Chegou a hora de não dar mais mole para os antropólogos: precisam assumir que sem McLuhan não vão entender o Sapiens 3.0!
De certa forma, é uma espécie de acomodamento chamar de Antropologia Cognitiva o estudo das mudanças de mídia.
No fundo, e vou assumir isso agora, temos que chamar de Antropologia 3.0.
Não faz mais sentido, aqui do meu laboratório, pensar a Macro-História humana, papel dos antropólogos, sem incorporar nas análises as mudanças de mídia.
Não se trata de outro campo, ou um ramo da Antropologia, mas uma revisão da própria.
Há um corte epistemológico evidente, quando vemos o mundo dar uma guinada de 180 graus com a chegada do digital e não entender que fizemos o mesmo no passado.
Somos uma Tecno-espécie Cognitiva, que muda completamente quando criamos novos Ambientes de Mídia. Se a Antropologia não incorpora isso, não é mais Antropologia.
A base da Antropologia 3.o parte do princípio de que as tecnologias são extensões dos nossos corpos, almas e mentes. E quando mudam, mudam a sociedade.
E mais: quando temos novas Tecnologias Cognitivas o ser humano abre uma nova etapa civilizacional, quebrando velhos e falsos muros Tecnoculturais.
O ser humano precisa das mídias para se informar e decidir.
Uma Revolução Cognitiva tem duas etapas:
primeiro passo – descentraliza as informações;
segundo passo – distribui as decisões.
Existe movimento contínuo macro-histórico da humanidade, conforme vamos aumentando a Complexidade Demográfica em direção à descentralização da informação e à distribuição das decisões.
Não temos outra forma de lidar com a Complexidade Demográfica Progressiva do que descentralizar e distribuir.
A isso podemos chamar de Inovação Civilizacional Progressiva.
Há, sem dúvida, tentativas de centralização da informação e das decisões, mas são sempre pontuais, regionais e curtas ao longo do tempo.
Tentativas de centralização esbarram em fatores objetivos, tais como abastecimento. E subjetivos, sensação de falta de liberdade, que acabarão por implodir os projetos centralizadores no tempo.
Se analisarmos a Macro-História vamos perceber que sempre, ao aumentarmos a Complexidade Demográfica Progressiva, mais dia, menos dia, o surgimento de novas mídias, que vão descentralizar a informação. E, a partir daí, permitir que se distribua as decisões.
Para isso, é preciso cada vez mais ferramentas cognitivas sofisticadas, que nos permitam dar estes “upgrades” civilizacionais.
Isso não é agora, sempre foi assim. E sempre será.
Faz parte das premissas básicas de uma Tecno-espécie.
Se encontrarmos marcianos que desenvolvem tecnologias e se alimentam todos os dias, veremos que eles viverão também sob as regras da Inovação Civilizacional Progressiva.
Uma Revolução Cognitiva é igual a descoberta de novo continente.
Novas mídias permitem que possamos nos comunicar melhor e decidir melhor. Saímos de um Aquário Cognitivo e entramos em outro, como vemos abaixo:
Vivemos, assim, em falsas paredes tecnológicas. Acreditamos em limites para a sociedade que são falsos limites!
Não podemos fazer determinadas ações e pensamos de determinada maneira, pois estamos imersos em uma Ambiente Cognitivo específico.
Quando mudamos o Ambiente Cognitivo passamos a poder fazer algo que não podíamos e pensar de forma diferente do que pensávamos.
Uma Revolução Cognitiva promove, assim, expansão do Aquário Cognitivo, como vemos abaixo:
Podemos pensar formas novas de resolver velhos problemas, pois os antigos limites de comunicação e tomada de decisão se ampliaram.
Há um novo continente a ser desbravado com a chegada de uma Revolução Cognitiva e o principal problema deixa de ser tecnológico e passa a ser psicológico: a incapacidade que temos de ver que os limites antigos não existem mais.
Não será fácil a vida para os profissionais do RH no novo milênio.
Hoje, temos organizações que estão dentro de Ambiente Cognitivo. E, por causa dele, temos novo Modelo de Administração.
O RH atual trabalha para um modelo administrativo, que está ficando obsoleto.
E isso exige uma mudança radical no paradigma de como pensamos as organizações e a sua evolução no tempo.
Vejamos:
Não são as organizações que definem o modelo de comunicação na sociedade, mas é justamente o contrário: a forma como nos comunicamos é que define o modelo administrativo!
O problema é que mudanças de comunicação são muito lentas e demoradas e parecem que não ocorrem.
Não percebemos, por exemplo, que o atual modelo de gestão é filho do tripé gestos, oralidade e escrita. E que o novo modelo administrativo incorpora os cliques a estes três.
Hoje, basicamente o RH contrata, promove, treina, demite. É o RH da Gestão. O novo RH continua se preocupando com as pessoas, mas não mais da mesma forma.
Numa empresa uberizada não teremos colaboradores contratados e fixos. É um novo modelo de vínculo, baseado na avaliação online entre o colaborador e o consumidor.
O fato mais estranho em tudo isso é o seguinte:
Antigamente, se selecionava para trabalhar. Na Uberização, se trabalha para selecionar.
Muitos analisam a atual Revolução Cognitiva com espanto, nossos netos entenderão muito mais de Sapiens do que nós.
Temos a ilusão da continuidade, pois há um fator primordial da espécie que é invisível para nós: o aumento da Complexidade Demográfica.
O Sapiens é a única espécie social do planeta que cresce demograficamente sem pedir licença para ninguém. E isso nos faz ser uma espécie dependente de inovação.
Assim, quando aumentamos a população, já podemos prever que teremos rupturas na forma como nos comunicamos e nos informamos. E depois no modelo de administração.
Isso é base para o Sapiens.
Nossos cientistas sociais de plantão desprezaram com vontade dois pensadores fundamentais: Malthus (demografia é geradora de crises) e McLuhan (as mídias mudam a espécie).
Assim, precisamos entender qual é o macro-movimento fundamental do Sapiens no novo milênio:
Estamos recriando a sociedade em função do aumento demográfico. Primeiro, vamos refazer o ambiente de comunicação e depois o administrativo.
Fizemos isso no passado e faremos de novo.
Para isso, temos novo aparato de mídia, que nos permite nova linguagem, a dos cliques. Pela primeira vez, podemos contar com Administradores Artificiais, tomando decisões a partir da participação de massa.
É o que vemos de novidade nos projetos Uberizados.
A uberização permite que possamos decidir melhor, com a participação de mais gente, superando o impasse que tínhamos nos séculos passados.
Toda a espécie viva tem apenas duas missões: sobreviver e se reproduzir. O resto é lazer.
Até que tenhamos a primeira Revolução Genética, que permita o ser humano se alimentar de luz, seremos dependentes diariamente de água e comida.
Isso faz com que a espécie humana, como todas as demais, seja previsível.
Não é à toa que o leão espera as zebra beber água na fonte. E aranhas fazem a teia em caminhos previsíveis dos insetos rumo às flores.
Muitos tentam ignorar o lado previsível da humanidade, pois ele, de fato, é chato mesmo. Não permite que nossas utopias da sociedade ideal ocorram.
Precisaremos comer, dormir, nos vestir, nos comunicar, ir ao banheiro. Somos seres repetitivos.
Assim, não é muito complicado imaginar onde estamos e para onde vamos no tempo: sobreviver e nos reproduzir. E tudo que fazemos caminha nessa direção.
O ser humano, assim, procura ferramentas que o levem para esse caminho: conhecimento, informação, redes, comunicação e tudo mais que você queira imaginar visa resolver os dois problemas básicos da espécie.
Não são, como muito pensam, metas, mas apenas ferramentas para que possamos sobreviver e reproduzir.
Quando se imagina o futuro do ser humano, a partir destas ferramentas, se cai num enorme equívoco, pois estamos tentando entender o cachorro pelo rabo e não pela suas necessidades.
A isso podemos chamar natureza humana.
Não há possibilidade de compreender o Sapiens sem que se tente compreender, a partir da história, a sua natureza.
Qualquer tentativa de imaginar onde estamos e para onde vamos, vai esbarrar nesse ponto.
A natureza humana, assim, explica Revoluções Cognitivas.
O conhecimento humano se modifica baseado em alguns fatores: novas tecnologias de medição, acúmulo de estudos incrementais, experiências das mais diversas, novos fenômenos e novos malucos (Einstein, Freud, Darwin, McLuhan e etc).
Marshall McLuhan (1911-1980) é o maluco principal para compreender o novo século.
McLuhan é, antes de tudo um filósofo, que propôs uma revisão no topo dos debates filosóficos ao defender que as tecnologias são uma extensão do ser humano.
Traduzi isso com o conceito de “tecno-espécie” que é filho das ideias de McLuhan. Mas eles disse mais.
Disse que o meio é a mensagem. De que mudanças de mídia mudam o Sapiens, independente do conteúdo que vinculam.
Podemos dizer que tal visão cria um corte epistemológico no pensamento do Sapiens sobre o Sapiens.
Do ponto de vista de McLuhan e toda a Escola Canadense de Comunicação que veio depois, Pierre Lévy, inclusive, a história não se move de forma radical pela economia ou luta de casse.
Mas toda vez que temos fortes mudanças de mídia.
Quando abracei tais pensamentos minha capacidade de avaliar o futuro mudou completamente, pois passei a enxergar melhor o ser humano.
Podemos dizer o seguinte:
A resposta ao “Quem Somos?” a principal da filosofia antes e depois de McLuhan. A proposta dele é deixarmos de ver o Sapiens como uma espécie que usa tecnologias para uma espécie que fez da tecnologia parte integrante da sua vida.
E ainda:
Do ponto de vista de análise de cenário futuro, acredito que temos dois tipos de cenaristas: os que incorporaram McLuhan ao seu cálculo e os que não o fizeram.
Os primeiros, com a chegada da Revolução Digital conseguem perceber o tamanho da atual mudança.
Os segundos, que não conseguem perceber a modificação, pois continuam a considerar que o Sapiens tem um controle acima do que a vida mostra sobre as tecnologias.
E não dão tanta importância para Revoluções Cognitivas.
McLuhan é o Darwin do século XX. Sem ele, o novo milênio fica muito mais nebuloso para ser compreendido.
Organizações que querem migrar para o novo mundo ficam procurando melhores métodos, mas deveriam estar pesquisando os melhores filósofos. Primeiro, é preciso mudar o paradigma e, só então, agir.
Não me venham com projetos de educação de qualidade para meia dúzia.
O impasse que temos hoje na educação é que tínhamos os limites tecnológicos cognitivos do passado da oralidade e escrita, que modelou o Ambiente Educacional.
Dentro do Ambiente Educacional temos as Organizações Educacionais.
O problema principal do atual Ambiente Educacional 2.0 é de custo/benefício.
Quando aumentamos a quantidade, derrubamos a qualidade e o benefício. Quando aumentamos a qualidade, aumentamos o custo e reduzimos a quantidade.
É o paradoxo de um ambiente cognitivo que deu o que tinha que der.
Não há saída para Ambiente Educacional que consiga ter melhor custo/benefício dentro dos limites do Ambiente Cognitivo 2.0.
Só conseguiremos reequilibrar custo/benefício, qualidade e quantidade, se passarmos a pensar todo o modelo dentro de novos paradigmas, a partir das novas possibilidades do Ambiente Cognitivo 3.0.
Nele, teremos que repensar o Ambiente Educacional com outros parâmetros, e, só então, falarmos de um Ambiente Educacional 3.0.
As pessoas estão como um cachorro tentando morder o rabo quando pensam o futuro da educação.
Temos que compreender a sociedade a partir de novo conceito filosófico.
Mudanças no ambiente cognitivo mudam o modelo produtivo.
O modelo produtivo demanda novo modelo de educação.
O novo modelo de educação precisa ser espelho do novo ambiente produtivo.
A educação, assim, não é feita nas nuvens.
É resultado de conjuntura macro-histórias dos ambientes cognitivos e produtivos.
Educadores que querem experimentar novidades terão que fazê-lo dentro das possibilidades do ambiente cognitivo e produtivo de plantão.
Quando se muda o ambiente cognitivo, se irá mudar, pela ordem, o ambiente produtivo e se começará uma demanda por mudanças no aparato educacional.
Dependendo do tipo de mudança do ambiente cognitivo teremos um processo mais ou menos incremental, radical ou disruptivo do ambiente produtivo e educacional.
Hoje, com a chegada da Revolução Cognitiva Descentralizadora Disruptiva Digital temos mudança profunda na sociedade, envolvendo o ambiente produtivo e educacional.
Educadores se iludem, pois acreditam que o debate educacional é controlado por eles, não é.
A educação vive dentro de duas bolhas maiores que estão sobre ele: a bolha cognitiva e a produtiva.
A bilha cognitiva muda muito raramente, mas quando ela se modifica inicia um processo de mudança primeiro no Sapiens, incluindo seu cérebro, que depois impacta nas organizações produtivas e, só então, no aparato educacional.
Discutir qualquer coisa que não compreenda estes diferentes ambientes, é algo bom para uma mesa de bar, mas não para definir estratégias de futuro.
Muitos professores e educadores acreditam que podem tudo dentro do ambiente educacional e que depende deles modificar algo nos métodos vigentes. Se iludem.
Professores e educadores vivem dentro do ambiente educacional e de uma organização educacional. O ambiente educacional vive dentro de ambiente produtivo. E o ambiente produtivo vive dentro de ambiente cognitivo.
Vejamos.
O que define as bases da cultura de maneira geral é o aparato tecno-cognitivo que temos disponível, que define a forma como resolvemos problemas. As linguagens e os meios que temos para trocas (para produzir e consumir informação, conhecimento e nos comunicar);
O aparato produtivo é criado ou migrado de dentro ou para um novo ambiente cognitivo e será o espelho deste. Assim, organizações produtivas serão modeladas e formatadas, explorando o máximo que o ambiente cognitivo permitir a cada momento histórico;
O ambiente educacional prepara pessoas para o ambiente produtivo. O ambiente educacional hegemônico, podem ter espaços alternativos, será moldado para que formate crianças, jovens e adultos para o ambiente produtivo de plantão;
Por fim, a organização educacional, na ponta, responsável por executar métodos educacionais será resultado desses conjuntos acima.
Obviamente que há espaço entre o que é o padrão e a experimentação em cada uma destas camadas.
Mas há também paredes tecnológicas daquilo que não se pode fazer por falta de ferramentas. E há paredes organizacionais daquilo que não se deve fazer por ser incompatível com os modelos organizacionais vigentes.
Não adianta massificar um tipo de educação que será rejeitada mais adiante pelo ambiente produtivo.
Isso é fundamental para compreender as mudanças que teremos com a Educação 3.0, que falarei a seguir.
Como tenho dito de diferentes maneiras no meu novo LiquidBook, a vida sempre tem razão e o cenarista nem sempre.
