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O erro deixa de ser indispensável ao processo de conhecimento e passa a ser, ao contrário, claramente prejudicial, quando se repete – Gustavo Bernardo, da minha coleção de frases.

Estivemos empenhados na discussão sobre o que é, afinal, conhecimento na última aula do MBKM.

Cristiana questionou a minha velha e antiga defesa de que informação e conhecimento são verbos e só existem em processo, mas sugeriu que pudéssemos trabalhar como substantivo abstrato.

Fui ver e até gostei, pois dá a mesma idéia e é mais fácil no convencimento, tendo o mesmo resultado, evitar que se coisifique as pessoas, veja lá:

substantivo_abstrato

Ou ainda aqui:

“São substantivos abstratos os atributos, estados, qualidades e ações, derivados de um conceito original. Eles não existem por si sós. Não possuem forma. Digamos que não podem ser desenhados, uma vez que não transmitem uma imagem. Assim, calor e frio são abstratos, gramaticalmente falando, embora nós os sintamos de modo concreto. São também abstratos todos os substantivos que exprimem sentimentos e emoções – qualidades da alma. Você pode desenhar um homem triste, uma mulher vaidosa, mas não a tristeza ou a vaidade, por exemplo.”

Ou seja, o conhecimento não é desenhável.

É algo imaterial.

Na maioria da turma, quando faço este exercício é comum que se defina conhecimento como algo que é, concreto, um substantivo concreto.

Que pode ser fotografado ou desenhado, mas, na verdade, não pode!

É comum consideramos um livro como se fosse informação ou conhecimento como se algo estivesse contido ali.

Mas é preciso que alguém entre em relação com ele, com um conjunto de possibilidade cognitivas, saber ler, entender do assunto, ter disposição, ter tempo, saco, etc….

Ou seja, depende de uma série de fatores relacionais entre o objeto e a pessoa que o acessa, sempre em processo e nunca como algo dado, concreto.

É um filme – um movimento, nunca uma foto!

Se fizermos a tomografia, a ultrasonografia ou a radiografia de uma cabeça, até o momento com nossas tecnologias atuais,  não verermos o conhecimento lá dentro.


(No futuro, quem sabe poderemso registrar o movimento cognitivo com mais detalhes?)

O problema ao pensarmos conhecimento na sociedade atual e, principalmente, quando falamos o tempo todo em “gestão do conhecimento” termo que já questionei aqui no blog, tendemos a achar que basta ligar um aspirador de pó para tirar o substantivo concreto lá de dentro.

Pois se é concreto, tácito, um ovo na galinha, pronto para ser posto…coisificando as pessoas, o que nos leva a toda uma prática organizacional ainda com resultados pífios.

Obrigado a Cristiana e a turma por esse insight.

E você?

Que dizes?

24 Responses to “Conhecimento não é substantivo concreto!”

  1. Lucia disse:

    Nepo,

    Fico muito aliviada em você concordar com o substantivo abstrato Eu quase pirei com o conhecimento como verbo! Não tenho mais nada a declarar, concordo em número gênero e grau com você e Cristiana.

    Só para ilustrar ainda a diferença entre informação e conhecimento, essa semana tive uma clareza maior da diferença. Li em 3 dias o livro Crepúsculo e a “informação” contida naquele livro prende qualquer leitor e no meu caso específico, fez minha criatividade viajar a mil. Ontem vi o filme e fiquei arrasada apesar de já esperar, de como me decepcionei com a película. Sempre o livro é melhor do que o filme, mas para mim foi assustador como achei o filme ruim, apesar de ter adorado o livro. Conversando com minha filha nossos pontos de vistas, chegamos a muitas discordâncias quanto “a visão” do diretor/roteirista do filme e tivemos algumas concordância em relação as nossas visões. Aonde quero chegar? Ao velho conceito que tentei defender na aula que conhecimento é informação processada cognitivamente + seus conhecimentos já existentes (bagagem). E que esses conhecimentos existentes têm tudo a ver, com o seu ambiente, sua infra-estrutura pessoal, sua visão de mundo (fazendo uma pequena analogia aos capitais), etc. Eu e minha filha apesar de algumas discordâncias apreendemos um conhecimento (abstrato) relativamente parecido ao contato com aquela informação. Já o diretor/roteirista do filme, que está num contexto totalmente diferente, apreendeu esse conhecimento (abstrato) de forma bem diferente e isso para mim é bem vísivel no resultado: o filme (concreto).

