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A humanidade pode ser dividida entre os que querem conversar e os que querem fazer barulho – Juliano Spyer – da coleção;

Apesar de afirmarem pelas esquinas que vivemos na sociedade do conhecimento, pouco paramos para pensar em como conhecemos e o transmitimos.

E isso é importante, fundamental, pois afia nosso instrumento mais valioso nos dias de hoje, que é a nossa capacidade cognitiva.

Noto na minha prática contínua de dar aulas, consultorias, blogar, discutir, receber feed-backs, repensar que podemos dividir esse processo cognitivo em duas etapas:

“Laboratório de percepção dos problemas” (eu e os meus botões) – local individual, no qual constantemente analisamos e reanalisamos como encaramos os problemas que escolhemos nos debruçar. Isso é um processo individual entre nosso ego e o lego, que ficam conversando e criando, superando barreiras, o senso comum geral, produzindo sensos incomuns. Neste caso, o que vai fazer a diferença é:

# tempo de reflexão sobre determinado problema;

# fontes escolhidas para atualização, as melhores são aquelas que nos tiram com mais rapidez do prumo;

# espaço de escuta dessas fontes;

# abertura para escutar e rever;

# capacidade cognitiva para linkar, criar, sintetizar e analisar o que chega.

Transmissão/sincronização/criação do discurso – ao chegarmos a algumas conclusões preliminares, naturalmente compartilhamos isso com outras pessoas e percebemos que temos que melhorar/afinar/ o discurso adaptando a cada situação e vamos aprendendo várias coisas nesse processo:

# Identificar aonde há falhas no nosso discurso, que precisa voltar para o “laboratório de percepção” e ser retrabalhado, falta consistência no nosso senso incomum, que é um eterno aprender. Deparamos com pessoas que conseguem perceber falhas, que outras não,  o que nos leva a rever alguns pontos. Ou nos trazem dados novos, por exemplo;

# Conhecer o “senso comum” das pessoas que nos questionam para poder conhecendo-o, identificá-los e afinar o discurso tornando nossa lógica mais compreensível e uma didática que ajude aos outros a superar sensos comuns;

# Aprender a criar ambientes de maior confiança onde todos possam se expressar com liberdade e de igual para igual com o coordenador de inteligência coletiva (ex-professor);

# Ordenar o que se transmite, a partir do aprendizado constante do diálogo com os diversos públicos;

# Ampliar a capacidade de escuta, aceitando e procurando avidamente possíveis falhas, buracos, deixando o ego quieto para que possamos rever mais e mais o nosso senso incomum no laboratório de percepção.

O interessante é que podemos perceber que hoje, com tanto interação e colaboração, cada vez mais nosso laboratório é invadido por questionamentos, novos dados, pontos de vistas distintos e temos que torná-lo cada vez mais dinâmico.

O tempo que havia, na mídia passada, era da consolidação e um longo tempo até uma revisão do que se consolidou.

Hoje, já escrevemos direto no Google Doc!

Não há mais tempo entre o produzir e o transimitir.

É tudo agora, para ontem!

Não se ajoelha mais para rezar.

Ser reza andando mesmo…;)

Bem como, não cabe mais uma transmissão de conhecimento vertical, pois o que se pretende é tornar o laboratório cada vez mais gasoso, como detalhei aqui.

O processo de conhecimento, portanto, mantém as duas etapas (perceber e transmitir) , mas cada vez mais elas estão se aproximando e aumentando a velocidade entre o questionar sempre e o transmitir constante.

Ganhamos em velocidade, expandimos a mente e deixamos de solidificar, consolidar, quase em um estado gasoso.

Exemplo?

Posto no blog algo novo, cinco minutos depois alguém questiona, comento, avanço, repenso….

Essa mudança de produção do conhecimento muda radicalmente a relação com nossa identidade, nosso ego.

Pois o ego é consolidante.

E egos consolidantes em um mundo gasoso não tem sentido.

É papo longo, paro por aqui.

É isso, o que dizes?

6 Responses to “As duas fases cognitivas”

  1. Ivna disse:

    Tenho 17 anos. Com esta idade já posso votar, tenho que prestar vestibular e poderia estar numa faculdade já. Por causa disso, fico analisando e vejo uma nova cobrança em cima de quem tem essa idade. Devido à nova visão das pessoas acerca das crianças e adolescentes nesses ultimos 20 anos, criadas por causa do Estatuto da Criança e Adolescente (acredito), a responsabilidade que poderiam carregar é substituída pela função de estudar. E pelo fato de sermos meros estudantes, muitas vezes deixamos de discutir sobre temas que realmente são importantes na sociedade. Aí, principalmente quando você chega no ano do vestibular, cobram de você analisar fatos e criar opiniões fora do senso comum. Isso serve para fazer uma boa redação, por exemplo. Quando li o seu artigo, notei que nele está a maior ‘pedra’ que encontro na hora de escrever. Como fugir do senso comum e criar uma opinião coerente e sólida? Identificar o senso comum as vezes não é nada fácil. Além disso, fica difícil saber se as fontes que buscamos a informação (principalmente na internet) é confiável e não tendenciosa. Outro obstáculo é que eu sempre acho que não tenho experiência de vida, que meus argumentos são sempre artificiais. Uma das explicações para isso é que o tempo para formular uma opinião é curto e se paro para pensar, logo entro em contradição. Fico me perguntando: o que fazer? O que por no papel? O que postar na internet? Acho que no momento tenho que confiar em minha base e em minha capacidade cognitiva. Sempre tentando ser o mais cautelosa possível…

  2. Nepô: fico impressionado com a velocidade entre as duas fases citadas acima (perceber e transmitir), e me preocupaca muito a relação entre as gerações BBoomers, X, Y e os Nativos Digitais dentro deste processo, “digamos assim”, evolutivo, ou até mesmo físico/quimico, se levarmos em conta as condições para “evaporação, precipitação e escoamento” do conhecimento.
    Viva o Mundo 2.0! Sucesso!

