aliado a um projeto de educação não tradicional, no qual possamos estimular um salto de aprendizado pela oralidade na rede.

Por enquanto é isso,

que dizes?

Versão 1.0 – 19/08/13

(continuando reflexões iniciadas aqui.)

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Não sei se sabem, mas ando fazendo meu pós-doc em filosofia na Youtube University, a melhor escola já inventada em todo o mundo. 🙂

Vou flanando, conforme interesses, com meu problema relevante como meu guia (Internet/causas/consequências e atitudes mais eficazes?).

Assim, baseado nesse trilho tenho crescido muito, reforçando, questionando, aprendendo e me situando nas mudanças do pensamento humano ao longo do tempo.

Notei que temos uma linha de abordagem, que é bem marcada pelos vídeos da Educatina.

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Os vídeos da Educatina que me ajudaram no início, depois viraram algo meio como um veneno, pois eles analisam um filósofo, suas ideias chaves, seu pensamento, sem contexto.

Ou seja, as ideias deles parecem, às vezes, tão imbecis, que dão até raiva.

Porém, o problema é a falta de contexto, pois cada pensador tem dois compromissos que lhe motivam a pensar e escrever.

  • O pensamento do seu tempo, que ele vai duelar contra.
  • E o pensamento pós-tempo daqueles que ele vai influenciar.

Descartes, por exemplo, teve uma luta enorme contra a estrutura da Igreja e suas verdades absolutas, abrindo a porta para o ser humano pensar por conta própria. Depois, desenvolve o seu método de pensar.

A briga do pré é uma e o que ele propõe depois é outra.

Muitos jogam pedra na visão cartesiana, mas tem que entender o contexto em que ele produziu e contra que “dragões” ele teve que enfrentar.

Assim, podemos dizer que cada filósofo é anti algo e pró alguma coisa.

Podemos ao estudá-lo aprender algo com o anti ou com o pró, sem preconceito.

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Além disso, tenho desenvolvido a ideia de que o mundo vive ciclos de expansão e contração e que haverá mais espaço para um determinado tipo de filosofia em cada uma das fases.

  • Na expansão, haverá o questionamento das autoridades, uma defesa da razão, um caminho de se pensar problemas mais macros, de uma filosofia mais ampla, mais dedutiva, mais subjetiva. Aqui questiona-se o modelo da governança da espécie em mutação com novo modelo de líder sendo construído. Aqui teremos os racionalistas;
  • Na contração, haverá um questionamento menor das autoridades, uma defesa das coisas práticas, da melhoria da eficácia, de uma filosofia mais aplicada, de um retorno aos fatos, aos problemas concretos.  Aqui reforça-se o modelo. Aqui reforça-se o modelo da governança da espécie que já se transmutou com novo modelo de líder sendo construído. Aqui os empiristas e pragmáticos. 

 Ainda estou no início das pesquisas, mas já se tenho alguma noção de filósofos que defendem cada uma destas visões. Aguardem.

Que dizes até aqui?

Versão 1.0 – 19/08/13

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Estava ouvindo o Pondé, filósofo, no Roda Viva, recomendo.

Lá pelas tantas, perguntam para ele sobre progresso. Há progresso, há evolução humana?

Ele diz que tecnologicamente sim, mas moralmente não.

É uma boa resposta.

Porém, tenho trabalhado mais sobre essa questão da relação e da necessidade do progresso, da demografia e com o melhor modelo da governança da sociedade. Diria que o progresso tecno-econômico sempre será proporcional ao tamanho da população.

Quanto mais formos, mais precisaremos de tecnologias, metodologias, da ciência. E que esse aumento, essa mudança vai afetar todos os setores da sociedade, econômicos, sociais e políticos, sendo o tamanho da espécie a principal referência para pensarmos a subjetividade humana e suas agonias, como gosta Pondé de citar Kierkegaard.

São poucos os filósofos/teóricos que estejam colocando para valer no radar a questão da explosão demográfica dos últimos 200 anos, de 1 para 7 bilhões.

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O que deve chamar a atenção do pensamento filosófico é a questão da novidade da quantidade x tempo. Muito rapidamente saltamos de 1 para 7, o que nos traz uma disfunção gigantesca.Não acredito ser razoável que possamos falar do humano, da sua objetividade e subjetividade ignorando tal fato.

Vivemos não só o fato de sermos 7 bilhões no mundo, metade destes vivendo em megalópolis, mas o estranhamento que isso causa de forma muito rápida. (Quando eu nasci, em 1960, éramos 3 bilhões e hoje já somos 7.)  Isso, a meu ver, é o principal fator de mudança tanto objetiva e subjetiva que, não pode ser  ignorado.

Não podemos pensar o humano como algo não influenciado pelo seu corpo, as objetividades e o contexto no qual vive. Se analisarmos as principais crises que temos no mundo hoje, que motivaram, inclusive alguns cartazes dos protestos no Brasil, de junho de 2013, temos: a saúde, a educação, a mobilidade, a ecologia, a comida, a água, as neuroses pelos conflitos.

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Todos são sintomas de um modelo de governança que se estruturou para um determinado mundo de 1 bilhão de habitantes na época da Revolução Francesa e que agora não se vê mais capaz de resolver os problemas.

Há um certo anti-Malthusianismo quando se fala de demografia.

Malthus escreveu sua tese sobre a fórmula das crises da sociedade por causa da demografia, por volta de 1800, motivado certamente pelo salto de de 400 milhões para 1 bi, que ocorreu, veja o quadro:

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Temos que ter a mente aberta quando olhamos o pensamento de pensadores do passado.

Como podemos ver em vários deles, têm um problema que vem, diante de visões equivocadas dos anteriores. Ele dá um trato e sugere novidades. Malhtus pode ter acertado/se equivocado ao analisar o passado, como errado/acertado ao analisar o futuro. É preciso separar o que é podemos aproveitar de um lado ou do outro.

O que ele acertou e muito.

O ser humano adora sexo e isso vai dar problema, pois vamos crescer em proporções geométricas, enquanto nossa capacidade produtiva é aritmética. Isso para mim é cristalino. Viva Malthus!

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Malthus

Ele não teve recursos para estudar a inovação, que dá saltos para resolver o problema aritimética, criando uma inovação geométrica. A inovação é o “x” que faltava na fórmula de Malthus. Na falta disso e por uma visão aristocrática sugere, então, deixar os pobres sem assistência para morrerem à míngua e evitar o caos. Ou seja, não é à toa que foi rejeitado, mas de forma emocional e não filosófica-teórica-crítica. 

Ou seja, ele pode ter acertado na entrada e se equivocado redondamente na saída (como acho que foi o caso).

O Malthusianismo deve ser visto com essa crítica, mas não se pode jogar o bebê junto com a água pelos canos da Cedae. Acredito que pensar o século XXI sem a questão demográfica é simplesmente tentar curar uma metástase sem procurar o tumor original.

Estamos dando aspirina para pneumonia.

A base da minha teoria sobre a nova governança da espécie, provocada pela chegada da Internet se estrutura por essa revisão Malthusiana, sem preconceitos e eu percebo que o pessoal vira o nariz. Fazer o que?

Que dizes?

 

 

Versão 1.0 – 19/08/13

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Se perguntarmos para a maioria das pessoas que pensam/trabalham com educação, certamente muitos dirão que a escola precisa de mudanças mais ou menos radicais.

E isso não é de hoje.

Mas por que a escola não muda?

Acredito que algumas ideias de Michael Foucalt sobre o poder podem nos ajudar.

Para o pesquisador francês, toda a sociedade humana estabelece ambientes de poder, fora e dentro das pessoas. O poder não tem um centro, não é o governo, mas uma rede que penetra toda a sociedade, na sua objetividade e subjetividade.

O poder penetra nossa alma e toma conta (isso já sou eu interpretando.)

Foucault

Foucault

(Veja mais detalhes sobre a ideia de poder em Foucalt nesse vídeo em português.)

Assim, podemos dizer que há uma corrente articulada e sinergética entre o modelo de escola e todas as outras organizações sociais.

A escola é uma peça de um lego que tem que se encaixar em outras peças para que a coisa faça sentido. Não se pode pensar na escola como uma organização isolada de um todo, pois ela não tem uma função independente, ela terá que ser coerente em um dado contexto da estapa da implantação ou consolidação de uma nova ou velha governança da espécie.

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Talvez adaptando uma frase de Marx,que diz que toda a ideologia dominante sempre será o da classe dominante, que é límpida e verdadeira.

Podemos dizer, a partir dos novos estudos tecno-cognitivos, de que a escola dominante sempre será da governança da espécie dominante. Se a governança dominante estiver em crise, a escola viverá a mesma crise.

As experiências de escolas alternativas, formadoras de críticos, de criativos, de pessoas fora da caixa sempre esbarram no modelo das organizações de plantão para os quais os alunos logo depois terão que vender o seu tempo e ideias.

E estas organizações hoje são platônicas, ou seja, há uma verdade, da qual você tem que aceitar e seguir. Se o modelo mental for de questionamento, aquele colaborador vai ser excluído do modelo de organização atual. O que fará que o projeto da nova escola tenda ao longo do tempo a não vingar, pois somos “escravos” da necessidade de ter trabalho para sobreviver, o que impede uma vida alternativa sem em algum momento lidar como o chamado “sistema”.

(O modelo platônico é de que existe uma verdade lá fora, ou no alto, em que todos devem aprender para serem melhores cidadãos. Pensando assim, o professor exerce u m duplo papel: o de passar conhecimento e o da forma de passar conhecimento, que estabelece um modelo de respeito e de aceitação de que a verdade existe fora do ambiente da sala de aula, vem de fora e deve ser aceita sem questionamento, que é o que vai depois ter que aceitar dentro das organizações que irá trabalhar.)

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As experiências alternativas funcionam para alguns nichos, de artistas, por exemplo, e seus filhos, mas quando falamos de maneira geral, esbarram no modelo de governança da espécie ou o que Foucalt definiu como rede de poder.

Um dos filósofos da educação que podemos chamar para ajudar nesse debate é John Dewey. (Sugiro para conhecer suas ideias ver este vídeo também em português.)

Ele, no século passado, na primeira parte, veja que faz tempo, criticou o modelo platônico da escola.

Platão sugere – faz mais tempo ainda – que a verdade existe. E essa ideia da verdade existente e não questionada constitui a base do que temos na escola hoje, vejamos: se recebe “a verdade”, via material didático, memoriza e se passa de ano depois que se faz uma prova, não qual – o nome já diz- se prova que você memorizou, mas, principalmente, aceitou a verdade que está sendo dita de alguma maneira. Aceita o modelo para passar de ano!

Dewey, seguido depois por Paulo Freire e vários outros (hoje quem está na moda é Ken Robison), defendem uma escola criativa, mas ao longo do tempo não vingaram pelo simples fato de que a escola não pode ser vista de forma isolada e nem independente da governança da espécie de plantão.

É papel da escola, como organização social, preparar o cidadão, mais do que ensinar, para aceitar a governança vigente. A escola faz parte da rede de poder, não está fora dela!!!!

Muitos, depois de Paulo Freire, colocaram o problema da educação como algo inerente ao capitalismo e de que no comunismo teríamos um modelo de escola diferente, mas não é o que se vê em Cuba, por exemplo, no qual os alunos são preparados para aceitar o modelo específico de governança daquele país, através do mesmo método de doutrinação. A escola cubana também é platônica.

Assim, ao entrarmos na nova discussão da escola temos que situar a mudança no ambiente de conhecimento digital e sua influência na governança da espécie.