O problema para a construção de bons cenários no novo século é: a chegada da Revolução Digital arrebenta com as teorias das ciências sociais de plantão. Ponto!
A vida escancara de forma clara e objetiva que a forma como pensamos o ser humano, a sociedade, a história estava equivocada.
É preciso ir para o alto da montanha e ter coragem de começar a jogar nossos paradigmas 2.0 ao vento!
A Revolução Digital demonstra que:
as tecnologias não são neutras;
tecnologias cognitivas mudam o Sapiens;
a história humana é fortemente impactada por mudanças de tecnologia cognitiva;
o modelo de administração da sociedade é filho dos ambientes cognitivos e não o contrário;
há uma influência da demografia nas mudanças de mídia e na história do Sapiens de maneira geral.
Na minha humilde opinião, sem essa revisão filosófica-teórica, os cenaristas de plantão terão sérios problemas de prever o futuro.
Um cenarista eficaz sempre acredita que a vida tem razão e é ele que tem que aprender com ela e não o contrário.
Não podemos dizer que há estabilidade e nem estabilidades nos cenários estudados.
Há mudanças como regra e há forças que atuam sobre determinado ambiente que são conhecidas ou não conhecidas.
Quando temos mudanças não conhecidas é sinal de que existem forças que estão fora da teoria do cenarista, nada mais.
É a teoria do cenarista que está obsoleta, pois há força desconhecida que precisa ser incorporada à teoria.
E aí se exige revisão teórica para que possa incorporar a força desconhecida ao cálculo do futuro para começar a ter cenários mais eficazes.
Não é, assim, a vida que tem que se encaixar na teoria do cenarista, mas é o cenarista que tem que aprender com a vida, com as forças que não estão dentro do seu cálculo de futuro!
Teoria é o estudo das forças em movimento. O cenarista eficaz escolherá sempre o estudo das forças que causam instabilidade.
Podemos dizer que estabilidade é um cenário previsível pela maioria dos cenaristas. E instabilidade é o contrário: quanto a maior parte dos cenaristas perde a mão.
Um cenarista eficaz é aquele que consegue identificar a principal força que causa instabilidade no cenário.
E inicia um processo de desenvolvimento de uma teoria sobre essa força. No fundo, ele refaz o que podemos chamar de “cálculo do futuro”.
Podemos dizer que teorizar sobre uma determinada força é:
classificá-la;
conseguir procurar sinais dessa força no passado;
comparar essa força com outras similares;
aprender com a reação do Sapiens, a partir dela;
comparar situações similares;
e aplicar esse estudo no momento presente;
e, só então, iniciar o processo de projetação de novos cenários.
Sempre digo que há uma diferença entre um cenarista e um profeta: o primeiro é cientista, o segundo curandeiro.
O cenarista é um cientista que se baseia em determinada teoria e entrega para sociedade prognósticos. Ou seja, ele tem uma teoria que define forças em movimento, que estabelecem momentos de equilíbrio e desequilíbrio.
O cenarista aprende com as forças do seu problema-foco e percebe quando haverá estabilidades ou instabilidades, conforme as correlações de forças.
Um cenarista eficaz é, assim, aquele que opta por escolher as melhores teorias.
Alguém que constrói cenários sem teoria não é um cenarista, mas um candidato a profeta!
Não, não são os jovens milênios que estão se adaptando, mas todos nós, que assistimos mudanças radicais na sociedade em diversas áreas: comportamento geral, consumo, relacionamentos, política, etc.
A atual Revolução Cognitiva Descentralizadora tem grande novidade, se comparada às anteriores: a velocidade. Nossos antepassados tiveram muito mais tempo para se acostumar com os novos ambientes cognitivos.
Nós estamos vivendo tudo de forma muito rápida e isso dá um nó na cabeça de muita gente. É natural.
Podemos falar também de semelhanças.
a descentralização – parecida com a chegada da Escrita Impressa há 500 anos;
a introdução de nova linguagem – parecida com a chegada da Oralidade há 70 mil anos.
Vejamos:
Descentralização de mídia – mais transparência, mais informação, mais amadurecimento social;
A nova linguagem – dos cliques que permite que possamos criar a Curadoria, novo modelo de administração, que vai superar a Gestão.
A Curadoria tem como base principal a participação de massa, regulada por Inteligência Artificial. que aponta a solução de diversos impasses civilizacionais com custo/benefício sustentável.
Todas as mudanças relevantes que assistiremos no futuro serão consequências destas duas características:
rápida velocidade – que vai acirrar bastante o conflito entre o velho mundo 2.0 e o 3.0;
E novo modelo de administração – que vai modificar de forma disruptiva e profunda as organizações no curto, médio e longo prazo.
1- é falsa a ideia de que a ciência é feita apenas na academia;
2 – o papel da ciência é resolver problemas complexos, que a sociedade não consegue;
3 – a ciência entrega maneiras novas de pensar e agir para a sociedade;
4 – é possível na Ciência cada um ter seu ponto de vista intocável?
5 – o espaço no qual ideias têm valor em si e não são questionadas é a Arte;
6 – Trabalhos científicos são ferramentas de ação que visam trazer conforto;
7 – pontos de vista viram pontos de ação e podem causar danos para a sociedade.
Hoje, se tornou comum a ideia do relativismo teórico. Cada um pensa de um jeito e todo mundo respeita o jeito do outro pensar.
A Ciência, entretanto, tem que entregar algo para a sociedade e ideias e propostas de ação precisam ser questionadas para se aperfeiçoarem. Não podemos confundir, assim, espaços acadêmicos com galerias de arte.
Vejamos:
A Arte foi criada para gerar desconforto e ampliar a linguagem e precisa da liberdade criativa. Uma obra de arte tem valor em si, não é uma ferramenta com a melhor lógica que vai nos levar de “a” para “b”;
A Ciência. ao contrário, foi criada para gerar conforto e ampliar a nossa capacidade de pensar e agir sobre problemas complexos;
Uma teoria não tem valor em si, mas é proposta de mudança da forma de pensar e agir, que vai nos levar de “a” para “b”.
Mas, você pode querer perguntar:
Pode-se ter diferentes avaliações do que consideramos conforto e desconforto?
Sim, podemos ter diferentes maneiras de avaliar o resultado do que foi entregue. Porém, depois que foi entregue e tocou na vida, na sociedade, em que vive determinado problema.
Há dados para analisar e não suposições “artísticas”.
A crise da Ciência hoje está dentro da crise das demais Organizações 2.0. Se deve ao esgotamento da Gestão, baseada no aparato tecnológico cognitivo que tínhamos e nas linguagens existentes.
O aumento do patamar da Complexidade Demográfica Progressiva tornou as atuais organizações obsoletas. E para tentar resolver a crise, elas se concentraram e acabaram sendo reféns delas mesmas.
O rabo passou a balançar o cachorro.
No caso da Ciência tal fenômeno se explicita num ambiente voltado para assuntos.
Na transformação do espaço de soluções de problemas complexos para uma espécie de galeria de arte.
Na galeria de artes científica de hoje cada se expressa do jeito que quiser, algo que não pode ser questionado, como se trabalhos acadêmicos fossem obras de arte.
Obras que são vistas como valor em si e não ferramentas de mudanças sociais na forma de pensar e agir.
Se entrega pouco para a sociedade, pois cada pesquisador é muito mais artistas, produzindo ciência “pura”, baseada em assuntos de interesse subjetivo do pesquisador para ele mesmo.
A Ciência foi transformada em arte.
A mudança que assistiremos com a Revolução Digital e o novo ciclo participativo é a reabertura para o debate de ideias com a sociedade, cada um defendendo a sua certeza provisória em torno de problemas.
A Ciência 3.0 será muito mais líquida, mais participativa, com pressão de fora para dentro. E talvez o dentro seja cada vez menos dentro.
Será baseada na demanda da sociedade para a solução de problemas complexos.
E a bolha maior é formada pelo aparato de mídia que temos, que definem as fronteiras do que podemos e do que não podemos fazer.
Entre os humanos há tecnologias cognitivas invisíveis que definem falsas paredes, que são derrubadas com a chegada de novo aparato de mídia.
Assim, temos a falsa ilusão de que somos o que somos. De que a sociedade é o que é, pois vivemos numa bolha civilizacional nos limites das tecnologias cognitivas que temos disponível.
Quando se rompe essa tecno bolha cognitiva, percebemos que muito do que não podíamos fazer não era por limitação humana, mas por falta de tecnologias.
A espécie entra em crise entre o que não se podia fazer e o que se pode agora. Os velhos hábitos na maneira de pensar e agir passam a ser a barreira e não mais a possibilidade concreta.
Saímos dos limites técnicos para o filosófico.
Hoje, nosso problema não é mais o que não podemos fazer, mas a capacidade de deixar de fazer do jeito que estávamos acostumados.
Todo o movimento de mudança que teremos pela frente é superar o modelo mental do século passado, com as tecno-limitações que tínhamos.
Esta é a pergunta que pouca gente faz, mas deveria fazer sempre sobre novos métodos de educação, principalmente para o Brasil.
Educação é tratada como algo abstrato, como não tivesse custos e fosse regulada pelas leis da economia: abundância e escassez.
Projetos educacionais inovadores devem se perguntar o tempo todo: quanto custa se pensarmos em milhões ao invés de centenas?
O que se faz hoje, sem esse questionamento, na falta de opção, é criar projetos educacionais de qualidade para pouca gente para criar espécie de semente para ser espalhada. Mas que nunca o é por falta de verba.
Porém, a pergunta que não quer calar, volta: quanto custa?
Apesar da fantasia que criamos no Brasil que educação é gratuita, pergunte a um gestor educacional se ele não tem contas todo mês para pagar.
O educador joga a culpa no descaso das autoridades, como se ele não tivesse que ser também um pouco economista, fazendo cálculos para que qualidade rime com quantidade.
Vejamos:
O problema de pensar o futuro da educação é que não conseguimos superar os limites da Civilização 2.0, que não tinha disponível o aparato digital e as novas filosofias, teorias, metodologias e tecnologias, que vem no vácuo.
Assim, projetos experimentais para 200 não interessam muito se não puderem ser replicados para 200 mil, pois não se terá dinheiro para tanto.
E este é o impasse civilizacional que vivemos. O atual modelo geral de educação, baseado no aparato tecnológico cognitivo oral e escrito, que nos legou a gestão, não consegue mais ter qualidade na quantidade de um mundo hiperpovoado.
A superação do impasse qualidade-quantidade será feito, através do uso do novo aparato digital, que criará um modelo novo de educação, através de inteligência artificial, cliques, curadoria, horizontalização.
O atual modelo hegemônico de educação, aliás, usou a escrita para aumentar a qualidade na quantidade, mas chegou a um impasse devido ao aumento demográfico dos últimos 200 anos.
A educação de qualidade do novo milênio para ter escala vai ter que abandonar o modelo professor-aluno, oral-escrito para novo paradigma da qualidade para milhões.
Hoje, quando falamos em qualidade de educação pensamos só em dezenas ou no máximo centenas, mas nunca em milhões. E é daí que se deve conduzir o debate.
A base de toda filosofia, teoria e metodologia depende de como analisamos a natureza humana.
Muitos dirão que não existe natureza humana, ou que ela é sólida como uma pedra, ou líquida como água.
Porém, o debate sobre natureza humana é o ponto de partida de qualquer conhecimento individual ou coletivo.
Muitos dirão que há temas em que a natureza humana não entra e eu afirmo que não, pois qualquer conhecimento é do humano para o humano.
Do humano que pensa e faz, ou só pensa, para o humano que faz.
Dependendo de como avaliamos a natureza humana, teremos posições filosóficas, teóricas e metodológicas completamente distintas.
Para um cenarista, é fundamental modular bem os limites do que podemos chamar de natureza humana.
Para evitar a arrogância, de definir uma natureza humana da sua própria cabeça (mesmo que diga que não exista) o cenarista recorre à história.
A história é o fio terra para que possamos definir a natureza humana de forma mais consistente e menos arrogante.
Se o ser humano não fez determinadas coisas no passado por que fará agora?
Novos cenários podem permitir novas facetas humanas? Podemo. Mas é preciso analisar se é um novo cenário realmente, ou é algo repetido que o cenarista simplesmente não percebe a repetição?
E se é totalmente novo, algo raro em tantos milhares de anos, como a antiga natureza humana vai reagir?
Na minha opinião, o que pode haver de realmente novo são mudanças tecnológicas que podem afetar a estrutura genética humana, tal como nos alimentarmos de sol, ou termos pessoas que já nascem sem poder se reproduzir, por exemplo.
sempre avaliamos pessoas no trabalho. Quem avaliava era o gerente e agora são os consumidores por uma necessidade da espécie;
não teremos mais um RH central. Coisas que são feitas fora do trabalho pouco importaram no passado. O que importa sempre, ao final de tudo, é o que a pessoa entrega de valor.
O primeiro episódio da terceira temporada da série Black Mirror imagina que a uberização que se vê nas novas empresas estará fortemente presente nas relações pessoais. E que vamos passar o tempo todo esmolando estrelinhas para poder trabalhar. Diria que preocupados com estrelinhas no trabalho, sim. Dos amigos, não.
Há duas discussões a partir disso.
A filosófica – que nos remete a como pensamos sobre a relação do humano com tecnologias;
E o prognóstico do cenário (que é resultado da visão filosófica) – onde afinal a uberização pode nos levar?
Na minha Certeza Provisória atual acredito que o ser humano, como qualquer outra espécie viva, antes de qualquer coisa, é motivado primeiro pela sobrevivência e depois, com ela garantida, se dá ao luxo do vem depois.
Se queremos colocar um fio terra no debate dos cenaristas sobre o novo milênio precisamos recorrer sempre à história.
Não podemos esquecer, e isso é demonstrado pela história, que o que move cada pessoa no mundo é chegar ao final do dia vivo. Para isso, precisa comer, beber, trabalhar e conseguir evitar os riscos de morrer antes de dormir.
Isso vem das cavernas e continua e continuará presente na vida de cada um de forma mais ou menos latente, conforme cada contexto.
De cenários mais adversos, em guerras, terremotos, grandes catástrofes, ao cotidiano.
Na minha Certeza Provisória, diria que tudo que fazemos, todas as ferramentas que criamos e usamos, inventamos, massificamos ontem, hoje e amanhã vem atender a essa demanda principal: sobreviver.
Obviamente, que superados determinados parâmetros de sobrevivência o ser humano começa a se dar ao luxo de ter vícios, prazeres, gostos e iniciamos um conjunto de demandas em torno disso.
Uma orquestra tocando enquanto o Titanic afunda: só em filme.
Gosto da série Walking Dead, bem filosófica, na qual vemos um ser humano tentando sobreviver num mundo sob o ataque de epidemias de zumbis. Ali, está o mesmo ser humano querendo sobreviver em condições muito mais precárias do que a atual, na qual todo o verniz civilizacional vai literalmente para o espaço.
