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“Não é o dono de diligências que constrói ferrovias” – Schumpeter – da coleção;

Versão 1.1 – 14 de maio de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Vivemos um tempo diferente e estranho.

E para ele precisamos ter filosofias, teorias, metodologias diferentes e estranhas.

Vivemos o início de uma Revolução Cognitiva similar a chegada do livro impresso na Europa ou da escrita na Grécia antiga.

Se observamos o que ocorreu em ambos os momentos podemos ver que a humanidade deu um salto entre uma Era das ideias mais controladas para outra descontrolada, na qual uma dada estrutura de instituições consolidadas começou de forma global a perder sua posição para outra mais nova, induzida por macro movimentos dos ambientes cognitivos.

Tal momento se caracteriza pela redução do esforço (e/ou do custo) para circular ideias na sociedade. Tal redução amadurece o cidadão, cria uma nova co-relação de força entre a sociedade e as instituições e obriga a mudanças, criando novas formas de resolver velhos problemas.

Estes dois momentos foram marcados por surtos, pela ordem: tecnológico cognitivo, filosófico, de ruptura da gestão anterior e novo ciclo de consolidação, decadência, preparando a latência para uma nova Revolução Cognitiva.

Ou seja, estamos fechando uma Era de quase 500 anos, que originou a Ciência Moderna, o atual modelo de escola, as organizações, o parlamento, o capitalismo.

Estaremos revendo tudo isso, condicionados por esse novo momento, iniciando com a massificação tecnológica (que é apenas o primeiro passo), a seguir viveremos um grande questionamento do mundo atual e a formulação de novas maneiras de organizarmos a sociedade. Tal processo já começou, vide propostas na área social, política e econômica, que muitos acham inconsistentes, mas são apenas os ovos de novas aves.

Capitalismo social ou Democracia direta digital são algumas estradas que estão apenas no início da pavimentação.

E o que mudou foi a maneira da sociedade fazer a sua gestão em todos os níveis.

(Tecnologias cognitivas disruptivas têm esse poder de condicionar a sociedade de forma radical. Tal teoria elaborada por Lévy de forma clara tem o mesmo peso de mudanças teóricas na sociedade, na nossa maneira de pensar o mundo, tal como a teoria do inconsciente de Freud ou da Evolução de Darwin. Falei mais sobre isso aqui)


Em resumo, podemos dizer que a maneira de fazer a gestão atual é incompatível com 7 bilhões de habitantes.

Vamos precisar mudar tudo, já que temos agora uma nova alternativa para resolver velhos problemas.

É quase como se tivéssemos uma nova alternativa político/social que permite ver e resolver tudo de um novo jeito, dois mundos paralelos que agora estão se encontrando e convivendo – de forma estranha – e ainda não conseguiram se perceber.

Parece radical, mas é o que se observa na maneira de gestão das empresas nativas, aquelas que já nasceram nessa nova Era, que estão ganhando força e valor.

Há uma nova lógica no ar.

O que se pergunta é: como vamos lidar com isso?

E principalmente como as organizações mais estruturadas vão migrar para esse novo ambiente? Vão migrar ou vão sucumbir? Como convencer os atuais gestores do cenário? Como tornar essa visão em ação? E o que exatamente temos que fazer para continuar gerando valor?

Será que Schumpeter está correto: não serão os atuais donos de diligência que vão construir ferroviais?

Concordo com o Wall Street Journal quando diz que estamos vivendo o epicentro da maior mudança de gestão, desde que as organizações foram fundadas!

Ou seja, o ser humano vai continuar produzindo, mas de uma nova maneira e é para lá que o setor produtivo deve ir!

Nossas cabeças de semana seguinte, nossas dificuldades para o novo, nossos pilotos automáticos nos impedem de ver, aceitar e tomar atitudes em um movimento tão amplo como o atual – eis o impasse.

Não baseamos nossas decisões estratégicas em teorias, mas muito mais em sentimentos.

E essa é uma grande barreira que temos a enfrentar, com calma e persistência.

Há uma mudança profunda no aquário geral cognitivo, que é a água que mantém a sociedade viva.

