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Versão 1.0 – 16/09/13

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

Vamos balizar um pouco, mais uma vez, o mapa histórico da antropologia cognitiva, agora mais completo.

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Notem que é um mapa interessante, pois há algo muito relevante em cada um destes marcos.

Há 100 mil anos quando começamos a falar ou a deixar de utilizar uma proto-linguagem baseada em ruído, os pesquisadores (que estudam a formação dos crânios para identificar a possibilidade da fala) sentiram a necessidade de mudar o status da espécie de homo sapiens para homo sapiens sapiens.

Podemos dizer que neste longo período de cerca de 96 mil anos (do oral para a escrita) havia a dispersão da espécie em civilizações isoladas, que pouco interagiam entre si,  pois a oralidade da época se caracteriza por uma oralidade local.

Não havia como um povo saber de outro, a não ser que alguém pudesse contar.

Não havia uma centralização de conhecimento, pois a passagem era feita de boca em boca, baseada na memória, o que permitia uma modificação da mensagem a cada nova interação, o que tornava-a algo completamente fluida, líquida.

Podemos falar, assim, de uma oralidade que nos levava a uma cultura politeísta, pois as crenças, a construção da verdade não tinha uma ferramenta unificadora, centralizadora, que desse a alguém, a um determinado grupo, ou civilização o poder de pregar uma verdade a distância. Cada um ia construindo a sua verdade, na interação.

Podemos, talvez, achar civilizações monoteístas, mas eram restritas a uma determinada região. (Carece aqui de mais informações e estudos)

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O monoteísmo surge há 6 mil anos com a chegada da escrita.

Moisés ao “conversar” com Deus no alto de uma montanha desce com os 10 mandamentos debaixo do braço escritos em uma pedra. Era algo tão mágico ter a palavra registrada em uma pedra e que poderia, se copiada, ser espalhada que algo assim só poderia ser “obra de Deus”.

O monoteísmo, a meu ver, surge pelo deslumbramento tecnológico dos povos orais com a escrita. Venera-se até hoje a torá nas cerimônias judaicas desfilando-a pela sinagoga, acredito eu, não apenas pelo que nela está contida, ou tradição, mas é algo que ainda remonta da veneração, como no passado, a própria escrita algo mágico e potencializador de uma verdade única vinda de cima por alguém sagrado.

O monoteísmo serve, assim, para a espécie como um elemento potencializador de crescimento humano, pois era necessário que algumas regras fossem respeitadas (inclusive de hábitos alimentares e de higiene) e era importante que uma verdade pudesse ser aceita por mais gente, independente do local, unificando pessoas em torno de verdades aceitas pela maioria.

Verdades, diga-se, imutáveis, e não mais mutáveis pela interação.

A escrita é a tecnologia monoteísta por natureza e o monoteísmo é a expressão cultural da escrita. São dois lados da mesma moeda.

Veja que a escrita:

É algo que vem de fora, feita por alguém que não está presente e não permite que seja modificada, pois produz um registro fechado que já vem pronto.

Moisés em uma versão pop.

Moisés em uma versão pop.

O monoteísmo judaico é a base do mundo ocidental, pois consolidou a escrita, que evoluiu para o alfabeto, que influenciou os gregos (veja mais Havelock sobre isso), que desdobrou em Jesus, na “bíblia sagrada”, na Igreja, no modelo hierárquico das organizações, pós-século I, que nos trouxe até aqui.

(Anote também que o alcorão contém a mesma história: Maomé vai para uma caverna e sai de lá com versos sagrados escritos – já pós-Jesus.)

Quando queremos analisar com profundidade a chegada do Digital e da Internet temos que compreender que estamos fechando esse longo ciclo de 6 mil anos, que vai do monoteísmo mais primitivo para o monoteísmo impresso-eletrônico dos tempos atuais, migrando agora para uma cultura politeísta, não mais local, mas global, pois estamos construindo ferramentas que nos permitem construir a verdade na interação, o que antes não era possível.

Podemos dizer, assim, que desde 6 mil anos atrás, com diferentes monoteísmos criamos, condicionados pelo ambiente impresso (e depois eletrônico) uma verdade culturalmente construída da seguinte maneira:

  • – há um centro que produz as mensagens;
  • – ela é difundida pelos canais deste centro;
  • – tem pouco espaço de alteração, pois vem fechada;
  • – e estabelece um modelo de organizações, a partir dessa cultura tecno-monoteísta.

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Tal modelo pode ser agora alterado, pois temos uma nova mídia, que permite a validação da verdade de uma nova maneira, através das interações. Ou seja, a cada vez que eu interajo com um dado registro/fonte de ideias, posso qualificá-lo e registrar a sua importância. É um novo código da comunicação química, que nos abre uma nova era da espécie.

A necessidade do centro validador da verdade perde o valor que tinha antes, pois é possível saber em quem e naquilo que posso confiar não mais de cima para baixo, mas também (o que não elimina indicações de cima) de baixo para cima, de forma massiva, via comunicação química.

Essa possibilidade de uma nova construção da verdade sustentável em termos de massa é a grande mudança que estamos vivendo, pois termina a necessidade vital que tínhamos de uma cultura monoteísta validada por cima e abre uma politeísta digital, que se constrói pelas interações.

O que nos abre uma nova fase no mundo, que não é mais apenas de rompimento de um ciclo de uma tecnologia cognitiva para outra, que influencia todo o ambiente, mas de um modelo cultural baseado no monoteísmo do passado para o retorno de um politeísmo em bases completamente diferentes, que muda toda o genoma mais profundo da espécie.

Por aí,

Que dizes?

One Response to “As raízes do monoteísmo impresso-eletrônico”

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