Assim, há uma espécie de “natureza dos seres vivos” – não digo só humana – em que o instinto de sobrevivência em todas as espécies sempre estará presente em alguma medida, conforme a situação limite.
A única mudança radical que alteraria o Sapiens essa máxima, e isso é possível, seria mudanças genéticas, com o domínio dos códigos genéticos, se criarmos uma nova espécie de laboratório que não precise mais comer ou beber.
Aí teríamos nova espécie com outros paradigmas, abandonando a lógica dos seres vivos.
Enquanto isso não ocorre, a história nos mostra que as tecnologias abriram fronteiras para o ser humano ocupar, com a sua natureza.
E o papel do cenarista é analisar como essa natureza humana – digamos meio líquida, mas dentro de um corpo sólido, vai se adaptar às novas condições de cada época.
(Muita gente vai dizer que não existe natureza humana. É talvez o primeiro equívoco de muitos cenaristas utópicos.)
Podemos dizer que essa natureza humana não é fixa, é mutante, pois uma coisa é um humano mais próximo à natureza, em uma fazenda, e outro um que vive numa megalópole.
Procurar constantemente a natureza humana no tempo e projetar adaptações da mesma para o futuro, mesmo com descobertas de novas facetas, é a atividade principal de um cenarista eficaz.
Assim, imaginar que a espécie vai criar demandas novas, a partir de novas tecnologias, precisaria comprovar algo parecido na história. Ou imaginar que havia algo tão oculto que agora há condições de vir à tona.
E isso tem que ter algum tipo de discurso lógico e não apenas achismo emocional de um cenarista utópico.
Até por que não é primeira vez que alteramos mídias no passado. E podemos analisar que muita coisa mudou. Mas muita coisa TAMBÉM não mudou.
Dito isso, passemos ao que sugere o autor do primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror.
De fato, o aumento demográfico radical dos últimos 200 anos (de 1 para 7 bilhões) tem nos obrigado para sobreviver melhor a criar estrelas para avaliar produtos, serviços, pessoas, textos, vídeos, áudios.
Estamos adotando a comunicação química das formigas, criando um novo modelo administrativo da Curadoria para lidar com problemas complexos, sem solução no atual modelo administrativo da Gestão – filha direta da palavra oral e escrita, que nos acompanha há 70 mil anos.
A uberização significa a passagem do controle administrativo de um gestor do alto para um consumidor, munido de aplicativo, que viabiliza a expansão dos cliques – a terceira linguagem humana.
O prestador de serviços na uberização passa a ter receio do consumidor, que pode, através dos cliques, que são gerenciados por uma Inteligência Artificial, tirá-lo da plataforma ou reduzir o ganho no final do mês, como já ocorre em diversos projetos novos na Internet e até na variável do final do mês das tripulações da Gol.
Isso, entretanto, não é novidade para a espécie.
Avaliações de prestação de serviços sempre ocorreram no tempo e na história.
Quem avaliava, porém, cada prestador era um gestor, que fazia a sua avaliação e tomava as mesmas decisões de demissão, promoção, contratação de forma vertical.
O aumento do patamar de complexidade demográfica, entretanto, tornou o trabalho do antigo gestor obsoleto.
A avaliação do consumidor permite a descentralização da avaliação de baixo para cima, de forma horizontal, com mais meritocracia. É a pulverização do gestor em milhões de micro-gestores.
A uberização é uma saída sistêmica para o aumento da complexidade. Taxistas não eram mais controlados pelo consumidor, que reclamavam em vão. O motorista do Uber é controlado pela dobradinha consumidor – inteligência artificial dentro de uma plataforma administrada por um Curador.
Motoristas do Uber agora temem a avaliação dos passageiros e, por isso, se comportam muito melhor.
O critério de estrelas também se dá para canais de vídeos, áudios, textos e aqui estamos falando de espaços de divulgação de ideias, que podem ser ou não comerciais (no sentido de geração de receita).
A taxa de ética social tende a aumentar na transparência e com o controle da sociedade sobre as organizações e seus parceiros, colaboradores.
Assim, avaliar serviços, produtos não é algo novo, o que estamos fazendo com a uberização é democratizar a forma de avaliação.
Imaginar que esse sistema de avaliação já existente nas organizações migaria para as relações pessoais é algo a-histórico.
Por que aconteceria agora? Avaliar já ocorre por uma necessidade de ser melhor atendido, por que passaríamos a fazer isso nas relações pessoais?
Só por que podemos?
Já podíamos fazer isso com a fofoca, mas mesmo com toda a fofoca sobre alguém isso não impediu que pessoas sejam amigas ou que tais fofocas impeçam que ela trabalhe em determinado lugar.
O que faz a diferença na hora do trabalho não é com quem você se deita, ou de quem é amigo, mas a capacidade que se tem de gerar valor para quem tem um determinado problema.
Não vejo nada na história que possa demonstrar algo assim. Fornecedores e consumidores, uberizadas ou não, querem pessoas que consigam gerar valor, independente do que fazem, com quem se encontram, de quem são amigos.
O que valeu para o passado e será para o futuro é capacidade que cada um tem de identificar problemas e ajudar a superá-los. É isso que vai sempre ser objeto de avaliações cada vez mais sofisticadas, que serão feitas com as ferramentas cognitivas disponíveis (canal físico e linguagem).
Vejamos.
Pouco importa, por exemplo, se um vendedor de baterias no mercado livre não tem nenhum amigo no Facebook, mas que entrega o produto em dia e todo mundo o elogia. Importa? O mesmo digo de um motorista do Uber ou de alguém que aluga quartos do AirBnb.
Pessoas fazem negócios com outras por motivos mais objetivos e se relacionam com outras por motivos mais subjetivos.
Tais relações passam por diversos critérios de seleção de quem você quer ver todo dia, de vez em quando ou nunca tanto nos negócios quanto na sua vida pessoal.
Porém, nos negócios o que importa mais é a objetividade e na vida pessoal a subjetividade. São critérios diferentes para demandas diferentes.
Acredito que determinadas práticas sociais como galinhagem, grosserias, posições políticas já são mais transparentes e vão evitar relacionamentos pessoais futuros.
Mas isso não vaza para os negócios, pois a ideia de empresas centralizadas, de Recursos Humanos centrais que contratam é algo que não se sustenta num cenário futuro.
Veja o meu debate sobre isso aqui:
Porém, isso não vai importar muito do ponto de vista objetivo, pois as organizações se uberizando, o que vai importar é o karma digital que a pessoa terá ao entregar o produto ou serviço na plataforma.
A ideia de um RH central escolhendo colaboradores tende a ficar cada vez mais obsoleto.
Assim, sim teremos mais transparência nas relações, sim teremos mais informação sobre a prática de cada um na sociedade, sim avaliaremos cada vez mais tudo.
Porém, a ideia de que vou esmolar estrelas do amigo para manter meu emprego, na minha certeza provisória, é pouco provável.
O episódio consegue projetar e radicalizar um futuro sombrio, a partir das tecnologias. A série toda aliás tem esse tom de reativismo melancólico, mas é bem feita e abrem bem o espaço para o debate.
Vivemos uma crise profunda, pois as organizações científicas vivem o final de uma Era Cognitiva, na qual diagnosticamos um corporativismo tóxico.
Nestes momentos temos alguns fatos relacionados. O que chamamos de ciência será muito mais parecido com arte ou hobbie.
A ciência que praticamos hoje está muito mais parecida com uma galeria de arte do que um ambiente científico.
O papel da arte é brincar com a subjetividade para alargar as fronteiras da linguagem e dos sentidos.
O papel da ciência é ajudar a sociedade a dar solução para problemas complexos, num ambiente de objetividade, de diálogo e de lógica.
Quando defendemos que cada um tem o seu ponto de vista e que deve ser respeitado, estamos falando de um ambiente artístico.
O papel da ciência é justamente o contrário.
Pontos de vistas devem ser desrespeitados com argumentos, questionados, validados, invalidados. Pontos de vistas estão lá justamente para serem massacrados.
Os que sobreviverem são ferramentas para que tenhamos menos problemas aqui do lado de fora.
Quando alguém me diz que eu tenho um ponto de vista e ele tem o dele, tudo certo, mas o ponto de vista, acaba por virar um ponto de ação.
Ponto de ação é uma prática, uma metodologia, um prognóstico, um diagnóstico, um tratamento que, mais dia menos dia, vai causar mais ou menos conforto ou desconforto para alguém.
O papel da ciência é reduzir desconfortos.
O da verdadeira arte é o contrário: gerar desconforto.
A arte que não gera desconforto, é hobbie, assim como curiosidade sobre conhecimentos que não resultam em solução de problemas.
A visão de futuro de muita gente é de que haverá uma dispersão radical das experiências.
E de que o mundo hoje é organizado da atual maneira por causa de um centro forte.
Concordo parcialmente.
Haverá de fato mais alternativas, o mundo terá ainda mais camadas de futuro. Porém, não repetimos, imitamos e temos um planeta mais ou menos parecido por imposição.
O ser humano imita os demais por necessidade, pois quer ter sempre o melhor custo/beneficio para resolver problemas.
A ideia de que a Revolução Cognitiva nos levará para um mundo cada vez mais heterogêneo e que será impossível comparar diferentes regiões, me parece um prognóstico não viável.
A diferença entre regiões ou mesmo dentro da mesma região será, como já é hoje, em função da mídia utilizada.
Quanto mais a nova mídia e a linguagem for massificada e eficazmente utilizada, mais e mais aquela região poderá conseguir resolver os antigos problemas de melhor forma.
Quanto mais difundida e eficaz for a mídia utilizada para resolver problemas da espécie, mais no futuro estarão determinadas regiões e vice-versa.
Futuro não quer dizer mais evolução, melhor, bom, correto, apenas é o máximo que conseguimos fazer com o que temos nas mãos, só isso.
Pode colorir como quiser o projeto educacional, mas…
…o que importa ao final é o seguinte.
Quanto mais homogêneo for o pensamento das crianças no processo educacional mais centralizadora é a proposta de educação;
Quanto mais heterogêneo for o pensamento das crianças no processo educacional, mais descentralizadora é a proposta de educação.
Propostas educacionais preparam pessoas para determinada sociedade projetada (vontade de mudar a atual) ou vivida (a que existe).
Há, a meu ver, no mundo dois tipos de sociedade, se puxarmos para os extremos:
sociedades que são regidas por um centro, com forte controle do estado sobre a sociedade e os indivíduos. Um modelo mais vertical;
sociedades que são regidas pelo a interação das pontas com baixo controle do estado, com o desenvolvimento de uma ordem mais espontânea dos indivíduos. Um modelo mais horizontal.
Digamos, que a primeira é a proposta mais autoritária (e muitas vezes totalitária) de sociedade, do controle de determinado centro para as pontas e a outra da ordem espontânea, mas aberta e livre.
A filosofia da educação reflete uma ou outra.
Pode não ser no verniz, no discurso, mas no que realmente acaba por entregar homogeneidade ou heterogeneidade?
Uma proposta de educação centralizadora/estatizadora fará com que cada pessoa reduza a taxa de diversidade. A individualidade e a subjetividade serão contidas e não estimuladas para a integração no todo. Cada membro se verá incompleto, compondo um todo maior, que contém a completude. As pessoas vão ser preparadas para respeitar à autoridade de plantão e pensar de forma bem próxima dos professores e dos demais membros da escola. É uma escola estatizadora.
Uma proposta de educação descentralizadora fará com que cada pessoa aumente a sua taxa de diversidade. A individualidade e a subjetividade individual serão estimuladas para a integração no todo. Cada membro se verá completo para compor o todo maior, que contém a incompletude. As pessoas vão ser preparadas para questionar a autoridade de plantão e pensar de forma bem diferente dos professores e dos demais membros da escola. É uma escola empreendedora.
Vejamos:
A educação estatizadora/centralizadora fortalece sociedades de baixa inovação, forte controle social do centro para as pontas.
A educação empreendedora/descentralizadora fortalece sociedades de alta inovação, baixo controle social do centro para as pontas.
Tais propostas são a base de qualquer projeto educacional e de sociedade. Metodologias que serão implantadas refletirão essa realidade.
Antes de defender que o problema do Brasil é educação é bom saber de que tipo de filosofia de educação estamos falando: estatizadora ou empreendedora?
Obviamente, que o debate da Educação 3.0, Curadora, nos leva a uma radicalização da Educação Empreendedora.
Cenarista é alguém que constrói cenários futuros para que outro alguém tome decisões melhores.
Cenaristas trabalham com forças em movimento. É preciso entender cada força, novas forças, a relação entre elas e as possíveis modificações e, só então, projetar cenários.
Cenários nada mais são do que a relação das forças em movimentos. E as projeções, a partir de novas configurações.
Quando temos forças iguais ou parecidas em ação, a tendência do cenário futuro é de maior taxa de estabilidade;
Quando temos novas forças (ou não tão conhecidas) em ação, tendência do cenário futuro é de maior taxa de instabilidade.
Quando temos novas forças, cabe aos cenaristas identificá-las, conhecê-las, incorporá-las, através do estudo de sua ação no passado e no presente em lugares onde ela está mais atuante há mais tempo.
Novas forças significam que há algo de errado no paradigma do cenarista, que precisa ser refeito.
O cenarista precisa aprender que a vida sempre tem razão e ele sempre está equivocado. A vida ensina e o cenarista aprende.
O ser humano é a principal força a ser estudada pelo cenarista, pois todo o seu trabalho está voltando para que melhores decisões sejam tomadas.
Há cenários, como o clima, terremotos, maremotos, pragas que podem depender mais ou menos das forças humanas, mas o cenarista sempre estará prestando serviço para alguém que precisa tomar uma decisão, a partir do cenário construído.
Quanto mais um cenarista tenha visão mais clara de como reage o ser humano individualmente e coletivamente a determinadas forças, mais terá condições de acertar prognósticos e vice-versa.
O cenarista indica ações no presente para que a pessoa que está sendo orientada possa se adequar melhor ao cenário futuro.
Cenaristas que não estudam o passado, são cenaristas, que tendem a ter maior taxa de arrogância, pois acreditam que apenas o instinto, sua capacidade de percepção, é capaz de prognosticar os cenários futuros.
O passado é uma espécie de âncora de humildade para os cenaristas, pois evita que a taxa de arrogância suba. Que ele comece a projetar o que quer para o futuro e não o que provavelmente vai ocorrer.
Desconfie de cenaristas que não apresentam memória de cálculo passada.
Todas as organizações que praticam a gestão estão em crise. A gestão foi o modelo e administração, que conseguiu lidar com um determinado patamar de Complexidade Demográfica.
A crise que vivemos na sociedade hoje é do modelo de administração, baseada na linguagem oral e escrita, que ficou obsoleto diante do aumento demográfico.
