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Versão 1.0 – 16/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

Podemos, a partir deste post, traçar o seguinte quadro do monoteísmo escrito, que passa por algumas fases. (Logo depois, já no século XX surge o monoteísmo eletrônico, como rádio e tevê, que falarei depois):

monoteísmo2

 

Note que podemos dividir o monoteísmo em duas fases do ponto de vista conceitual:

  • A teológica – na qual Deus é o centro do debate;
  • A filosófica – na qual há uma tentativa de enfraquecer o monoteísmo, criando uma nova etapa, no que podemos chamar de monoteísmo humano e menos divino.

Da mesma maneira que podemos dividir o monoteísmo em duas fases do ponto de vista tecnológico:

  • A manuscrita – na qual a palavra de Deus circula de forma fechada para poucos e é repassada de forma vertical nas igrejas, via oral;
  • A impressa  – que inicia a nova fase da passagem teológica para a filosófica, na qual se abre para o questionamento de forma mais radical da palavra de Deus, pois ganha-se um novo instrumento de difusão de ideias, marcada pela Reforma Protestante.

(Sem o papel impresso, a partir de 1450,  não haveria Lutero, ou Reforma Protestante, ou depois Descartes.)

Descartes é o primeiro que ao chamar o ser humano para a razão, pretende reduzir a força da palavra de Deus baseado na bíblia, reinaugurando a filosofia, revivendo de forma radical os gregos, o que depois será feito ao longo de todo o iluminismo/renascença.

Já em Lutero, 100 anos antes, a luta dos protestantes era de poder interpretar a bíblica de forma diferente, questionando as interpretações que eram feitas.

O problema que se colocava e que Descartes percebeu é que alguns problemas humanos não poderiam ser resolvidos com o modelo de pensamento fechado da Igreja. Um fato interessante que talvez tenha marcado muito foi o da peste negra, no século XIV quando os fiéis correram para a Igreja para se proteger e quanto mais iam, mais estavam sujeitos à contaminação.

Ou seja, não bastava apenas Deus, o padre, a verdade divina para resolver um cada vez maior adensamento de pessoas, era preciso algo mais, que se pensasse de forma independente, afastando Deus de decisões mais pontuais.

talmude

Note que, por exemplo, na Torá  existem detalhamentos sobre hábitos de higiene, lavar as mãos e depois de algumas cerimônias e também limitações da comida (o que aliás os ajudou a superar a peste negra.).

Eram necessidades de criar uma educação pela escrita que vinham carregadas de verdades divinas e não de apenas recomendações do Ministério da Saúde. Era, no fundo, o ministério divino da época.

Houve ao longo do tempo do monoteísmo um distanciamento da interpretação fechada e intermediada para a procura de algo mais aberto.

No judaísmo, por exemplo, surge só no século II o Talmude que é uma espécie de Wikipédia judaica que permite que haja comentários escritos sobre o texto da Torá, que é a bíblia principal “imexível”.

Há, assim, a necessidade de interpretação do texto sagrado que limitava o desenvolvimento, pois era preciso ir atualizando aquelas verdades, diante da evolução do pensamento e do fechamento das interpretações mais ortodoxas.

O nosso relacionamento com a cultura monoteísta é, assim, toda marcada pela luta diante da complexidade do mundo (cada vez mais povoado) versus a visão mais ortodoxa dos textos sagrados, bem como, das ferramentas que tínhamos para construir a verdade a cada momento. 

MartimLutero03

Lutero

Se analisarmos o trabalho dos teólogos e filósofos ao longo desse 6 mil anos de monoteísmo sempre vamos ver a tensão entre a palavra fechada (não passível de interpretação) versus a interpretação e, por outro lado, a rejeição da palavra “sagrada”, ou do senso comum, aceita pela maioria, através da construção de novas verdades, via filosofia, via ciência.

O que ocorre agora é que temos uma nova tecnologia que permite um novo modelo de construção da verdade, que nos remonta ao surgimento do monoteísmo. Temos uma ferramenta que descentraliza de tal forma a verdade, que nos permite viver em uma espécie de politeísmo de massa e fechar o ciclo da cultura monoteísta aberto há 6 mil anos.

Por aí, que dizes?

 

 

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