Na era em que vivemos, o que faz a diferença são o o conhecimento que as pessoas diminam e a interação entre elas, o que gera conhecimento coletivo. O decisivo é o fator humano, condição que dá a cada indivíduo o direito de sentir-se sócio e comportar-se como dono da organização onde trabalha – Emílio Odebrecht, da minha coleção de frases.
Antes de tudo, expliquemos.
Co-laborar = trabalhar junto.
Imagina-se que pode ser de forma voluntária e espontânea, mas colaborar é quando um grupo de pessoas reúne-se obrigado, ou não, a fazer um esforço comum em prol de dado objetivo.
Assim, quando vivemos a euforia da colaboração no mundo atual, temos que rever o passado, pois sempre tivemos que de alguma forma colaborar para sobreviver, mas os tipos de relação entre o mundo produtivo e os que colaboram foram mudando ao longo do tempo.
Vivemos hoje a passagem (no início dela) da relação salarial para uma nova, na qual envolveremos outros ingredientes, do tipo participação nos destinos das empresas.
Sem o trabalho coletivo nada teria sido construído no passado.
Digamos que remotamente, estabelecemos, no mundo oral, principalmente, desde os grunhidos, o trabalho de sobrevivência de cada um em prol do bando, o trabalho cooperativo tribal.
E depois, após as guerras e o aumento da tribo, estabelece-se o segundo modelo: o trabalho escravo.
Através da força.
Os escravos eram obrigados, pela imposição dos grilhões e do chicote, a colaborar para o ambiente produtivo, a despeito da sua vontade.
Digamos que a escravidão como ideologia aceitável durou até o final do século XIX, sendo o Brasil, infelizmente – e ainda como consequências visíveis – o último país do mundo a ter leis que aceitavam tal modelo.
(Isso não quer dizer que o trabalho escravo acabou no mundo, mas hoje é fora da lei.)
O capitalismo opta – por uma questão de facilidade e falta de espaço para operar no modelo escravagista – pelo novo modelo: o trabalho assalariado, pois, além de tudo precisava de consumidores para seus produtos, o que é o que nós temos, na maioria das empresas, até hoje.
O trabalho assalariado é resultado da medição do esforço, geralmente braçal, por peças, medido por tempo na empresa e pela capacidade de produção, que de forma clara faz a troca entre “x” de horas de produção = “y” de salário.
Como o trabalhador estava em uma espécie de linha de montagem, podia-se comparar fulano com beltrano, pois a produção e sua medição se davam de forma externa ao trabalhador.
Peças produzidas x horas trabalhadas.
Hoje, de certa forma, temos:
- – a valorização cada vez mais do trabalho intelectual – diante de uma tela;
- – a passagem da produção direta para os serviços, com a introdução de robôs, que passaram a fazer grande parte do trabalho assalariado do passado.
Essa mudança nos leva ao início de outro tipo, ou outro modelo de relação trabalhista, já que o modelo de relação assalariada não serve no novo ambiente, pois a diferença está na criatividade e motivação.
E nem sempre o salário nos leva a isso.
É preciso envolver a subjetividade do colaborador, o que nos remete a uma nova relação trabalhista e a um novo sistema econômico, baseado em uma nova modalidade: trabalho por adesão colaborativo.
Há a necessidade de um envolvimento maior por parte de quem trabalha e de quem emprega na relação, pois o mundo entra em outra velocidade, o que exige mudanças contínuas, na qual a criatividade (e portanto a inovação) é muito mais relevante.
Ou seja, o mundo que exigia um trabalhador que repetia; quer agora um que muda e se engaja.
Portanto, não se pode mais medir com a mesma precisão.
Os valores que passam a fazer parte do processo, são de ordem subjetiva, mudando, portanto, a forma de medição.
A pessoa vale pelo conjunto da obra, no longo prazo.
E na relação que se estabelece e não mais pelo que faz no dia-a-dia.
