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Versão 1.0 – 19/08/13

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Se perguntarmos para a maioria das pessoas que pensam/trabalham com educação, certamente muitos dirão que a escola precisa de mudanças mais ou menos radicais.

E isso não é de hoje.

Mas por que a escola não muda?

Acredito que algumas ideias de Michael Foucalt sobre o poder podem nos ajudar.

Para o pesquisador francês, toda a sociedade humana estabelece ambientes de poder, fora e dentro das pessoas. O poder não tem um centro, não é o governo, mas uma rede que penetra toda a sociedade, na sua objetividade e subjetividade.

O poder penetra nossa alma e toma conta (isso já sou eu interpretando.)

Foucault

Foucault

(Veja mais detalhes sobre a ideia de poder em Foucalt nesse vídeo em português.)

Assim, podemos dizer que há uma corrente articulada e sinergética entre o modelo de escola e todas as outras organizações sociais.

A escola é uma peça de um lego que tem que se encaixar em outras peças para que a coisa faça sentido. Não se pode pensar na escola como uma organização isolada de um todo, pois ela não tem uma função independente, ela terá que ser coerente em um dado contexto da estapa da implantação ou consolidação de uma nova ou velha governança da espécie.

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Talvez adaptando uma frase de Marx,que diz que toda a ideologia dominante sempre será o da classe dominante, que é límpida e verdadeira.

Podemos dizer, a partir dos novos estudos tecno-cognitivos, de que a escola dominante sempre será da governança da espécie dominante. Se a governança dominante estiver em crise, a escola viverá a mesma crise.

As experiências de escolas alternativas, formadoras de críticos, de criativos, de pessoas fora da caixa sempre esbarram no modelo das organizações de plantão para os quais os alunos logo depois terão que vender o seu tempo e ideias.

E estas organizações hoje são platônicas, ou seja, há uma verdade, da qual você tem que aceitar e seguir. Se o modelo mental for de questionamento, aquele colaborador vai ser excluído do modelo de organização atual. O que fará que o projeto da nova escola tenda ao longo do tempo a não vingar, pois somos “escravos” da necessidade de ter trabalho para sobreviver, o que impede uma vida alternativa sem em algum momento lidar como o chamado “sistema”.

(O modelo platônico é de que existe uma verdade lá fora, ou no alto, em que todos devem aprender para serem melhores cidadãos. Pensando assim, o professor exerce u m duplo papel: o de passar conhecimento e o da forma de passar conhecimento, que estabelece um modelo de respeito e de aceitação de que a verdade existe fora do ambiente da sala de aula, vem de fora e deve ser aceita sem questionamento, que é o que vai depois ter que aceitar dentro das organizações que irá trabalhar.)

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As experiências alternativas funcionam para alguns nichos, de artistas, por exemplo, e seus filhos, mas quando falamos de maneira geral, esbarram no modelo de governança da espécie ou o que Foucalt definiu como rede de poder.

Um dos filósofos da educação que podemos chamar para ajudar nesse debate é John Dewey. (Sugiro para conhecer suas ideias ver este vídeo também em português.)

Ele, no século passado, na primeira parte, veja que faz tempo, criticou o modelo platônico da escola.

Platão sugere – faz mais tempo ainda – que a verdade existe. E essa ideia da verdade existente e não questionada constitui a base do que temos na escola hoje, vejamos: se recebe “a verdade”, via material didático, memoriza e se passa de ano depois que se faz uma prova, não qual – o nome já diz- se prova que você memorizou, mas, principalmente, aceitou a verdade que está sendo dita de alguma maneira. Aceita o modelo para passar de ano!

Dewey, seguido depois por Paulo Freire e vários outros (hoje quem está na moda é Ken Robison), defendem uma escola criativa, mas ao longo do tempo não vingaram pelo simples fato de que a escola não pode ser vista de forma isolada e nem independente da governança da espécie de plantão.

