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O capitalismo não é uma coisa, mas um processo Delfim Nettoda minha coleção de frases;

Gostei bastante do texto de David Brooks sobre os dois capitalismos.

Afirma que existe o capitalismo de estado, mais fechado, do qual cita a China, Irã, Arábia Saudita e Venezuela.

(Eu incluiria, em certa medida, o Brasil, pois é para lá que estamos indo com a Dilma e mais prováveis oito anos de Lula, no pós-Dilma.)

E o capitalismo democrático, no qual estariam os países desenvolvidos, EUA, Europeus, etc.

Gosto da separação, mas acho que não vejo exatamente assim.

Não gosto dessa dicotomia Estado x Democracia.

É comparar maçã com pêra.

Prefiro classificar que existem dois capitalismo:

  • O capitalismo de estado – Um focado em um estado mais forte, protetor,  mais centralizador e mais hierárquico, geralmente mais focado em um grande líder, que tem “a missão”, o “dom”, a “razão”,  alguém planeja para os demais – próprio e aceito por uma população menos letrada, onde há grandes desníveis sociais e com menor poder aquisitivo da grande maioria.
  • O capitalismo de mercado – E outro em um estado mais horizontal, no qual as forças do mercado regulam mais o ir e vir das coisas. Que o planejamento é feito de forma menos orientada, no qual as instituições ficam acima dos líderes, na tentativa e erro vai se melhorando o conjunto – próprio e aceito por uma população mais letrada, onde há menores desníveis sociais e com mais poder aquisitivo no geral da grande maioria.

No final do artigo ele diz:

“… o capitalismo de estado pode ser o único sistema viável em lugares onde o poder descentralizado degenera em gangsterismo. (…) O capitalismo estatal toca em profundas paixões nacionalistas e oferece segurança psíquica para pessoas que detestam as tentações do capitalismo moderno “.

Diria que é preciso rever o conceito de democracia, onde há grandes desníveis sociais. Nestes casos, a população excluída tenderá a escolher um líder e, por sua vez, um estado protetor, já que estão pedindo a sua opinião, através do voto.

Acredito que a boa aceitação do Governo Lula é o reforço no Brasil do Capitalismo de Estado, da defesa de um conjunto da população que estava fora da sociedade, de uma ideia que a democracia deve prever também a inclusão social, muitas vezes relegada em quem defende só um capitalismo de mercado.

O mérito do atual governo foi dar uma prioridade ainda maior do que os anteriores vinham dando, através de uma série de medidas inclusivas, mesmo que populistas, que somado ao controle da inflação feito em governos passados, possibilitaram a inclusão de muita gente ao dito “sistema”.

Entretanto, gosto também da crítica de Eduardo Gianneti a esse atual e cada vez mais emergente capitalismo de estado brasileiro:

“O economista Raul Velloso tem um conta impressionante: a soma das pessoas que possuem rendimentos advindos de arrecadação de impostos, como funcionários públicos, beneficiários da previdência pública e os que recebem Bolsa Família, chega hoje a 40 milhões de famílias, algo como 120 milhões de pessoas. Isso dá ao Estado um poder de tutela que torna difícil para a oposição alterar”.

O que nos leva ao absurdo de vermos o sonho de todo jovem brasileiro pelos concursos e não por um projeto de carreira solo ou uma nova empresa.

Acredito, assim, que esse pêndulo radical entre o PT (capitalismo de estado) versus PSDB (capitalismo de mercado) nos leva a alguns impasses, pois os dois governos têm visões opostas na maneira de como o Brasil tem que operar.

  • Um, acredita em incluir, mas controlar ao máximo e verticalizar;
  • O outro quer horizontalizar, deixar o fluxo, mas necessariamente sem incluir.

Nota-se que com a diferença de renda atual, o projeto de capitalismo de estado do PT tende a se consolidar e ficar bastante tempo, pois como admite Brooks não existe um modelo aplicável a todos os países, mas que depende da situação da população.

Quanto mais miserável, hoje, mais Estado e proteção vai querer.

Aqui, como na maioria dos países da América Latina, os apelos de um estado protetor que tente promover a inclusão parece muito mais tentadora do que a do capitalismo de mercado, que pede invovação, empreendedorismo e risco.

Quem está na miséria não gosta de nada disso.

Se o Capitalismo de Estado resolvesse, ótimo, o problema é que com ele  vem a verticalização e o fechamento para a inovação, a redução da meritocracia, a melhoria gradual das instituições.