  • Estamos trocando a água do aquário.
  • Antes, era um, com uma lógica.
  • Agora, é outro com uma nova lógica.

Todos os estudos teóricos nos apontam para essa direção, mas como vamos, a partir desse cenário, construir uma metodologia eficaz, criar canais para preparar gestores e operadores?

(Fiz uma reflexão sobre essa nova etapa de capacitação aqui.)

O problema é que uma nova teoria que muda tanto nossa maneira de pensar e devemos nos perguntar: como as instituições farão essa passagem da gestão dentro de uma era para outra, no qual as bases são completamente diferentes?

A saber:

  • A filosofia atual é a do lucro a qualquer preço, a nova é do lucro como um resultado social, fala-se em capitalismo cognitivo, social, colaborativo;
  • Os fluxos das decisões partem dos conselhos de administração, ou direção para baixo, no novo mundo é um diálogo em todos os níveis;
  • Na gestão atual, as organizações são redes piramidais e caminhamos para organizações em redes mais horizontais, que são mais ágeis e dinâmicas;
  • O gerenciamento do conhecimento e da informação atualmente é baseado em quanto mais controle mais tenho poder e passamos para um que se mostra mais eficaz assim: quando mais eu compartilho mais poder eu tenho;
  • Temos que incorporar em cada etapa o karma digital, que parte dos rastros deixados na rede, os processos, os documento e as pessoas.

Vejo hoje, que é natural, surgir uma “indústria digital” que promete, sem teoria ou metodologia eficaz, passar desse mundo 1.0 para o 2.0, mas como vão fazer isso se não conseguem enxergar o novo mundo de forma clara? Estão vendendo banana com gosto de melancia!

Agências, marketing, comunicação, desenvolvedores de software, que se chamam digitais, ou 2.0, estão com a cabeça da Era passada,  procurando oferecer produtos e serviços para passagem para a era nova, com empresas que não querem migrar, mas fingir que estão migrando, eis o impasse.

Seria bom, ótimo se pudéssemos manter o mundo do jeito que está, mas 7 bilhões de habitantes, um sétimo deles já conectados, não deixam.

Ou seja, essa fuga ao momento histórico não está funcionando!!!

Está se gastando dinheiro, esforços, mas os resultados são pífios!

Não é à toa que tem crescido muito os pedidos para que teóricos e pensadores, que já incorporaram a Revolução Cognitiva, sejam chamados para ajudar.

Lei da oferta e procura.

É preciso, assim, uma metodologia consistente que nos permita atuar, conforme o contexto, baseado em uma teoria mais sólida, a saber:

Uma mais geral: mudança sempre a partir da macro-estratégia de longo prazo, com a percepção da mudança, que se divide em duas opções:

a) manter a empresa atual, tentando criar bolsões de novos modelos, que possam não ser intoxicados pelos demais, possível, mas com um esforço muito maior e risco; Pergunta-se: possível? em que casos?

b) criar uma startup 2.0, a partir do zero, com tudo novo, novas cabeças, novos conceitos, novas ferramentas e ir, aos poucos, resolvendo velhos problemas de forma nova. Pergunta-se: possível? em que casos?

 Na opção “b” mais radical, estas startups irão substituir os antigos modelos.

Isso vale tanto para a iniciativa privada, como para pública, criando espaços mais participativos para que a passagem seja feita de forma mais barata possível, pois não terá indas e vindas e eficaz.

Migra-se, aos poucos, os problemas (e não os processos) para o novo ambiente.

Isso vai exigir um grande esforço para pensarmos essa nova metodologia, na qual a base é uma forte percepção teórica da passagem entre estes dois mundos.

Dentro disso, acho que o momento agora é muito mais a criação de mestrados profissionais para começar a formatar essa metodologia, procurando cases isolados, principalmente de como empresas criam startups do zero – o que não é novo – para que possamos depois pensar em MBAs e pós-graduações.

E da criação de startups, seja na área privada ou pública.

Complicado, complexo, mas é o caminho que vejo cada vez mais necessário para dar conta da onda que estão se formando.

Bem-vindo/a à complexidade do século XXI!