Basicamente, estamos saindo de uma espécie que produzia ruídos, próxima dos mamíferos, que exige líderes-alfas (gestores/palavra oral e escrita) e iniciamos a jornada para espécies de comunicação química (curadoria/cliques).
Isso ocorre em todas as áreas e vai ocorrer também na produção científica.
Existem duas coisas importantes separar neste campo:
O método científico – é estrutural – filosófico. E a publicação e divulgação é conjuntural – tecnológica.
O método científico, no tempo, exige um problema, uma hipótese para lidar melhor com ele, um teste para validar a hipótese, um comparativo e uma conclusão.
Isso podemos dizer que será algo estruturante de qualquer espécie viva, não só humana, na direção da procura de uma qualidade de vida melhor.
Todos os animais testam melhorias, incluindo os humanos, que fazem isso no geral, e nas questões mais complexas se utilizam de determinadas organizações, que chamamos de academia.
Muita gente confunde método científico que é a eterna busca da certeza provisória, ou da mentira, se quiserem radicalizar com a publicação. Com a publicação.
A publicação, entretanto, não é estruturante, pois dependerá das ferramentais disponíveis a cada período histórico. Como passamos um longo ciclo dentro da Era da Palavra Oral e Escrita criamos a ilusão de que método e publicação é a mesma coisa. Não é!
Antes éramos gestuais, depois passamos às palavras e hoje temos os cliques.
O método científico será praticada na plataforma de publicação disponível e será influenciado por este conjunturalmente.
Hoje, a publicação científica é feita, através da validação das palavras. É o método da gestão, na qual há um gestor, que chamamos de editor ou editores, criam um corpo de pareceristas que avalia o que será publicado.
Filtra-se para publicar.
Segundo o especialista americano de mídias digitais, Clay Shirky, a digitalização do mundo, com suas novas ferramentas, temos o contrário:
Publica-se para filtrar.
A nova linguagem dos cliques permite que pessoas ao lerem determinado artigo, possam, avaliá-lo no processo de leitura. O que podemos chamar de Curadoria Acadêmica.
Tal modelo permite que a Ciência 3.0, possa:
ter muito mais interação;
ser muito mais líquida;
muito mais próxima da sociedade;
menos dependente da vontade e interesse dos antigos gestores/editores;
mais inovadora;
mais descentralizada e distribuída.
A crise da ciência hoje é justamente a mesma de todas as organizações.
Criamos alta taxa de corporativismo tóxico, pois devido à centralização e isolamento da produção científica. A academia ficou cada vez mais voltada parar os próprios interesses do que os da sociedade.
Temos hoje uma ciência conservadora e corporativista, deixando a sociedade sem respostas às questões complexas.
Muitos acadêmicos consideram que qualquer coisa diferente do atual modelo de publicação irá trazer o caos à ciência, pois são reativos às mudanças.
E confundem assim métodos científicos com publicação científica.
A procura da melhor verdade, ou da melhor mentira continuará sempre, o que muda apenas é o método que faremos isso.
Mais gente no mundo, um mundo mais complexo, mais mutante e inovador, exige um novo modelo de produção acadêmico compatível.
O antigo validador oral/escrito dará lugar aos cliques, o uso intenso de inteligência artificial, que permitirá a renascença científica, pois estará muito mais próxima da sociedade do que hoje.
O primeiro é algo mais amplo na base de toda a filosofia, na pergunta mãe:
“Quem somos?”.
Hoje, o principal debate filosófico passa por McLuhan e a ideia de que somos Tecnoespécie, que se modifica na essência com a chegada de novas tecnologias, principalmente as cognitivas.
Sem este novo paradigma, da Tecnoespécie o novo milênio será um labirinto de minotauro para os filósofos.
Isso, digamos, é algo fundamental que torna consciente algo que já ocorria no passado, tal como as mudanças filosóficas ocorridas na Grécia com a chegada do alfabeto grego ou depois da idade média com a prensa.
A base dos pensamentos filosóficos de plantão ocorrem dentro dos limites Tecnoculturais existentes, que são formados por falsas paredes. Quando elas caem, tudo que estava em cima dela, cai junto.
Porém, temos um impacto em outras camadas da filosofia, no campo moral e epistemológico.
O que antes eram limites humanos não são mais.
Revoluções Cognitivas expandem o “aquário” Tecnocultural, permitindo que o que possamos avançar sobre novas possibilidades.
Um conjunto de pensamentos humanos passa a ser revisto, pois o que achávamos que era sólido, vemos que é líquido.
Mas o novo paradigma que ele defendeu “O meio é a mensagem” é filosofia.
No momento, que sugere que os meios de comunicação são uma extensão do ser humano, entra no campo das perguntas do “Quem somos?”.
McLuhan sugere que o ser humano, por dedução, é uma Tecnoespécie. Introduz um ponto de vista relevante na Filosofia da Tecnologia, que analisa a relação do ser humano com as tecnologias.
Permite o trabalho da Escola Canadense de Comunicação, que passa a estudar as rupturas de mídia no passado para recontar a história humana.
Abre o campo de estudos da Antropologia Cognitiva e permite a obra de Pierre Lévy, que faz um panorama geral sobre as rupturas de mídia.
McLuhan é uma pessoa chave do novo milênio e tem, de certa forma, a importância de Darwin. Temos o mundo antes e depois de McLuhan.
Por quê?
Temos uma visão completamente nova do ser humano, que, na época, pareceu algo exotérico, com baixo impacto de compreensão sobre as mudanças na sociedade.
As mídias eletrônicas trouxeram ou uma Evolução Cognitiva, ou uma Revolução Cognitiva Centralizadora, a gosto, o que reforçou o mundo que já existia.
McLuhan disse algo relevante na década de 60 que só agora se mostra muito mais útil para a compreensão das mudanças humanas, tal como a chegada da Revolução Digital.
Só agora, com a chegada da Revolução Digital, McLuhan passa a ganhar a relevância que merecia.
Não conseguiremos entender o novo milênio sem McLuhan e sua escola.
Não importa tanto o que é dito dentro das mídias, pois as mídias definem a sociedade, pois são uma extensão do ser humano.
Veja ao vivo:
Muito do combate à McLuhan se deve ao questionamento central que essa proposição “o meio é a mensagem” tem e teve sobre o conceito marxista da luta de classes.
McLuhan, ao colocar as tecnologias de comunicação no topo das forças provocadoras das mudanças históricas, elimina o conceito de que a história é filha da luta de classes.
E todo comunicólogo com tendências marxistas baniu McLuhan, ou colocou-o como um pensamento de um excêntrico, digno de figurar num “jardim zoológico” dos pensadores exóticos.
Porém, o novo milênio com as mudanças bruscas que estamos passando, traz McLuhan e sua turma para o centro dos holofotes.
Principalmente, as organizações que querem lideram o mercado precisam de McLuhan para criar cenários mais realistas.
Pela ordem:
Da visão filosófica de que somos uma tecnoespécie;
De que mudanças de mídia alteram profundamente o ambiente de negócios.
Vivemos uma profunda crise da ciência. Principalmente das ciências sociais.
A concentração de mídia nos leva ao corporativismo tóxico, que atinge a todos os setores, incluindo a academia.
Hoje, as organizações criam critérios de produção cientifica de dentro para dentro. Há uma certificação pelos pares, que têm problemas acadêmicos, num círculo vicioso.
Teorias perdem o conceito fundamental, o conceito fica sem consistência.
Teorias são ferramentas humanas para resolver problemas, como detalhei aqui.
Toda boa teoria visa apontar metodologias e, para isso, precisa analisar forças e fazer prognósticos. Teoria que não faz prognósticos não é teoria, é hobbie ou arte.
É na analise dos resultados dos prognósticos e do resultado das metodologias que começamos a saber se uma determinada teoria é eficaz, ou não.
Os resultados demonstram o que pode ser ajustado. Qual é o equívoco que foi feito nas fases preliminares.
As teorias atuais não fazem isso.
Hoje, uma pessoa que se diz cientista é um cientista de assunto, se especializa num tema sem fim, se torna conhecedor de tudo sobre aquele assunto, mas que, de prático, nada ajuda para a sociedade.
Todo estudo tem que ter um problema para nortear o seu caminho, pois é esse o papel da ciência: ajudar a sociedade a viver melhor.
O grande problema com os cenaristas modernos é que eles passaram a fazer marketing.
Por uma questão de sobrevivência, os cenaristas passaram a atuar com os princípios do marketing: o cliente tem sempre razão e vou dizer aquilo que ele deseja ouvir.
Isso dá dinheiro, palestra.
E começamos a ter cenaristas marqueteiros dizendo que a Hillary vai ganhar, que a Inglaterra vai ficar na comunidade européia e que o acorde de paz na Colômbia vai ser aprovado. Que a uberização é algo periférico e que no Brasil essa onda de transparência cidadão vai passar.
O papel do cenarista, bem como do calculista de pontes, do oncologista e do terapeuta não é dizer o que o cliente quer ouvir, mas, baseado em teorias eficazes, tentar apresentar um cenário factível para o cliente lidar melhor com ele.
Vivemos hoje guinada civilizacional, na qual as organizações estão em fase de negação. Estão sedentas para escutar pessoas que garantam que futuro não vai mudar tanto assim.
Porém, é preciso entender o papel dos cenaristas para as organizações.
Todo cenarista precisa de uma teoria para fazer seus prognósticos. A diferença entre um cenarista e outro é a teoria que o embasa. E a sua capacidade de criar em cima das forças analisadas.
Um cenarista dever ter apenas compromisso com a sua teoria e do que ele consegue enxergar no futuro a partir dela. Há um diálogo necessário com o cliente, incluindo alunos, mas tem que se dar em bases argumentativa, teórica e lógica.
Quando o cenarista confunde o seu papel de prognosticar o futuro e começa a dizer o que o cliente quer ouvir para aumentar o seu ganho, algo começa a se complicar. A raposa começa a ser chamada para analisar se as galinhas precisam de proteção.
Quando cenaristas deixam de atuar no campo das ciências e da lógica passam ao marketing. Seminários e palestras deixam de ser espaço de reflexão e racionalidade e passam a ambiente de prece para que o futuro não seja tão impiedoso.
Para um cenarista eficaz, quem tem que ter razão é a teoria desenvolvida, que permite prognósticos, e não o cliente!
O cliente contrata um cenarista para conhecer o que ele estudou e não para reforçar aquilo que ele quer ouvir.
Na atual fase de negação, cenaristas eficazes e não marqueteiros assistem os marqueteiros fazendo sucesso.
O futuro, entretanto, que marketing é bom para vender, mas não para fazer estratégica eficaz.
Há dois filmes que recomendo que evidenciam a luta entre cenaristas marqueteiros e cenaristas eficazes:
Problemas estruturam o pensamento e permitem criar metodologias e respostas da vida (e aliança com os sofredores) para saber se estamos indo no caminho menos equivocado.
Problemas nos mostram que todo o conhecimento tem um propósito: ajudar a sociedade a viver melhor.
Quando as pessoas se dedicam a assuntos e não a problemas, campos de estudo, ciências da rede, de informação, de comunicação, do conhecimento, ou seja lá o que for, entram no labirinto de minotauro, onde não tem wifi e nem tomada para carregar celular.
As pessoas têm problemas e são motivas por resolvê-los. O papel de pensadores ativos é o de ajudar as pessoas a superá-los, quando possível, ou minimizá-los.
Problemas são:
integradores;
não tem fronteiras, limites, barreiras;
não têm autoridade;
são mutantes, pois depende sempre do contexto.
Obviamente, uma ciência baseada em problemas só é possível nesse novo ambiente mais descentralizado e distribuído.
O problema é que as ciências atuais são filhas de um mundo 2.0, de pensadores isolados, em torno de assuntos, dentro de labirintos de minotauros eunucos.
A Ciência 3.0 é mais participativa e interativa, pois tem novas ferramentas de validação do que é mais útil à sociedade. Cliques permitem que a sociedade possa participar mais do processo científico.
Tal mudança vai varrer para o canto do quarto a ciências por assuntos.
A Ciência 2.0, além disso, com o tempo de uso, foi gerando, como em outras organizações, uma espécie de corporativismo tóxico.
Viraram muito mais sindicatos do pensamento corporativistas, do que ferramentas de pensar e agir, que possam ser úteis para a sociedade.
Os novos pensadores que serão valorizados pela sociedade não serão especialistas em assuntos, mas em problemas.
Assuntos são aeroportos que só permitem pousar teco-tecos e rejeitam a chegada de aviões maiores.
Pensadores que não têm problema para resolver e atuar na vida acabam por se perder no mar da falta de prioridades. Perdem a noção do que realmente importa e o que deve ser deixado de lado. Saem da Ciência e vão para as Artes ou Hobbies do pensamento.
A grande questão filosófica do novo milênio é introduzir as tecnologias na pergunta “Quem somos?”.
Até aqui a resposta foi incapaz de se aproximar mais do que de fato ocorre.
O Sapiens é uma Tecnoespécie e é o que é pelas tecnologias que consegue criar.
O Planeta Sapiens, tecnológico por natureza, quando recebe novos aparatos se alarga. Passamos a fazer o que não era possível antes. Criamos um vácuo entre o Planeta Sapiens antigo e o novo.
As tecnologias expandem nossos limites e no vácuo criado avançam projetos daqueles que percebem que as falsas paredes do antigo planeta já não existem mais.
Há, porém, mudanças diretas de novas tecnologia no Sapiens. Algo no nosso corpo físico ou mental se altera, pois novas órteses fazem com que tenhamos que nos adaptar a elas.
Principalmente, o cérebro que tem certa independência de seus respectivos donos.
Pessoas que gostam de pensar o futuro, devem olhar para os vácuos que se abrem no Planeta Sapiens com a chegada de novas tecnologias e não para as tecnologias em si.
Tecnologias que abrem vácuos são aquelas que vêm atender à demandas que estavam contidas na parede do antigo Planeta Sapiens.
Há latências da sociedade que não conseguem ser atendidas por falta de tecnologias que as viabilize. Tais tecnologias serão mais rapidamente massificadas do que outras.
Quem gosta de pensar o futuro, deve olhar para as latências e o potencial que são atendidas com novas tecnologias.
O Sapiens não vive no Planeta, mas numa espécie de Tecnoplaneta particular.
Outras espécies vivas lidam diretamente com a natureza. O Sapiens se relaciona com a natureza, através de aparato tecnológico.
As outras espécies podem sofrer com as mudanças da natureza e se adaptar a elas.
O Sapiens altera a sua vida se novas tecnologias surgirem, pois a relação possível com a natureza, com outros seres vivos e outros Sapiens se modifica.
Há graus de adaptação necessária, a partir da chegada de novas tecnologias:
tecnologias não cognitivas – variável, conforme impacto sobre a sociedade futura;
tecnologias cognitivas – sempre impactante, pois altera a forma de relação dos Sapiens entre si;
tecnologias genéticas – sempre impactante, pois poderá alterar a forma como sobrevivemos, nos reproduzimos, morremos.
