Num mundo que se move a terabites por segundo, não serão os maiores que engolirão os menores, mas os mais rápidos que engolirão os mais lentos – Benito Paret – da minha coleção de frases;
(Reflexões após o Wikishop que coordenei ontem na Petrobras)
De tempos em tempos, mudanças na sociedade nos obrigam a rever conceitos e palavras, pois eles estavam imersos em uma realidade e ficaram obsoletos.
Ou seja, nossa maneira de pensar sobre o mundo está baseada em filosofias e teorias, que são resumidas em conceitos.
Há uma clara contradição entre os termos colaborar e trabalhar hoje em dia.
(A ideia de revisar o conceito de colaboração veio do pessoal da HSBC, ao implantarem a Intranet 2.0 deles.)
Assim, temos hoje uma contradição entre trabalhar e colaborar.
Vejamos o que diz o dicionário:
Do Houaiss:
Colaborar
verbo
transitivo indireto e intransitivo
1 trabalhar com uma ou mais pessoas numa obra; cooperar, participar
Trabalhar:
n verbo
intransitivo
1 ocupar-se em algum ofício, profissão ou atividade
Ex.: trabalha no comércio
transitivo indireto e intransitivo
2 (sXIII)
empenhar-se, esforçar-se para executar ou alcançar alguma coisa; empregar diligência e trabalho
Ex.: <trabalhou sem descanso na redação do projeto> <os homens, por mais que trabalhem, não conseguem paz>
transitivo direto
3 dar trabalho a; fatigar com trabalho
Ex.: trabalhou bastante os empregados para encurtar a empreitada
intransitivo
4 realizar suas atividades; estar em funcionamento; mover-se, funcionar
Ex.: o relógio deixara de t.
transitivo direto
5 pôr em obra; lavrar, manipular
Ex.: <t. o mármore> <t. um metal> <t. a madeira>
transitivo direto
6 preparar (o solo) para cultivo agrícola; arrotear
Ex.: t. a terra
transitivo direto
8 desenvolver ação sobre; atuar
Ex.: sobre o animal morto trabalhavam os agentes da decomposição
transitivo direto
9 (sXIV)
executar ou preparar com esmero
Ex.: t. uma tese, um discurso
transitivo indireto
10 colaborar, contribuir para
Ex.: tudo parecia t. para a sua infelicidade
transitivo direto
14 Regionalismo: Brasil.
comportar-se como; agir, atuar
Nas duas definições, pode se concluir que trabalho é individual, como era o do artesão, antigamente.
E colaboração é coletiva.
Trabalho sozinho.
Co-laboro – eu e mais gente.
Dessa maneira, acordo cedo para trabalhar, fazer a minha parte, resolver o que me cabe nesse latifúndio.
E alguém lá da empresa, de um determinado departamento chato qualquer, diz que deveríamos compartilhar mais o que fazemos.
Saco.
E aí falam que é preciso “co-laborar”.
Ou seja, nós vivemos do trabalho (individual) e é isso que esperam de nós.
E, se der, podemos dar uma força, de forma voluntária, para a galera, vamos “colaborar” algo extra, voluntário, que precisam me convencer, talvez aumentar meu salário.
Portanto, foram as próprias organizações que incutiram – e continuam – de que trabalho é compulsório e colaboração voluntária.
Como se fosse possível hoje se trabalhar sozinho e não em grupo.
Um projeto 2.0, portanto, introduz a colaboração compulsória, (e sem dor) como veremos adiante.
Por que isso?
As empresas cresceram, tornaram-se complexas e a ideia de trabalho individual, como está no dicionário, é reduzida, pois há uma interdependência cada vez maior.
É uma visão cartesiana que não cabe no mundo Internetiano complexo.
Não é à toa que o termo vem do século XIX:
regr. de trabalhar; ver trabalh-; f.hist. sXIII traball’, sXIII traballo, sXIV trabalho, sXV trebelho, 1899 travalho
Além disso, trabalhar antigamente estava basicamente ligado à produção de coisas físicas, bens materiais, roupas, utensílios, preparação de comida.
As pessoas aprendiam, de boca, e se relacionavam com essa produção, guardando as coisas na memória.
