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 Versão 1.0 – 12/08/2013

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Podemos observar que fechamos um ciclo com a chegada da Internet, que começou há 5 mil anos atrás, quando Moisés desceu da montanha com a tábua dos 10 mandamentos ESCRITA.

Ali, se estabelecia a ideia de um Deus único, que se comunicaria com o ser humano, através não mais do mundo oral, mas do mundo escrito, que precisava de uma autoridade que escreve e de um seguidor que lê, a partir do que foi dito ou interpretado.

O mundo oral era mais horizontal, apesar do poder dos líderes tribais, talvez por isso, tinha mais deuses e diferentes verdades.

A palavra escrita era tão mágica que só poderia ter vinda de Deus e um Deus único.

O monoteísmo, acredito que podemos especular, vem justamente do surgimento da escrita manuscrita e primitiva que é contemporânea do judaísmo, que marca toda a civilização ocidental.

Podemos dizer que a escrita teve três fases bem marcadas.

  • A escrita manuscrita sem alfabeto – que vai até 3 mil antos atrás (aproximado);
  • A escrita manuscrita com alfabeto – que se torna mais fácil e barata para disseminar ideias, que vai até 1450;
  • A escrita impressa – que se torna ainda mais fácil e barata para disseminar ideias, de 1450 em diante.

(Note que são dados do mundo ocidental, aqueles que nos influenciam mais.)

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Antes de Jesus, tivemos, com a criação do alfabeto sumério depois fenício depois importado pelos gregos, um salto quântico da troca de ideias, pois o alfabeto consegue dizer mais com menos.

Tal avanço tecno-cognitivo permitiu a tecno-primavera de algumas civilizações, em especial a grega, uns 1000 anos antes de cristo, com a construção de um modelo de pensar relevante e diferente, que vai ser incorporado parcialmente pelos primeiros cristão e voltará com toda força com a primavera do papel impresso 1500 anos depois.

Os renascentistas resgatam os gregos para revigorar seu pensamento não mais como uma verdade divina fechada, mas com a perspectiva de recriá-lo.

(Com a chegada da Internet, estamos reabrindo um novo ciclo teco-primaveril, agora digital em rede, pois observa-se que a cada nova tecnologia cognitiva que surge mais barata, mais fácil, que se massifica, permite que se supere a ditadura cognitiva anterior, se reconstruindo um novo modelo de sociedade, envolvendo todos os fatores, começando pelo conceito de Deus.)

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O interessante é observar que fechamos um ciclo agora do monoteísmo, aberto há 5 mil anos, que determina uma hierarquia bem definida de alguém que sabe, que passa para outro alguém, que para outro e os demais leem e seguem.

O modelo hierárquico da verdade divina estruturou o judaísmo, com posterior rompimento cristão, que sai de uma religião não evangélica (o judaísmo nas sua origens se vê como o povo escolhido por Deus, que, por causa disso, não procura adeptos, estabelecendo uma civilização fechada em si mesma em traços de cultura, religião e sangue).

Sai-se disso para uma reforma do discurso cristão, em que todos são iguais perante a Deus.

O cristianismo foi uma espécie de “Reforma Protestante” do judaísmo, no qual se abre para o evangelismo da palavra, se libertando dos traços de sangue judaico. (Falta-me ainda informações da relação de Jesus com os Gregos.)

A estruturação posterior da Igreja se estabelece no modelo organizacional, oriundo do monoteísmo, em que há uma verdade que vem de cima e deve ser obedecida, a duras penas por quem está embaixo.

Cria-se o modelo de verdade divina x heresia e a impossibilidade de se pensar/falar algo diferente, o que vai durar ao longo de toda a Idade Média, um período de consolidação, na verdade, do modelo monoteísta no mundo e da hierarquia vertical  de organização humana.

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Todo este modelo precisava da escrita manuscrita (que permita a burocracia aprender e se organizar, fechada a sete chaves) versus um modelo de comunicação e marketing oral, apostando-se na ignorância dos fiéis, seus medos e inseguranças diante do inferno e dos pecados.