Quando novas tecnologias surgem o Planeta Sapiens se modifica, principalmente Tecnologias Cognitivas, o que nos faz defender que determina etapas civilizacionais, a saber:
Civilização 1.0 – o Sapiens que gesticula;
Civilização 2.0 – o Sapiens que também fala, lê e escreve;
Civilização 3.0 – o Sapiens que clica.
Toda mudança civilizacional, a partir de Revoluções Cognitivas (chegada de novas tecnologias de comunicação e informação) introduzem grande mudanças no Planeta Sapiens:
genética/biológica, alteração no cérebro;
subjetiva, mudanças em como lidamos com o mundo;
objetiva, novas formas de resolver o problema das demandas e ofertas.
Galera, se segura, pois começamos a Revolução Administrativa!
O ser humano caminha na história aumentando o patamar de complexidade demográfica.
É a única espécie social que faz isso, mas precisa de tempos em tempos promover um forte ajuste em como se comunica e se administra para voltar a equilibrar a espécie.
O diagnóstico da crise que estamos passando é simples: crescemos demais e nossos modelos de comunicação e administração ficaram incompatíveis.
Como procedemos o ajuste?
Começamos introduzindo novas tecnologias de comunicação e informação, com ou sem uma nova linguagem;
E depois, a partir das possibilidades abertas por essa novidade, criamos um modelo de administração mais sofisticado, nem melhor e nem pior, apenas mais sofisticado.
Assim, podemos dizer que até aqui com a digitalização do mundo estávamos na fase da Revolução Cognitiva, mas que se abre na segunda etapa: da Revolução Administrativa.
Organizações uberizadas nos mostram que é possível administrar, basicamente tomar decisões, de uma nova forma, através da nova linguagem dos cliques.
Daqui para frente, o que vamos assistir são mais e mais organizações ocupando mais e mais espaços na sociedade embaladas pela novo modelo de administração.
A Revolução Administrativa já começou.
E é ela que vai realmente criar a nova Civilização, a partir das novas possibilidades criadas pela Revolução Cognitiva.
Quando falamos em especialização, pensamos sempre especialização de assuntos e não de problemas.
O mundo que estamos saindo é um mundo de ideias e inovação controlados pelo limite das tecnologias, da linguagem, que se tornaram incapazes de lidar com o novo patamar da Complexidade Demográfica.
Quando isso ocorre a tendência é massificar, apostar na repetição, na baixa inovação, no controle e caminhamos para o fortalecimento do agir e pensar em torno dos assuntos.
A educação caminha toda nessa direção.
Assuntos, que podemos chamar de dados dispersos, são ferramentas pré-problemas.
Não podemos incentivar o estudo e prática em torno de problemas em sociedades que não podem inovar.
Vamos estudar em torno de dados dispersos, desarticulados, sem coerência entre si e deixar que os problemas sejam resolvidos por uma parcela pequena da sociedade.
Isso não é maligno, mas a resposta que encontramos para momentos em que a taxa de Complexidade Demográfica aumenta sem o respectivo upgrade nas tecnologias de mídia e na linguagem,
Especialistas de assuntos, ou de dados, são apenas pessoas que quanto mais estudam mais se isolam no mundo.
O estudo de assuntos nos leva sempre a becos sem saída.
Quando recomeçamos nova Era Civilizacional, com novas tecnologias de mídia e nova linguagem podemos, de novo, nos dedicar ao estudo de problemas, pois a taxa de inovação volta a crescer.
O estudo de problemas, ao contrário do de assuntos, é integrador.
Todo o estudioso de problemas vai lidar com os mesmos problemas fundamentais:
superar sofrimentos latentes de quem sofre com o problema;
dificuldade de que as pessoas encarem novas metodologias para antigos problemas;
articulação de diferentes campos de assuntos para lidar com o mesmo problemas, quebrando barreiras disciplinares;
questões filosóficas, teóricas e metodológicas.
Assim, o estudo dos problemas por especialistas, ao contrário do de assuntos, não leva pessoas a ruas sem saídas, mas para cruzamentos.
Tenho dito que a Antropologia Cognitiva é o único campo de estudos que pode fazer prognósticos mais consistentes sobre o futuro.
(A partir de um papo numa estação de VLT com Luciana Sodré.)
Muitos dirão que todo martelo só vê pregos.
E que como abracei este campo de estudos vou priorizá-lo por um capricho do ego.
Vou tentar colocar argumentos para defender a ideia de forma lógica.
O conhecimento humano avança de forma integrada, a partir de alguns fatores:
novas tecnologias que nos permitem enxergar melhor, ver melhor, medir melhor, ver o que não víamos;
novos fenômenos que obrigam a repensar alguns paradigmas;
novos malucos que chegam para apresentar ideias completamente diferentes;
o legado filosófico, teórico, metodológico no tempo, que nos faz amadurecer com o tempo, pois mais e mais gente passou e pensou de forma incremental ou disruptiva sobre problemas.
Vivemos hoje a chegada de nova Revolução Cognitiva, que provoca mutação no Sapiens e, por sua vez, em toda a sociedade futura.
Assim, é preciso refletir sobre:
Quem somos?
Como caminhamos na história a partir das rupturas de mídia?
Como as tecnologias influenciam na nossa história?
Como as tecnologias cognitivas mudam a sociedade humana?
É como se tivéssemos uma epidemia de zumbis no mundo, no qual os especialistas em epidemia de zumbis terão mais facilidade de prever o futuro.
Temos uma crise devido a:
novos fenômenos que obrigam a repensar alguns paradigmas;
É hora dos “especialistas de zumbis”, pois a “epidemia” é de “zumbis”.
É preciso compreender como os “zumbis” surgem, qual será a extensão da epidemia sobre a sociedade para depois começar a ver como isso vai impactar as demais abordagens, nos diferentes campos de estudo.
Todos os campos de estudos serão impactados pela mudança de paradigma que tal fenômeno tem sobre a sociedade.
Tal campo não é melhor do que os outros, mas conjunturalmente é chave, pois consegue entender melhor a natureza do fenômeno que acaba por impactar todos os outros.
É como se tivéssemos, diante de uma epidemia de zumbis, discutindo a sociedade, sem incorporar o fato de que há um processo radical de “zumbizamento” rápido de toda a sociedade.
Todos os campos de estudo que procuram projetar o futuro terão visão parcial do fenômeno, pois não se debruçarão sobre o principal fenômeno e as revisões necessárias.
É preciso recomeço, novo paradigma filosófico, nova pedra fundamental estruturante, que permita incorporar no cerne das novas abordagens mudanças como a Internet na sociedade humana em cada um dos campos das ciências sociais.
É preciso recomeçar com a seguinte frase: o Sapiens muda quando mudam as mídias e as linguagens. E cada problema que é estudado tem que levar isso em consideração.
A Antropologia Cognitiva se dedica justamente a entender estas mudanças de mídia na história e, por causa disso, consegue ter mais facilidade e consistência nas projeções.
O papel de campos estudos é de criar teorias e teorias têm como uma das missões prognosticar o futuro.
Campos de estudo, tais como comunicação, conhecimento, redes, informação, ciências sociais, ciência política, economia, sociologia ou antropologia que não seja cognitiva e vários outros perdem o sentido, pois partiram de premissas filosóficas que estão superadas.
A estrutura desses campos partem de uma “pedra fundamental” de que tecnologias são neutras e que o ser humano as controla.
Quando isso é falso.
Tecnologias e Sapiens formam uma moeda de duas faces. Quando mudam determinadas tecnologias, o Sapiens muda com elas.
Todas as tentativas que tais campos de estudo fizerem de forma isolada, sem passar pela Antropologia Cognitiva serão parciais.
Há grandes sacadas, contribuições, metodologias interessantes que estão por aí nestes campos de estudo, mas se tornam precárias quando querem fazer prognósticos do que virá, pois partem da premissa filosófica equivocada.
Não deram ainda o “cavalo de pau” necessário para incorporar de forma consistente o fenômeno Internet nas suas teorias.
Conseguem ver apenas parte do elefante e não o todo.
Hoje, é preciso repensar o ser humano e depois começar a repensar suas diferentes atividades. Se começamos a repensar as diferentes atividades sem repensar o ser humano, o caminho se torna nebuloso.
Há um esforço das organizações para tentar conversar com o novo consumidor. Isso pode ser visto, desde a escola até as maiores empresa do mercado.
Há um problema de paradigma grande aí.
As organizações têm a ilusão que é a Internet que vai entrar na organização. Isso é falso. É justamente o contrário. A Internet tem o poder de criar novo modelo de organização que é incompatível com o atual.
Como disse McLuhan o meio é a mensagem.
As linguagens e todo o aparato que construímos para poder usá-las definem o modelo das organizações.
As atuais organizações foram criadas em função de mudanças tecnológicas e de linguagens do passado.
E agora, como vivemos uma nova Revolução Cognitiva (chegada de novas tecnologias de informação e comunicação e uma nova linguagem) estamos criando um novo modelo de organizações.
O que viemos em momentos como estes é a criação de dois mundos em paralelo.
Um, do lado de dentro, entrando em obsolescência, que pratica o modelo de administração/comunicação que vai chegar ao fim.
E outro do lado de fora, que podemos falar das empresas uberizadas, que já praticam um novo modelo de administração/comunicação.
Vejamos.
As atuais organizações, escola inclusive, se estruturam em torno do seguinte aparato de mídia/linguagem: tecnologias de informação e comunicação da palavra escrita e oral, presencial ou a distância.
As novas organizações colocam a escrita oral e a distância num segundo plano e passam a se utilizar, como eixo central, do novo aparato de administração/comunicação baseado nos cliques.
As decisões passam a ser tomadas pelos cliques, que nos levam a um novo modelo de topologia administrativa.
Cliques, um modelo de espécies mais numerosas, como as formigas, não precisam de líderes-alfas para tomar decisões.
A nova linguagem dos Cliques permite que consumidores possam participar de forma muito mais ativa nas decisões.
Eles não pedem para que decidam a seu favor, eles decidem naquilo que acham que lhes interessa.
Assim, é preciso criar ambientes de passagem entre o velho e o novo para que a ruptura não seja traumática, pois não se trata de dois modelos incrementais e sequenciais, mas disruptivos, pois são estruturados em duas linguagens diferentes.
Podemos dizer, até, que para dois Sapiens distintos.
Podemos fazer todas as projeções que quisermos para o futuro. Não há limite para sonhar. Mas algo precisa ser dito.
Por que o Sapiens fará agora o que nunca fez antes?
Projeções sobre o futuro precisam demonstrar, com alguma lógica, de que os nossos antepassados não fizeram, mas agora conseguiremos fazer e vir uma explicação.
A história nos ajuda a ver os nossos limites.
Se em milhares de anos não fizemos determinadas ações é por que elas não eram possíveis por algum motivo.
Se esse motivo está sendo superado, aí temos um bom ponto lógico para a futurologia.
Poderíamos ter dito ante do avião, por exemplo, que o ser humano nunca voou até aqui, mas se aparecer tecnologias que permitam voar, nós voaremos.
Aí podemos dizer que uma tecnologia provocará uma mudança que nunca poderia ter ocorrido antes.
Faz sentido.
Muitas vezes vejo muitos profetas fazendo projeções do futuro, mas ignoram a história, como se tudo começasse a partir de nós. Isso não é um prognóstico baseado em uma teoria, mas uma profecia.
De maneira geral, o Sapiens detesta mudar.
Se deixarmos, nosso lado reativo a mudanças sempre tenderá a prevalecer sobre os demais.
Só latências muito vitais provocam mudanças sociais, políticas e econômicas, acompanhadas por grupos que incitam tais mudanças.
As verdadeiras revoluções do Sapiens, entretanto, são as Tecnológicas Cognitivas, pois permitem a expansão radical da Tecnocultura, de forma silenciosa, descentralizada e massificada.
Revoluções Cognitivas não têm um líder, alteram individualmente a plástica cerebral das pessoas, alterando a própria tecno-natureza humana.
Revoluções Cognitivas são ferramentas do Sapiens para viver melhor e lidar de forma mais eficaz com a complexidade.
Quando olhamos para a história, percebemos o que podemos mudar a partir de Revoluções Cognitivas e o que se manteve, ao longo do tempo imutável.
A única Revolução que pode superar a Cognitiva é uma Revolução Genética, se isso for possível, em larga escala de forma descentralizada.
E por isso precisamos da história, da Antropologia Cognitiva para nos guiar.
Existe uma fantasia de que todos têm a sua percepção de mundo e não há uma mais eficaz do que outras. Isso é falso.É representativa de uma época que a academia está mais preocupada em publicar do que ajudar a sociedade a viver melhor.
Teorias que não são testadas não são teorias, mas alegorias.
Assim, quando alguém vem dizer que cada um tem a sua percepção de mundo, é fato. Porém, percepções de mundo acabam virando ações no mundo. E as ações no mundo têm consequências.
As consequências de nossas ações no mundo são teorias que estão sendo testadas, de forma consciente ou inconsciente.
O problema é que depois de uma forte concentração de mídia, passamos a ter percepções pouco trabalhadas.
Teorias são incorporadas sem crítica e muito mais repetimos do que criamos.
Só conseguiremos ter um mundo melhor, quando assumirmos que estamos testando teoria o tempo todo, assumindo de onde elas vêm, para onde vão. E se são eficazes no que elas prometem.
E ainda:
Assim, quanto mais teorias forem explicitadas, quanto mais forem testadas, quanto mais forem descartadas, quanto mais forem revistas de forma transparente e aberta, mais qualidade de vida terá o Sapiens.
Uma das piores formas de opressão que pode existir é quando as teorias se tornam invisíveis, pois foram incorporadas pelas pessoas na sua própria identidade, tornando difícil que pensem e ajam de forma diferente.
Existem muitas ciências por aí tentando explicar o presente e projetar o futuro. Uma delas é a Ciência das Redes.
Porém, rede é solução e não problema.
Você pode me perguntar.
Não se pode estudar partes de um problema, tal como informação, comunicação, redes, de forma isolada?
Sim, se pode, mas depende muito da época. Em fases incrementais da humanidade, é mais fácil ir por este caminho, mas não em momentos de ruptura.
Revoluções Cognitivas são os fenômenos mais disruptivos do Sapiens. Nestes momentos há uma expansão da Tecnocultura que não ocorre em nenhum outro momento da macro-história humana.
Assim, quando temos momentos disruptivos como o atual, precisamos nos voltar para o ser humano e a sua macro história.
É uma exigência fundamental a volta à filosofia, a pergunta básica do “Quem somos?“.
Revoluções Cognitivas provocam crises filosóficas profundas, pois o Sapiens entra em processo radical de mudança.
