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Versão 1.0 – 22/08/13

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Desenvolvi no post passado a ideia de que a Escola não é uma organização autônoma na sociedade. Ela é formadora do cidadão e, portanto, se esforçará para, com graduações diferentes, preparar a criança/jovem para a governança hegemônica, seja ela qual for ao longo da história.

Assim, não existe, como a história tem demonstrado, um movimento massivo por uma escola diferente da tradicional, as exceções justificam a regra. A governança da sociedade, como vimos aqui, apesar de se modificar lentamente, se altera, a partir das variantes demográficas e tecnologias cognitivas disponíveis, uma influindo na outra. A escola não é revolucionária, ao contrário, ela é a base da conservação de qualquer sociedade.

Assim, se refizermos a cronologia da história escolar, a partir da Antropologia Tecno-cognitiva, podemos dizer que tivemos:

  • A escola oral – feita de maneira informal, via conversa;
  • A escola escrita – já com uma estrutura de ensino mais organizada, via papel impresso, com um “salpicado” de som e imagem eletrônica;
  • A escola digital – que é a que estamos entrando agora.

Cada uma destas passagens nos trouxe um novo modelo cerebral mais sofisticado para lidar com cada vez mais complexidade pelo aumento demográfico. As tecnologias cognitivas, assim, moldaram o modelo de governança escolar, definindo o papel do professor e o tipo da passagem do conhecimento possível/desejável, “da verdade e do modelo de autoridade/govenança que vocês irão enfrentar”.

A escola cumpre assim um papel objetivo de moldar pelo conteúdo e pela forma: de o que deve ser aprendido e de como deve se respeitar/confiar (em alguns casos temer) o modelo de autoridade hegemônica de plantão, na continuidade da família, para estar preparado para sair de lá “pronto” para o trabalho.

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Assistimos hoje, assim, a passagem:

  • de uma governança impressa – mais vertical com um conhecimento mais sólido, pois dura mais no tempo, bem demarcada, vindo de fora e fechada, como é a característica do papel impresso, do gerador do material didático (que não está presente em sala de aula) para os alunos, através de um professor transmissor e nada pesquisador;
  • para uma governança digital mais horizontal –  com um conhecimento mais líquido, pois tem um prazo de validade muito menor, dura muito menos tempo e tem suas fronteiras menos marcadas, entre o produtor e o consumidor do conhecimento, pois existem muito mais geradores do material didático, envolvendo, inclusive, os alunos, o professor e a escola nessa discussão.

Assim, se formos analisar o provável futuro da escola temos como desafio acompanhar as mudanças graduais da demanda das novas organizações nativas digitais (que hoje são periferia, mas rumam para a hegemonia) por uma nova governança da sociedade, que, a partir disso,  vão (como já fazem) demandar um tipo de formação de colaborador mais integrado ao digital.

Este novo colaborador/aluno deve ter como qualidades, a principio:

  • a) saber lidar com grandes volumes de informação, criando sínteses e alinhando diferentes informações para tomada de decisão;
  • b) deve-se acostumar em um mundo em que a cada semana o cenário, o produto, o serviço, o consumidor pode sofrer algum tipo de alteração;
  • c) deve ter fortemente uma capacidade criativa e não mais “memoriativa”, pois será demandado que seja ele a pensar sempre a novidade na frente de outros.

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Note que o modelo da escola hoje, na sua base, impede a formação deste tipo, pois:

  • a) não é estimulado capacitação para que se faça o alinhamento de diferentes informações para tomada de decisão, pois o conhecimento já vem pronto, dividido por disciplinas que não se conversam;
  • b) tem uma INcapacidade de lidar com mudanças do cenário, pois o material didático, que vem de fora é muito sólido e não faz parte da prática escolar ser alterado dentro da sala de aula ( a escola atual não tem cultura para isso e nem sabe como começar algo assim);
  • c) os itens a) e b) nos levam para a INcapacidade criativa, colocando o futuro colaborador com baixa taxa de abstração e incapaz para atender a nova governança emergente.

A mudança da escola, portanto, não será um pulo, mas um salto similar a que foi a passagem da escola oral para a escrita. Será uma escola que terá como base um novo modelo de governança emergente na sociedade, no qual teremos como princípios:

  • o professor como pesquisador e incentivador do diálogo aluno-aluno, professor-aluno, aluno-professor;
  • a produção de conhecimento em todos os espaços e não mais do centro para as bordas – e isso precisará de um uso intenso de tecnologia e metodologia, algo como o modelo Wikipédia, que vai se negociando e melhorando de forma colaborativa o que podemos chamar de “consensos provisórios”, como sugere Dewey. O material didático migra para o modelo Wiki, em torno de problemas e não mais de verbetes enciclopédicos sem conexão é mais um “how to”, eu resolvi assim e você como está fazendo/pensando?;
  • o foco fortemente em problemas, mas não na visão de o aluno pensa em um problema cuja a solução já existe e vem de fora, mas a discussão de problemas colaborativamente, a partir de soluções inovadoras/locais/adaptadas/provisórias, de que ninguém sabe a solução que vai ser encontrada, incluindo o professor.

Tal passagem, como tenho defendido no meu novo livro, deve ser feito de forma gradual, através de zonas de inovação e, acrescento agora, com parceria com empresas nativas digitais, que terão o maior interesse na formação desse novo profissional, garantindo uma sustentabilidade para o processo, formando a nova geração para um novo tipo de organização produtiva.

É preciso, por fim, um esforço grande para promover essa passagem de forma mais suave, menos traumática e com menos sofrimento para todos os envolvidos ao longo das próximas décadas.

Este é o nosso desafio.

Bom, por enquanto, é isso,

Que dizes?

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