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Redes são mais poderosas do que hierarquias engessadas –Steve Johnson – da coleção;

Em Nova Iorque, para descer do ônibus basta apertar na porta, que ela abre.

No Rio, você depende do motorista que controla a abertura.

Mais do que apenas uma metodologia de segurança do transporte público, as duas políticas denotam diferentes culturas de controle e intermediação.

Em NY, há uma desintermediação na abertura das portas dos coletivos, o que exige também maior responsabilidade do passageiro e um tipo de ambiente democrático de maneira geral – que se reflete no ônibus.

Nas livrarias se dá o mesmo. O vendedor não te” leva pela mão ” para a estante para te mostrar o livro. Tais fatos refletem todo o ambiente que caracteriza a sociedade americana e outras mais maduras na democracia.

No Rio e no Brasil, de maneira geral, há uma infantilização maior da população (e não só no ônibus). Outro dia tinha um cara, que segurava um guarda-chuva e uma pasta que queria que o caixa da pipoca levasse o refrigerante para ele para dentro do cinema.

Ascensoristas, porteiros, trocadores, impostos, modelo-do-estado-pai, centralização, cartéis, cartórios, bilheteiros, entre outros fazem parte de uma sociedade controladora com um nível menor de desintermediação e maior de intermediação.

O nível de uma dada democracia, na verdade, está diretamente ligada a um cotidiano no qual se “confia/desconfia” do cidadão nesse dilema:

Controle/descontrole versus intermediação/desintermediação versus confiança/desconfiança.

O controle cultural se reflete também no informacional.

Tal como  limitações ao acesso ao conhecimento, aos documentos públicos, ao entretenimento (ao barrar crianças no cinema, mesmo com os pais).

Não confiar no documento do cidadão/cidadã e precisar “autenticar” tudo no cartório também caracterizam esse controle.

A revolução informacional em curso se caracteriza por uma rápida descentralização informacional e de procedimentos, simultânea, em todo o globo, com algumas diferenças regionais e sociais.

De qualquer forma, se altera a maneira que uma dada intermediação mais controladora era feita.

Não é algo planejado, nem controlável por quem definia o controle anterior (de empresas a governos).

A sociedade vive, assim, um intenso processo de desintermediação coletivo.

O que se busca?

Mais facilidade, velocidade e eficiência.

Há  fenômenos que ocorrem em paralelo nesse processo:

 

  • a aceitação dos controladores sociais de passar a operar no novo ambiente;
  • O surgimento de novos players com outros modelos de controle, mais descentralizado;
  • e o amadurecimento por parte da população, que se desinfantiliza coletivamente.

 

Em ambos os casos, tal mudança atinge com mais ou menos impacto as  sociedades.

Quanto mais controladora era, mais as mudanças serão sentidas havendo, naturalmente, mais rejeição por parte dos beneficiados do ambiente controlado anterior.

O poder foi, é e sempre será baseado em um tipo de controle.

Rumamos, assim, para uma sociedade mais democrática com a Internet com um descontrole maior (porém controlado), o que, por sua vez, nos leva a um sociedade mais amadurecida.

Precisamos de algo assim para resolver de forma mais ágil os problemas de 7 biihões de almas, que não param de crescer.

Empoderar as pontas e torná-las mais independentes é fator fundamental para a inovação e mudanças.

Entretanto, esse novo ambiente – mais democrático por necessidade prática – não nos garante nova humanidade.

E este, a meu ver,  é o desafio político-espiritual do novo século: reduzir o sofrimento humano pela rede, com a rede e também sem a rede.

Mas estamos tão perdidos em tecnologias, ideologias, passadologias, egologias e apologias que algo assim me parece cada vez menos provável de acontecer.

Precisamos de movimentos, líderes, pessoas que apontem nessa direção no contra-fluxo do que a moda nos leva hoje.

É isso, que dizes?

 

5 Responses to “Intermediação, controle, democracia e Internet”

  1. Leandro Cianconi disse:

    Salve Nepô,
    Este é um texto que eu gostaria de ter escrito.

