Nós habitamos um mundo cultural, portanto, inventado – Ferreira Gullar, da minha coleção de frases.
Estranho esse mundo Web.
O Saramago que critica a qualidade dos textos na rede e acha o Twitter um ruído, tem blog e vai fazer um livro, a partir daqueles posts.
“JOSÉ SARAMAGO: Escrever num blog não difere em nada de escrever numa folha de papel. Salvo a extensão do texto em que, no caso do blog, se aconselha uma certa brevidade, os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog.“
Já Piérre Lévy que tem Twitter, diz o seguinte, na entrevista que concedeu para este blog:
“Nepô – Por que você não mantém um blog ativo?
Lévy – Porque, como filósofo, não estou interessado em investir meu tempo e esforço em textos efêmeros. Eu gosto de ler blogs (ou ler jornais), mas eu não gosto de escrever em um blog (ou mesmo em jornais diários). Eu estou mais interessado em profundas e longas meditações que explorem os assuntos desconhecidos sobre os quais ninguém está falando e que poucos entendem ou estão interessados. O resultado desse tipo de meditação pode ser um livro (claro que o livro poder estar no formato digital) ou em outro suporte (como IEML).“
Na verdade, o primeiro viu no blog um espaço além do blog, apesar de ser mais tecnofóbico do que Lévy.
E Lévy, apesar de um filósofo da cibercultura, atrelou textos nos blogs, a algo efêmero.
Concordo com Saramago: os escritores não estão condicionados por normas ou regras que, supostamente, caracterizariam o blog.
Quem define textos efêmeros é o autor e não o blog!
Mas, por outro, lado Saramago detona o Twitter e Piérre Lévy tem o dele e usa bastante, diz o escritor Português:
“O senhor acompanha o fenômeno do Twitter? Acredita que a concisão de se expressar em 140 caracteres tem algum valor? Já pensou em abrir uma conta no site?
SARAMAGO: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.”
E diria para ele o mesmo no Twitter: cada um twitta como quer ou pode!
(Os haikais japoneses também são curtos! E nunca foram chamados de grunhidos)
E me pergunto:
Não seria um blog, a carta. E o Twitter, o telegrama?
Cada um com o seu papel para ajudar os 7 bilhões de habitantes do mundo a se comunicarem?
E cada um usando os dois recursos, a partir de diferentes necessidades e com a criatividade que cada um tem?
Por fim, há, a meu ver o que resolvi chamar de paradoxo da piscina.
O computador em rede nos permite tantas possibilidades de interação e tão diferentes de usuário para usuário que só a experiência concreta de uso de cada ferramenta, nos permite realmente termos uma reflexão aproximada do seu potencial.
Não dá para explicar o que é dirigir um carro, ou andar de bicicleta.
Há a necessidade de uma vivência, pois as ferramentas da rede não determinam o uso, são abertas, telas em branco a perguntar:
O que você quer fazer hoje? Em que ferramenta? Para quem? Como? Etc…
O Twitter ou o blog não são, a princípio, nada, mas passam a ser algo, a partir da criatividade de cada um!!!
E quem foge disso, simplesmente deixa para os outros o uso que eles conseguem ter!
Medíocre ou criativo!
Ficando os críticos que não se molham na piscina eximidos de ajudar a dar mais sentido a cada possibilidade, ter ali algo diferente!
É a diferença fundamental entre experiência criativa real de uso e concepção intelecutal (vista de fora).
Criticar o Twitter sem usar de forma criativa, não rola.
Ou o blog pelo mesmo motivo.
Nossa “grunhidização”, que de fato ocorre na massificação do mundo, como denuncia Saramago, pode e deve ser combatida e a Internet pode melhorar ou piorar o processo, depende de cada um e de todos.
Por fim, o que determina o uso de dada tecnologia é o potencial e a criatividade humana e não a ferramenta em si.
O paradoxo da piscina é algo que atinge a todos nós, incluindo, nossos gurus, que ora se molham na praia, mas não gostam de piscina, ou vice-versa.
Concordas?
Acho lamentáveis tais condenações “à revelia” que alguns doutos gostam de fazer, só pra não precisar acrescentar nada à sua visão-de-mundo pronta e acabada.
140 caracteres é pouco? É. Mas quem disse ao Saramago que ele precisa dizer tudo em um único tweet? Ou quem disse que um tweet deve substituir um post de blog ou um capítulo de livro? Cada ferramenta com sua função e seu espaço.
Quanto ao Lévy, até o citei em um post do meu blog, em que tento responder à questão “O que diabos é o Twitter?”, dizendo que a ferramenta pode vir a ser a expressão do diálogo da inteligência coletiva consigo mesma…
Bem contraditório do Levy dizer que não mantém um blog porque não se interessa por textos efêmeros, quando mantêm um twitter, que é efêmero por excelência.
Nepô,
A contradição é um elemento intrínseco a todos nós. Mas quando estes “nós” são referências nacionais ou internacinais, esta contradição se torna mais visível. A tela em branco será preenchida de acordo com nossas convicções e criatividade. As ferramentas digitais são o uso que delas fazemos.
Então, façamos!
Abraços
Eduardo, Niva e Lucas,
grato pelos comentários…ainda bem que não estou sozinho,
abraços,
Nepô.
Carlos,
Eu diria:
– “Quem não se arrisca , não petisca”
Isto é, quem não usa o Twitter ou o Blog não colhe seus frutos.
– “Quem não sonha, não inova”.
Mas tem que ser sonhador que põe em prática suas elocubrações.
– “Cada cabeça, cada sentença”
A diversidade é o fermento do desenvolvimento.
– “De grão em grão, a galinha enche o papo”
De twitter em twitter o blogger divulga suas idéias.
Luiz Ramos
As contradições, seja em Lévy ou Saramago, são aspectos comuns da alma humana. No fim, tudo se resume a sua experiência pessoal: se gosto ou me serve, é bom; se não, também não deveria servir pra ninguém no mundo!
Nos impressionamos não porque um ou outro pense o que pensa, mas sim porque seus pensamentos não se encaixam na idealização que fizemos de cada um deles.
Moral da história: gênios também são humanos, com todos os defeitos e contradições inerentes à raça.
Colocamos certas pessoas num pedestal – eles, os deuses, e nós aqui em baixo, os meros mortais. E é essa tendência a criar “mitos” que nos leva às vezes à decepção.
Mônica, é verdade, cobramos deles muito.
A coerência é difícil, pois viver o mundo 2.0 é um mergulho numa piscina, que não sabemos se dá pé.;)
bjs tks pela visita, N.
E isso aí, tem que pular na piscina, so depois pode dizer si a agua ta fría o morninha
Un abraço
Untalgregorio