Passamos a armazenar tudo nos livros e depois nos computadores.
E a produzir cada vez mais serviços e bens intangíveis.
E hoje empresas trabalham praticamente todas em computadores.
– 98% do tempo de 98% das pessoas que trabalham nas empresas fazem exatamente o que?
Produzem documentos digitais, impressos, ou não.
Sim, todos nós ao sermos perguntados pelos nossos filhos, devemos ser sinceros:
“Papai /mamãe fazem documentos digitais”.
A diferença de cada trabalho é o tipo de documento digital que se produz.
Planilha? Documento texto? Apresentações? Gráficos?
Diga o que salvas e te direi quem és!
Assim, trabalhar hoje é basicamente produzir documentos digitais.
As pessoas são pagas, assim, para encher os computadores de bytes para que – bem articulados com suas atividades – estes bytes organizados possam agregar valor à sociedade e – só então – gerar recursos, motivação, lucros para quem os produz.
Quanto melhor, mais rápida, mais barata, menos repetitiva, mais inteligente, eficaz, inovadora, mutante, relacional for a produção destes documentos digitais melhor uma empresa estará dentro do mercado.
Ao pensarmos, então, em projetos colaborativos estamos falando em melhorar a forma de como as pessoas armazenam seus documentos e como os outros, depois de salvos, se relacionam com eles.
A raiz, assim, de um projeto de empresa 2.0 colaborativa, é, basicamente, a criação de bases de dados, nas quais estes documentos serão salvos, compartilhados, melhorados, incorporados de novos atributos.
É isso que a Internet tem trazido de bom para a humanidade.
E é por causa dessas bases de dados colaborativas que ela consegue se administrar, vide Google.
Ou seja, usar os recursos colaborativos na base de dados dos documentos (prática comum na Web) para dar um salto de qualidade nas empresas.
Nada mais que isso!
O resto vem depois, na aba, comunicação através de blogs, twitters, MSNs, etc.
Hoje, os documentos são armazenados em nichos, ou no HD do cidadão/cidadã ou no diretório de um dado departamento.
Essa prática espelha a visão do trabalho antiga da “eu-laboração” dentro de uma determinada “eu-quipe”.
Assim, uma empresa 2.0 começa justamente mudando essa maneira de trabalhar.
Vou deixar claro, então:
- Uma empresa 2.0 vem para mudar a forma de trabalho;
- Uma empresa 2.0 vem para mudar, principalmente, como e onde salvamos nossos documentos;
- Uma empresa 2.0 vem para mudar a forma como os outros se relacionam com estes documentos depois de salvos.
Ponto final!
Mudar a forma de salvar e de nos relacionarmos com os documentos, utilizando ferramentas 2.0, enfim, é a grande revolução na maneira de operar as organizações!!!
(O que nos faz repensar esse blá-blá-blá de gestão de conhecimento, de informação, de qualidade, que ficam girando como moscas em cima de um pão de padaria velho. Geram fumaça para não fazer mudanças.)
Portanto, um projeto 2.0 em uma empresa tem um lado voluntário e outro involuntário.
O involuntário é o mais fácil e gera ECONOMIAS E LUCROS incomensuráveis para qualquer organização.
O presidente da empresa manda todos os seus diretores, que mandam seus gerentes que mandam seus coordenadores implantarem bases de dados colaborativas em toda a empresa.
Ou seja, passa a ser lei, norma, regra, que todos os documentos pasem a:
- ser salvos em um ambiente web, Intranet;
- em repositórios 2.0 que permitem, comentários, notas, tagueamento, votos, etc;
- tendo em cima de tudo uma poderosa ferramenta de busca;
- E o conceito de agregar diferentes informações, através de RSSs.
Tudo que está sendo feito pela garotada na Web que, nós, adultos temos a empáfia e a pouca humildade de aceitar.
Com isso, documentos perdidos e sem reputação passam a receber indicadores da comunidade, que ao clicar já está informando algo para todos.
Ou seja, a pessoa colabora apenas salvando e clicando no documento dos outros!!
Valor agregado mais do que agregado.