    Para ser mais justo com sua observação, nem precisávamos estar aqui discutindo sobre internet.
    Estou no time que acredita que os problemas culturais que nos assolam são consequência de nossa política de controle e de nosso sistema de recompensas. É uma questão totalmente freakonomics mesmo.
    Nossa ambição pelo poder, mesmo aquele diminuto é impressionante, é uma trava ao desenvolvimento de uma cultura de auto organização (o acessorista que te impede de apertar os botões do elevador, o porteiro que te impede de mergulhar na piscina a noite, a professora que autoriza ou desautoriza sua ida ao banheiro).
    E então viajamos para fora e ficamos impressionados com a educação e os valores democráticos e cívicos dos estrangeiros. Mas a resposta é simples, procure por roletas nos metrôs e trem alemães. Devemos buscar uma cultura menos proibitiva, você pode fazer o que quiser, e será recompensado se fizer o certo, e punido ser fizer o errado. Simples, né? Não, não é.

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Leandro, saudades de suas visitas..;)

    Vc diz:

    “Devemos buscar uma cultura menos proibitiva, você pode fazer o que quiser, e será recompensado se fizer o certo, e punido ser fizer o errado. Simples, né? Não, não é.”

    Essa cultura menos proibitiva é um caminho coletivo…mentes brilhantes trocando e propondo coisas….esse, a meu ver, é o caminho…

    Estamos construindo um manifesto 2.0 que acho que vc vai gostar…em breve notícias.

    abraços,

    Nepô.
    volte sempre.

  3. Acho que no Brasil a coisa tá acontecendo de frente pra trás. Uma inversão de valores: mais fácil surfistinhas ganharem projeção que uma descoberta que possa atingir a maioria da população. Ou: mais fácil surfistinha vender que um escritor famoso. Veja o que valorizam na mídia trelevisiva, que agora utiliza “fenômenos” youtubeanos para encher de linguiça sua tosca programação. Me sinto pior quando tento encontrar uma fronteira, de quando isso começou a mudar, e não encontro. Não sei como começou (falta-me estudar a história desses eventos) e nem quem mudou, se é que mudou, entendem? Mas creio que vai acontecer uma mudança quando o caos for geral, que aí sim teremos a oportunidade de construir uma sociedade parametrizada por melhores variáveis de relacionamento e valores. Acho que já li Nepô esse teu Manifesto 2.0, já? Bem lá atrás, quando participei do teu curso e logo em seguida vc liberopu um documento, foi esse? Estou curioso por vê-lo 2.0. Abraços.

  4. José Eugênio Grillo disse:

    Salve, Nepô.
    Já iniciamos essa mudança. Elas pipocam aqui e ali e crescendo pois pois estão relacionadas, entre outras tantas facetas, com as nossas atitudes e não ações binárias ou liga/desliga. Considero q movimentos dessa magnitude se iniciam de uma forma caótica – para alguns olhares – mas convergem na essência e num tempo futuro. Adiantado ou atrasado é percepção de cada um. Vamos q vamos. #ação abs, @grillojotae

  5. Cynthia Dias disse:

    Nepô, seu texto caiu bem para a reflexão sobre uma situação que vivi hoje: como lidar com o conflito de gerações, em que tentamos incluir ferramentas e práticas mais “2.0” no trabalho com um público que está acostumado e confortável com o controle, o e-mail, e não com a discussão online aberta a muitos?
    Claro que as questões de uma interface amigável interferem, mas o medo de explorar uma interface até descobrir como ela funciona também não é reflexo de uma cultura do “Manual”, voz unitária que me diz onde posso e onde não posso ir?
    Como ajudar essas pessoas a enxergar que elas têm o poder de explorar? Será que disponibilizar um passo-a-passo inicial, um “tutorial”, é prejudicar o desenvolvimento delas rumo a uma postura mais “destemida”, menos intermediada? Ou será que, numa cultura mais ampla de controle, tentativas desse gênero (de desintermediação) estão fadadas ao fracasso?

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