É papel da escola, como organização social, preparar o cidadão, mais do que ensinar, para aceitar a governança vigente. A escola faz parte da rede de poder, não está fora dela!!!!

Muitos, depois de Paulo Freire, colocaram o problema da educação como algo inerente ao capitalismo e de que no comunismo teríamos um modelo de escola diferente, mas não é o que se vê em Cuba, por exemplo, no qual os alunos são preparados para aceitar o modelo específico de governança daquele país, através do mesmo método de doutrinação. A escola cubana também é platônica.

Assim, ao entrarmos na nova discussão da escola temos que situar a mudança no ambiente de conhecimento digital e sua influência na governança da espécie.

Se houver mudança na governança da espécie, as organizações migrarão para ela, incluindo a escola. Esta talvez seja a nova abordagem sobre o problema. A governança da espécie atual, criada para atender 1 bilhão de pessoas está em crise com a chegada de 7 bilhões.

As organizações estão iniciando um forte processo de questionamento do seu modelo piramidal e hierárquico. Ou seja, a crítica da escola não virá MAIS APENAS pelos filósofos e educadores alternativos, como foi no passado, mas já começa dentro do próprio processo de reforma do sistema, que já aparece fortemente (vide Ken Robison) que tem tido muita aceitação nos EUA, pois fala-se de inovação, de sair da caixa. Precisamos de uma nova escola mais filosófica, na qual a verdade que vem de fora precisa ser questionada, não aceitando o preceito platônico.

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Freire

A nova governança da espécie, como temos visto, é relacionada ao tamanho da população, que, por sua vez, exige um ambiente de conhecimento produtivo e cognitivo mais dinâmico.

A mudança da escola de Dewey e Freire eram pertinentes, mas estavam fora de época, pois nasceram e cresceram ao longo do que chamo de momento de consolidação de um modelo de governança da espécie, que agora, de novo, está se alterando.

A nova escola terá como obrigação acompanhar o novo modelo de governança, que está longe de ser com mais tecnologias. A base da discussão da nova escola é o questionamento, feito por Dewey, do modelo platônico da verdade feita fora da sala e não dentro dela, formando um cidadão mais ou menos crítico!

Ela  vai preparar o cidadão/cidadã para um novo modelo de organização mais próxima do que é um Google da vida, extremamente criativa e mutante. Haverá a necessidade de um aluno mais questionador, mais inovador e mais criativo.

Isso para mim é límpido e claro como um dia de sol em Ipanema.

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Estamos vivendo o ciclo de expansão, no qual a sociedade vive um movimento de releitura e de questionamento.

Minha dúvida, porém, é de outra ordem e mais macro.

Pelo que vejo, temos ciclos humanos tecno-cognitivo de expansão e retração, que variam conforme a demografia e, por sua vez, impelidos por ela, as mudanças das tecnologias cognitivas.

Será que quando voltarmos a consolidação/retração, iremos de novo procurar uma escola platônica? Ou essa procura de eterno questionamento se fixará? A história nos mostra que a escola questionadora será apenas um suporte para elevar-nos a uma nova governança e depois os novos dirigentes farão de tudo para manter o status quo, procurando um controle da nova mídia e, por sua vez, da própria escola.

Platão assim teria um botão ON-OFF?

Quando precisamos mudar a governança da espécie é OFF e vice-versa?

Não sei, pesquisando e pensando.

Não quer ajudar?

Que dizes?

 

3 Responses to “Por que a escola não mudava? Mas agora vai!”

  1. […] Desenvolvi no post passado a ideia de que a Escola não é uma organização autônoma na sociedade. Ela é formadora do cidadão e, portanto, se esforçará para, com graduações diferentes, preparar a criança/jovem para a governança hegemônica (seja capitalista, socialistas, anarquista, se for humana será esse o seu papel). […]

  2. […] As variantes do processo de aprendizado | Nepôsts – Rascunhos Compartilhados em Por que a escola não mudava? Mas agora vai! […]

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