É isso, que dizes?

12 Responses to “Os dois mundos incompatíveis”

  1. Bruno disse:

    Nepo, sua proposta é interessante, complexa e necessária.
    Não consigo imaginar de forma muito clara como um mestrado conseguiria expandir horizontes e idéias de gestores que estão intoxicados com a era passada.

    Como entender através de um curso teórico, que uma gestão (que hoje funciona e obtém lucros) deve mudar para manter-se viva? Muitas vezes uma “gestão vitoriosa” é baseada em uma experiência de vida que até agora tem dado certo, e tal experiência envolveu uma rede piramidal de tomada de decisões, sugerir uma mudança nesse sentido vai parecer uma piada aos olhos dos mais desentendidos.

    Eu vejo que sugerir organizações com redes mais horizontais é praticamente a “morte” do “chefe”, do líder… será que isso não pode se tornar em um estado anárquico ou um caos horizontal?

  2. Bruno disse:

    !Nepo, sua proposta é interessante, complexa e necessária.
    Não consigo imaginar de forma muito clara como um mestrado conseguiria expandir horizontes e idéias de gestores que estão intoxicados com a era passada.

    Como entender através de um curso teórico, que uma gestão (que hoje funciona e obtém lucros) deve mudar para manter-se viva? Muitas vezes uma “gestão vitoriosa” é baseada em uma experiência de vida que até agora tem dado certo, e tal experiência envolveu uma rede piramidal de tomada de decisões, sugerir uma mudança nesse sentido vai parecer uma piada aos olhos dos mais desentendidos.

    Eu vejo que sugerir organizações com redes mais horizontais é praticamente a “morte” do “chefe”, do líder… será que isso não pode se tornar em um estado anárquico ou um caos horizontal?

  3. Gostei bastante da iniciativa de Start Ups para resolução de problemas pontuais que em volume, no final das contas, ajudariam muito a resolver problemas de processos internos em praticamente quase todos os tipos de problemas das áreas de uma empresa ou gestão de uma cidade, por exemplo. Acredito nisso! E acredito muito na inovação e em um pensamento econômico pensado e calcado na criatividade interligando os talentos e as ações certas no momento correto, e de maneira colaborativa, sempre. Quem joga a primeira ideia inovadora? O mais difícil é simplificar resolvendo, e é disso que o mundo precisa, sobretudo o BRASIL com o seu governo (2.0 negativos), e aos montes! Gostei muito do texto conceitual, mas pragmático para “os de atitude” e de fôlego para suar a camisa e fazer diferente.

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Bruno,

    a ideia da destruição competitiva não é nova, vem de Schumpeter…que é preciso destruir para criar, que tem ecos na psicologia, na ideia que criamos por causa da morte.

    O que é preciso é bons argumentos, trabalho árduo para conseguir comprovar que o custo/benefício vai gerar valor ao final do processo.

    Acho que a ideia de recomeçar muito mais fácil de ser comprada – inclusive por que pode-se ter investidores interessados.

    Phil, sabia que ia gostar, vamos em frente.

    Grato aos dois pelos comentários…

  5. CARLOS NEPOMUCENO, provocações interessantes.
    Não tenho muitas esperanças em mudanças vindas de dentro das estruturas atuais. Vejo mais como um jogo de ação e reação entre o estabelecido e novos atores que provocam questionamentos “ao que sempre funcionou”.
    Seguem reflexões que considero paralelas ao seu texto, bem como exemplos dos tais “novos atores”:

    Transição Organizacional | A transição da organização piramidal para a organização em rede.
    Membros: 202
    http://escoladeredes.net/group/transioorganizacional

    Era Psíquica Pós- pós- moderna # Por que o Fim da Liderança? # A gestão co-inspirativa # Os três pilares da conduta social responsável espontânea # A grande oportunidade # Nossa tarefa, nosso convite
    http://redessociaisgovernanaliderana.blogspot.com.br/2012/04/era-psiquica-pos-pos-moderna-por-que-o.html