Se houver mudança na governança da espécie, as organizações migrarão para ela, incluindo a escola. Esta talvez seja a nova abordagem sobre o problema. A governança da espécie atual, criada para atender 1 bilhão de pessoas está em crise com a chegada de 7 bilhões.

As organizações estão iniciando um forte processo de questionamento do seu modelo piramidal e hierárquico. Ou seja, a crítica da escola não virá MAIS APENAS pelos filósofos e educadores alternativos, como foi no passado, mas já começa dentro do próprio processo de reforma do sistema, que já aparece fortemente (vide Ken Robison) que tem tido muita aceitação nos EUA, pois fala-se de inovação, de sair da caixa. Precisamos de uma nova escola mais filosófica, na qual a verdade que vem de fora precisa ser questionada, não aceitando o preceito platônico.

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Freire

A nova governança da espécie, como temos visto, é relacionada ao tamanho da população, que, por sua vez, exige um ambiente de conhecimento produtivo e cognitivo mais dinâmico.

A mudança da escola de Dewey e Freire eram pertinentes, mas estavam fora de época, pois nasceram e cresceram ao longo do que chamo de momento de consolidação de um modelo de governança da espécie, que agora, de novo, está se alterando.

A nova escola terá como obrigação acompanhar o novo modelo de governança, que está longe de ser com mais tecnologias. A base da discussão da nova escola é o questionamento, feito por Dewey, do modelo platônico da verdade feita fora da sala e não dentro dela, formando um cidadão mais ou menos crítico!

Ela  vai preparar o cidadão/cidadã para um novo modelo de organização mais próxima do que é um Google da vida, extremamente criativa e mutante. Haverá a necessidade de um aluno mais questionador, mais inovador e mais criativo.

Isso para mim é límpido e claro como um dia de sol em Ipanema.

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Estamos vivendo o ciclo de expansão, no qual a sociedade vive um movimento de releitura e de questionamento.

Minha dúvida, porém, é de outra ordem e mais macro.

Pelo que vejo, temos ciclos humanos tecno-cognitivo de expansão e retração, que variam conforme a demografia e, por sua vez, impelidos por ela, as mudanças das tecnologias cognitivas.

Será que quando voltarmos a consolidação/retração, iremos de novo procurar uma escola platônica? Ou essa procura de eterno questionamento se fixará? A história nos mostra que a escola questionadora será apenas um suporte para elevar-nos a uma nova governança e depois os novos dirigentes farão de tudo para manter o status quo, procurando um controle da nova mídia e, por sua vez, da própria escola.

Platão assim teria um botão ON-OFF?

Quando precisamos mudar a governança da espécie é OFF e vice-versa?

Não sei, pesquisando e pensando.

Não quer ajudar?

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 17/08/12

(Depois de um papo com Ricardo Ribas)

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A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida como teoria do conhecimento (tirei daqui.)

Existem várias polaridades nessa discussão e vou destacar algumas.

  • Dos fatos/experiências para as ideias ou das ideias para os  fatos/experiências?
  • A ciência é feita de continuidade ou rupturas?

Se aplicarmos as novas indagações/formulações da tecno-antropologia cognitiva (começando a gostar dessa nova designação) podemos analisar que a maneira de pensar do ser humano varia conforme o ambiente cognitivo que ele tem disponível, pois todo o pensamento é produzido, a partir de um dado canal, que precisa de um dado suporte.

Este canal  e este suporte não são fixos e variam na história com a chegada e massificação de uma dada tecnologia cognitiva (fala, escrita, alfabeto, escrita impressa, computador, internet…). Sou um dos seguidores da Escola de Toronto.

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Se há variação na plataforma de produção do conhecimento, obviamente que há algum tipo de influência no que é produzido.

Como temos visto, e estamos avançando nesse estudo, é de que os ambientes cognitivos na história tem dois movimentos:

  • De expansão – quando as ideias se descontrolam;
  • De retração – quando as ideias são de novo recontroladas.

No primeiro movimento, temos uma expansão do cérebro, uma mutação que o torna mais capaz para lidar com mais complexidade. No de retração, há uma consolidação dessa expansão e, de novo, uma estabilidade.

Ou podemos dizer a criação de uma nova plástica cerebral que se torna mais sofisticada para lidar com mais complexidade – tendo uma relação direta com o aumento demográfico. Tema que trabalhei também no meu livro impresso.

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Nestes dois movimentos teremos ciências ou modelos de ciência que serão mais hegemônicos, principalmente em se tratando na área de ciências sociais e as aplicações das mesmas na sociedade.

  • Na expansão, haverá necessidade e mais vitalidade no enfoque das ideias para os fatos/experiências, da filosofia/teoria para metodologias, pois a expansão vai criar movimentos de renovação e criação de novos modelos da gestão da espécie. Aqui teremos mais ênfase na dedução, descontinuidade, ciência extraordinária.
  • Na retração, quando vamos consolidar o momento passado, haverá necessidade de ter mais vitalidade nas metodologias, que vão adequar o novo ambiente, invertendo das metodologias/teorias, como pouco movimento na filosofia. Aqui teremos mais ênfase na indução, continuidade, ciência normal.

Assim, há uma nova luz na discussão entre os empiristas x racionalistas, pois, a meu ver, cada um ocupa o espaço em um dado tempo, nos movimentos de expansão ou retração do ambiente cognitivo.

  • Podemos dizer que na expansão estamos grávidos do que o Kuhn chamou de ciência extraordinária.
  • E que no momento de retração vamos caminhar para a ciência normal.

A descontinuidade da ciência levantada por Bachelard e depois trabalhada em Kuhn e vários outros nos leva para a visão de que há ciclos longos de expansão e retração, no qual partimos dos conceitos para os fatos ou dos fatos para os conceitos com mais ou menos intensidade, se estamos em processo de revisão geral ou de consolidação.

Se aplicarmos na história, podemos especular que no mundo ocidental:

  • Da Grécia, surgimento do alfabeto grego, Jesus/apóstolos, até a consolidação da Igreja – tivemos um ciclo de expansão;
  • Da consolidação da Igreja até 1450, surgimento da prensa – um ciclo de retração e de controle, ao longo da Idade Média, que muitos chamam idades das trevas;
  • Do surgimento da prensa até a revolução francesa – um ciclo de expansão;
  • E da revolução francesa até hoje – um ciclo de retração, que muitos chamam Idade Mídia, ou da semi-treva. 😉

Muitos dirão que a ciência avançou muito da revolução francesa para cá isso é inegável, mas podemos dizer que do ponto de vista da maneira como vemos o ser humano e a forma como organizamos a sociedade, vivemos um movimento de consolidação e de controle. E isso se espelha em uma redução radical da expansão da taxa de uso e prática da filosofia na/pela sociedade.

Tivemos avanços em todos os outros campos, mas o modelo foi sempre reforçado e consolidado.

Bom, esta é a primeira abordagem desse tema novo.

Por enquanto, é isso.

Que dizes?

Versão 1.0 = 17/08/12

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A base da antropologia tecno-cognitiva e de várias abordagens sobre o ser humano é a passagem do ser humano como algo natural para um ser artificial, como condição básica da humanidade.

Há aí uma divisão clara e fundamental entre os filósofos e isso vai aparecer me vários deles (com a pesquisa vou ir listando.) O ser humano é artificial, pois para se desenvolver precisa de órteses.

Esta tese está razoavelmente explicada no meu livro impresso – Gestão 3.0.

Os argumentos parecem bem lógicos e estão abertos para questionamentos:

  • a) alguns animais se utilizam de tecnologias, lembro de dois (castores e joão de barro);
  • b) porém, eles repetem as mesmas técnicas, pois não são pensadas, apenas vêm no instinto;
  • c) o ser humano é o único animal que usa tecnologias e as vai aperfeiçoando, pois tem um cérebro especial.

Quando temos problemas desenvolvemos tecnologias para sobreviver.

E nossa vida, física e cognitiva, se adapta a esse novo ambiente tecno-artificial.

Assim, só podemos analisar o humano quando olhamos as tecnologias que nos rodeiam.

Note que os estudos da sociedade sempre incorporaram a ideia das variantes sociais, políticas e econômicas, mas pouco das tecnologias, pois incorporamos tanto e tão bem, a coisa cai como uma luva de tal forma, que se torna invisível.

A base dos argumentos de mudança da espécie passam por essa fonte básica e primária.

Que dizes?

Versão 1.0 = 17/08/12

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Temos que pensar na antropologia tecno-cognitiva em duas fases:

  • A das civilizações – nas quais a relação de trocas entre elas era mais precária, tais como os Hebreus, os Fenícios, os Egípcios, os Maias, etc, que talvez possamos falar até pós 1500 (?) quando se inicia um processo de integração forçada;
  • A das civilizações integradas – a partir de 1500 (?), no que vamos chamar de mundo ocidental.

Assim, se formos analisar a chegada da escrita e seus impactos será preciso analisar isoladamente as civilizações em particular, com destaque para a escrita manuscrita e sua influência no surgimento do monoteísmo (um campo interessante para aprofundamento).

E depois já com a formação do que podemos chamar o mundo ocidental, depois de 1450.

Faltam dados dos historiadores e a história da prensa no Oriente.

No livro do Walter Ong, Oralidade e Escritura aparecem já algumas indicações nessa direção.

 

Versão 1.0 – 15/08/13

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A base de criação de espaços de diálogo em ambientes de conhecimento exige, antes de tudo, que a verdade absoluta seja questionada.

Temos uma tradição das escolas religiosas pós medievais que criaram a filosofia das atuais, na qual há uma verdade inquestionável que vem de cima, de Deus, e que as pessoas precisam conhecê-la para disseminá-la.

A verdade é absoluta, pois não há diálogo com Deus, pois eles escolheu alguns para disseminar seu pensamento e são eles que multiplicam (eram padres e agora professores, tutores, palestrantes).

O modelo foi adotado pela sociedade, pois se encaixa bem em uma sociedade, que visa a conservação do modus operandi, de organizações verticais, no qual um grupo pequeno no topo pensa e o resto abaixo apenas executa sem questionar – ou seja, uma sociedade com forte controle de ideias. Não, não falo só de Brasil, mas de todo o mundo.

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O modelo atual de verdades absolutas parte do principio de que  “Ele” chamou alguém para conversar e psicografou sua mensagem para os “escolhidos” que, na sequência, foram repassando para autoridades no menor escalão.

Os saberes foram divididos em assuntos, não mais em problemas, para – teoricamente – facilitar a passagem, mas basicamente para conservar e reproduzir o modelo, pois o objetivo não é/era aprender para mudar, no qual problemas seriam mais eficazes, mas aprender para repetir, conservar. Tal demanda vem de uma sociedade/organizações verticais que aprenderam a viver e produzir em um mundo com ideias fortemente controladas e, por causa disso, mais estável.

O modelo que aprendemos de espaços de saber são de reprodução de um conhecimento inquestionável. Isso é/foi plantado desde criança e estabeleceu os métodos que temos hoje e não é só na escola. Em treinamentos corporativos, palestras, encontros, temos alguém que fala, que sabe mais e os que escutam –  o Power Point é a ferramenta principal para a disseminação deste modelo

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Hoje falamos em escola mais aberta, colaborativa, em inovação nas organizações, mas a base do problema é o modelo de governança analógica da sociedade e das organizações verticais e conservadoras. Só mudam, a partir da reunião de um “concílio” de cardeais e não com a troca com os fiéis, pois os fiéis precisam apenas ter fé na verdade  e os que eles pensam (e dizem nos “confessionários”) não altera a palavra Dele.