Que economia do capeta!!!
Custo disso, só rindo….
Os documentos 2.0 são passíveis, assim, de registro coletivo de todos que o acessam, baixam, comentam, tagueiam.
Em pouco tempo, a sombra documental (do que se quer e não se acha) vai diminuindo, todos começam a achar experiência dos outros na Intranet, o tempo do trabalho repetitivo vai caindo e vai se produzindo em menos tempo documentos com mais qualidade.
E trabalhando mais e melhor.
Bingo!
Fez-se o paraíso da gestão do conhecimento, da informação e da qualidade, com uma canetada!
Depois, estimula-se que – com o tempo que vai começar a sobrar com menos trabalho burro – que as pessoas comecem a rever mais e mais processos.
Inteligência chama inteligência!
Cai o tempo da burrice repetitiva e aumenta-se da inteligência inovadora!!!
Medição final de qualquer projeto 2.0.
E pode-se, então, introduzir projetos de colaboração voluntária para gerar ainda mais conhecimento de qualidade, através de comunicação, tipos blogs, fórums, etc.
As pessoas terão mais tempo para isso, pois cada vez estarão trabalhando com a parte mais nobre de seus cérebros!
Ou seja, aqui todos publicam em ambientes colaborativos – teremos:
- As pessoas clicam e baixam e mostram, involuntariamente, o que é relevante: 100% de adesão;
- As pessoas comentam, votam, tagueiam – de 30 a 40% de adesão, uma média no meu olhômetro;
- As pessoas incluem posts em blogs, criam documentos colaborativos, etc – 20% de adesão, também no meu olhômetro.
Um projeto como esse em qualquer empresa é quase como a descoberta de um Pré-sal.
Economiza-se uma fábula, tira qualquer uma da lama, torna inovadora até uma produtora de pregos, tornando qualquer organização mais preparada para um mercado cada vez mais complexo.
Problemas de vergonha, ego, nichos, resistências são tratadas como sempre foram, na conversa, treinamento, disciplina, etc…
E isso se resume a um projeto de empresa 2.0.
Que dizes?
Diário de blog: as ideias aqui são uma síntese, com uma clareza maior do que tudo se resume a banco de dados colaborativos. Vivendo e aprendendo.
Nepo, isso é simplesmente genial. Você conseguiu descrever com clareza o grande problema das corporações.
Mas como podemos implementar isso em uma empresa extremamente hierarquizada e burocrática? Digo, como começar essa revolução em um ambiente que ainda não enxerga muito bem esse problema? Alguma dica?
Marina, convencer a direção…
Fazer projetos pilotos….
E mostrar os resultados.
Quem não vai gostar de saber que um funcionário fazendo a mesma coisa que já faz hoje estará mais do que trabalhando, mas colaborando?
bjs,
valeu a visita.
A tua narrativa, repetida consistentemente, de forma diferente, no decorrer do texto, reflete justamente o que vai e deve acontecer, mas sempre tudo depende muito do ser humano. Ainda encontro pessoas que se negam a aprender a “ligar” um computador no serviço público, e agentes públicos que admitem manter essas pessoas na estrutura do estado. Ou seja, depende de cada um de nós.
Nepô, Acho que isso, mais uma vez, tem que começar desde as fraldas. Imagina se esta estrutura colaborativa acontecesse nas escolas? O cara já fazia a sua entrada no mundo da “co-laboração” sem qualquer dificuldade. Já estaria internalizado que ninguém usaria mais “lentes e leitura” e sim uma “lente multifocal”, que enxerga longe e perto ao mesmo tempo e , portanto, entende sua co-laboração como parte do todo a ser produzido/realizado.Além disso, as pessoas veriam muito mais sentido em co-laborar se percebessem que sua co-laboração interfere visivelmente no todo, e vice-versa, e “cresce” através da participação de todos nos seus pensamentos/registros/documentos gerando novos pensamentos, idéias, produtos/serviços … e a roda continua rodando….
É isso?
