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 Se tudo estiver dentro do mesmo paradigma, dentro do mesmo ambiente, correndo sem crises, sem fortes mudanças de cenário, as metodologias, com filosofia e teoria embutidos, ajudam bastante. Porém, quando não é este o caso, ainda mais agora diante de uma Revolução Cognitiva, as metodologias vão ficando obsoletas e precisam de uma análise e diagnóstico mais apurado. Eis o desafio atual: colocar visível nas metodologias o que hoje é completamente invisível!

Versão 1.0 – 12 de junho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Vivemos a sociedade das metodologias.

As metologias são as rainhas da atualidade, com seus famosos cases, práticas, passo-a-passos, “faz isso e faz aquilo”, “segue esse esquema”, que conseguirá e chegará no paraíso – rápido, barato e em algumas vezes. 🙂

Queremos prática para problemas práticos e operacionais, mesmo que sejam práticas que não nos levem à geração de valor, pois apesar de vivermos na dita “sociedade do conhecimento” não temos tempo para parar para pensar!

É o piloto automático que dirige a nossa vida sem direito a GPS!

Teorias, por culpa de uma academia eunuca (voltada para o próprio umbigo), acabaram virando palavrão, perda de tempo, coisas que não nos levam a lugar nenhum, que não geram valor.

Pensar metodologias sem entender as filosofias e teorias por trás é algo extremamente arriscado, pois não permite que, em casos de problemas, grandes crises, possam ser feitos diagnósticos e posterior ajustes.

Quando está tudo embutido num pacote só não conseguimos separar o que não faz mais sentido!

Incorpora-se na nossa mente como verdade, a própria realidade, algo construído por pessoas. Assim, fica difícil conseguir entender por que uma dada metodologia tem problema, pois na sua base existe algo como se fosse mágico, colocando-nos no campo da emoção, da defesa de egos dogmáticos e não no da razão.

Pior, perde-se muito dinheiro com isso sem sentir.

(Aliás, a alta taxa de invisibilidade teórica/filosófica é um dos resultados evidentes da decadência cognitiva da era Impressa/Eletrônica, que começa a chegar ao fim com a chegada da Internet.)

Porém, em toda metodologia existe uma filosofia e uma teoria embutida, como um vírus, que deve ter o mínimo de coerência com algo que podemos chamar de “realidade”.

Se a filosofia e a teoria conseguem ser eficazes (ou conseguem se aproximar de uma realidade mais possível), a metodologia ajuda-nos a ir adiante e vice-versa.

Agir, portanto, apenas baseado em metodologias é extremamente barato e eficaz, desde que você não tenha grandes guinadas no ambiente, como a que vivemos agora.

(O problema que se a tendência se consolidar de uma sociedade cada vez mais mutante, a visão metodológica pura e prática poderá não fazer sentido de forma mais duradoura.)

O vírus metodológico do jeito que está hoje (em grandes mudanças de cenário) é hoje extremamente nocivo para a sociedade!

Assim, podemos dizer que trabalhar apenas com metodologias é econômico, desde que tudo se mantenha dentro do mesmo paradigma, do mesmo ambiente, correndo sem crises, sem fortes mudanças de cenário.

Porém, quando, como agora, vivemos uma Revolução Cognitiva, as metodologias vão ficando obsoletas e nos pegam desprevenidos, pois não temos ferramental para entender o que, de fato, não está funcionando de forma adequada.

As bases começam a ruir e só se consegue um bom diagnóstico, começando de cima para baixo para revisar a metodologia, a partir da filosofia e a teoria que a sustentam.

(Ver mais esse tripé filosofia, teoria e metodologia aqui.)

Peguemos, como exemplo, a teoria da sociedade do conhecimento e a metodologia da gestão de conhecimento, que parte de uma filosofia do super-homem do conhecimento surgida no século passado.

(Detalhei mais essa questão aqui.)

A metodologia da gestão do conhecimento tem assim duas premissas que devem ser aceitas, como base para sua execução, que são os vírus filosófico e teóricos embutidos:

  • Teoria –  vivemos um momento atípico da civilização, em que o conhecimento, como nunca antes, passou a ter um caráter especial;
  • Filosofia –  por consequência, pela lógica, por algum motivo não explicado, somos a primeira geração dos super-homens do conhecimento, pois diferente do passado temos capacidade de exercer o conhecimento de uma forma mais plena.

Assim, cabe identificar se existe uma coerência entre a filosofia, a teoria e a metodologia empregada e se podemos identificar essas proposições na história e os fatores que podem nos levar a esse tipo de “hiato histórico”, algo excepcional.

A coerência teórico/filosófica não é algo abstrato, mas é uma análise criteriosa entre versões e fatos para tomada de decisão mais acertada diante de um cenário nebuloso, o que nos leva a projetos, ações, dinheiro e resultados. Como vivemos apenas planejando o dia seguinte, perde-se a oportunidade de usar esses valiosos instrumentos.

De maneira geral, como um móbile, deve-se procurar o equilíbrio e desconfiar de filosofias e teorias que não se baseiam na história, pois desequilibram o “brinquedo”.

O ser humano já tem alguns muitos milhares na estrada da vida para poder analisar os seus limites. Quando algo se propõe a mudar tudo isso deve ter uma justificativa bem forte que a sustente, argumentos válidos.

Alterações biológicas no DNA (como podemos fazer agora), por exemplo,  poderiam mudar a nossa maneira de pensar a “humanidade conhecida”.