  2. cnepomuceno disse:

    Lucia,

    sobre o seu alívio, queria dizer que a ideia do verbo é sempre uma tentativa de tirar o aluno da zona de conforto.

    O substantivo abstrato ajuda e tranquliza, vou passar a usar e lembrar sempre dessa nossa discussão, que me mostrou como agir e ajudar a repensar o termo, que nos leva a situações complicadas como contretizamos o conhecimento.

    Pois, nesse processo, levamos juntos às pessoas no mesmo balde.

    Esse processo que você conta é justamente a ideia de que cada um é cada um e assim deve ser tratado.

    Contar com o conhecimento como um ovo na galinha que sai a qualquer hora, é tornar nossa cabeça uma granja 😉

    abraços,
    grato pela visita,
    vamos em frente.

  3. leobraganca disse:

    O que digo? Primeiro os parabéns pelo post e pelo outro desconstruindo a gestão do conhecimento (quem não leu, por favor…).

    Lembrei de um episódio de minha adolescência que conceitua informação x conhecimento. Certa vez um grupo da sala teve a “brilhante” ideia de escrever as fórmulas de física em giz branco na parede branca. Assim, seria possível colar sem o professor perceber. Eu já trabalhava e mal tinha tempo para estudar, vinha faltando algumas aulas e segui o péssimo exemplo dos meus amigos. Sentei próximo da parede para fazer a prova.

    Só que eu não tinha a menor noção de onde aplicar qual fórmula. Um total desconhecimento de como usar aquela pecaminosa informação. Portanto de nada adiantam os livros, os MBAs, as fontes de informação, se nada sabemos fazer com ela.

    Abraço.

  4. cnepomuceno disse:

    Leo, um livro japonês em uma ilha deserta para um náufrago sueco, é fogueira na certa.;)

    valeu a visita.

    Nepô.

  5. […] (Essa concepção parte de uma uma visão equivocada do que é conhecimento, que nos leva a esse tipo de atitude. Veja aqui.) […]

  6. White disse:

    Primeiramente, gostaria de externar o quanto fiquei encantada com a metodologia da sua aula. Você estimulou os alunos a participarem. Todos davam suas opiniões, os comentários eram discutidos. Isso fortalece a aula e consolida o aprendizado.
    Quanto ao assunto que mais esquentou no sábado, espero ter entendido quando você disse que conhecimento é um verbo, porque ele indica ação, ele está constantemente sendo processado, por isso está em movimento, logo é uma ação. Não é para aplicar essa definição numa prova de português, obviamente.
    Gostaria de acrescentar que estou aprendendo muito, em termos de atitude e sobre como usar a favor as ferramentas que a internet nos oferece. Obrigada!

  7. cnepomuceno disse:

    Querida ou Querido White, depois desvendo o mistério.

    A ideia do verbo ou substantivo é uma tática.

    Tática: ações para garantir uma dada estratégia.

    Minha estratégia, levar os alunos a sair do ponto “A” – conhecimento é coisa = pessoas são coisas.

    Para: conhecimento é movimento, pessoas são processos, dependem de carinho, atenção, para que aconteçam plenamente.

    Quanto à aula, é uma tentativa presencial do muitos para muitos – um movimento ideológico, a partir da nova cultura tecnológica.

    Um retorno a Paulo Freire 2.0.

    É isso, grato,

    Nepô.

  8. Cristiana disse:

    Professor, fiquei muito feliz e chocada ao mesmo tempo ao ler seu post e ver que contribuí de alguma maneira com esse assunto de conhecimento… como eu poderia imaginar que uma simples aluna, querendo captar as informações deste mundo 2.0 do qual ainda me considero um bebê, poderia falar algo que fosse útil para você???

    Acho que realmente sua aula 2.0 faz efeito, assim como esse mundo novo realmente proporciona que os tímidos, ou os 80% que costumam só observar e não contribuir na rede, possam passar um dia a contribuir, a expor suas idéias e a acreditar que essa contribuição realmente possa ser de valor para alguém… e que esse valor pode ser multiplicado!

    Antes da sua aula não pensava em acompanhar blogs, twitters, muito menos em tê-los. Mas agora, que vi o valor disso para a minha vida, o propósito colaborativo e as possibilidades que existem a serem exploradas, seria realmente um desperdício deixar todas essas oportunidades de lado!