E aí está nosso gargalo presente e futuro.

A tese do capitalismo de estado não pode  ser usada como a única alternativa para a defesa da inclusão social.

É preciso nos situarmos no mundo que estamos saindo e para o qual estamos entrando.

A mudança na placa mãe da civilização na maneira de produzir conhecimento para um mundo de 7 bilhões nos leva a um paradoxo entre estas duas vias de capitalismo.

Estamos apostando nossas fichas, por necessidade de inclusão em um Estado-papai e centralizador, que, aparentemente tem mais preocupação inclusiva do que um “de mercado”.

Porém, ao mesmo tempo que estamos dando um remédio para a inclusão, estamos criando o veneno da centralização, da dependência e da falta de flexibilidade que exige um mundo 2.0, rápido, ágil e inovador.

A procura de um capitalismo inclusivo, nem de estado e nem de mercado, com o melhor dos dois, um ambiente empreendedor, com mais liberdade das pessoas para criar e inovar é fundamental para se sair da sinuca de bico que estamos entrando.

Ou seja, a tal porta de saída, um modelo que pudesse ser inovador e inclusivo.

Incluindo de um lado e, ao mesmo tempo, incluindo e empoderando a população, pelo outro.

Temos que procurar uma fórmula para que a nossa sociedade, com toda a dívida social que temos, consiga superar de forma criativa a passagem para um novo capitalismo sustentável, a la Brasil, sem modelos importados.

E acredito que a Internet e as redes sociais (de troca de ideias, produtos, serviços)  nos dão uma grande ferramenta para que esse projeto saia do papel, vá ao digital e retorne ao real.

Sugiro que a ideia de co-criação e de capitalismo social, defendida por Prahalah, por exemplo, como um texto base das nossas reflexões para esse Capitalismo brasileiro inclusivo, inovador e empreendedor, envolvendo ainda conceitos como o do banco popular.

Não vejo, infelizmente, ainda os candidatos a presidente com essa visão.

Que dizes?

3 Responses to “O pós-capitalismo brasileiro”

  1. Lucilia disse:

    Oi Nepô,
    Sem dúvida alguma o modelo precisa ser repensado, mas num mundo cercado por tanta complexidade como este que vivemos, não dá prá pensar na questão de forma superficial. Eu contesto, por exemplo, essa fala do Raul Velloso. A previdência pública não vive da arrecadação de impostos e sim da contribuição dos cidadãos. Aliás, neste ponto, não há mágica: se o indíviduo contribui ele leva. Se não contribui não leva. Simples assim. Eu, assim como você, me considero uma órfã do PT. Entretanto, é preciso reconhecer o valor dos investimentos feitos no governo Lula no aparelho estatal.
    Ah… tá bom, pode-se argumentar que os investimentos são parte de uma estratégia macabra para ampliação dos horizontes do estado protetor. Tudo pode ser. Mas ninguém pode negar o “quantum” de inovação existente nos atuais processsos da Petrobrás, Embrapa e em outras estatais em menor escala.
    O desejo dos meninos pelo Concurso Público, talvez venha daí. Mas te digo de cadeira, tendo coordenado a execução de 3 concursos públicos nos últimos quatro anos, que a galera não quer qq público…
    Evidentemente não tô fazendo apologia do governo Lula e muito menos do capitalismo do estado. E tb concordo que estamos longe, das soluções inclusivas e inovadoras.
    Aliás, é só olhar para as alianças políticas que estão sustentando as candidaturas da Dilma (Garotinho, Collor, Jader Barbalho, Sarney Pai e Filha, Renan Calheiros…) e do Serra (Roberto Jefferson, Roriz, Jackson Lago,…) prá ver o quanto ainda estamos longe de modelos criativos que favoreçam o capitalismo sustentável.
    Mas vamos que vamos, Nepô. Desesperar, jamais!!!!
    bjs

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Lu,

    claro que não…acredito que Lula está fazendo o que é preciso para muita gente….poderia estar dois degraus acima, querendo menos poder de curto prazo e apostando mais no futuro…mas nem todo mundo é super-homem, ou estadista…estes são raros.

    A força do estatal é algo que me preocupa, pois hoje se pede um profissional, amanhã outro, todos muito ligados ao digital…estará o serviço público preparado para tanta renovação?

    Vamos em frente….

    beijos, valeu a visita..

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    Artigo detalha mais isso e não considera o Brasil um capitalismo de estado, nem a Dilma…não concordo, mas vai…

    https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/7/9/mercado-para-fins-politicos

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