Nepô,
Como ainda tô de férias e chove no Rio de Janeiro, vou entar na discussão da tua galera:
Marina: as empresas hierarquizadas e burocráticas (que são a maioria) estão começando a incorporar em seus quadros o pessoal das chamadas gerações X e Y que possuem uma dinâmica comportamental diferenciada em relação ao trabalho e às formas de assimilar e produzir conhecimento. Estou convicta de que virá daí a pressão para se implementar projetos 2.0 nas empresas. A rotatividade que marca a trajetória profissional dessas gerações e, mais que isso, o potencial criativo que elas carregam, vai obrigar as empresas, + cedo ou – tarde, a acordar para o problema. Começar com um piloto é uma boa estratégia. Foi assim que introduzimos a idéia na empresa em que trabalho. E a pressão veio exatamente da área que concentra a maior parte da população X e Y da empresa…
João: esse mesmo princípio, que é o “moduz operandi” das novas gerações que estão chegando tb ao serviço público, vai expor cada vez mais os “servidores” que se “negam a ligar um computador”. Em breve essas pessoas serão minoria.
Mônica: olhando prá dinâmica comportamental dos meus sobrinhos, que ainda não chegaram ao mercado de trabalho, posso garantir que a galerinha da geração Z (nascidos na década de 90 em diante) já traze no DNA os genes da “lente multifocal”.
Nepô: prá mim o princípio da Gestão da Colaboração 2.0 se resume a uma frase que vc colocou no texto: “todos começam a achar experiência dos outros na Intranet”!
bjs
Povo, muito bom….vamos adelante, Lu, grato pela consultoria grátis 😉
beijos
Nepô.
Eu acho que infelismente essa “ficha” não caiu para a grande maioria das pessoas (e que estão na internet).
Tenho pensado muito sobre isso últimamente, até fiz um gráfico procurando explicar os processos: http://leoarteiro.blogspot.com/2010/07/crowdsourcing-e-producao-audiovisual.html
Mas a adesão das pessoas é lenta, o que eu me pergunto é em quanto tempo as pessoas vão se dar conta das novas possibilidades e parar de tentar insistir em idéias 1.0 num mundo 2.0
Acabei de falar com um amigo pelo gmail-talk e pedi que ele falasse algo sobre a questão da internet veloz gratuita inteiramente, que está sendo colocada agora na Finlândia, notícia que recebi do Nepô. Surpresa: ele não pode fazer por que está no TSE, servidor de lá, e lá esse acesso é bloqueado. Na presidência da república, onde trabalho, somente o gmail é liberado, o resto é bloqueado, a título de segurança (qual não sei), resultado: enquanto vivemos um momento d eabertura as empresas do governo se fecham. Tem muitas coisas no governo que não percebem, mas é um legado pesadísismo, e que teimam em nos convencer que vivemos outros tempos.
Olá Nepô,
Sua tirada foi muito boa.
Um bom resumo seria:
“[…] foram as próprias organizações que incutiram – e continuam – de que trabalho é compulsório e colaboração voluntária.”
e
“Um projeto 2.0, portanto, introduz a colaboração compulsória.”
É isso. É exatamente assim que venderia um projeto 2.0 para alguém.
E quando pessoas como a Marina ou João começam a perguntar: como fazer? Ou afirmar: Aqui não funciona! Eu responderia: Deixe a organização de lado, traga a colaboração para o seu processo. 2.0 também é emergência, é participação autêntica, genuína, de quem realmente precisa se engajar. Como ser autêntico com o problema dos outros? Não dói em você. Concentre-se no seu problema.
Como transformar minha organização? Pergunta errada! Pergunte-se sobre como revolucionar o seu processo. Ao buscar soluções para a organização você está na mentalidade top down. É a velha gestão do conhecimento e seu pensamento transformador utópico que desconsidera a única coisa que importa: a vontade das pessoas.
Vocês conseguem imaginar a explosão da web 2.0 com um comitê inventando soluções para todos os usuários da web?
É claro que não. É justamente o contrário: autonomia e facilidade de criar soluções de modo completamente descentralizado. É o caos produtivo.
Por que diabos tentam fazer isso nas organizações? E ainda vejo projetos assim sendo chamados de 2.0…
Não entenderam.