E quanto tudo parece mudar, é preciso que coloquemos algumas âncoras para que possamos saber o que provavelmente vai se alterar. E o que não vai.
Como saber o que não vai?
Olhando para o passado, para os limites que nossos antepassados tiveram, que tentaram fazer e não conseguiram e o que conseguiram.
Assim, temos uma visão mais clara do Sapiens e nos permite seguir adiante.
Nestes momentos de ruptura, incluindo filosófica, se sugere o estudo do Sapiens, do humano, sua releitura.
Qualquer tentativa de estudar a parte tenderá a ser estrada com mais nevoeiro e tenderá a projetar algo que não é da tradição histórica humana.
A Ciência das Redes, como várias outras, comete esse pecado teórico. No momento de tão profunda ruptura, opta por não partir do Sapiens.
É preciso recomeçar do alto: da filosofia, voltando a teoria e depois a metodologia, tendo como ponto central os campos que estudam o Sapiens em si.
Por isso, a Antropologia cabe bem nestas horas.
O estudo do humano na história e suas rupturas tecnológicas cognitivas (que é o fenômeno principal da hora), permite ver de forma mais eficaz.
Teoria para este blog é conjunto de regras ou leis, mais ou menos sistematizadas, aplicadas a um problema específico.
O Sapiens tem problemas a resolver, o que lhe obriga a tomar decisões. As teorias, assim, são ferramentas para que o Sapiens decida melhor.
Ninguém atua na vida sem uma teoria, mesmo que não tenha consciência das que pratica.
A percepção humana sempre trabalha com teorias. E uma pessoa com percepção mais “musculada” é aquela que consegue escolher, melhorar e assumir as teorias que a guia.
Teorias são filhas de filosofias e mães de metodologias.
Teorias têm as seguintes saídas:
Análise – as forças que atuam sobre determinado problemas. Forças que continuam, as que se alteram. Quando? Onde? e Por quê?
Diagnóstico – os problemas causados pelas forças que precisam ser minimizados e de atuação humana sobre eles;
Tratamento – a atuação necessária para lidar com as forças;
Prognóstico – o que vai ocorrer se não houver atuação, ou se houver.
Vejamos:
Teorias, assim, para este blog, não são eunucas.
Teorias eunucas são aquelas que não geram prognósticos, diagnósticos, tratamento ou análise.
Teorias cumprem um papel de guiar pessoas a resolver problemas e tomar decisões.
No momento que se faz a análise, o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento pode-se analisar se as hipóteses sugeridas fazem mais ou menos sentido.
Muitos podem perguntar: qual é a referência para saber se uma teoria é eficaz?
Podemos dizer que existem taxas de sofrimento humano que serão reduzidas ou ampliadas depois do tratamento.
E há ainda o prognóstico do que ocorrerá.
Quanto mais os prognósticos se aproximarem dos fatos futuros e quanto mais se reduzir a taxa de sofrimento, com o tratamento proposto, mais a teoria é eficaz e vice-versa.
O ser humano adora fazer sexo. E sexo significa aumento populacional. Assim, a não ser que mudemos geneticamente nossa vontade por transar, a tendência do aumento demográfico é constante.
Vivemos, assim, sob a égide da Complexidade Demográfica.
Quanto mais gente tivermos no mundo, mais humanos seremos, pois estamos reforçando nossa latência por sexo, reprodução.
Temos que nos basear na história e não na nossa concepção sempre fantasiosa e superficial, do que é Sapiens realmente é.
Assim, quanto mais pessoas tivermos no mundo, mais problemas teremos e mais tecnologias precisaremos.
E isso é extremamente humano.
As pessoas, quando pensam sobre a desumanização humana, imaginam logo nossos antepassados com menos tecnologias, pois sempre tivemos tecnologias, que hoje pelo uso ficaram invisíveis.
A ideia de que mais e novas tecnologias nos desumanizam, parte de uma visão equivocada do humano. Quando não tivermos tecnologias, aí sim, deixaremos de ser humanos.
Tal visão parte de uma visão filosófica equivocada da relação do ser humano com tecnologias. E do ser humano com a demografia.
Tema que está no topo do debate filosófico do novo século: sobre a questão existencial primordial: quem somos?
Somos uma Tecno-Espécie que vive sob a égide da Complexidade Demográfica Progressiva.
Qualquer visão que não coloque estes dois temas em debate tenderão a não conseguir entender o novo século e passar a resistir a ele.
De forma mais ou menos ativa, dependendo do dogmatismo.
Existe uma forma de pensar sobre novas tecnologias que vou chamar de Reatividade Melancólica.
Vídeo relacionado:
Resistir a mudanças faz parte, inclusive saudável, do ser humano, pois algo está se perdendo uma coisa para se ganhar outra.
Tem perfis de pessoas que têm a tendência de olhar as perdas e esquecer os ganhos com as tecnologias. E há aqueles que só vêem os ganhos e não as perdas. Seria o reativo melancólico versus o empolgado desenfreado.
Existe claro o reativo crítico, que quer ponderar sobre as mudanças e isso é positivo para o processo.
Diria que a diferença entre o reativo crítico e o melancólico está na maneira que se encara o papel da tecnologia na sociedade.
Tecnologias não inventam demandas, mas vêm atender as demandas humanas seculares. Aquelas que procuram criar demandas são justamente as que são deixadas de lado e esquecidas.
Podemos dizer, assim, que toda tecnologia não vem por que se quer, mas por que vêm resolver problemas, que antes não existiam. Ou que não tínhamos legado para inventá-las.
Assim, novas tecnologias que se massificam vêm resolver problemas, que não podem ser ignorados.
O reativo melancólico é aquele que olha para a tecnologia como se fosse algo opcional para o Sapiens e não obrigatório para resolver determinado problema.
É aquele que ignora o problema como se pudéssemos voltar para um tempo em que não havia necessidade da tecnologia. Porém, nesse tempo o problema talvez não existisse e só não foi criada tecnologia por falta de opção.
Um fator que todo reativo melancólico ignora é o crescimento populacional. Um mundo de 7 bilhões tem problemas que um de um bilhão não tem.
Tecnologias vêm resolver estes NOVOS problemas.
Tentar ignorar seu papel é como aquele doente que não quer assumir que tem câncer, como se ignorar o problema pudesse resolvê-lo.
Reativos melancólicos são pessoas que colaboram negativamente para pensar o futuro, pois querem que as soluções tecnológicas não venham, como se os problemas que estão sendo resolvidos por elas não existissem.
Quando falamos em uberização do mundo, logo se fala que os motoristas do Uber são também explorados, mas de outra forma.
Não nego.
Se compararmos o modelo de administração implantado pelo Uber para um antigo motorista de táxi, o que temos de salto é o controle que a sociedade passou a ter de cada um deles.
O modelo de fiscalização ou da prefeitura ou de cooperativas de táxi passou a ser falho. Motoristas demais e fiscais de menos.
O que tínhamos na sociedade, na verdade, era o descontrole da frota, que fazia o que queria quando queria. Isso, na verdade, é o que ocorre com todas as organizações tradicionais.
A sociedade cresceu demais demograficamente e não consegue mais controlar as organizações que precisaram se centralizar.
O Uber é apenas o primeiro passo num macro ajustes que estamos fazendo.
Porém, é normal que todo mundo encare essa grande novidade como o final de linha da inovação nesse campo.
Fotografam o Uber e acham que isso é o final de tudo que faremos. Isso não fato. Gosto de lembrar que temos um filme, ou uma série, de vários capítulos e temporadas. Estamos apenas nos primeiros cinco minutos de vários tempos.
O Uber uberizou a fiscalização dos motoristas, mas não uberizou o lucro.
A lógica do Uber, sob esse ponto de vista, é a mesma das antigas organizações, o modelo da plataforma é centralizado. E quem é o dono da plataforma fica com a maior parte.
Isso será sempre assim?
Acredito que não.
O modelo da Uberização tende a se descentralizar, com a chegada da cultura do Blockchain, que é um misto entre Napster e Torrent.
Redes descentralizada e distribuídas, sem uma plataforma central, organizando todo o processo.
Se ao Blockchain for aplicado numa frota de táxis ou de Ubers, suponhamos, não haveria um Uber, mas milhares, mantendo o conceito de avaliação, mas permitindo uma nova forma de distribuição de lucros.
O Blockchain, na verdade, seria a uberização da uberização.
Isso é válido para o Youtube, Facebook, Twitter, etc.
Se me perguntarem qual é o próximo grande passo da Uberização do mundo, eu diria. É a uberização da uberização.
Muitos alunos assistem a minha aula e saem empolgados em uberizar o mundo.
Porem, o espaço de uberização do mundo ainda não está tão aberto.
O que me faz pensar bastante sobre quem somos.
Somos aquilo que fazemos. E fazemos aquilo que nos permite sobreviver: aquilo que dá dinheiro. Somos, assim, de alguma forma aquilo que o ambiente produtivo permite ser.
Todo o ambiente produtivo tem uma lógica e uma demanda. E é natural que a nossa forma de pensar e agir seja mais próxima daquilo que o ambiente produtivo quer escutar.
Há uma espécie de imã que faz com que todos pensem e ajam, conforme a lógica do ambiente produtivo.
O que o ambiente produtivo quer escutar é considerado válido e o que não quer, nem tanto.
Porém, a vida não é controlada pelo ambiente produtivo. Na maior parte da história há um forte controle deste sobre a vida.
Em Revoluções Cognitivas – a chegada e massificação de novas tecnologias de troca (informação e comunicação)- o ambiente produtivo de plantão perde o controle sobre as mudanças na vida.
Em Revoluções Cognitivas se abre um vácuo entre o que quer ser ouvido e o que precisa ser ouvido. O que precisa ser mudado e o que se quer mudar. Podemos chamar isso de Reatividade Emocional.
Todo o aparato de aconselhamento do ambiente produtivo tende a dizer aquilo que este quer ouvir, mas a vida caminha em outra direção.
Há um falso aconselhamento, uma espécie de “paparicação sem lógica”.
As organizações tradicionais diante da atual Revolução Digital se abrem para ouvir apenas aquilo que reforça seus valores e não aquilo, que, de fato, está ocorrendo com a vida.
É, por causa disso, talvez, mais do que tudo que torna tão frágil a situação das organizações.
Os antigos conselheiros só sabem pensar e agir, conforme as regras antigas, não conseguem se aventurar em nova narrativa para não ficar “mal na fita”.
E o círculo vicioso (conselheiros-antigas organizações) vai deixando brechas, que vão sendo ocupadas pelos novos players do mercado, que estão completamente alheios a esse problema.
É preciso, tanto organizações como novos conselheiros, romper esse círculo. Organizações precisam ouvir o que não se quer e conselheiros aprender novos paradigmas e se comprometer com eles.
1) saímos do isolamento da Idade Mídia e estamos mais conectados;
2) saímos das tribos locais para as conceituais, o que nos faz assumir mais a forma que pensamos sobre o mundo;
3) há muito dogmatismo oriundo da Mídia Eletrônica;
4) a Escola Oral e Escrita não nos ensina a dialogar;
5) há a compulsão da novidade cognitiva;
6) vivemos uma crise civilizacional;
7) precisamos sair da crise, mas ainda não sabemos como.
E precisa dizer ainda que:
Qualquer análise que não leve em conta a Revolução Cognitiva terá tudo para não compreender o papel das novas tecnologias no fenômeno;
Que a história pode, assim, nos ajudar a pensar melhor o problema;
Que em termos comparativos vivemos uma fase inicial da Revolução Cognitiva que as forças do passado se degladiam, mas não há ainda uma proposta viável para apontar a saída de médio e longo prazo.
A política é a metodologia encontrada pelo Sapiens para debater, minimizar e/ou resolver problemas coletivos.
Existem três instância no fazer político:
O modelo – como se decide;
O conteúdo – o que se faz;
O estado – os serviços que são entregues.
A política, entretanto, necessita que as pessoas se comuniquem e se informem para poder existir.
As pessoas, entretanto, não se informam e se comunicam, no vazio. Precisam de ferramentas Tecnoculturais para isso.
Se vivemos num mundo oral, a política terá a influência do modelo oral;
Se vivemos num mundo escrito, a política terá a influência do modelo escrito;
Se vivemos num mundo digital, a política terá a influência do modelo digital.
Assim, o modelo de se fazer política varia no tempo, ao longo de milênios ou séculos, conforme as ferramentas que temos para nos informar e nos comunicar.
E aí temos duas novas instâncias no Modelo Político:
o debate político;
a decisão política.
Hoje, com as ferramentas que temos optamos por intermediários, que chamamos de “políticos”.
De tempos em tempos, escolhemos os parlamentares para que tomem decisões por nós.
Escolhíamos os parlamentares, através do voto escrito, que depois passou a digital.
Hoje, com a chegada da primeira etapa da Revolução Cognitiva, a digitalização da informação e da comunicação, passamos a ter mais informação, mais trocas e iniciamos um processo de mudança no conteúdo do que se debate.
Porém, começamos a entrar na segunda etapa da discussão do próprio Modelo. A forma como decidimos.
Hoje, através das primeiras experiências bem sucedidas da Terceira Linguagem, dos Cliques, já começamos a poder vislumbrar 07 tendências para a Política 3.0:
a reforma da política e não na política;
a redução da demanda por políticos que decidem tudo por nós;
a uberização dos políticos;
uma (re) federalização reduzindo as decisões a espaços menores, estados, cidades, bairros, ruas;
a migração dos serviços do âmbito estatal para a sociedade, com mais flexibilidade;
Conversando com meus alunos, um deles me perguntou como posso afirmar que temos uma nova linguagem no mundo, a dos cliques?
Linguagens são o DNA da nossa espécie.
São utilizadas para que possamos sobreviver.
E para sobreviver precisamos tomar decisões.
A linguagem, assim, tem como função principal nos ajudar a tomar decisões melhores.
Linguagens, entretanto, ficam obsoletas. Isso é uma nova descoberta dos estudos da Antropologia Cognitiva.
O que contribui para a obsolescência das linguagens é a Complexidade Demográfica Progressiva. Uma linguagem que era funcional ontem, pode deixar de ser amanhã.
A palavra foi a ferramenta principal durante os últimos 70 mil anos, desde a oral, a manuscrita e a impressa. Estruturou a gestão e seus respectivos gestores, que interpretavam sons e ruídos, processavam e despachavam novos.
O aumento demográfico tornou a decisão baseada em ruídos/Palavras obsoleta, pois um gestor tem capacidade específica de poder atender quantidade de sons.
A principal crise hoje no novo milênio é de que a administração da espécie baseada na Palavra não consegue mais resolver os problemas complexos de 7 bilhões de Sapiens.
A Gestão, modelo de administração baseada em ruídos, ou na palavra, é muito demorado parar atender as demandas atuais.
Além disso, acaba por dar poder demais aos antigos gestores, que passaram a exercê-lo para próprio benefício.