Note que quando falamos em diálogo e se começa a entrar em um mundo de ideias descontroladas e mais instável, começa-se a ver que o veneno que distribuímos foi numa dose muito acima da aceitável!

A falta de diálogo nos ambientes de conhecimento, nos levou a um aprendizado baseado em assuntos e não em problemas e, portanto, na sequência: sem diálogo e, por sua vez, na falta de prática de construção de teorias, filosofias e metodologias mais conscientes, por fim, na capacidade de troca de argumentos.

Resumo da opera: estamos COMPLETAMENTE DESPREPARADOS para lidar em um mundo instável, em que se exige conversa, aprendizado coletivo, inovação e troca de argumentos o tempo todo – vide a dificuldade de se conversar no Facebook. A mídia de massa adora dizer que lá só se fala besteira, mas aquilo não é a gripe, mas apenas a febre da gripe do controle de ideias dos últimos 200 anos!!!

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Nossa taxa de abstração e capacidade de comunicação está no rodapé da porta! O atual modelo da falta de conversa foi muito bem plantado cognitivamente e afetivamente nas pessoas.

  • Não se pergunta para alguém sua opinião, se não se quer ouvir.
  • E não se ouve alguém se não há espaço para mudar, mesmo que o que se escute faça sentido;
  • Pior, quando se tenta escutar, ninguém consegue argumentar e dialogar, pois não fomos preparados para lidar com esse ambiente mais horizontal. Um caos!

Ou seja, é um projeto integrado, novos ambientes de ensino para uma nova sociedade em novas organizações. Uma coisa puxa a outra e uma coisa impede a outra. Dessa maneira. Se pensarmos uma nova escola para a atual sociedade, não faz sentido. Assim, como não faz pensar a nova sociedade emergente com a atual escola. Temos que criar zonas de inovação para sair dessa sinuca de bico.

 

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Consegue-se tal controle através da criação de um respeito pela autoridade que chega, pois “ela sabe” e você “não sabe” e precisa ter humildade para aceitar o que ela diz, mesmo que diga algo que já mudou, ou que diga de uma forma que não faça sentido, ou seja completamente inútil para a vida lá fora.

Quando pensamos em novos ambientes de ensino, fala-se tudo, coloca-se a tecnologia que for, cria-se o cenário que for, mas não se muda a relação da verdade absoluta x ambiente apenas receptor de verdades e não produtor das mesmas.

Ou seja, construímos ambientes de repasse de conhecimento para “transmitir” e não produzir conhecimento. Um ambiente de diálogo pede que se converse para pensar, analisar problemas relevantes e, a partir daí, construir saídas, baseada em argumentos. Precisamos retornar ao racionalismo pós medieval, no qual iremos, de novo, repensar como pensamos e ver que o modo que pensamos hoje é fruto das ideias plantadas, emocionais, baseado na falsa-aparência das autoridades e não pensadas por cada um. Por isso, pede-se TRANS-aparência, o que está além do que se vê.

Estamos saindo de ambientes de ensino neo-medievais para  neo-digitais-iluministas.

Assim, pensar em modelos mais horizontais de ensino e mais dialógicos, significa romper com algo muito básico da sociedade, a ideia da verdade divina que vem do alto, da qual todos devemos seguir sem questionar e repetir. É o modelo da governança atual vertical analógica para a nova governança digital mais horizontal, na qual as organizações não dizem sozinhas como se faz, mas fazem junto com os colaboradores e consumidores. A nova escola tem que preparar os jovens para ESTE NOVO MODELO DE ORGANIZAÇÕES.

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O caminho vai ser longo, mas é emergencialmente necessário!

Por fim, posso afirmar que tecnologias cognitivas definem o modelo dos ambientes de conhecimento com mais ou menos diálogo, pois quando elas aparecem vêm para desconstruir a sociedade e montar modelos de escolas abertas, como foram os aprendizados iluministas bem dialógicos, antes de massificar e verticalizar como foi feito pós-Revolução Francesa.

Agora, estamos vivendo essa passagem da demanda da sociedade pela volta da escola mais aberta para lidar comum mundo mais instável, que pede cidadãos mais inovadores.

Mas isso vou desenvolver depois.

É isso, que dizes?

Versão 1.0 – 15/08/13

Continuação da discussão anterior.

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É bom destacar aqui que uma narrativa e a tentativa de diálogo não são feitas sem contexto.

Abaixo detalho o que acredito que está “voando na sala” em um determinado ambiente quando quer se discutir uma dada narrativa.

Note que uma narrativa, que analisa determinado fenômeno não pega o agente ativo (quem escuta e questiona) como uma tábua vazia. Há, na menor das hipóteses um senso comum ou um paradigma científico com o qual alguém lida com o problema.

interesses

Assim, temos como possibilidades de resistências à narrativa/diálogo:

  • Comprometimentos – a narrativa corrobora ou vai contra determinadas decisões que foram tomadas por aquela pessoa que escuta? Quanto mais ela estiver comprometida com uma contra-narrativa, mais resistência haverá para o diálogo;
  • Taxa de abstração – percebe-se hoje de maneira geral uma baixa taxa de abstração, em função da saída da ditadura cognitiva dos últimos 200 anos, o que os leva a uma dificuldade de ver a realidade de fora, de poder ter mais espaço para o novo, o que tende a dificultar o diálogo. O inimigo aqui é o dogmatismo e a dificuldade de sair de uma dada caixa, pois não se vê a caixa em que se está;
  • Dificuldades emocionais – de conseguir dialogar, se relacionar, superar invejas, ser o centro da atenção. O inimigo aqui é a imaturidade emocional;
  • Interesses – quanto mais houver interesses envolvidos em uma narrativa diferente da que está sendo apresentada, mais haverá resistência. É parecido com comprometimentos, mas não igual, pois pode-se estar vendo pela primeira vez a narrativa, mas já projetando o que ela vai implicar;
  • Tempo de discussão sobre o fenômeno – um longo tempo pode significar problemas, pois pode criar uma consolidação. Um desconhecimento total pode gerar também uma dificuldade maior e pede um didatismo maior na apresentação.

É bom refletir bastante e poder levantar em que contexto está a sua audiência para saber se há a possibilidade do diálogo e em que nível, pois se as taxas de comprometimento, interesses de quem recebe a narrativa forem altas, a tendência será a de redução da capacidade de compreensão e uma baixa qualidade de debate.

O mesmo vale para questões emocionais, taxa de administração e tempo de discussão sobre o dado fenômeno.

Que dizes?

Versão 1.0 – 15/08/13

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Vou tentar iniciar uma reflexão sobre a nossa dificuldade de dialogar, principalmente quando tratamos de discutir filosofias/teorias/metodologias sobre fenômenos.

Tudo começa com uma narrativa.

Narrativa é a abordagem de alguém – ou de um grupo – sobre determinado fenômeno.

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A narrativa é pensada/construída diante de dois fatores:

  • Agentes inativos  – dos fatos, análise, textos, inputs que a pessoa recebe de seres inanimados – não ativos, livros, vídeos, áudios, reflexões internas, que não questionam diretamente, de forma ativa, os argumentos. Aqui há mais controle, principalmente, pois gerencia-se melhor o fator emocional;
  • Agentes ativos – da crítica de outras pessoas ao entrarem em contato com a narrativa, que pode ser direta (oral) ou indireta (em um dado suporte). Aqui há menos controle e se exigem muito mais administração do fator emocional.

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A narrativa ao ser detalhada é decupada em argumentos, que precisam de conceitos, que são os elementos que são as partes menores e que devem formar um conjunto mais ou menos harmônico para explicar um dado fenômeno, que pode sofrer questionamentos dos agentes ativos.

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Todo o diálogo que se estabelece com agentes ativos, ocorre a partir da compreensão ou não dos argumentos/conceitos que estão sendo apresentados pela narrativa.

Na maior parte das vezes não é feito algo fundamental para se estabelecer o diálogo, pois a partir de uma dada  narrativa apresentada, de forma clara, ou não, com seus argumentos e conceitos constituintes, temos as seguintes variantes:

  • – não ser compreendida;
  • – ser compreendida e aceita em parte ou no todo ( o que é quase impossível);
  • – não ser aceita em parte ou no todo.

São situações bem diferentes, pois enquanto não se analisar se foi compreendida da melhor maneira possível, não se pode saber se está sendo aceita ou rejeitada pelos argumentos e conceitos apresentados. É preciso saber se o outro lado entendeu o que está sendo dito, se objetiva-se começar um diálogo.

Assim, para que haja um diálogo e se alguém apresenta a narrativa, cabe a ele procurar estabelecer uma ponte entre a narrativa apresentada e o grau de compreensão do agente ativo envolvido, pois é o responsável (Pelo repasse, pois se não quer repassar, por que está apresentando?).

O agente ativo que está escutando:

  • – sabe de que fenômenos estamos falando?
  • – compreende em que a narrativa e seus diferentes argumentos e conceitos?

É preciso, antes de refutar, rebater, questionar estabelecer uma ponte de contato para saber se os diferentes argumentos foram compreendidos. Uma boa dica é pedir para que o agente ativo explique e detalhe ele a narrativa, os argumentos e conceitos para se começar o diálogo.

Se isso não for feito, não se está trocando narrativas, mas aumenta-se muito a taxa da incompreensão e dos problemas emocionais que vão surgir.

Ver novo post.

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 15/08/13

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Faz tempo que ando desgarrado da academia tradicional.

O fazer acadêmico criou um modelo interessante, porém muito próprio de um modelo incremental, o que Kuhn batizou de ciência normal.

Ou seja, note que uma tese ou uma dissertação precisa criar sempre um roteiro que a embase, através de citações e a partir de pensamentos de outros autores.

Isso é interessante e válido quando estamos lidando com um tipo de problema mais conhecido em que estamos precisando mexer poucos pedaços.

Nessa direção, sempre tive dificuldade em analisar a Internet (causas e consequências) e talvez (quase certeza) não tivesse chegado a algumas conclusões no modelo tradicional da academia.

Sem falar no tempo de produção dos artigos, do burocrático sempre encadeamento de ideias (as vezes é preciso surtar), na falta de espaços reais de diálogo e no caráter (in) validador das autoridades/pares que nem sempre querem novidades. Acaba sendo um lugar inóspito para desenvolver visões mais radicais para problemas completamente novos.

Me senti muito à vontade no blog, no espaço de diálogo com meus alunos/clientes, pois pude experimentar diversas hipóteses e rapidamente receber feed-back de sugestão de outros autores, inconsistências. Precisava de um espaço aberto, sem um texto formal acadêmico para poder formular mais livremente hipóteses, que demorariam muito mais tempo em um modelo ABNT tradicional.

Não acredito que tal método não é científico e o da academia é o único método científico válido, pois acredito que cheguei a alguns resultados interessantes, que podem servir de base para a discussão de outros pesquisadores.

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Temos que ver o fazer científico em duas etapas, dentro ou fora das normas tradicionais:

  • Fase 1 – filosófica/teórica/metodológica – criar hipóteses mais consistentes – através de argumentos lógicos daqueles que estão na praça, rebatendo outros pensadores (filosofia), analisar as novas forças, a partir desses novos pensamentos (teoria) e analisar como se pode agir diferente, a partir disso (metodologia). Note que sempre acredito, no meu caso, de tudo integrado, pois me considero um pesquisador aplicado;
  • Fase 2 – teste do modelo – a partir de ações de treinamento (no qual se testa os argumentos teóricos filosóficos) e da metodologia (onde se testa ações) para ver se fazem sentido.