Perde-se também o sentido de espaço físico, horas trabalhadas.
Cada um passa a valer pelo que cria, independente as horas que está no escritório.
É fato: quem pode dizer que fulano está levando suas melhores ideias, criatividade ou relacionamento para a empresa?
É preciso, sim, como tem se feito: envolver e criar incentivos.
Mas mais do que isso.
É preciso ter um ambiente acolhedor e vários sentidos: respeito, confiança, acreditar no propósito da organização e, principalmente, princípios.
A palavra-chave, tanto para o colaborador interno, quanto para o consumidor.
Uma empresa em que eu acredite e confie.
E, de alguma forma, faça realmente parte, como sócio.
Parte-se para um misto de trabalho colaborativo e assalariado, no qual mais e mais os colaboradores devem se sentir fazendo parte da organização e isto implica em um outro modelo em relação ao capital.
Ou se é sócio também da empresa, ou ele se sentirá como assalariado.
Que é muito mais próximo do trabalho escravo e mecânico do que o colaborativo.
Na Época Negócios, 37, de março de 2010, o consultor americano Dan Pink afirma que estamos passando de empresas maximizadoras de lucros para maximizadoras de objetivos humanos.
Está dentro dessa linha.
Ele fala em três tipos de motivação:
- a 1.0 – de sobrevivência;
- a 2.0 – por recompensa (salário);
- a 3.0 – recompensa emocional.
Portanto, empresas 2.0, além da mudança de gestão do ponto de vista da relação das pessoas com a informação, com seus superiores, devem incentivar, como já fazem as empresas de ponta no mundo Web, a passagem de um mero assalariado para um acionista participativo, com cada vez mais espaço e poder de decisão nos rumos da empresa.
Se o feudalismo, foi moldado pela exploração do feudo, na relação semi ou totalmente escravagista.
E o capitalismo, pela exploração do capital, na relação salarial.
No novo sistema econômico, pós-capitalista, será baseado na colaboração intelectual e na motivação por estar construindo algo no qual esteja envolvido de forma subjetiva.
Um bom exemplo dessa tentativa de envolver de outra maneira os seguidores, pode ser vista neste trecho da matéria do Valor: https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2010/3/19/a-anestesia-do-crescimento-que-vivemos-hoje-no-brasil
Trecho:
“A motivação de funcionários nem sempre precisa estar associada a bônus em dinheiro ou aumento de salário. Excelentes resultados podem ser obtidos com custo zero para a empresa. “Saber que o seu trabalho pode fazer a diferença na vida de pessoas é muito mais efetivo para extrair o máximo da equipe do que a promessa de participação nos resultados”, diz Oscar Porto, diretor-geral da Medtronic no Brasil, fabricante de equipamentos médicos. Sua empresa organiza todo fim de ano o Holiday Program, evento criado pela companhia nos Estados Unidos, onde clientes contam aos funcionários o quanto são beneficiados pelos produtos da empresa.”
Por fim:
PS 1 – claramente, esse ambiente não valerá para todos, pois sempre terá a parcela da população que vai limpar as “privadas do mundo”. E esta tenderá a permanecer no trabalho assalariado e – em alguns caso – vide China – no escravo. Quando se analisa o quadro acima, estamos falando das locomotivas da economia;
PS 2 – O interessante que o fim – ou o início do fim das legislações permissivas do trabalho escravo – se inicia com o capitalismo. E o capitalismo se inicia com a popularização do mundo escrito, com o livro impresso.
É, portanto, plausível supor que novos ambientes de conhecimento – impulsionados por novas mídias, podem modificar as relações de trabalho.
Ou seja, uma relação entre os modelos de trabalhos e as mudanças dos ambientes de conhecimento.
Quando um muda, o outro mudaria também!
(É um tema que inicio aqui – ainda virgem – que pode dar muito pano para a manga.)