    Obrigada! Aparecerei mais por aqui e pela rede! 🙂

    Ah, e Lúcia, concordo com tudo o que você falou sobre o livro Crepúsculo!! Aconteceu o mesmo comigo! Estou compondo uma música sobre esse romance… quem sabe coloco no gengibre ou no myspace ou no youtube e faz tanto sucesso que entra na trilha sonora do próximo filme da saga?? 😉 rs…

    Beijos!

  9. cnepomuceno disse:

    Cristiana,

    esse lance de saber mais ou saber menos é algo tão relativo.

    O olhar novo e o olhar velho também valem.

    Um turista é capaz de ver coisas que uma pessoa que mora a vida toda em uma cidade jamais notou.

    Gosto desta frase:

    O saber não é uma supremacia sobre o que os outros não sabem, mas o ato de acolher o que eles sabem – Nilton Bonder;

    Levo isso sempre e compartilho.

    beijos,
    grato pela visita.

  10. Cristiana disse:

    Adorei a frase! Não sei quem é Nilton Bonder. Vou procurar.
    Beijos.

  11. cnepomuceno disse:

    Nilton Bonder é rabino.
    E eu tirei esta frase do livro “Tirando os sapatos”.
    Que fala do conflito árabe – israelense de uma forma construtiva, mas útil tb para o mundo colaborativo web, pois temos o tempo todo que olhar para o outro.

    é isso,

    Nepô.

  12. […] concepção parte de uma visão equivocada do que é conhecimento). Isso deve ser denunciado e duramente combatido na implantação destes projetos 2.0, pois há um […]

  13. Estou esperando a música da Cristiana, quem sabe ela tem mais alguns insight?
    Adorei os comentários….até mais tarde.

  14. Carina Duim disse:

    Nepo,
    Passei quase a tarde inteira lendo os posts do seu Blog, estou encantada e confusa também! E isso é muito bom. Algumas idéias, pensamentos e informações já engessadas para mim, estão em questionamento e dúvida, como por exemplo a gestão do conhecimento (adorei esse post, vale a pena ler…).

    Sua estratégia foi muito válida em sala de aula, fui retirada da minha zona de conforto, quando foi dada a largada para as discussões sobre o conhecimento ser verbo ou substantivo, e a batata ser ou não comida.

    Sua aula é estimulante, estou aguardando o nosso encontro dessa semana.

    Gostei do Blog, estarei sempre de olho agora!

    Abraços,
    Carina

  15. cnepomuceno disse:

    Carina, seja sempre bem-vinda!

    Nepô

  16. Lucia disse:

    Cris,

    Você precisa acelerar seu processo criativo. O próximo filme será lançado em novembro. Já deve estar pronto…rs.

    Nepô,

    Tive uma semana super corrida e só entrei agora para saber um pouco dos posts da semana. Impossível ler tudo!! Vou aguardar os comentários direto na aula.

  17. […] concepção parte de uma visão equivocada do que é conhecimento). Isso deve ser denunciado e duramente combatido na implantação destes projetos 2.0, pois há um […]

  18. Miriam disse:

    Tambem concordo que conhec imento não é pegavel. E o messmo que informação, esta no ar. Não é palpavel e sim aprendizagem

  19. Deixo provocações:

    Há conhecimento coletivo?
    Como se consegue, por meio de “relatos” de vivências de experiências individuais um incremento do que convencionamos chamar, num suposto senso comum, conhecimento humano?

    Abraços a todos.

    Daniel Lopes Filho
    (http://www.linkedin.com/in/daniellopesfilho)

  20. […] concepção parte de uma visão equivocada do que é conhecimento). Isso deve ser denunciado e duramente combatido na implantação destes projetos 2.0, pois há um […]

  21. […] (Ou seja, não adianta ouvidoria surda , nem entrar por um ouvido e “sac” pelo outro. Ou criar projetos de gestão de conhecimento eunucos, nos quais se escreve as melhores práticas de um lado, o procedimento de outro. e nada muda na forma da empresa trabalhar. Quando o cara vai fazer de novo, ele repete os mesmos erros do passado! Conhecimento não é substantivo!) […]

  22. […] concepção parte de uma visão equivocada do que é conhecimento). Isso deve ser denunciado e duramente combatido na implantação destes projetos 2.0, pois há um […]

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