Na defesa nas minhas hipóteses da fase 1, muito influenciada pela Escola de Toronto, da qual acredito que acrescentei algumas novidades, precisei questionar alguns conceitos que me pareceram inconsistentes:  tais como crise informacional, explosão informacional, sociedade do conhecimento. Tive que problematizar o papel da tecnologia na sociedade, questionar a prática (metodologia) de ver rede social como apenas uma mudança de comunicação e não da governança da espécie.

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Fui ao longo do tempo tendo que desenvolver novos conceitos, mas não o fiz sozinho.

Minha prática se baseou no seguinte modelo, que talvez seja muito mais consistente do ponto de vista dinâmico e de testes de conceitos do que o atual acadêmico, analise:

  • a) leitura variada e escuta de vídeos na Internet, áudios, etc;
  • b) contínuo refletir, via blog e canal do Youtube, com discussões no Twitter e Facebook. Note que tudo foi feito de forma aberta, diária, em uma espécie de rascunho compartilhado, no qual pude desenvolver ideias e ser questionado, via comentários, o tempo todo, incluindo aulas e palestras completas disponíveis na Internet. Em termos de quantidade de escrita dificilmente um pesquisador na minha área tenha escrito tanto quanto eu e tenha sofrido tantas críticas com tanta diversidade. Imagina se ficasse aqui esperando o tempo dos artigos acadêmicos;
  • c) desenvolvimento de hipóteses e compartilhamento das mesmas em sala de aula, palestras e grupos de estudo dialógicos para aferir a lógica e a consistência das argumentações (note que isso isso ocorreu/ocorre em ambientes longe da academia, onde as pessoas são muito mais céticas e precisam de tais teorias para tomar decisões, o que dificulta por um lado, mas traz um ingrediente interessante por outro);
  • d) consultoria em empresas para testar se a metodologia é ou não funcional, se agrega ou não.

Posso dizer que já discuti minhas ideias com um público estimado de muito mais de 2 mil pessoas.

Se analisarmos com calma, posso dizer que no meu micro escritório criei um personal departamento de pesquisa, no qual fui sendo um ponto de referência, sem custos, de um dado ponto de vista para as pessoas que estão circulando no que chamo “lado b” da modernidade, dentro das redes sociais. Dessa prática tem algo que podemos ver a construção de um novo modelo de ciência, que talvez se aplique a muitos outros problemas e não só os radicais.

Sei que não estaria no ponto que cheguei se tivesse seguido a norma tradicional (e não estaria tão satisfeito). E não acho que as minhas conclusões são pouco científicas, pois elas têm consistência nos argumentos/prática, pois por caminhos tortos e dialogando/testando com e na sociedade .

Tenho uma uma banca a cada dia, em cada sala de aula que entro ou consultoria que faço.

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Muitos dirão que os pares são melhores questionadores para testas hipóteses. Mas quem dialoga com os pares na academia? Cada um tem uma trilha separada. O bacana do meu público é que eles têm o que a academia não oferece muitas vezes: um problema real e emergente que precisa de saídas. Nada melhor para boas teorias que um campo fértil de problemas e seus atores, não?

Não nego que o doutorado muito me ajudou, mas não poderia encará-lo como fim em si mesmo, (veja reflexões sobre isso aqui). Há algo de bem novo em tudo isso e acredito que é um caminho para um novo modelo de produção de conhecimento, que precisa ser melhor discutido.

É isso.  que dizes?

 

Versão 1.0 – 15/08/13

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Sócrates

 

Qual é o principal curso que as organizações precisam?

Filosofia.

Filosofia?

Sim, precisamos reaprender a pensar com nossas próprias cabeças.

Podemos dizer que os últimos 200 anos, com a consolidação da revolução francesa (capitalismo e democracia embutidos), o mundo caminhou na direção do “você não está aqui para pensar, mas para fazer”.

Criamos um modelo organizacional vertical, com uma cabeça que ganha muito na frente, sábios e velhos conselheiros nas pontas e um bando cinza de “colaboradores” dessa visão na defesa.

O cidadão do século XX foi educado para não pensar.

O modelo de escola é o da repetição, da desarticulação de saberes, todo focado em assuntos, vindos da divindade do livro didático, que tudo sabe e tudo vê.

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Muitos acreditam que o processo de conhecimento humano é uma evolução, não é. É feito de ciclos.

É isso que a Antropologia tecno-cognitiva nos tem demonstrado.

Quando temos um novo ambiente cognitivo centralizador (papel impresso e mídia de massa), temos um recuo geral na capacidade de pensar e vice-versa: quanto temos um ambiente-cognitivo descentralizador, necessitamos voltar a desenvolver nossa capacidade de refletir.

Estamos saindo de um longo ciclo de controle, de um mundo que se estabilizou dentro de um modelo político, social e econômico, mas que chegou ao seu limite.

O que ocorre em momentos como o atual, pós-revoluções cognitivas, é o retorno dos filósofos e da necessidade de repensar como pensamos e poder criar espaços para repensar o mundo.

O maior problema que tenho com meus alunos, deve ter sido igual aos que os professores e filósofos tiveram depois da idade média, uma baixíssima capacidade de abstração.

Hoje, nós achamos que a realidade é justamente aquilo que vemos, pois incutiram em nós a invisibilidade do conhecimento que nos foi imposto a conta-gotas ao longo de nossas vidas.

Somos muito mais robôs do pensamento alheiro do que pensadores por nossa própria conta.

Vivemos num mundo em que respeitamos autoridades apenas pelo posto que elas estão e não pelo que elas dizem ou fazem. 

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Nós fomos oprimidos na nossa capacidade de nos ver como seres humanos.

Fomos reduzidos a um crachá. Nos vemos apenas como peças de uma engrenagem dentro de um projeto alheio que não é o nosso.

Com essa maneira de pensar, queremos em sala de aula o mesmo que temos nas organizações:  aprender para continuar apertando botões alheios.

O problema é que o consumidor/cidadão modificou o seu modo de pensar e fazer.

Estamos numa guinada.

E agora exige-se algo muito mais dinâmico e organizações muito diferentes das atuais, o que vai exigir criatividade, que é justamente o que falta em nós.

Assim, o retorno ao estudo à filosofia, não ao estudo desarticulado, baseado em pensadores isolados, mas uma relação da história com suas escolas de pensamento e como tudo varia, conforme mudamos nossos pontos de vista.

É disso que precisamos – urgente!

Que dizes?

Carlos Nepomuceno Quem quer ouvir de novo ou não ouviu:
http://www.youtube.com/watch?v=RqEQqs7qp_s&feature=youtu.be

 

Versão 1.0 – 14/08/13

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A construção de conhecimento atual é compatível com o ambiente cognitivo em que vivemos.

A produção é vertical e todo a certificação social daquilo que você conhece algo é dada por uma dada autoridade dentro de uma dada organização, através de um dado documento. Muitos dirão que é assim que deve funcionar, mas desde que tais instrumentos não sejam bloqueadoras da criatividade como têm se prestado.

Você pode estudar por fora, criar coisas, mas não terá certificação.

A certificação é uma forma de controle e de manutenção de um dado “status quo” das organizações produtoras de conhecimento e isso é um processo dialético, pois tanto precisamos de autoridades para regular/facilitar nossas vidas, desde que elas funcionem e preservem a meritocracia. Ou seja, precisamos de regras e autoridades, desde que elas funcionem em prol da redução de sofrimento da sociedade.

O problema, como tenho dito aqui no blog, é que as organizações e as autoridades passam dois momentos distintos ao longo da história, variando conforme o momento da ecologia cognitiva:

  • – o de reconstrução do modelo – quando temos um novo ambiente cognitivo;
  • – de consolidação do modelo – quando mantemos por um longo período um mesmo ambiente cognitivo.

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Vivemos, no atual momento, o fim da consolidação de um dado modelo de produção de conhecimento, que começa com o iluminismo/renascimento, a partir da tecno-ecologia do papel impresso, que cria a ciência moderna, mas que depois vai gerando uma burocratização normativa,  que acaba  transformando o fazer científico em algo cada vez menos meritocrático. Começa seu questionamento e a procura de um novo modelo, a partir da chegada da Internet.

Não é responsabilidade das pessoas que lá estão, mas de todo o ambiente, que foi envelhecendo ao longo do tempo. É uma crise tecno-cognitiva da própria governança da produção científica.

Toda vez que tivermos uma  longa continuidade de um dado ambiente cognitivo teremos uma situação similar a atual.

Assim, as organizações/autoridades envelhecidas pelo mesmo ambiente procuram ao longo do tempo criar regras e formas de avaliar o mérito que acabam favorecendo a conservação das ideias existentes e não a inovação das mesmas.

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Bom, isso é cíclico e nos momentos de reconstrução temos, na verdade, movimentos de questionamento das regras das autoridades vigentes para a produção de um conhecimento renovado e inovador.

Por outro lado, podemos observar também que nos momentos de consolidação, em função da tendência a conversação, o mérito vai caminhando para a forma, para a quantidade e não a qualidade do que se produz e um reforço de trabalhos incrementais.

Reforça-se uma tendência humana a lidar com assuntos, valorizar o saber enciclopedista e não um saber problematizante.

Por quê?

O saber enciclopedista é algo que valoriza o modelo vertical das autoridades, pois passa a se criar sumidades em determinados assuntos, mesmo que estas sumidades não colaborem em nada para ajudar a resolver os problemas relevantes da sociedade. Nada contra sumidades em assunto, mas isso não pode ser a regra, apenas a exceção.

Há assim, depois da chegada do novo ambiente cognitivo, uma guinada contra essa tendência.

Há uma procura de um modelo de produção de conhecimento mais colaborativa do que a anterior e novas formas de diálogo para que as novas desautoridades (aqueles que não são certificados pelo velho modelo) possam produzir um conhecimento novo em direção a uma autorização social, a despeito dos velhos métodos.

Nestes momentos é natural que acha uma tendência a um auto-didatismo e a procura de romper barreiras entre desconhecidos, que antes não se falavam, criação de ambientes de diálogo, para construir uma nova forma de conhecimento.

Obviamente, que tal produção irá se focar mais em problemas e menos em assuntos, se abraçará na sociedade para se validar, procurando quebrar a barreira das antigas autoridades.  Problemas relevantes servirão de guia principal para a eficácia do seu trabalho, pois o guia deixa de ser a autoridade/organização e passa a ser o problema e as pessoas que precisam de sua minimização.

Tal produção será “costuradora” de conhecimentos passados, que estão jogados e sem uma articulação em torno de problemas relevantes.

É algo bem interessante e definirá os rumos da academia nas próximas décadas.

O que dizes?

O filtro 3.0

Versão 1.0 – 13/08/13

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Tenho criado um espaço para questionar alguns princípios e ideias que circulam na mídia de massa. Hoje, quero comentar um artigo que li não lembro bem.

“A quantidade de informação falsa circulando na rede é imensa. Em algum momento, precisaremos de filtro”.

No artigo, temos as seguintes afirmações, se consigo bem resumi-lo todo, sugiro ler antes para voltar aqui.

  • Há muita informação truncada na Internet – concordo;
  • Há muita informação equivocada – concordo;
  • E ele pergunta – quem filtra o todo? Deixa em aberto a questão, deixando a entender que a mídia de massa tem e  continuará a exercer esse papel.

Sim, desde que aceite também o novo modelo de filtragem 3.0, via colaboração de massa e algoritmo, que ela insiste em ignorar por falta completa de visão estratégica.