Concordo principalmente com da lógica de como a mudança pode acontecer, o manda chuva tem que se envolver, ter convicção que a mudança será benéfica e defender a sua posição.
Outro argumento muito forte é “trabalhar com a parte mais nobre do cérebro”, já que muitas vezes o trabalho diário parece nos afastar dos momentos de uso pleno das nossa cabeças.
A reflexão me lembra muito o que rola no livro Conhecimento em Rede, mas parece estar estruturada de maneira mais clara.
Abs,
Luiz.
Nossa, no meio tempo entre ler e comentar os comentários pipocaram. Concordo com o Leandro, devemos mudar inicialmente os nossos processos, mas para a mudança ser estrutural, na forma com a empresa opera, em algum ponto ela vai ter que contar com o patrocínio dos diretores. Seja montando um processo de recompensa para tais iniciativas ou através da canetada mencionada pelo Nepô.
Leandro, concordo e acrescentaria.
Tenho comigo a palavra compaixão quando me deparo com resistência.
Não é fácil compreender o momento histórico que estamos passando. Eu estudo esse processo há mais de 14 anos e ainda estou vendo as fichas caírem, como posso jogar pedra em quem está no piloto automático?
Há aí três pessoas diferentes com quem me deparo:
as que sacam logo e aderem;
as que demoram mais tempo, mas acabam chegando;
e as que sacam tudo, mas se sentem tão ameaçadas que passam a ser foco de resistência.
É preciso lidar com cada caso, mas sempre trabalhando o afeto da relação, pois não é fácil dar esse salto.
Luiz,
sim, essa sacada é um resumo, tem posts que são marcantes aqui no blog, o que o Bachelard chamou de corte epistemológico, quando se pensa a e passa para b.
Na verdade, estavam as pelas ali, mas faltava uma fechada do cenário.
Valeram as visitas, abraços
Nepô.
Galera, acho que se é para mudar a maneira que as pessoas trabalham é preciso que se mudem as regras.
Olha, fazemos assim, não está legal, vamos mudar para isso.
O cara simplesmente passa a salvar o documento dele em outro lugar que permite que mais gente veja.
Isso me parece simples e não tem – a meu ver – discussão operacional, cultural, etc…é um fato da vida, a produção da informação agora é assim no mundo, vamos nos adaptar a ela.
Por outro lado, vai se incentivar o que não é compulsório (cliques e ações do tipo indicar, baixar, etc…).
O que seria estimulado: votar, comentar, taguear, postar, etc….
E, em paralelo, o uso de ferramentas de comunicação, permitindo também registros, do tipo, twitter, msn…
A pessoa opta no que é voluntário, na produção da informação não se pode ocultar o que é de todos….
Estarei sendo muito radical?
(porém não sou sectário, estou pronto para ouvir)
Nepô.
Nepô, falou bem.
As regras precisam mudar.
Os incentivos que orientam o comportamento.
Para mim está claro que o estímulo não pode estar relacionado a ação (votar, comentar, compartilhar, salvar, publicar). Isso só mede o quantitativo. E o quantitativo é burro, incentiva a ineficiência. Mais ações para gerar o mesmo resultado é ruim e não o contrário.
Existe um problema grave em empresas matriciais e departamentalizadas, que é a especialização. A especialização individualiza as tarefas. O encadeamento de processo faz com que cada um se preocupe com o seu. Uma organização típica hoje estimula o trabalho coordenado e não o trabalho coletivo. Se alguém falhar no meio do processo, este é o culpado, os outros fizeram sua parte.
Existe uma preocupação tão grande em otimização de processos e medição do desempenho individual, que não há espaço para o trabalho coletivo.
Para os modelos de gestão atuais, o trabalho coletivo soa como redundância. Ineficiência.
Em quantas equipes já trabalhou em que não existe uma pessoa responsável por cada parte de um projeto ou processo, mas sim todo o grupo responsável por todo o projeto? Tente não trapacear, leve isso ao pé da letra. Pois nossos métodos fazem com que desdobremos as atividades em partes pequenas o suficiente para serem individualizadas.