A mudança de eixo está acontecendo, mas lentamente. Minha geração (32 anos) ainda cresceu com a idéia de que trabalhar de maneira inteligente (ou seja, valorizando os moemntos em que você realmente produz) era visto como um grande pecado. O caminho para o respeito profissional eram as horas que você puxava no escritório. Trabahar duro. Inteligência na produção era vista como esperteza, coisa de vagabundo.
Ainda existem focos de resistência, mesmo nas empresas que alegam ter uma “relação construtiva com os funcionários” (e sem se perceber essas empresas os chamam de “empregados”). Mas o futuro parece bem promissor nesse sentido.
Quanto ao papel da tecnologia, vai mais além da robotização de tarefas, Nepô. Pensa na memória: quanto da nossa memória (desde a memória de dados e fatos até mesmo a memória operacional, de tarefas) hoje nós transferimos para a rede? E pensa no quanto estes aparelhos que acesam a rede estão sincronizados entre si? Nossa memória está na rede, acessível a hora que a gente quer. O movimento aí então é a gente fazer menos esforço mental para LEMBRAR, liberando energia mental para CRIAR. Esse é um salto fantástico para a gente cada vez mais se tornar um grupo de criadores somente, ao invés de jóqueis de manual.
Rodrigo, comentários:
“A mudança de eixo está acontecendo, mas lentamente”.
Concordo, pois o que é mais lento de tudo é nossa capacidade cognitiva de mudança. De um modelo “A” para um “B”.
Por mais rápida que seja a tecnologia, sempre há um ajuste naquilo que ela propicia de novas possibilidades. Que emperra na cognição.
Você diz:
“O movimento aí então é a gente fazer menos esforço mental para LEMBRAR, liberando energia mental para CRIAR. Esse é um salto fantástico para a gente cada vez mais se tornar um grupo de criadores somente, ao invés de jóqueis de manual.”
Rodrigo, interessante esta tese.
É como se estivéssemos liberando espaços – ou melhor – energias com o que guardamos para liberar mais para o que criamos. É algo a pensar….o que poderia ser uma das características adaptantes do nosso cérebro para um mundo mais populoso e, portanto, carente de inovação.
Faz sentido.
Por outro lado, as pessoas criativas deveriam ser as pessoas que não conseguem guardar muitos dados na cabeça?
Estou certo?
Bate com o perfil de muito artista que conheço.;)
E ainda:
Para criar, de alguma forma, não precisamos da memória?
De um outro tipo de memória mais volátil, mais RAM?
Vou levar comigo essa hipótese para desenvolver.
Grato pela visita e comentário,
Nepô.
Maturana / Varela falam que a inovação é uma adaptação dos organismos vivos ao meio, Nonaka / Takeuchi também neste sentido, dizem que a inovação é a solução de um conflito entre o que se sabe e o novo, dialética. Vejo que a memória é fundamental e que o tamanho da inovação é proporcional ao da memória, sem a qual estaríamos andando em círculo, reinventando a roda.
Felicidades,
Formanski
Formanki,
sim, o que você chama de memória, é tanto a que guardamos na nossa mente, como aquela que é preservada em registros.
Não sei se ” que o tamanho da inovação é proporcional ao da memória”.
Poderia detalhar mais para discutirmos?
abraços,
Nepô.
[…] O que vamos chamar de pós-capitalismo, ou capitalismo colaborativo. […]
Nepô,
Podemos observar nas pessoas que tem um tipo raro de doença onde elas tem apenas a memória recente (memória pequena), esta pessoa pergunta o seu nome e depois de alguns minutos de conversa não lembra que perguntou e pergunta novamente (reinventando a roda), isso normalmente não acontece com pessoas que não possuem esta doença (memória grande), isso é comum acontecer nas organizações. Quanto a proporção, ainda não consigo provar, é um sentimento baseado no tamanho do pólo “Conhecimento da realidade atual” versus “Visão de Futuro”, que proporciona a energia para a inovação.
Felicidades,
Formanski