Eu acho que sãos os algoritmos, que serão usados pelas grandes plataformas de ideias, que é o que imagino que o Jeff Bezos vai começar a montar no Washington Post, como já fez na Amazon.

Qual é o problema da visão de Dória que acredito ser um equívoco dele e da visão hegemônica da mídia? Vou fazer uma volta no passado para depois defender meu ponto de vista. A separação/filtragem entre o que é provavelmente verdade e mentira é a base estruturante de qualquer sociedade.

  • Tem cobra lá?
  • Posso comer manga com leite?
  • Esse remédio vai curar a minha doença?:
  • Posso confiar nesse avião?
  • Esse camarão é fresco?

images (51) Note que se as respostas forem mentirosas as pessoas podem sofrer mais ou até morrer. Ou seja, uma sociedade se estrutura em um critério de escolha de autoridades para ajudá-la a decidir o que é verdade ou mentira – filtrar a mentira para deixar a verdade. O problema é que as autoridades mudam, se tornam obsoletas no seu papel de filtro, conforme a população cresce.

O ser humano é o único animal que pode crescer indefinidamente, diferente dos outros que têm limitações de governança, pois justamente precisam de um sistema bem articulado de verdades e mentiras para a tomada de decisão. Nós podemos crescer, pois criamos tecnologias cognitivas que nos possibilitam sofisticar as autoridades, criando novos modelos de filtragem das verdades e mentiras.

Tivemos, pela ordem, as autoridades, que se espelham também nos filtradores respectivos:

  • orais – com chefes tribais;
  • escrita manuscrita (há 5/6 mil anos) – com líderes hereditários;, com forte influência dos representantes de deuses, curandeiros e depois padres, bispos, escribas, etc;
  • escrita impressa (há cerca de 450 anos) – com o início dos líderes rotativos/democracia representativa no lugar de reis e nobres, com o surgimento da mídia de massa;
  • mundo digital (há 20 anos) – com líderes ainda mais rotativos, através do uso de algoritmos largamente utilizados ainda entre as novas gerações, mas não pela sociedade.

IMG_9657 Até a chegada da Internet nossas autoridades eram baseadas no filtro do que circulava em papel impresso e na mídia de massa, que definia os critérios de verdade e mentira do mundo para nós. Essa filtragem que foi bastante produtiva até um certo ponto, ao longo dos últimos séculos foi se tornando obsoleta por dois motivos:

  • aumento radical da população – de 1 para 7 bilhões, o que fez com que tivéssemos muito mais gente para ser informada, com desejo também de informar, trocar, com uma complexidade cada vez maior, idem com diversidade, exigência de qualidade; 
  • obsolescência do modelo – com o controle cada vez maior das organizações, que passaram a defender seus interesses nestes canais, o que foi dificultando saber o que era de fato verdade ou mentira.

Houve um processo de perda de credibilidade dos mais críticos, mas sem alternativas à vista, até 1990.

A chegada da Internet cria uma nova forma de filtragem, que vem sendo experimentando ao longo dos últimos 15 anos, através de um novo modelo  TAMBÉM de colaboração de massa + algoritmos.

O modelo pode ser visto funcionando – bem e ainda em evolução – no Google, que consegue filtrar o que é relevante em cada busca, sem a necessidade de pessoa em carne e osso, pois não ia ser dinâmico do jeito que se quer. ganhar-dinheiro-adsense Eles, ao invés de um filtrador de carne e osso, criaram um robô que analisa o carma digital de cada link , a partir de critérios matemáticos sofisticados, que vêm sendo aperfeiçoados (e piorados em alguns pontos)  para que sejam reduzidas as fraudes, ou a mentira, ou melhor, o que não tem mérito.

Nas vendas do Mercado Livre, da Estante Virtual ou no Taxibeat, exemplos que apresento no meu último livro, Gestão 3.0 – a crise das organizações tradicionais. O aumento da complexidade tirou dos antigos filtradores a capacidade. Pode ser visto, por exemplo, no SlashDot, site de hacker, com a maravilhosa tese da Bia Martins, que detalha todo o novo modelo com seus mérito e desméritos.

Assim, quando Dória pergunta quem vai filtrar então a verdade e a mentira, me parece claro que não temos mais condições de imaginar pessoas de carne e osso. O atual filtrador deve subir de escala, passando a ser um gestor do algoritmo e da colaboração de massa e ocupar o papel nobre que o robô e o usuário colaborador não consegue.

Ou seja, temos hoje um grande mercado inexplorado para que os filtros 3.0 aconteçam, pois não seremos humanos sem filtros, porém a mídia de massa insiste em manter o posto de filtrador de carne e osso, no modelo que deu o que tinha que dar, não experimentando novas alternativas, sem entender que o velho filtrador está em fase terminal diante de um mundo digital complexo com 7 bilhões de pessoas.

E isso nos leva para o atual impasse das velhas organizações, uma perda razoável de valor e o grande risco de ser vendida, a preço baixo,  como acho que vai, como foi o Posto para os filtradores 3.0, que estão aí cada vez mais ricos e com sangue na boca, pois perceberam para onde a nova banda toca. Que dizes?

Versão 1.0 – 14/08/13

Podemos dizer que o ser humano atua em sociedade, tendo como base um triângulo de três vértices como vemos abaixo:mudancas4

De forma simplista podemos dizer que:

 

  • Informação – o conjunto de atividades necessária para que possamos tomar decisões;
  • Relacionamento – o conjunto de atividades que nos permite a socialização;
  • Produção – o conjunto de atividades que permite a produção de bens de consumo e a remuneração para que cada um sobreviva.

Tais fatores criam o que podemos chamar de “modus operandi” de uma sociedade. O interessante é que quando temos a chegada de uma nova tecnologia cognitiva reintermediadora as três ações sofrem mudanças, tanto nas atividades do ser humano, a partir da massificação e uso, que vão modificando a plástica cerebral para que o humano se adapte a esse novo “modus operandi”.

Podemos observar que com a Internet, estes itens se modificam como vemos na figura abaixo:

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É isso que dizes?

Versão 1.1 – 13/08/13

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Uma das coisas que mais me incomoda no mundo atual são os falsos-gurus.

Note que os livros, congressos, “teorias” que temos hoje são quase sempre americanas, principalmente na área de negócios, que partem da intuição e não de um método de análise, de uma teoria. Nada contra se sempre desse certo, veremos que a partir desta década isso não vai mais funcionar.

Iremos ver surgir e crescer o espaço dos filosófos e teóricos menos marqueteiros, vou explicar por que.

Nossos falsos-gurus têm trabalhado num mundo estável e pouco mutante. Não tiveram necessidade de ir mais fundo, procurar razões históricas, pois apenas a intuição, até hoje, foi quebrando um galho.

Num cenário assim mais estável admite-se que a boa intuição de alguém mais esperto consegue reduzir a margem de erro, pois faz-se um pensamento meio linear e pode-se a cada livro novo fazer os ajustes necessários para continuar um pouco a frente de todos. Porém, a estrutura de pensamento não parte de uma teoria ou uma filosofia mais consistente de longo prazo. Deve-se rezar que os russos continuem jogando da mesma maneira. 😉

Muitos dirão que não havia necessidade e eu tendo a concordar.

A estabilidade criou uma relação custo/benefício do pensamento que nos deu esse método pragmático de curto prazo para pensar os problemas, porém isso chegou a seu limite, em função da guinada da Internet.

Ou seja, os atuais gurus são razoavelmente eficazes em mudanças incrementais, pois trabalham no nível das metodologias, mas quando precisamos de guinadas teóricas-filosóficas eles começam a ratear.

De maneira geral, reúnem um conjunto de fatos com alguma lógica, apresentam uma explicação, algumas recomendações, mas não uma teoria. Trabalham sempre dentro de um mesmo paradigma teórico-metodológico de curto, raramente de médio prazo. No longo, nem pensar. Pra que?

Uma teoria é algo que se baseia em uma visão filosófica, que consegue destacar forças em movimento, priorizar algumas sobre outras, em determinados contextos, que permite a independência do leitor da mesma para pensar com sua própria cabeça e conseguem fazer prognósticos de médio e longo prazo. 

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A maior parte do conhecimento que temos hoje é baseado na opinião das pessoas, da sua intuição, de seu pensamento não filtrado por uma teoria, o que cria uma relação de dependência com o leitor/ouvinte/auditório, de venda de consultoria casada. O que se quer, se pode, ou se quis, por necessidade, não foi desenvolver ciência, mas apenas vender uma intuição mais apurada dentro de um campo teórico pouco mutante.

As organizações embarcaram nessa, pois vivíamos um momento de continuidade dentro de uma mesma visão de mundo. Não havia rupturas de larga escala, na qual é preciso uma macro-revisão filosófica teórica.

Os nossos falsos-gurus se baseiam em uma escola filosófica pragmática/empirista, que trabalha no nível das metodologias e não das teorias e nas filosofias.

Agora, tal abordagem ficará cada vez mais precária, gerando uma visão obtusa da realidade e levando as organizações a gastar mais dinheiro do que necessário e provocando, em diversas situações, a falência, que será da organização e do atual modelo de pensamento e de todos que insistirem em mantê-lo – pois não conseguem projetar um futuro.

As organizações estão engaioladas em um modelo de pensar filosófico/incremental que será um veneno poderoso diante de um mundo hiper-mutante. O que vai diferenciar o salto para o novo mundo será a capacidade dos gestores em conseguir lutar contra esse modelo.

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Alerta-se que as velhas autoridades, responsáveis pelo pensamento guia das organização, que sempre as conduziram não conseguirão lidar com rupturas desse tipo, pois exige-se mais do que a intuição ou articulação rápida de fatos e números, mas um método de análise que possa ver o futuro com mais clareza.

Só uma revisão filosófica-teórica permite esse tipo de coisa.

Haverá um resgate de um senhor barbudo e sábio: Gaston Bachelard, um crítico radical das teorias empiristas/pragmáticas, desde suas origens no inicio do século passado, um influenciador de Foucalt, Derrida e Bourdieu.

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Ele afirmava , ao contrapor o pragmatismo com racionalismo, que é impossível fazer ciência baseado na intuição, na simples observação de dados, pois cada pesquisador traz em si um “óculos teórico” que faz com que ele tenha dificuldade de pensar determinado fenômeno de uma nova maneira, a tendência é sempre seguir o modelo .

Afirma que é preciso criar um método de análise para olhar os fenômenos e que o senso comum, incluindo do próprio pesquisador, é o principal inimigo da sociedade. Assim, não há ciência neutra, mas uma ciência imersa no senso comum de cada época e o fazer científico é uma luta contra essa visão preguiçosa, que nos impede de ver com mais clareza os fenômenos. 

Segundo ele,  não são as intuições em seu estado puro que ajudam a ver melhor os fenômenos, mas todo o trabalho de reflexão e de criação de um método, que é esse intuição trabalhada e principalmente revendo os falsos-paradigmas de quem analisa um determinado problema.

  • Talvez possamos hoje de forma mais equilibrada afirmar que o pragmatismo/empirismo funciona razoavelmente na consolidação de uma dada governança da espécie, dentro de uma estabilidade cognitiva específica, com problemas sérios quando há rupturas.
  • E que o racionalismo se torna emergente na ruptura com a chegada de uma nova governança da espécie, dentro de uma instabilidade cognitiva específica. Tal abordagem seria muito cara e questionadora  quando se quer ao contrário resultados de curto prazo e consolidar modelos.

Ou seja, não é isso ou aquilo sempre, mas isso ou aquilo dependendo da conjuntura!