Novos instrumentos que vasculhem a nossa mente, ou mesmo a descoberta de um universo paralelo nos faria rever muitos dos conceitos anteriores, mas são fatos bem articulados que vão nos fazer esse revisão.

Porém, tirando essa mudança biológica programada na nossa base genética e afins se até hoje não fizemos determinadas ações – é muito difícil que isso ocorra por motivos inexplicáveis agora.

Algo desse tipo teria que ter fortes argumentos do por que agora e não antes.

As bases históricas humanas devem ser sempre uma âncora para a filosofia e tudo que vem a seguir.

Alguém que diz que vamos parar de guerrear, que todos viveremos do amor, que o ódio não mais vai existir, que o ser humano vai se livrar de uma hora para outra de seus conflitos internos tomando algum tipo de elixir –  são roteiros interessantes para filmes de ficção científica, mas não para teorias com suas enormes consequências práticas na vida da sociedade.

O filósofo/teórico tem como missão analisar se no passado algo assim ocorreu e se é possível que se repita agora por motivos similares. E desconfiar fortemente de metodologias que se baseiam em falsas-premissas em super-homens, acima da nossa “humanidade conhecida”.

E essa é a base das falsas-metodologias.

Para justificá-las, é preciso criar uma falsa filosofia e uma falsa teoria sobre o humano.

Como se faz isso?

Apagando a história da nossa “natureza conhecida” para forçar uma teoria ou uma metodologia atípica, que só se mantém por atender a demandas conjunturais, mesmo que não se sustentem na lógica do que já conhecemos.

É um salva-vida para afogados, que ignoram, na sede de não afundar, argumentos mais sólidos.

Portanto, toda metodologia pouco eficaz precisa distorcer a filosofia e a teoria, esquecer a história, para se justificar e manter uma falsa coerência.

(O a-historicismo é outro ponto, aliás, que marca a decadência cognitiva que vivemos.)

Além disso, metodologias ineficazes são geralmente baseadas na visão de uma disciplina em particular, esquecendo-se que várias outras influenciam a vida humana. Desconfie de metodologias que se baseiam em uma disciplina única.

(A divisão acadêmica por assuntos isolados e não por problemas, que juntariam pesquisadores me parece uma alternativa para reduzir esse erro recorrente. Ver mais sobre nova cultura de ensino aqui)

Toma-se a parte pelo todo, a visão uni-disciplinar como se fosse multi-disciplinar.

No caso da teoria da sociedade do conhecimento e da metodologia da gestão do conhecimento peca-se pela visão estritamente econômica, deixando de fora a psicologia, a cognição, a filosofia, a comunicação, entre outros aspectos.

Deveria haver, assim, uma explicação plausível para que pudéssemos justificar o porque no século passado criamos um super-homem do conhecimento, uma sociedade do conhecimento especial e precisamos de uma gestão de conhecimento para fazer o alinhamento a esse novo mundo fora dos padrões.

Me parece que as lógicas de plantão não se sustentam com tanta força.

Uma boa dica: quando alguém ao seu lado defender a sociedade do conhecimento, pergunte:

Por que agora e não antes?

E analise a solidez da resposta.

Mas se não é isso que ocorre, precisamos colocar algo no lugar, certo?

  • Teoria -> se não é a sociedade do conhecimento, que sociedade é esta que entramos, no qual há de fato uma mudança na maneira de lidar com o conhecimento e a informação, bem como,  produção?
  • Filosofia -> Se o não somos o super-homem do conhecimento, quem somos e por que estas atuais mudanças ocorrem?
  • Metodologia -> E o que deve ser feito para nos alinharmos a elas?

Rapidamente, podemos especular para terminar:

  • Vivemos a mudança de um ambiente cognitivo baseado no papel impresso e das mídias eletrônicas para um meio digital em rede, com várias mudanças significativas – isso já ocorreu no passado e acontece agora (Lévy me parece mais consistente). O que ocorreu no século passado, podemos supor que foi a já forte influência do computador, “intangibilizando” o mundo;
  • O ser humano, assim, diferente de ser um super-homem do conhecimento é condicionado pelas mídias cognitivas e se adapta a elas, com elas se adaptam a ele (McLuhan me parece mais exato ao afirmar que “o meio é a mensagem”, ou a nossa modelagem);
  • Tais mudanças guardam uma relação com a demografia – quanto mais formos, mas sofisticadas os ambiente cognitivos terão que ser (Tenho defendido esse ponto, ajudado por Malthus e um pouco em Schumpeter);
  • E precisamos criar metodologias de alinhamento a esse mundo digital em rede, que tem uma nova cultura cognitiva, mais dinâmica, que nos permita tomar decisões mais ágeis e mais eficazes (sugerindo que projetos desse tipo sejam feitos em uma carteira de inovação, com 10% dos esforços em atividades isoladas, não intoxicadas pela cultura passada e transformadoras – ver mais aqui).

Parece que tal cenário (filosofia, teoria e metodologia) fazem mais sentido diante da história e com a possível realidade do que as outras, que são mais temporais, da moda, enfumaçadas, marqueteiras e, felizmente, passageiras.

E se tal lógica parece mais eficaz pode nos ajudar a gerar mais valor, pois tudo que é mais próximo dos fatos, nos ajuda a nos perder menos.

Ou seja, aplica-se uma outra visão e parte-se para gastar dinheiro de outra forma, com as recompensas devidas.

Como dizem:

“Nada mais prático do que uma boa teoria!”

É por aí a revisão que temos que fazer.

Sim, não é fácil, mas necessária.

É isso, que dizes?

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