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O filtro 3.0

Versão 1.0 – 13/08/13

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Tenho criado um espaço para questionar alguns princípios e ideias que circulam na mídia de massa. Hoje, quero comentar um artigo que li não lembro bem.

“A quantidade de informação falsa circulando na rede é imensa. Em algum momento, precisaremos de filtro”.

No artigo, temos as seguintes afirmações, se consigo bem resumi-lo todo, sugiro ler antes para voltar aqui.

  • Há muita informação truncada na Internet – concordo;
  • Há muita informação equivocada – concordo;
  • E ele pergunta – quem filtra o todo? Deixa em aberto a questão, deixando a entender que a mídia de massa tem e  continuará a exercer esse papel.

Sim, desde que aceite também o novo modelo de filtragem 3.0, via colaboração de massa e algoritmo, que ela insiste em ignorar por falta completa de visão estratégica.

Eu acho que sãos os algoritmos, que serão usados pelas grandes plataformas de ideias, que é o que imagino que o Jeff Bezos vai começar a montar no Washington Post, como já fez na Amazon.

Qual é o problema da visão de Dória que acredito ser um equívoco dele e da visão hegemônica da mídia? Vou fazer uma volta no passado para depois defender meu ponto de vista. A separação/filtragem entre o que é provavelmente verdade e mentira é a base estruturante de qualquer sociedade.

  • Tem cobra lá?
  • Posso comer manga com leite?
  • Esse remédio vai curar a minha doença?:
  • Posso confiar nesse avião?
  • Esse camarão é fresco?

images (51) Note que se as respostas forem mentirosas as pessoas podem sofrer mais ou até morrer. Ou seja, uma sociedade se estrutura em um critério de escolha de autoridades para ajudá-la a decidir o que é verdade ou mentira – filtrar a mentira para deixar a verdade. O problema é que as autoridades mudam, se tornam obsoletas no seu papel de filtro, conforme a população cresce.

O ser humano é o único animal que pode crescer indefinidamente, diferente dos outros que têm limitações de governança, pois justamente precisam de um sistema bem articulado de verdades e mentiras para a tomada de decisão. Nós podemos crescer, pois criamos tecnologias cognitivas que nos possibilitam sofisticar as autoridades, criando novos modelos de filtragem das verdades e mentiras.

Tivemos, pela ordem, as autoridades, que se espelham também nos filtradores respectivos:

  • orais – com chefes tribais;
  • escrita manuscrita (há 5/6 mil anos) – com líderes hereditários;, com forte influência dos representantes de deuses, curandeiros e depois padres, bispos, escribas, etc;
  • escrita impressa (há cerca de 450 anos) – com o início dos líderes rotativos/democracia representativa no lugar de reis e nobres, com o surgimento da mídia de massa;
  • mundo digital (há 20 anos) – com líderes ainda mais rotativos, através do uso de algoritmos largamente utilizados ainda entre as novas gerações, mas não pela sociedade.

IMG_9657 Até a chegada da Internet nossas autoridades eram baseadas no filtro do que circulava em papel impresso e na mídia de massa, que definia os critérios de verdade e mentira do mundo para nós. Essa filtragem que foi bastante produtiva até um certo ponto, ao longo dos últimos séculos foi se tornando obsoleta por dois motivos:

  • aumento radical da população – de 1 para 7 bilhões, o que fez com que tivéssemos muito mais gente para ser informada, com desejo também de informar, trocar, com uma complexidade cada vez maior, idem com diversidade, exigência de qualidade; 
  • obsolescência do modelo – com o controle cada vez maior das organizações, que passaram a defender seus interesses nestes canais, o que foi dificultando saber o que era de fato verdade ou mentira.

Houve um processo de perda de credibilidade dos mais críticos, mas sem alternativas à vista, até 1990.

A chegada da Internet cria uma nova forma de filtragem, que vem sendo experimentando ao longo dos últimos 15 anos, através de um novo modelo  TAMBÉM de colaboração de massa + algoritmos.