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Ou seja, chegou a hora do racionalismo.

Nele se sugere que a ciência não é uma evolução do senso comum mais e mais trabalhado, mas a criação de uma “ferramenta teórica” baseado em outras teorias, que vai analisar os fatos de uma outra maneira para não ser enganado pelo que há de “poluído” e “intoxicado” no senso comum. Ou seja, é o senso comum visto com um determinado aparelho, cortado ao meio e não evoluído a partir dele.

Vejam esta citação que Bachelard faz, citando o padre  Louis Castel:

“O método dos fatos, cheio de autoridade e poder, se arroga um ar de divindade que tiraniza nossa fé e constrange nossa razão. Um homem que raciocina, que faz uma demonstração, trata-me com um homem; raciocino junto com ele; deixa-me a liberdade de julgar e, se me força, é através da minha própria razão. Mas aquele que grita “é um fato” consideram como escravo”

Isso vale para 95% do mercado atual, os outros 5% ficam por conta da exceção que justificam a regra.

Ou seja, todo o pensamento contemporâneo, principalmente americano, baseado na intuição, na melhora do senso comum, sem um aporte teórico/metodológico conseguiu ir bem até aqui, pois estávamos diante de fenômenos incrementais, da consolidação de um modelo de sociedade criado pós-revolução francesa, que se manteve relativamente estável nas suas bases teórica-metodológicas.

Os pensadores alternativos que questionaram o modelo eram apenas provocadores e questionadores de alguns absurdos que continuam existentes, mas o modelo de governança permaneceu o mesmo, o que não abalou as organizações e manteve um conjunto de falsos-gurus no topo da colina – ATÉ AQUI.

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Agora, com a atual ruptura, na qual se cria um novo modelo de governança a abordagem filosófica pragmática/empírica não é suficiente para a tomada de decisões, que precisa ser feita.

Não será conversas de cinco minutos, na observação dos fatos, nas opiniões dos especialistas no mesmo paradigma que vão nos ajudar a pensar o que virá – mas será através de um método de análise, que consiga, no caso da chegada da Internet, uma visão histórica de comparações de rupturas similares que farão que pensemos o problema sob um outro paradigma, sob o risco de  perda um tempo/recursos (que talvez não se tenha.)

Hoje, não se trabalha com teses ou memória de cálculo para se chegar aos resultados e à tomada de decisão, pois o método é sempre indutivo, de dentro dos dados para conclusões e nunca de filosofias, teorias para metodologias, via dedução.

Tais preceitos tornam as organizações da sociedade e seus cidadãos co-dependentes dos gurus, similar ao domínio dos padres da Idade Médica, no qual não se tem uma lógica, mas uma verdade divina que deve ser seguida pela força do lugar que ocupam no altar e não pelos argumentos do que dizem. 

Bachelard é um crítico radical da pseudo-ciência pragmática/empirista que agora mostrará suas deficiências diante de uma pré-primavera tecno-cognitiva digital em rede, no qual o modelo pragmático perde o sentido. Conheça um pouco mais o resumo do seu trabalho num bom verbete sobre ele no Wikiépdia.

 

Versão 1.0 – 12/08/13

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Tenho tentando reconstruir nossa visão da sociedade, da história, da filosofia e do mundo, a partir da Antropologia tecno-cognitiva, que amplifica o poder das tecnologias cognitivas no ser humano.

Vamos, a partir disso perceber que a produção do conhecimento varia, de intenções conforme o momento de consolidação – ou diapasão da sociedade.

  • O momento de diapasão, ou primaveras, é quando temos uma nova tecnologia cognitiva que se massifica e procura em um dado período histórico criar as condições de reflexão/sociaial necessária para estabelecer um novo modelo social, estabelecendo uma nova classe social mais dinâmica no poder;
  • O momento de consolidação – ou de anti-primavera quando a nova classe se estabelece e começa a consolidar o seu modelo, criando e aprendendo a controlar as ideias, recriando uma espécie de ditadura cognitiva.

O conhecimento fica, assim, a mercê desse movimento.

Na fase da diapasão ele é recriador e na consolidação ele é conservador.

  • Na primeira etapa, ele procura criar novas autoridades mais legítimas.
  • Na segunda etapa, procura manter as autoridades que eram legítimas, mas vão se perdendo por querer manter seus postos.

O conhecimento da diapasão se estabelece na procura de leis, forças, pressupõe que se questiona sempre algo, é questionador, o inimigo é a ignorância, reflexivo racional, mais horizontal, aberto, filosófico e anti-autoridades pela simples autoridade.

O conhecimento da conservação se estabelece na procura de reforçar a autoridade e o que ela diz por ser ela que disse, é dogmático, opinativo, emocional, vertical, conservador, fechado, monológico, emocional.

Os conhecimento hegemônicos, que terão força a cada momento serão os que reforçam ou questionam o modelo vigente.

Assim, a escola em cada uma das etapas terá um papel diferente, ou será preparadora de um novo tempo, ou reforçadora do tempo atual.

O que nos faz pensar na frase de Bachelard:

“A escola será feita para a escola e não a escola para a sociedade.”

Acredito que depende da fase de implantação ou de consolidação do ambiente cognitivo.

Que dizes?

 

 

 Versão 1.0 – 12/08/2013

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Podemos observar que fechamos um ciclo com a chegada da Internet, que começou há 5 mil anos atrás, quando Moisés desceu da montanha com a tábua dos 10 mandamentos ESCRITA.

Ali, se estabelecia a ideia de um Deus único, que se comunicaria com o ser humano, através não mais do mundo oral, mas do mundo escrito, que precisava de uma autoridade que escreve e de um seguidor que lê, a partir do que foi dito ou interpretado.

O mundo oral era mais horizontal, apesar do poder dos líderes tribais, talvez por isso, tinha mais deuses e diferentes verdades.

A palavra escrita era tão mágica que só poderia ter vinda de Deus e um Deus único.

O monoteísmo, acredito que podemos especular, vem justamente do surgimento da escrita manuscrita e primitiva que é contemporânea do judaísmo, que marca toda a civilização ocidental.

Podemos dizer que a escrita teve três fases bem marcadas.

  • A escrita manuscrita sem alfabeto – que vai até 3 mil antos atrás (aproximado);
  • A escrita manuscrita com alfabeto – que se torna mais fácil e barata para disseminar ideias, que vai até 1450;
  • A escrita impressa – que se torna ainda mais fácil e barata para disseminar ideias, de 1450 em diante.

(Note que são dados do mundo ocidental, aqueles que nos influenciam mais.)

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Antes de Jesus, tivemos, com a criação do alfabeto sumério depois fenício depois importado pelos gregos, um salto quântico da troca de ideias, pois o alfabeto consegue dizer mais com menos.

Tal avanço tecno-cognitivo permitiu a tecno-primavera de algumas civilizações, em especial a grega, uns 1000 anos antes de cristo, com a construção de um modelo de pensar relevante e diferente, que vai ser incorporado parcialmente pelos primeiros cristão e voltará com toda força com a primavera do papel impresso 1500 anos depois.

Os renascentistas resgatam os gregos para revigorar seu pensamento não mais como uma verdade divina fechada, mas com a perspectiva de recriá-lo.

(Com a chegada da Internet, estamos reabrindo um novo ciclo teco-primaveril, agora digital em rede, pois observa-se que a cada nova tecnologia cognitiva que surge mais barata, mais fácil, que se massifica, permite que se supere a ditadura cognitiva anterior, se reconstruindo um novo modelo de sociedade, envolvendo todos os fatores, começando pelo conceito de Deus.)

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O interessante é observar que fechamos um ciclo agora do monoteísmo, aberto há 5 mil anos, que determina uma hierarquia bem definida de alguém que sabe, que passa para outro alguém, que para outro e os demais leem e seguem.

O modelo hierárquico da verdade divina estruturou o judaísmo, com posterior rompimento cristão, que sai de uma religião não evangélica (o judaísmo nas sua origens se vê como o povo escolhido por Deus, que, por causa disso, não procura adeptos, estabelecendo uma civilização fechada em si mesma em traços de cultura, religião e sangue).

Sai-se disso para uma reforma do discurso cristão, em que todos são iguais perante a Deus.

O cristianismo foi uma espécie de “Reforma Protestante” do judaísmo, no qual se abre para o evangelismo da palavra, se libertando dos traços de sangue judaico. (Falta-me ainda informações da relação de Jesus com os Gregos.)

A estruturação posterior da Igreja se estabelece no modelo organizacional, oriundo do monoteísmo, em que há uma verdade que vem de cima e deve ser obedecida, a duras penas por quem está embaixo.

Cria-se o modelo de verdade divina x heresia e a impossibilidade de se pensar/falar algo diferente, o que vai durar ao longo de toda a Idade Média, um período de consolidação, na verdade, do modelo monoteísta no mundo e da hierarquia vertical  de organização humana.

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Todo este modelo precisava da escrita manuscrita (que permita a burocracia aprender e se organizar, fechada a sete chaves) versus um modelo de comunicação e marketing oral, apostando-se na ignorância dos fiéis, seus medos e inseguranças diante do inferno e dos pecados.

A chegada da prensa e da difusão de novas fontes da verdade, a partir de 1450, na Alemanha,  inicia o fim do processo de questionamento da Igreja/Monarquia da verdade divina e absoluta.

A escrita ao se popularizar desfaz o seu encanto divino e permite que se comece um processo de novo exercício cerebral/afetivo, que vai durar um longo período, exatos 350 anos, até o surgimento da revolução francesa.

Me parece que toda primavera tecno-cognitiva procura colocar no poder uma nova classe social mais adaptada para lidar com as novas complexidades de plantão.

A nova classe quer surge pós-revolução francesa, apesar de estabelecer um novo modelo econômico, mantém o monoteísmo hierárquico como modelo de governança, retirando apenas o critério hereditário para se manter no poder, substituindo por outro, mais rotativo.

Há pouca mudança na raiz da visão organizacional/divina

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Ao se cortar a cabeça do rei na Inglaterra por volta de 1640 e depois na França em 1789, o mundo estava incorporando o novo modelo de troca, através do papel impresso, se libertando do jugo da ideia da verdade divina-papal-monárquica hereditária, instituindo outra mais rotativa, mas no mesmo modelo piramidal, pois é/era baseado no monoteísmo/escrita agora impressa.

Podemos especular que há, assim, ciclos de primavera constatados:

  • Alfabeto grego – primavera grega;
  • Escrita impressa – primavera pós-papel impresso.

A última primavera, portanto,  podemos dizer que vai de 1450 até 1800, quando há um uso alternativo e a construção de um modelo de uma nova organização e a criação/surgimento de nova classe social para substituir o antigo monoteísmo hereditário, que surge com Moisés e é levado a última potência pela igreja.

Toda primavera procura uma classe dominante mais complexa e mais dinâmica do que a anterior.

A nova classe capitalista passa, então, ao movimento inverso da primavera renascentista, que visava desconstruir  Agora, o movimento é inverso, pela consolidação,  de 1800, até a chegada da Internet, estabelecer um novo controle das ideias.

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As mídias de massa cumprem um papel relevante nessa direção, pois resgatam o mundo oral, mas não mais um mundo oral de conversas horizontais, mas um mundo oral verticalizado, o que é muito mais dominador, pois a oralidade é algo que atinge o controle sobre muito mais gente de forma muito mais eficaz, aprofundando a anti-primavera.