A chegada da prensa e da difusão de novas fontes da verdade, a partir de 1450, na Alemanha,  inicia o fim do processo de questionamento da Igreja/Monarquia da verdade divina e absoluta.

A escrita ao se popularizar desfaz o seu encanto divino e permite que se comece um processo de novo exercício cerebral/afetivo, que vai durar um longo período, exatos 350 anos, até o surgimento da revolução francesa.

Me parece que toda primavera tecno-cognitiva procura colocar no poder uma nova classe social mais adaptada para lidar com as novas complexidades de plantão.

A nova classe quer surge pós-revolução francesa, apesar de estabelecer um novo modelo econômico, mantém o monoteísmo hierárquico como modelo de governança, retirando apenas o critério hereditário para se manter no poder, substituindo por outro, mais rotativo.

Há pouca mudança na raiz da visão organizacional/divina

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Ao se cortar a cabeça do rei na Inglaterra por volta de 1640 e depois na França em 1789, o mundo estava incorporando o novo modelo de troca, através do papel impresso, se libertando do jugo da ideia da verdade divina-papal-monárquica hereditária, instituindo outra mais rotativa, mas no mesmo modelo piramidal, pois é/era baseado no monoteísmo/escrita agora impressa.

Podemos especular que há, assim, ciclos de primavera constatados:

  • Alfabeto grego – primavera grega;
  • Escrita impressa – primavera pós-papel impresso.

A última primavera, portanto,  podemos dizer que vai de 1450 até 1800, quando há um uso alternativo e a construção de um modelo de uma nova organização e a criação/surgimento de nova classe social para substituir o antigo monoteísmo hereditário, que surge com Moisés e é levado a última potência pela igreja.

Toda primavera procura uma classe dominante mais complexa e mais dinâmica do que a anterior.

A nova classe capitalista passa, então, ao movimento inverso da primavera renascentista, que visava desconstruir  Agora, o movimento é inverso, pela consolidação,  de 1800, até a chegada da Internet, estabelecer um novo controle das ideias.

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As mídias de massa cumprem um papel relevante nessa direção, pois resgatam o mundo oral, mas não mais um mundo oral de conversas horizontais, mas um mundo oral verticalizado, o que é muito mais dominador, pois a oralidade é algo que atinge o controle sobre muito mais gente de forma muito mais eficaz, aprofundando a anti-primavera.

Da mesma maneira que podemos dizer que há um período anti-primavera depois dos gregos e do movimento de Jesus, renovando o judaísmo, podemos dizer que depois de 1800 o mundo assistiu uma anti-primavera, mas não por causa do capitalismo (que seria o mais óbvio), mas por um modelo de forte controle das ideias, que causam problemas graves para a sociedade, pelo descontrole da sociedade sobre as atuais organizações ver mais detalhes aqui.

Não é a meu ver o capitalismo o inimigo, mas o modelo tecno-cognitivo que criou um capitalismo cada vez mais voltado para as organizações que o governam:

Podemos dizer, assim, que vivemos um período agora de início de uma nova primavera cognitiva, com a nova mídia reintermediadora,  a qual se procura questionar o longo ciclo monoteísta, hierárquico, aberto por Moisés e o Judaísmo, recriando e procurando resgatar o mundo oral e algo mais politeísta, de várias vozes e de vários deuses, com resgate do mundo oral/escrito/visual/ mais horizontalizado,  sem os limites do espaço físico, como sugere Levy nos seus livros.

Essa dimensão de fechamento de um longo ciclo de 5 mil anos é fundamental para entendermos a dimensão do impacto da Internet em nossa sociedade e o tamanho das mudanças que virão turbinadas por um planeta com 7 bilhões  de habitantes empoderados cada vez mais por um novo canal de troca de ideias, que modifica a plástica cerebral de cada ser humano em direção a um politeísmo 3.0 em rede digital.

O quadro que fiz foi esse:

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Por enquanto, é isso.

 

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