A Palavra vai perder a sua hegemonia para a Linguagem dos Cliques, que permite a criação da Curadoria, novo Modelo de Administração da Espécie, mais compatível com a complexidade de 7 bilhões de Sapiens.
Os Cliques permitem tomada de decisões por mais gente, mais rápida, descentralizada, com muito mais informação relevante. É a saída para conjunto enorme de problemas sociais, políticos e econômicos que temos hoje e não têm saída no atual modelo Palavra/Gestão.
A palavra deixará de ser o epicentro da administração e das trocas a distância e se recolocará como forte elemento das comunicações presenciais, principalmente voltadas para o diálogo.
Haverá uma perda do poder exercido hoje da Palavra a distância escrita com um aumento do uso da Palavra Oral, através de áudios e vídeos.
Perderá sua importância na administração, pois exige gestor de carne e osso, que não consegue mais atender as demandas de um mundo tão complexo.
Um dos resultados mais chocantes da minha pesquisa é este. A influência da Complexidade Demográfica Progressiva na Centralização de Poder.
Vamos enumerar os motivos:
mais gente, mais diversidade objetiva e subjetivas, o que implica pressão sobre o sistema produtivo;
o sistema produtivo precisa inovar para poder atender ao aumento de complexidade;
geralmente, a inovação vai na direção da massificação da produção, o que implica em padronização das ofertas;
padronização das ofertas aposta no embotamento da diversidade das pessoas para aceitar as ofertas padronizadas;
organizações para atender a tanta gente, precisam se centralizar;
a centralização das organizações pede controle de ideias e inovação;
e o ciclo na direção da concentração só tem um final quando chegam novas possibilidades de descentralização de mídia, que reiniciam o ciclo.
Aumento demográfico, além disso, exigem que pessoas sejam educadas nos conceitos da autonomia republicana, o que acaba não ocorrendo por falta de capacidade.
Mais gente, com mais demandas urgentes e menos capacidade de autonomia, acabam por pedir um centro forte e solucionador de problemas imediatos.
Isso fortalece um tipo de modelo político e econômico centralizado, mais populistas, ora autoritário, ora totalitário.
Se reinicia o processo de reconstrução dos valores liberais, que só conseguem vir à luz com novas mídias, que permitem novas formas de descentralização espontânea.
Estamos falando aqui de macro-movimentos civilizacionais, cada vez mais evidentes com a atual globalização do Sapiens.
Tais fenômenos ocorriam de forma isolada quando éramos uma espécie compartimentada, que vivia em nichos, sem a interdependência que temos hoje.
99% das pessoas no Brasil, se perguntadas dirão que tudo se resolve com Educação.
Vivemos hoje a superficialidade dos conceitos. O fim de uma era emocional, na qual as narrativas deram lugar ao marketing vazio.
Sim, Educação esse conceito aberto e abstrato, no qual cabe qualquer coisa, desde a doutrinação em Cuba e na Coréia do Norte, vistas por muitos como um bom modelo de Educação.
Temos, portanto, que adjetivar Educação. Precisamos falar em Educação Republicana ou Liberal, que tem um tipo de proposta para a sociedade, voltada para a autonomia dos indivíduos.
A base para se pensar na Educação Republicana é a de aumentar a autonomia dos indivíduos para que eles possam tomar decisões melhores.
Decisões melhores têm algumas receitas, tal como a capacidade de pensamento lógico, o que implica domínio maior sobre o idioma quanto dos números.
Uma aprendizagem voltada para problemas, no qual o cidadão/cidadã poderá exercitar constantemente o exercício de hipótese-testes-reavaliação-nova hipótese.
O que tira as pessoas de dogmatismo e as fazem ser mais capazes de lidar com os fatos da vida. Menos dependentes de um centro e mais empreendedoras.
Toda a bagagem cultural dos nossos antepassados devem ir colorindo esse exercício de lidar com problemas.
Não podemos falar de Educação no abstrato, sem uma linha de conduta, pois existem modelos educacionais que nos levam para situações piores do que nos encontramos.
Aquelas que fortalecem o pensamento dogmático e o fortalecimento de um centro, reduzindo a autonomia das pessoas.
A grande novidade do novo milênio é a perda do reinado da palavra. A palavra se constituiu nos últimos 70 mil anos como o DNA Tecnocultural estruturante do Sapiens. E agora dá lugar aos cliques.
A palavra é uma ferramenta de linguagem, baseada em ruídos, que tem uma limitação para lidar com a complexidade.
Espécies que usam o ruído não podem ultrapassar determinado número de membros, pois ruídos exigem que haja a interpretação por um líder-alfa, que consegue interpretar os sons complexos e decidir.
Líderes-alfas limitam a quantidade, a capacidade e a velocidade das decisões.
Quando se aumenta a população, o Sapiens fez isso, foi, aos poucos, esgarçando a capacidade da palavra como o DNA Tecnocultural prioritário do Sapiens.
Toda a civilização 2.0 foi baseada na palavra e chegou ao seu limitem na casa dos 7 bilhões de habitantes.
Todas as crises que temos hoje se devem à limitação da palavra como o DNA Tecnocultural do Sapiens.
Nossa espécie demanda nova linguagem que permita que possamos decidir de forma mais rápida, melhor, com a participação de mais gente.
As organizações tradicionais trabalham em cima do DNA Tecnocultural da palavra. A isso chamamos gestão, que tem o seu modus operandi de decidir.
As novas organizações, a la Uber, introduzem o modelo de decisão dos cliques, que é a Curadoria, que é mais sofisticado do que o da Gestão.
Os cliques permitem o uso intenso de Inteligência Artificial, pois são mais simples de serem interpretados.
Cliques permitem que mais gente, de forma mais rápida, possam ajudar na decisão.
Os cliques são um novo DNA Tecnocultural, que iniciam o processo de uma nova Civilização, pois podemos agora criar um novo modelo de administração, no qual há uma nova linguagem hegemônica.
Todos os movimentos sociais, políticos e econômicos inovadores serão indutores da implantação da nova linguagem.
Os problemas que não conseguimos superar hoje só são possíveis com a linguagem dos cliques.
Os cliques, assim, tornam a palavra obsoleta, colocando-a da linguagem principal para a secundária.
Há um jogo, conforme avançamos na Complexidade Demográfica Progressiva de passar linguagens principais em secundárias. A palavra fez isso com o gesto e os cliques está fazendo o mesmo com as palavras.
Continuaremos falando, gesticulando e lendo, mas tais linguagens estão entrando num aspecto secundário, não mais preferencial para a tomada de decisões.
O Sapiens é uma espécie Tecnocultural. Nós não somos genéticos como as demais. De quando em vez, alteramos nossas linguagens e a partir daí criamos novas civilizações.
Esta é a grande novidade na maneira de pensar e prever as mudanças do e no Sapiens no novo milênio.
O DNA Tecnocultural do Sapiens é a linguagem.
As linguagens mudam no tempo. Quando novas tecnologias de informação e comunicação surgem há um rearranjo nas linguagens e alterações civilizacionais.
Novas possibilidades Tecnoculturais se tornam possíveis.
Quando chegaram as mídias eletrônicas houve intensificação da linguagem oral sobre a escrita, de forma vertical. O que acabou influenciando o século passado, mais centralizado, mais emocional, menos lógico.
Hoje, com a chegada das mídias digitais estamos revivendo o que tivemos há 70 mil anos (a chegada da oralidade). Temos hoje a nova linguagem: a dos cliques.
Os cliques são a terceira linguagem: gestual (1.0), palavra (oral e escrita) (2.0), cliques (3.0).
Neste momento, nossa espécie pode passar a tomar decisões sem a palavra, na base da experiência coletiva de cada membro, que se torna líder conjuntural, conforme a contribuição para os demais.
Os cliques passam a ser a linguagem hegemônica do novo milênio, tornando as outras secundárias.
Todo o movimento Tecnocultural relevante no novo milênio será marcado pela introdução do potencial da nova linguagem.
O principal problema que vivemos hoje é que nossos gurus de plantão deixaram de ser gurus.
Muito se fala da crise das organizações tradicionais, mas pouco da crise das empresas dos Gurus 2.o, que estão acentuando a crise e não minimizando.
Guru é mais ou menos aquele cara que consegue enxergar mais longe.
Nossos gurus de plantão não conseguem compreender a atual Revolução Digital. E como é ela a principal responsável pelas mudanças, o futuro fica nublado.
As organizações baseiam sua estratégia na previsão dos gurus. Como os gurus também estão em crise, ficaram sem o farol que as ajudava a andar na neblina.
As empresas responsáveis pela bola de cristal do futuro, que contratam os gurus, estão também em crise.
Por quê?
Eis aqui alguns palpites:
imediatistas;
não conseguem rever macro-paradigmas;
usam as mesmas ferramentas incrementais do século passado para traçar estratégias num século disruptivo;
orgulhosas;
acreditam que os antigos clientes ainda têm razão, não os enfrentam;
focam muito a análise em tecnologias e não na Tecnocultura;
se agarram ao valor gerado no passado como os próprios clientes.
Vivemos algo como o pajé da aldeia que perdeu a capacidade de diagnosticar e tratar uma nova doença.
O pajé era a esperança da tribo sobreviver, mas este não tem mais ferramentas para curar a gripe trazida pelos “estrangeiros”.
O problema hoje é que gurus-organizações não conseguem romper o seu casamento, enquanto o apartamento pega fogo a olhos vistos.
O fotógrafo é um produtor de imagens incomuns por que ele quer ser um incomum diante do comum.
A cada novo espaço que você entra, você está se redescobrindo.
Fotografar é procurar algo em você nas imagens que registra.
Você, no fundo, quer ser aquela imagem, pois expressa algo que não se consegue dizer de outra forma.
Quando fotografo pássaros em plena cidade, invisíveis para a maioria das pessoas, estou, no fundo, querendo dizer que minhas qualidades também são invisíveis. Que gostaria de ser mais notado.
Que existe algo em mim que poucos notam.
E aquele pássaro com a sua beleza não relevada sou eu. Que ao mostrar o pássaro está mostrando a mim mesmo, que se sente na sombra.
Fico ali esperando a hora de fazer com que aquela beleza incomum se transforme em imagem.
Talvez, todo fotógrafo procure revelar-se e isso é algo que vai criando a sua identidade: saber que tipo de objeto o representa melhor a cada momento.
Há uma demanda por trazer o belo do comum, transformando o fotógrafo em incomum.
O fotógrafo é um produtor de imagens incomuns por que ele quer ser um incomum diante do comum.
Todos querem chamar a atenção para si de alguma forma, mesmo que se suicidando. Fotografar, no fundo, é um tipo de recusa ao suicídio, ao se valorizar a vida.
E usam as imagens que estão do lado de fora para isso.
Outro dia encontrei um gaúcho no Jardim Botânico que me disse que acalentava um sonho de fotografar.
E estava procurando a melhor máquina.
Não disse para ele, mas pensei e digo agora, que só se consegue se chegar na câmera ideal fotografando.
Hoje, é fácil comprar e vender pelos Mercados Livres da vida. o que nos permite comprar e vender para experimentar alguns modelos.
Minha sugestão comprar equipamento mais barato e ir se descobrindo, vendo as demandas para ir sofisticando e gastando mais, conforme os caminhos fiquem mais claros.
Tudo caminha hoje em dia, depois da Revolução Digital nessa filosofia da agilidade e flexibilidade.
Comprei de uma amiga uma Sony HX100-v, usada, pelo valor de R$ 600,00 reais.
Expandi o meu olhar.
A câmera tem um zoom, que me permitiu começar a enxergar os detalhes a longa distância e comecei a experimentar uma nova região de observação.
Comecei a fotografar passarinhos, me interessei no tema e cheguei até a procurar equipamentos complementares.
Depois, surgiu a possibilidade de comprar lentes Cotrim macros, que se adaptaram à câmera e passei a sair do longe para o muito perto.
E uma nova região de observação se abriu.
Se tivesse especulado apenas comigo mesmo, ficaria um bom tempo procurando um equipamento para passarinhos, mas hoje estou mais para insetos.
Não quer dizer que isso não seja uma fase, mas só a experiência pôde me dizer qual é a minha demanda.
Disse aqui que a câmera não é passiva, ela é ativa, pois as limitações da região de observação são quebradas e novas possibilidades surgem.
Quanto mais você se relacionar com a câmera, que vai lhe permitir chegar em novas regiões de observação. E quanto mais entramos em regiões de observações novas, mais podemos ir nos conhecendo.
E vendo que tipo de equipamento vai nos permitir fazer melhor aquilo que queremos.
As tecnologias são próteses que usamos para expandir nossas limitações.
Se eu ando com um celular no bolso, com um determinado potencial para captar imagens, meu cérebro, eu, meu olho passa a enxergar o que é “fotografável” de uma determinada maneira.
O equipamento no meu bolso permite-me olhar para as coisas de forma diferente como fotógrafo.
Se eu passo a ter uma outra máquina disponível, aos poucos, eu, meu cérebro e meu olho passarão a enxergar o mundo “refotografável” de uma nova maneira.
A câmera, assim, não é algo passivo, mas ativo, pois vai me possibilitando expandir minha capacidade de ver e registrar.
Podemos dizer que a Civilização 2.0 durou 70 mil anos, do surgimento da Linguagem da Palavra Oral até a chegada dos Cliques.
Toda a estrutura cultural, social, organizacional da sociedade foi marcada pela Palavra (Oral ou Escrita).
Palavras são baseadas em ruídos, que precisam ser codificados por um Sapiens para que se possa tomar decisões.
As espécies que se utilizam de ruídos como Linguagem Hegemônica precisam de um modelo hierárquicos para se organizar.
Há a demanda por um líder-alfa que entende os ruídos e decide o que é melhor para o grupo.
Podemos dizer, assim, que a Civilização 2.0 foi marcada pela Linguagem Hegemônica da Palavra, que era baseada em ruídos, seja oral ou escrito (manuscrito ou impresso).
E que o Modelo de Administração do Sapiens nesse período era fundamentalmente hierárquico, similar a todas as espécies, principalmente os mamíferos, que precisam de um líder-alfa interpretador de ruídos.
O problema do Sapiens é que, por sermos uma Tecnoespécie, vivemos sob a égide da Complexidade Demográfica Progressiva e o que era funcional ontem deixa de ser funcional amanhã.
As linguagens humanas, isso é incrível, como a própria cultura ficam obsoletas, pois foram concebidas para uma complexidade bem menor.
O ser humano precisa reinventar as tecnologias, as linguagens hegemônicas, todo o modelo de administrativo quando está diante de nova complexidade.
A Civilização 2.0, que tem um ótimo serviço prestado, que nos legou uma espécie de 7 bilhões agora dará lugar a uma nova, mais adaptada para esse novo patamar de complexidade.