Da mesma maneira que podemos dizer que há um período anti-primavera depois dos gregos e do movimento de Jesus, renovando o judaísmo, podemos dizer que depois de 1800 o mundo assistiu uma anti-primavera, mas não por causa do capitalismo (que seria o mais óbvio), mas por um modelo de forte controle das ideias, que causam problemas graves para a sociedade, pelo descontrole da sociedade sobre as atuais organizações ver mais detalhes aqui.

Não é a meu ver o capitalismo o inimigo, mas o modelo tecno-cognitivo que criou um capitalismo cada vez mais voltado para as organizações que o governam:

Podemos dizer, assim, que vivemos um período agora de início de uma nova primavera cognitiva, com a nova mídia reintermediadora,  a qual se procura questionar o longo ciclo monoteísta, hierárquico, aberto por Moisés e o Judaísmo, recriando e procurando resgatar o mundo oral e algo mais politeísta, de várias vozes e de vários deuses, com resgate do mundo oral/escrito/visual/ mais horizontalizado,  sem os limites do espaço físico, como sugere Levy nos seus livros.

Essa dimensão de fechamento de um longo ciclo de 5 mil anos é fundamental para entendermos a dimensão do impacto da Internet em nossa sociedade e o tamanho das mudanças que virão turbinadas por um planeta com 7 bilhões  de habitantes empoderados cada vez mais por um novo canal de troca de ideias, que modifica a plástica cerebral de cada ser humano em direção a um politeísmo 3.0 em rede digital.

O quadro que fiz foi esse:

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Por enquanto, é isso.

 

Apresento o quadro abaixo, que, na verdade, não tem muita coisa de nova, mas é importante definir uma visão de como as relações de interdependência funcionam em uma dada sociedade, a partir da nova visão antropológica tecno-cognitiva sempre com graus, níveis e taxas e como variam, a partir do controle das ideias e do tempo de continuidade de uso de um dado ambiente tecno-cognitivo:

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O cidadão/consumidor estabelece uma relação dialética com as organizações, sem as quais não vive. Ele precisa prestar serviços e consumir, com taxas de qualidade distintas. Não podemos prescindir das organizações, pois precisamos dela para sobreviver e trabalhar.

Há no centro do quadro uma relação de taxas de verdades (mais fatos) e mentiras (mais aparências). Estabelece-se  verdades e mentiras mais ou menos aceitas pela sociedade, a partir do controle de ideias pelas organizações.

Quanto maior o controle, maior serão as aparências e menores serão os fatos comprovados. Tende-se na continuidade do controle cada vez mais termos um discurso de mais e mais autoridades que ganham fama pela sua aparência/cargo que ocupam e não pelo que, de fato dizem, ou fazem.

Há uma tentativa de tentar criar uma aura de eternização da autoridade no cargo.

Tudo isso varia por vários fatores econômicos, sociais, políticos e culturais.

O que temos de novo é a percepção que o tempo de controle de ideias (que podemos chamar de ditadura tecno-cognitiva) de um mesmo ambiente tecno-cognitivo controlador provoca  um efeito geral nas taxas de qualidade de vida do cidadão/consumidor e de perfil das organizações sociais.

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Quanto mais um determinado ambiente tecno-cognitivo é apreendido e dominado pelas organizações de plantão mais teremos, pela ordem e vice-versa:

  • Baixa taxa de capacidade crítica do cidadão/consumidor, com uma plástica cerebral mais estática, pré-determinada pelo modelo das autoridades de plantão;
  • Baixa qualidade de oferta de prestação de serviços, pois teremos baixa taxa de projetos pessoais e coletivos, com relativa perda de espaço para questões filosóficas, com aprofundamento do material sobre o espiritual (pensando espiritual como princípios);
  • De organizações mais voltadas para os propósitos/interesses/demandas de suas autoridades (com alta taxa de materialidade) para se manter e se perpetuar e não mais sujeita aos interesses do cidadão/consumidor;
  • Baixa taxa de qualidade de consumo, pois aceita-se as regras impostas do jogo das aparências pelas autoridades de baixa representação de princípios;
  • Um aumento da taxa de mentira (aparência), o que podemos entender de que as aparências/versões estarão mais consolidadas como critério de verificação do que os fatos.

Muitos dirão que isso funciona apenas para um tipo de organização ou em um dado sistema político/econômico, mas isso se estabelece e se estabelecerá, a meu ver, em todas as organizações humanas, pois quando a sociedade deixa de controlá-las a sua tendência é criar cada vez mais um muro entre seus interesses imperiais/corporativos e os do cidadão/consumidor.

Lutas sociais ocorrem o tempo todo e há organizações que se deixam mais ou menos se levar por esse espaço vazio deixado pelo descontrole social sobre elas, bem como há autoridades e autoridades, que têm mais incorporada em si critérios de mais ou menos princípios.

Há fatores de perfil humano que criam variações, o que nos impede de ver tudo no preto e no branco.

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Porém, se pudéssemos colocar um medidor em toda a sociedade, perceberemos que as taxas gerais de qualidade da sociedade (prestação de serviço/consumo) vão caindo mais e mais, criando crises que se tornam cada vez mais agudas se, paralelo ao controle tecno-cognitivo, há o aumento populacional, pois as demandas crescem em quantidade e qualidade.

Pode-se notar um forte movimento hoje em vários segmentos de questionamento social, em todos os campos, contra esse modelo material-auto-centrado das organizações de costas para a sociedade.

Um exemplo claro é o questionamento do lucro sem princípios como fator fundamental para o sucesso de uma organização, que espelha bem o modelo pós-ditadura cognitiva, que começa a ser fortemente questionado nos movimentos que saem para a ruas em todo o mundo.

A meu ver, não é o capitalismo que está na berlinda, mas o que o capitalismo acabou criando ou se transformando com o forte controle das ideias que fomos submetidos no último século.

Bom, por enquanto é isso.

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 09.08.2013

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Quais são os problemas prioritários em uma sociedade?

Problema é a base de tudo.

Há um problema, estuda-se, trabalha-se para resolver.

Mas quais problemas entrarão na roda das prioridades?

Uma sociedade, como tenho dito é um conjunto de autoridades, que cuidam das organizações, que escolhem e resolvem determinados problemas.

Há uma relação direta entre o controle da ideias da sociedade e o tipo/qualidade dos problemas escolhidos. Quanto mais tempo houver um controle de ideias na sociedade, mais os problemas escolhidos para serem resolvidos vai girar em torno das autoridades de plantão.

É uma espécie de “lei da gravidade das autoridades” que atraem, aos poucos, os seus problemas para a mesa das decisões, deixando os que estão de fora das organizações com seus problemas para depois.

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Os problemas vão se tornando os problemas das organizações para se manter como autoridades e não mais da sociedade que fez das organizações uma ferramenta para solução de problema.

O que deveria ser solução vira problema, pois começa a atrair para si cada vez mais investimentos para sobreviver e ignorando os princípios que as criaram.

Viram estabelecimentos voltados para si e conseguem, através do controle das ideias, convencer a sociedade que estão servindo a esta e não se servindo dela, o que vai minguando, aos poucos, a possibilidade da criação de trabalhos significativos, pois quem emprega é a organização.

Como elas se voltam para si, para resolver os seus problemas, os postulantes a trabalhos significativos logo verão que a organização não está lá para resolver problemas mais emergenciais que causam mais sofrimento na sociedade, pois a organização é uma falsa solucionadora de problema, com falsas autoridades.

Isso é algo que tenho visto nesse fim de ditadura cognitiva.

Muitos atribuem esse estágio de coisas ao capitalismo, mas me parece claro que isso vai acontecer em qualquer sociedade que passar muito tempo, independente do sistema econômico, com o controle das ideias.

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 08/08/13

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Se analisarmos diversos filósofos a briga é aonde colocamos o diabo.

Em todos há uma luta surda entre a mentira e a verdade, a luz e as trevas, o bem e o mal.

Ou como Freud gostava: o instinto de vida e de morte.

Quando Marx nomeia os burgueses como inimigos, informa que o diabo é capitalista, já o anjo bom é o não capitalista, aquele que luta contra o diabo. Nada como um inimigo tangível e bem concreto para criar uma legião de dogmáticos, já que o dogmatismo crônico é uma doença ainda sem um número nas agências médicas.

Quando Heidegger questiona o papel de cada um no mundo e diz que a responsabilidade de ser é de cada ser humano na sua luta para ser, ele traz o diabo para dentro.

O diabo existe, a meu ver, pois é tudo aquilo que causa mais sofrimento humano. A procura de redução do sofrimento humano é uma ética interessante, a meu ver – que representa a luta contra o “diabo”.

Está dentro de nós e fora de nós, em um processo de auto-out-reconhecimento.

Quando assumimos para dentro ou para fora, em conexão, estamos criando um diabo mais próximo.

Vou desenvolver mais o tema adiante.

Que dizes?

Versão 1.0 – 08/08/13

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Charles S. Peirce diz no seu livro “Como tornar as nossas ideias claras” o seguinte:

“Ideias têm  que aguentar o teste de um exame dialéctico; que teriam de ser não somente claras ao princípio, mas que a discussão nunca poderia trazer à luz quaisquer obscuridades relacionadas com elas”.

Ou seja, quando vamos conversar temos que saber retornar a troca de argumentos abertos.

Hoje, discutimos na base das impressões fechadas.

Eu sei e vou te contar, senta aí e escuta a verdade que eu vou te dizer.

Somos todos micro-autoridades. Se você me escuta eu passo a ser a sua autoridade e ganho o jogo, te convenço.

Isso foi assim, pois estamos saindo de um mundo comunicacionalmente hegemonizado, no qual tudo era vertical.

Perdemos a capacidade de conversar, pois conversar implica em trocar argumentos abertos.

O que são argumentos abertos?

São coisas que fogem da subjetividade e da emoção.

Se eu sinto assim, gosto assim, acho isso não adianta sentar para discutir, pois quem vai questionar aquilo que você sente, gosta, acha.

O que é preciso é trazer mais razão, reflexão para os sentimentos.

O mundo das emoções caracteriza o fim da idades das trevas cognitivas.

Assim, é preciso praticar a argumentação, mas para isso ambos os lados têm que estar dispostos a aumentar a taxa de reflexão e ter ciência que a verdade é um sabonete liso e molhado, que ninguém consegue pegar.

Sem argumentos não há crescimento coletivo, a não ser brigas.

Falamos mais depois.

Versão 1.0 – 08/08/13

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Estamos em crise de diálogo.

Justificativa?

Muito tempo de uso do mesmo ambiente cognitivo com forte controle das ideias.

Isso provoca uma doença da comunicação, pois se acostuma em um modelo vertical e não mais horizontal.

Perdemos a capacidade de trocar verdades e mentiras.

Eu, como aprendi na comunicação vertical, tenho a verdade e você a mentira.

Somos todos reprodutores do modelo vertical do qual aprendemos a usar.

Este e-book vai refletir sobre nossas dificuldades e formas de minimizar o problema.

Versão 1.0 – 08/08/13

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Uma das bases da nova educação é o auto-didatismo.

Estamos saindo de um uma ditadura cognitiva e vivemos uma forte influência das autor-idades de plantão.

Estamos intoxicados pela incapacidade de sermos autores, pois as autor-idades definiram as verdades circulantes e criaram critérios muito burocráticos para que elas circulem na sociedade, em todas as organizações, incluindo a ciência.

Assim, o auto-didatismo é um processo difícil, pois temos que, de alguma forma, matar a autor-idade que existe dentro da gente, cognitiva e emocionalmente para começar a construir um novo modelo de conhecimento.

A base da dominação do nosso afeto autoral é o conceito de conhecer para ser autoridade.