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    Ivna, suas questões são bem interessantes.

    Diria, até, que saber perguntar é a coisa mais importante para quem quer pensar diferente e escrever diferente.

    Vou detalhar o seu comentário:

    Aí, principalmente quando você chega no ano do vestibular, cobram de você analisar fatos e criar opiniões fora do senso comum. Isso serve para fazer uma boa redação, por exemplo. Quando li o seu artigo, notei que nele está a maior ‘pedra’ que encontro na hora de escrever. Como fugir do senso comum e criar uma opinião coerente e sólida?

    Diria que lendo, ouvindo e pensando.

    Comparando o que pessoas com mais experiência, mais tempo de discussão no problema que você tem mais interesse em se dedicar, falam sobre o assunto e como você se sente em relação a isso.

    Tem dúvidas?
    Concorda?
    Discorda?
    Como? Por quê?

    Um debate com pessoas próximas que se interessam por esse mesmo problema vão lhe dar a medida do que em você é senso comum, nos outros. E você poderá “incorporar” o senso incomum da pessoa mais experiente e ir formando o seu próprio.

    Isso leva tempo e é um exercício constante.

    A escrita é apenas consequência desse processo cognitivo.

    E não algo isolado.

    Identificar o senso comum as vezes não é nada fácil. Além disso, fica difícil saber se as fontes que buscamos a informação (principalmente na internet) é confiável e não tendenciosa.

    Procure palestras no Youtube sobre o tema que você escolheu de pessoas mais experientes.

    Se alguém te chamou a atenção, procure entrevistas dessa pessoa, em vídeo, áudio, na própria rede, veja textos, se tem blog, passe a acompanhar, no Twitter.

    O garimpo principal é saber que pessoas vão “fazer a sua cabeça”, ou seja, você escolhe com quem vai entrar em contato e quem tem algo interessante para dizer.

    Por fim, caso possa, vá também para fora da rede: leia livros, compre barato na Estante Virtual, procure bibliotecas, que possam aprofundar o problema que te interessa ajudar a resolver na sociedade.

    Você já escolheu os seus problemas? E quais são os pensadores interessantes que vão te levar adiante neles?

    São eles (problemas/pensadores) que vão te levar a escolher uma profissão que você ame e possa gerar valor para a sociedade e para você.

    Outro obstáculo é que eu sempre acho que não tenho experiência de vida, que meus argumentos são sempre artificiais. Uma das explicações para isso é que o tempo para formular uma opinião é curto e se paro para pensar, logo entro em contradição. Fico me perguntando: o que fazer? O que por no papel? O que postar na internet? Acho que no momento tenho que confiar em minha base e em minha capacidade cognitiva. Sempre tentando ser o mais cautelosa possível…

    Ivna, de fato, você não tem experiência, se for comparar com uma pessoa com mais idade, mas talvez tenha mais vivência se formos comparar com muitos de seus colegas com a mesma idade, vide as perguntas que me fez, que considero muito relevantes, você é curiosa, o que é meio caminho andado para chegar a um senso incomum.

    Se os seus argumentos são artificiais é por que você não está se vendo neles, falta você incluir seu sentimento, seu processo interno. Você tem que se envolver nas questões.

    Escrever de forma não artificial é se conhecer, aprofundar no mar daquilo que pensamos.

    Entrar em contradição é muito bom, pois nos faz pensar mais.

    Quando temos problemas desse tipo que você descreve com a escrita, estamos com problemas da maneira que pensamos e sentimos.

    É preciso entender que escrita-pensamento-sentimento fazem parte do mesmo processo.

    Se há problema em um, vai ter no outro.

    Recomendo o livro “Redação Inquieta”, do Gustavo Bernardo, tem na Estante Virtual baratinho, vai te fazer muito bem, abraços, grato pela visita.

    http://www.estantevirtual.com.br/q/redacao-inquieta

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Rafael, valeu visita!

  5. Marcia Bussolaro disse:

    Oi Nepô,

    Arriscando uns pitacos 😉 Trabalho na área de TI e é praticamente impossível construir algo sozinho. O “fazer junto” é vital, não tem como sobreviver sozinho. Essa questão do “perceber e transmitir” é o dia a dia do trabalho colaborativo.
    Atividades cada dia mais complexas, a velocidade das mudanças,
    aliadas à disseminação da informação faz com que as pessoas tenham que estabelecer uma relação de confiança. “Eu tenho, preciso confiar no teu trabalho senão não conseguiremos concluir a tarefa”. Para construir vc precisa do outro. O ego precisa ser domado na criação conjunta.
    Por outro lado, a confiança no outro não pode ser cega, tem que ser questionadora. Isso vai levar a outro valor: respeito. Não tem mais essa de “eu sei”, o outro também sabe ! Você confia, questiona, respeita, precisa aprender a dialogar, ouvir, saber expressar sua opinião. São valores e atitudes muito diferentes
    do que temos hoje no mercado de trabalho.
    Essa mudança na relação entre as pessoas, a meu ver, será o grande impulsionador da era do conhecimento. A partir dela mudarão os processos de produção e surgirão novas necessidades (de produtos e de conhecimento).

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