Muitos poderão dizer que uma Civilização nunca termina, pois ainda estará presente por milênios. Isso é fato. Porém, o que podemos dizer é que nas ilhas mais inovadoras da sociedade surgirão um novo tipo de Sapiens.
Uma nova forma de pensar e agir diante do mundo, que por conseguir uma relação de custo/benefício melhor diante dos problemas, acabarão, ao longo do tempo, influenciando de alguma forma todo o resto.
Seja por quem vai aderir, seja por quem vai lutar contra a novidade.
É a única Tecnoespécie conhecida. E precisamos reanalisar a sua história para compreender o que estamos passando e vamos passar.
A grande descoberta do novo milênio é um novo olhar sobre a relação entre demografia, cultura, tecnologia.
Quanto mais Sapiens no planeta, mais sofisticadas terão que ser as Tecnologias de Trocas (Informação e Comunicação), por sua vez as linguagens, para podermos promover upgrades culturais.
No tempo, conforme cresce demograficamente, observamos que o Sapiens cria novas Tecnologias das Trocas, que podem permitir o surgimento de novas linguagens e upgrades da nossa civilização.
Civilização 2.0 – milhões e poucos bilhões – Linguagem Gestual + Palavras (oral e escrita);
Civilização 3.0 – mais de sete bilhões – Linguagem Gestual + Palavras (oral e escrita) + Cliques.
Hoje, a grande novidade é introdução e disseminação dos Cliques, a Terceira Linguagem Humana, que nos permite ampliar tremendamente a cultura.
Podemos resolver com a Linguagem dos Cliques o que não podíamos fazer antes. As opções são tão grandes e largas. E são tão diferentes do que tínhamos antes, que podemos dizer que inauguramos uma terceira etapa civilizacional do Sapiens.
Muita gente diz que as mídias sociais são as ferramentas e a rede social são as pessoas.
Assim, as redes sociais vêm antes da Internet e as mídias sociais seriam aquelas que vêm com a Internet.
Mídias sociais é um conceito esquisito.
Pois, do ponto de vista, não existe nenhuma mídia que não seja social, a não ser os ruídos dos macacos, que são mídias dos macacos.
Toda mídia, por mais centralizada que seja, sempre é e foi social.
O que podemos dizer que temos hoje, para ser preciso, mídias digitais, que são mídias sociais, que se utilizam de novas tecnologias para promover as trocas humanas.
E ainda podemos dizer que as mídias digitais, por suas características, permitem mais produção de forma descentralizada e distribuída.
E que se pode trocar mais horizontalmente.
É uma mídia descentralizadora, diferente das mídias eletrônicas (rádio e televisão) que promoveram a centralização.
Quando falamos de Redes Sociais não podemos falar de redes sociais “puras”, não tecnológicas.
O ser humano não troca com outro ser humano sem uma tecnologia no meio.
Podemos dizer que em muitos raros casos, presenciais, de um abraço, um carinho, no tato, não temos a presença de tecnologias.
Fora isso, quanto mais estamos longe um dos outros, mais e mais precisamos colocar tecnologias para que possamos continuar trocando.
Sem tecnologias de trocas não haveria o avanço que tivemos na civilização para se chegar a casa dos 7 bilhões de habitantes.
Portanto, ao se pensar numa Rede Social não podemos imaginar que existe algo sem tecnologias.
Tivemos, assim:
Rede Social Gestual;
Rede Social Gestual + Palavra Oral;
Rede Social Gestual + Palavra Oral + Palavra Escrita
Um grande erro que se comete ao analisar tecnologias é do considerar que surgem sem uma função.
Tecnologias são ferramentas humanas para resolver problemas.
Há problemas que não tem solução com as disponíveis e precisam de novas tecnologias para serem minimizados.
Quando alguém olha para uma tecnologia de forma isolada não enxerga que ela está vem atender a uma demanda humana.
Podemos dizer que vem:
atenuar ou acabar com um determinado sofrimento;
melhorar uma determinada comodidade;
ou trazer e ampliar um determinado prazer.
Tecnologias, assim, não tem vida própria. Ninguém usa algo por usar. Tecnologias têm que inserir dentro de demandas humanas.
Se percebe-se a demanda, pode-se ver muito mais longe, pois se verá o quanto a tecnologia atendeu e o quanto ainda falta atender aquela determinada demanda.
Obviamente, que existem diferentes usos para a mesma tecnologia, mas uma certa média de padrão de uso vai definindo determinado caminho.
Este é o desejo de muita gente para inovar. Mas o problema começa justamente quando imaginamos que existe uma caixa.
O ser humano vive em três camadas.
A primeira é a sua identidade;
A segunda é a sua percepção;
A terceira é a “realidade”, os fatos da vida.
De maneira geral, ainda mais agora ao fim de um longo período de mídia concentrada, é normal que tenhamos baixa taxa de percepção.
A percepção é uma mediadora entre a identidade e os fatos da vida. Ora, precisamos repensar como pensamos sobre nós mesmos, a partir de fatos. Ora precisamos pensar os fatos, a partir das revisões que fazemos na nossa identidade.
A caixa que todos costumam falar é uma percepção pouco musculada, não alongada, que nos faz estacionar tanto quando olhamos para dentro como para fora.
Quem não faz o alongamento da percepção, acaba por aumentar a taxa de dogmatismo e não consegue enxergar nem para dentro e nem para fora de forma diferente.
Sair da caixa, assim, é perceber que temos percepção.
A caixa que estamos colocados não é consciente.
Sair da caixa é tomar consciência da caixa que fomos colocados.
Muscular a percepção é começar a criar ferramentas internas para escolher a caixa que queremos estar, a partir de critérios que atendam a nossa nova identidade.
Num mundo mais líquido, mais inovador, uma percepção enrijecida faz com que a pessoa se incapacite para o mercado.
Cosmovisão é um conjunto de sentimentos e percepções de um determinado grupo da sociedade.
Existem cosmovisões propositivas, que querem se transformar em cultura. E existem cosmovisões consolidadas que viraram cultura.
Cosmovisão é algo que marca a identidade das pessoas. É uma camada de sentimento e percepção que está muito próxima do ego.
Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem separar o que é a cosmovisão da sua identidade: estão quase coladas.
É algo muitas vezes parecida com a escolha de um time de futebol: fica tatuada na pele.
Podemos dizer que existem cosmovisões fechadas e dogmáticas, que na sua origem não nascem para a interação, mas para a imposição. E as abertas.
As dogmáticas vêm do passado remoto das tribos, nas quais não havia necessidade de diálogo ou negócios com outras tribos sempre consideradas rivais.
São cosmovisões que foram perdendo força no tempo, justamente quando o Sapiens foi cada vez mais se globalizando e ficando interdependente.
Cosmovisões dogmáticas num mundo complexo acabam por ser reativas ao novo. Querem impor modelo de imposição e não de interação. Não é um somatório, mais um processo de exclusão.
O boliviarianismo e o estado islâmico são exemplos desse tipo de cosmovisão.
As cosmovisões, digamos mais modernas, foram aquelas que se abriram para a interação.
São cosmovisões que estão abertas para a interação, o aprendizado e a mudança.
Hoje, vivemos o renascimento de cosmovisões tribais, em função das crises da atual cosmovisão moderna. A cosmovisão moderna ficou obsoleta devido ao aumento de complexidade.
É preciso reciclá-la, não voltando ao passado tribal, mas indo em direção à nova complexidade.
Muitos tentam fazer o diagnóstico das crises do novo milênio. Vou arriscar meu palpite: as linguagens humanas ficaram obsoletas!
Como assim?
Sim, o ser humano inventa linguagens na Macro-História! E inventa quando precisa superar problemas de complexidade demográfica.
Quanto mais a população cresce, mais as linguagens precisam se sofisticar!
As linguagens, diante do aumento da Complexidade Demográfica Progressiva vão ficando obsoletas no tempo.
Toda a cultura é baseada nas linguagens disponíveis. Quando aumentamos a população, podemos dizer também que a cultura fica obsoleta.
Talvez, essa percepção da obsolescência da linguagem e da cultura – diante do aumento da Complexidade Demográfica Progressiva – seja a principal descoberta das ciências sociais no novo milênio.
A teoria da obsolescência das linguagens consegue, com certa lógica, explicar as crises do século passado e as mudanças que ocorrem já no novo século.
E conseguem apontar um norte das mudanças necessárias para que superemos tais problemas.
Muita gente não entendeu as manifestações de 2013 e as dos anos seguintes.
Falta análise histórica.
Toda Revolução Cognitiva traz ao mundo a possibilidade de reinventar a civilização, pois as linguagens são atualizadas.
Muitos movimentos políticos ocorrerão neste novo milênio, mas os únicos que virarão cultura serão aqueles que tiverem, além do conteúdo, a proposta de implantação da nova linguagem dos cliques.
Vivemos hoje a chegada de uma nova linguagem, que nos permite ampliar os limites da cultura que tínhamos.
Assim, tudo que fizermos de mudança será na direção de aproveitar essa oportunidade para resolver antigos problemas de uma nova maneira.
Foi assim no passado e será assim agora.
O movimento político liberal nada mais foi do que a expansão do uso da escrita impressa, refazendo conceitos, a partir dela, filosóficos, teóricos, metodológicos, que nos permitiu criar a cosmovisão republicana e de livre mercado.
Temos dois movimentos liberais na história:
de resistência, quando a mídia está concentrada;
de inovação, quando temos novas mídias.
Vivemos hoje o macro movimento liberal que é muito mais de forma (implantação de nova linguagem), no qual se constrói um novo conteúdo e nova narrativa
Nenhuma espécie humana, mesmo as não sociais, precisamo de algum tipo de modelo de administração.
Entende-se modelo de administração como a metodologia para conseguir sobreviver. Isso implica: gastar energia e repor com alimentos, enfrentando as intempéries do tempo e inimigos naturais.
Não existe espécie viva que não tenha as suas regras de sobrevivência, o que podemos chamar de modelo de administração.
Todas as espécies que vivem neste planeta, tirando o Sapiens, têm um modelo de administração, encapsulado na genética. É, portanto, instintivo com baixa capacidade de inovação no curto ou médio prazo.
Mudanças ocorrem por evolução natural, não programada, sempre de forma incremental e NUNCA de forma disruptiva.
O ser humano é a única espécie animal, social, mamífera, que tem modelo de administração mutante.
O modelo de administração do Sapiens é resultado dos aparatos tecnológico que temos disponíveis (principalmente as tecnologias de comunicação e informação) e nossa capacidade cultural de utilizá-los para melhorar nossas vidas.
Assim, nunca poderemos viver sem administração, porém podemos mudar de modelos de administração, quando temos novos aparatos de mídia.
Sempre teremos administradores que serão responsáveis pelas organizações existentes, que serão as responsáveis pelos produtos e serviços.
Há uma fantasia com a chegada da Administração 3.0 de que tudo será feito de forma espontânea.
Os Ubers da vida criam ambiente que estabelece forma mais livre e com novo modelo de intermediação entre fornecedores e consumidores.
Porém, não é um processo desintermediado.
É um processo em que há uma Plataforma que regula as relações, que exige filosofia, teoria, metodologia, tecnologia e aprendizado constante.
Hoje, um administrador sai formado pelas escolas da administração para ser um gestor e não um curador de Ubers.
As pessoas acreditam que basta colocar uma Plataforma Uber para rodar que tudo está resolvido?
Note que o ser humano não é formiga, apesar de começarmos a imitar o seu modelo de comunicação e administração.
O ser humano tem a sua complexidade, que implica honestidade, desonestidade, esforço, tramoia, sinceridade e fingimento.
Numa Plataforma Uber haverá que haver todo um modelo integrado para que a taxa de honestidade, esforço, sinceridade cresçam e a de que a tramoia, a desonestidade e fingimento decresçam.
Isso se dá, através de ajustes constantes e aprendizados na luta entre os honestos e os desonestos e entre a meritocracia versus o oportunismo.
Um Administrador 3.0 tem o papel de uma espécie de “regulado das causas nobres” em que vai procurar gerenciar todas as variantes da Plataforma para que isso ocorra.
Há muito trabalho a ser feito e isso não é algo que cai do céu, mas exige um estudo, como era antes, para aprender o tempo todo sobre cultura humana. E ajustes tecnológicos para coibir nossos defeitos e ampliar nossas virtudes.
Friederich Hayek (1899-1992) é alguém que não pode ser esquecido na análise do futuro, pós-digital.
Ele traz alguns insights muito ricos sobre complexidade e informação.
É dele a ideia de que um poder central tomará decisões cada vez piores, com o aumento da complexidade.
É dele também a ideia de que o socialismo nunca vai funcionar, pois retira os preços dinâmicos do mercado, impedindo as pessoas de tomar melhores decisões;
É dele ainda a ideia de que se combate complexidade com descentralização de decisões.
Preços dinâmicos são informações geradas pelas pontas, através de uma ordem espontânea, que permitem que as pessoas possam decidir melhor e – portanto – viver melhor.
Hayek, entretanto, não estudou Thomas Malthus (1766-1834) mais a fundo. Malthus nos deixou o seguinte legado, se formos adaptar seu pensamento a conceitos atuais.
Quando aumentamos a demografia, aumentamos a complexidade e geramos crises produtivas.
Assim, na fórmula da complexidade de Hayek faltou o fator Complexidade Demográfica Progressiva.
Ou seja, não temos uma complexidade estática no mundo.
Quando aumentamos a população, a complexidade aumenta, o que nos faz pensar que o centro, se não se reinventar, vai ficando obsoleto.
É logica pura.
E aí temos um outro fato importante que nos traz Marshall McLuhan (1911-1980) para o debate.
Ele lembra que as mídias mudam no tempo, incluindo nossos cérebros, e, no meu palpite, mudam por causa da Complexidade Demográfica Progressiva.
Mídias, linguagens, modelos de administração, formas de tomada de decisão ficam obsoletas no tempo, pois a complexidade de ontem não é a de hoje.
O ser humano precisa reinventar a sociedade de tempos em tempos, conforme vai aumentando a complexidade.
E aí modelos centralizados vão começando a entrar em decadências, como as cooperativas de táxi e precisam ser substituídas por Ubers.
Ubers permitem que novas formas de informações geradas pelas pontas sejam criadas (tal como os preços), que permitam aperfeiçoemos as tomadas de decisão diante da complexidade.
Os centros, assim, se tornam obsoletos não só pelo socialismo, ou pelo mercantilismo, mas também pelo avanço da Complexidade Demográfica Progressiva.
Tal visão nos faz imaginar que ciclos liberais na história estão fortemente ligados tanto às variações demográficas como a mudanças de mídia, tal como foi o Liberalismo 1.0 (chegada do alfabeto grego na Grécia antiga) como o 2.o (chegada da prensa, pós-idade média).
Hayek não leu Malthus e nem McLuhan, mas você que é um liberal em pleno século XXI, tem que ler.