    Dr. Bruce Lipton Ph.D. em Biologia Celular => A humanidade está à beira da Evolução Espontânea – Este livro oferece a informação, inspiração e convite para participar da maior aventura da história humana – evolução consciente!
    http://sinapsesgaia.blogspot.com.br/2012/05/dr-bruce-lipton-phd-em-biologia-celular.html

    Community
    Esta página é um espaço para discussão sobre “Internetocracia” , algo como Democracia Intensificada pela WEB
    https://www.facebook.com/InternetocraciaBrasil

    #OcupaRio – A casa caiu! Levante sua barraca # Veja como o Movimento Indignados / Occupy / Primavera Árabe está vivo e crescendo, apesar de “ter desaparecido” para a Mídia Corporativa = “Esconder informações que não interessam aos 1%”
    http://poltica20-yeswikican.blogspot.com.br/2012/05/ocupario-casa-caiu-levante-sua-barraca.html

    Abraços.

    • Carlos Nepomuceno disse:

      Claudio, concordo, acho que temos uma nova lógica…e esse post é um momento de aceitar
      que precisamos de uma nova estrutura….estou lendo “O Profeta da Inovação”, da vida de
      Schumpeter, que diz: “Não é o dono de diligências que constrói ferrovias”. Abraços,
      valeu visita e comentário, vou ler com calma os links.

  6. Nepô, estou trabalhando essas questões ao propor a conceituação de um portal para uma ONG muito influente. Me apropriei de um conceito que evoluiu no mundo corporativo, o da Arquitetura Corporativa, que neste contexto estou chamando de Arquitetura Sistêmica. Ela subordina as arquiteturas de sistemas e de dados à arquitetura de processos, que, por sua vez, eu subordino à estratégia e à arquitetura da marca (outro conceito desenvolvido no mundo corporativo, que abrange o sistema de valores, crenças, sonhos etc que deve perpassar todos os processos). Você gostaria de dar alguns pitacos nesse trabalho? Terei imenso prazer em compartilhar e receber os seus eflúvios. Em especial, o que me parece mais revolucionário é o nível que você tem trabalhado: o da revolução cognitiva, que eu posso entender também dentro de uma arquitetura de interações, que eu gostaria de poder bater bola com alguém, especialmente você. O que seria essa arquitetura de interações? Uma forma estruturada de inserir dentro dos processos toda a parafernália de curtir, comentar, rankear, atribuir rating, compartilhar, twittar etc. Ou seja, em cada um dos processos dessa ONG poder enriquecê-los com a incorporação dessas facilidades. Topa? Aí pode depois virar um post. Um abraço

  7. Carlos Nepomuceno disse:

    Sergio, me parece que temos um DNA geral nas mudanças que podemos chamar migração de organizações mais piramidais para menos piramidais, com uma nova topologia que englobe as facilidades trazidas pelo mundo 2.0. Tenho visto diferentes termos, conceitos, que caminha na mesma direção…a análise desse indiano na Folha vai nessa linha: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1089399-indiano-prega-capitalismo-consciente-contra-a-crise.shtml

    Ele fala do que precisa ser feito, mas não vê esse movimento como algo obrigatório, mas opcional, pois parte do micro para o macro e não o contrário.

    Arquitetura das interações é um bom nome, temo, apenas, cair no seguinte, que interações sempre ocorreram – não é o fato novo….mas a relação de poder que havia nas interações é o que mudou..

    Ou seja, o lado de lá tem mais poder é a interação tem que ter ida e volta…interação com diálogo….acho que Arquitetura do diálogo seria mais interessante, pois vão perguntar – por que diálogo, e terá que discutir o conceito de que as empresas estavam monologando, ou fingindo conversar, mas agora estão sendo obrigadas – diante da nova conjuntura cognitiva, aprender, de novo, a dialogar, através de um mundo mais transparente.

    Desenvolvi dois textos que ajudam nessa discussão:

    http://nepo.com.br/2012/04/25/a-diferenca-entre-silencio-conversa-e-dialogo/

    e este:

    http://nepo.com.br/2012/04/18/a-conjuntura-cognitiva/

    Vou te mandar um private para falarmos mais…

    abraços, grato pela visita e comentários.

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