Eu conheço para substituir a autoridade de plantão.

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E não conheço para resolver um dado problema relevante e reduzir sofrimento.

Ou seja, o meu conhecimento será comparado e geralmente inviabilizado, pois EU NUNCA VOU CONSEGUIR SER IGUAL A AUTORIDADE QUE QUERO SUBSTITUIR.

Note que os critérios para essa substituição são todos viciados, preparados para que não se possa fazer isso, sem seguir as regras estabelecidas, que são favoráveis ao modelo atual de representação.

Assim, o conhecimento passa a ser uma arma autoritária para evitar, pela ordem:

  • – que surjam novas autoridades mais representativas;
  • – que reduzam o poder das atuais autoridades;
  • – e, por sua vez, como consequência, que haja redução de sofrimento.

Não, uma autoridade não é a favor de sofrimento, mas a intoxicação do cargo faz dela um ser voltado para si e não consegue ter uma boa taxa de percepção do sofrimento alheio ou mesmo uma boa taxa para atuar para reduzi-lo.

Uma nova autoridade que procura uma melhor representação vai em busca de um problema significativo que possa reduzir um conjunto de sofrimentos humanos.

O auto-didatismo, a meu ver, é mais eficaz se baseado nessa premissa de que não procura substituir a atual autoridade naquele problema, mas criar um novo modelo de pensar/agir e consumir informação para lidar com o problema.

Assim, é possível procurar formas de superar as barreiras para minimizar o problema, se estiver com clareza do seu problema significativo.

E aí temos várias alternativas na rede, principalmente, usando o tripê  – Google, Facebook e Youtube.

Falamos disso mais adiante.

 

 

Versão 1.1 – 27/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

(Complemento mais um pouco isso neste post.)

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Filósofo:

Aquele que organiza modelos de pensamento para permitir o desenvolvimento de teorias e metodologias, a posteriori, baseados em uma dada concepção do ser humano.

A dada concepção do humano parte de algo geral, abstrato, somos mais alma do que corpo, ou somos mais corpo do que alma, o que vou chamar de aéreos e terrestres.

A saber:

  • Os aéreos –  não gostam de limites, querem o mundo a seus pés, vêem o ser humano como almas vagando em um éter. Eles são responsáveis pelos pensamentos mais abstratos e tem como função nos ampliar a capacidade de percepção e de expansão dos sentidos artísticos. São os filósofos da arte. Nietzsche é um bom exemplo deles, pois para ele não há condicionamento. Sua grande função é tirar as pessoas do chão para criar. Diria que Heidegger tem o mesmo propósito. Que ajudam no campo da arte/filosofia, alargamento a percepção, que é algo fundamental, inclusive depois para se fazer ciência. São filósofos filosóficos, voltados da filosofia para cima, sem aplicação prática imediata, para a arte, ou para as teorias mais abstratas. Hegel está, apesar de colaborar bastante com a histórias, entre aqueles que não via a necessidades humanas como condicionantes relevantes;
  • Os terrenos – precisam de limites e dos condicionamentos humanos, querem colocar o ser humano na terra, com suas necessidades animais. Eles são responsáveis pelos pensamentos mais concretos, procurando condicionamentos e forças fundamentais para serem utilizadas nas teorias. Têm como função nos ampliar a capacidade de percepção e de expansão dos sentidos científicos. São os filósofos da ciência. Que ajudam no campo da teoria/metodologia. São filósofos teóricos-metodológicos, voltados da filosofia para baixo, que querem criar metodologias. Marx é um bom exemplo deles, pois para ele há condicionamento, somos animais. Sua grande função é tirar as pessoas do ar para mudar. Diria que Wiggenstein tem o mesmo propósito, ao incluir o condicionamento da linguagem. São filósofos que vão ajudar a reforçar o pensamento para tomada de ações. Que ajudam no campo da ciência, alargamento a percepção científica, que é algo fundamental, inclusive depois para se fazer arte.

Podemos, ao longo da pesquisa que tenho feito, situar o aparecimento de cada um destas correntes, dentro das mudanças dos ambientes cognitivos, vamos ver se é possível.

O que faz a diferença entre os filósofos é justamente na concepção humana e, nos terrestres, que são mais próximos dos teóricos, é naquilo que destacam como limitações relevantes, tais como sobrevivência (Marx), Linguagem (Wittgenstein) ou morte (Heidegger).

Adelate, que dizes?

 

Versão 1.2 – 09/09/13

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Peirce

Estou lendo “Como tornar nossas ideias claras” – de Charles Peirce, um dos filósofos pragmáticos americanos.

Lá pelas tantas, ao comentar Descartes, ele escreve:

Quando Descartes se lançou à reconstrução da filosofia, o seu primeiro passo foi (teoricamente) permitir o cepticismo e abolir a prática dos escolásticos, em procurarem na autoridade a última fonte de verdade. Feito isso, procurou uma fonte mais natural dos verdadeiros princípios, e julgou encontrá-la na mente humana; passando assim, pela via mais directa, do método da autoridade para o da aprioridade, como descrevi no meu primeiro artigo. A auto-consciência dar-nos-ia as verdades fundamentais, e decidiria o que estaria de acordo com a razão. Mas pois que, obviamente, nem todas as ideias são verdadeiras, foi levado a reparar que a primeira condição de infabilidade era de que tinham de ser claras.

Note que é interessante aqui que Descartes é o primeiro filósofo fronteiriço entre o mundo oral/manuscrito para o escrito impresso. Ele é de 1596. Se formos situar essa época, podemos dizer que ele está a 150 anos depois da chegada do papel impresso. E uns 80 anos pós primeiras revoltas protestantes, nas quais a Igreja foi dividida entre Luteranos e Católicos.

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Descartes

Antes de Descartes, tivemos como pensador de peso Martinho Lutero que era um teólogo-filosófico, que exigia o direito de interpretar a bíblia de outra maneira diferente da de Roma. Até então, o cristão era obrigado a pensar como a Igreja, qualquer pensamento, mais do que discurso, diferente da Igreja, em última instância do papa, era sujeito à inquisição.

Isso pode ser visto no filme Lutero, aqui.

(Note na cena da inquisição que é dito em inglês, você é obrigado a acreditar “to believe” nas ideias do papa.)

Diferente do que analisa a filosofia até aqui, antes das teorias da antropologia cognitiva, podemos constatar que novas mídias reintermediadoras que chegam (como o papel impresso e a internet) criam um movimento de descontrole das ideias na sociedade. E que há um fluxo de mais e menos poder das autoridades que se estabelecem como os “donos da verdade”, conforme o tempo de maturação daquela mídia como controladora do fluxo de ideias.

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Note este trecho:

“Quando Descartes se lançou à reconstrução da filosofia, o seu primeiro passo foi (teoricamente) permitir o cepticismo e abolir a prática dos escolásticos, em procurarem na autoridade a última fonte de
verdade”.

Tal afirmação parte da ideia de algo evolucionista, de que até aquele momento a humanidade tinha sofrido aquela opressão e finalmente teríamos, a partir dali, um novo movimento, como se tivéssemos superado uma etapa humana, mas acredito que não é superável, é cíclico.

Arrisco a propor de que as mudanças nos ambientes cognitivos criam ciclos de controle e descontrole de ideias e isso vai marcar os ciclos filosóficos.

Quando temos um aumento de controle das ideias, de retração, necessariamente teremos um forte movimento de reforço das autoridades e todo o movimento filosófico que virá depois, será meio Descartiano (naquilo que ele tem de questionador). Ou seja, de questionamento da fé e da crença nas autoridades por respeito, baseado na emoção e a procura de uma racionalização do pensamento, procurando reinterpretar as “verdades” impostas por uma dada ditadura cognitiva.

  • O ciclo renovador é sempre racionalista.
  • E o conservador mais emocional, que aposta nas imagens vazias da tecno-ecologia passada, que foi, aos poucos, perdendo o significado do discurso em função do controle das organizações sobre os indivíduos.

A duração de uma mídia controladora das ideias, ao contrário, tenderá a nos levar para um movimento emocional da confiança nas verdades pelas autoridades, como estamos vivendo agora, o que nos levará a movimentos “Descartianos” de questionamento ás autoridades.

É um ciclo anti-autoridade e pró-autoridade na sociedade, conforme o momento das revoluções cognitivas. Assim, apesar de mudanças radicais que temos no modelo do pensamento, ele não é evolucionista, mas além de todos os micro-contextos e temperamento dos filósofos, condicionados pelos ciclos de controle e descontrole de ideias.

Dessa maneira, é preciso questionar os conceitos de modernidade e pós-modernidade, que marca a construção da história da filosofia baseada em critérios de filósofos aéreos (ver mais aqui).

Nada há de terreno nessa divisão.

A filosofia e o pensamento humano, como temos visto na Antropologia Cognitiva, são fortemente marcados pela contração e expansão das ideias.

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É possível rever toda a história, a partir desses movimentos, alterando a consciência, um pouco o que diz Hegel, ao defender a ideia que a consciência é história, sim histórica e variável, conforme as tecnologias que temos para ajudar nosso cérebro a se expandir.

Que dizes?

 

Versão 1.0 – 08/08/2013

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O mais difícil, portanto, é preparar o pessoal para migrar.

Como chegam os alunos emocional e cognitivamente?

Com uma dificuldade muito grande de pensar por si mesmo e muita insegurança de colocar seus pensamentos.

Este é um quadro geral.

Estamos com déficit de capacidade de auto-reflexão.

Fomos massacrados por uma mídia, uma escola, uma família, uma empresa verticalizadora, na qual o pessoal sempre foi colocado como consumidor e seguidor das ordens alheias sem questionamento.

Isso faz com que tenhamos desenvolvido uma auto-invalidação, pois não temos pensamento próprio.

Não somos autores, pois tem autor-idades que são autores por nós.

Assim, o velho modelo de representação aparece de forma consistente em sala e aula e isso foi sempre uma grande dificuldade.

Quais são os sintomas:

  • a) não se quer pensar muito;
  • b) se quer respostas prontas;
  • c) se quer um passo a passo;
  • d) se quer ferramentas;
  • e) se quer, no fundo, continuar como uma peça da engrenagem e não assumir uma parte do volante.

As pessoas entram em sala de aula como se fossem um crachá.

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Sempre repito que não dou aula para pessoas jurídicas, apenas para  pessoas físicas, que devem assumir o seu papel no atual momento histórico como cidadãos e cidadãs.

Quero promover uma mudança nas pessoas, que, só então, poderão estar capacitados para promover mudanças nas suas vidas e depois nas suas organizações. mudanças dessa macro-natureza!

Isso é fundamental, pois as contradições desse momento de passagem são muito grandes e fica muito fácil, a partir dos primeiros problemas, a pessoa desistir e dar desculpas de que não se pode ir adiante com mudanças dessa natureza.

O objetivo primeiro e fundamental na formação dos agentes de mudança para a nova ordem é, pela ordem:

  • a) introduzir conceitos da diferença entre percepção e realidade, mostrando que a verdade é histórica, duvidosa e que é preciso um forte espírito crítico;
  • b) de que cada um tem uma missão na vida, que independe das situações externas a ele;
  • c) só então, iniciar o processo de apresentação das novas teorias, sempre de forma aberta, argumentativa, lógica para que todos possam ir colaborando em ver as contradições, tudo em uma roda de conversa;
  • d) só então, introduzir a metodologia de migração e as possibilidades que existem no caso específico daquela organização. 

Vou detalhar no próximo post o roteiro das aulas.

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