Mudar a cultura de uma organização para esta linha que estamos defendendo significa mudar a forma como o trabalho é cobrado das pessoas, significa abrir mão da otimização em prol da inteligência coletiva, significa assumir os riscos de diminur os níveis de comando e controle, de microgerenciamento, significa só aceitar as pessoas mais competentes.
São décadas de padronização, otimização, microgerenciamento, comando e controle. É assim que aprendemos a trabalhar.
A maior parte de nós nem sequer acredita que pode ser diferente.
O esforço da turma antiga por entender e mudar é válido, mas o mais legal disso tudo é que não acredito que irá fazer muita diferença. As mudanças migrarão para dentro das organizações porque simplesmente não é possível ter um comportamento (valores, atitudes) em cada ambiente que vivemos.
Saudações.
Leandro, concordo 1.00000%
Falamos disso na Petrobras esta semana, no curso.
Começa-se com a informação compartilhada e as outras coisas necessariamente irão mudar.
As empresas não estão prontas para isso, mas estarão, pois a nova geração já é colaborativa, desde o berço.
Questão de tempo.
Brinco que em 2.050 morrerá o último ser humano 1.0, com a lápide,
“1.0! Fui.”.
😉
abraços
[…] Comments « Gestão da colaboração 2.0 […]
Nepô,
Acho que o Leandro estava “iluminado” quando escreveu seu penúltimo parágrafo. É isso aí, tem que diminuir os níveis de comando e controle e isso o povo 1.0 não admite nem em pensamento.
Confesso a você que fico profundamente triste em ver tanta coisa que poderia ser feita completamente inviabilizada por conta de mentes tão incruadas. (Acho essa palavra, incruada, parecida com um palavrão bem medonho.)
Mas eu vou continuar tentando….
Norma, concordo..o Leandro está sempre aqui colaborando e me ajudando a ir adiante nas minhas reflexões. É um provocador de mão cheia…e um blog cresce sempre que ele aparece para “tomar um café”.
Esse termo “mentes tão incruadas” acredito que é algo da humanidade, nossas mentes são incruadas mesmo, nos cabe:
1) saber como elas pensam;
2) trabalhar, a partir disso, para ampliar os horizontes;
3) aprender no processo.
Alguém tem que trazer para si esse papel.
Estamos nessa juntos.
Grato pela visita, abraços
Nepô.
Recomendo a matéria “Dialética do relacionamento” da boa Revista Comunicação 360º. Nela, fala-se da Web 2.0 e de empresa 2.0 com outras terminologias.
Usam “relacionamento com stakeholders”.
“O relacionamento das empresas com stakeholders se desenvolveu tanto que os especialistas identificam três fases em evolução. Há o relacionamentos de primeira geração, que se caracterizam pela postura relativa das companhias em situações de conflito ou de novas demandas. Os de segunda geração, que representam um avanço ao adotarem o gerenciamento de riscos. Na terceira geração, as cias promovem a colaboração e o reconhecimento dos agentes relacionados – o verdadeiro engajamento – de forma a alcançar um patamar de competitividade sustentável. Essa é a tendência para 2020”
E Joe Sellwood, da Accountabillty, defende que:
A maioria das empresas está na segunda geração, aquelas que o reflexo automático é rejeitar o que vem de fora.
“As organizações têm uma abordagem de comunicação, mas apenas para convencer o outro lado. Esse convencimento acaba sendo feito em cima de um equívoco, pois muitas vezes quem fala tem apenas parte da informação necessária para as soluções de sustentabilidade do negócio”
“É fundamental saber diferenciar assuntos realmente importantes dos simplesmente prioritários e verificar as questões que têm a ver não só com a campanha, mas com vários atores”
“Quem realmente conseguir trabalhar junto com os agentes ligados ao negócios sairá na frente”.
“Cada vez mais entramos na época do “me mostre, não me diga”. O aspecto de responder e entregar será mais crítico para todas as empresas”.
“O Brasil tem muita experiência em engajar e aprender, mas peca no aspecto de analisar e planejar”.
Mais da boa entrevista: http://www.revistacomunicacao360.com.br/revista14/revista14.html
Pgs 36-39. Citações de cima na página 39.
[…] + aqui […]