O modelo pode ser visto funcionando – bem e ainda em evolução – no Google, que consegue filtrar o que é relevante em cada busca, sem a necessidade de pessoa em carne e osso, pois não ia ser dinâmico do jeito que se quer. ganhar-dinheiro-adsense Eles, ao invés de um filtrador de carne e osso, criaram um robô que analisa o carma digital de cada link , a partir de critérios matemáticos sofisticados, que vêm sendo aperfeiçoados (e piorados em alguns pontos)  para que sejam reduzidas as fraudes, ou a mentira, ou melhor, o que não tem mérito.

Nas vendas do Mercado Livre, da Estante Virtual ou no Taxibeat, exemplos que apresento no meu último livro, Gestão 3.0 – a crise das organizações tradicionais. O aumento da complexidade tirou dos antigos filtradores a capacidade. Pode ser visto, por exemplo, no SlashDot, site de hacker, com a maravilhosa tese da Bia Martins, que detalha todo o novo modelo com seus mérito e desméritos.

Assim, quando Dória pergunta quem vai filtrar então a verdade e a mentira, me parece claro que não temos mais condições de imaginar pessoas de carne e osso. O atual filtrador deve subir de escala, passando a ser um gestor do algoritmo e da colaboração de massa e ocupar o papel nobre que o robô e o usuário colaborador não consegue.

Ou seja, temos hoje um grande mercado inexplorado para que os filtros 3.0 aconteçam, pois não seremos humanos sem filtros, porém a mídia de massa insiste em manter o posto de filtrador de carne e osso, no modelo que deu o que tinha que dar, não experimentando novas alternativas, sem entender que o velho filtrador está em fase terminal diante de um mundo digital complexo com 7 bilhões de pessoas.

E isso nos leva para o atual impasse das velhas organizações, uma perda razoável de valor e o grande risco de ser vendida, a preço baixo,  como acho que vai, como foi o Posto para os filtradores 3.0, que estão aí cada vez mais ricos e com sangue na boca, pois perceberam para onde a nova banda toca. Que dizes?

2 Responses to “O filtro 3.0”

  1. Bia Martins disse:

    Oi Nepô,

    Pois é, também achei o artigo equivocado. Em primeiro lugar, pelos pontos que você bem coloca: existem novas formas de valoração de conteúdos em rede, que pode combinar a atuação distribuída dos leitores mais a ação de robôs, e ser muito eficiente para separar o joio do trigo na Internet.

    O Pedro Doria, como alguém que esteve na rede desde o início, sabe muito bem que as informações falsas estão em todos os lugares e em todos os meios de comunicação. Inclusive na imprensa tradicional. E cada um tem seus mecanismos e instrumentos para fazer prevalecer a verdade no lugar da mentira.

    O que o artigo dele me revela, de fato, é que a imprensa está mesmo muito incomodada com as novas formas de circulação de relatos e coberturas dos acontecimentos, representado, por exemplo, pela Mídia Ninja. O texto parece querer dizer: “Cuidado, não acredite em tudo que você lê ou vê na internet. Só nós, os jornalistas, podemos lhe guiar nesse território tão perigoso e cheio de mentiras…”.

    Não acredito que a imprensa vá deixar de existir ou de ter importância, mas ela precisa estar consciente de que agora terá que se relacionar com uma multidão de cidadãos que também reportam os fatos. Não é tentando desqualificá-los que ela conseguirá garantir o seu lugar. Ao contrário, deveria investir seriamente em sua credibilidade, para poder compartilhar o espaço plural de produção de notícias e construção da opinião pública. Que agora é feito por todos: somos todos mídia!

    bjs

    Bia

  2. […] isso, a cidade sai na frente no desenvolvimento de um novo modelo de filtragem 3.0, via colaboração de massa e algoritmos de aplicações móveis, com potencial para subsidiar […]

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