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Cara a tapa


Conceitos são bons para namorar, mas não casar com eles
– Nepô – da minha coleção de frases;

Estava em uma reunião, discutindo com um grupo responsável por definir e garantir a execução de processos de trabalho dentro de uma empresa.

Avaliávamos o que significaria abrir os textos dos procedimentos –  de como as coisas devem ser feitas na organização –  para um modelo wiki, no qual aqueles que os executam os processos passassem a ter a liberdade de alterá-los diretamente na base de dados, transformando lições aprendidas em mudanças de fato.

Hoje, lá existe um circuito lento e, um pouco fechado a participações, entre o procedimento e a sua alteração.

Procura-se, entretanto, implantar um modelo 2.0 de rever procedimentos, abrindo a base de dados para modificação direta, ganhando velocidade, qualidade e inovação.

A gerente da área, super-incentivadora da iniciativa, vira e diz para sua equipe:

“Gente, não tem jeito, o nosso setor vai ter que colocar a cara a tapa”.

E eu retruquei:

“Não, o que vai ficar a tapa, para ser batido, não é o setor de vocês, mas os procedimentos!!!”

E ai tem o ponto central, o calcanhar de aquiles, da revisão a ser feita na nossa cabeça da passagem do  mundo pré-2.0 para o pós-2.0.

1- antes, alguém era responsável pelos procedimentos. Portanto, era o “dono dos procedimentos”. E qualquer alteração sugerida de mudança era assumir que o “dono” fez algo que não foi bom, ou correto. Dependendo da relação do dono com a sua segurança, auto-estima, poderia se sentir até ofendido. Brigava-se para que os procedimentos ficassem do jeito que estão, pois afinal eles são os  “meus procedimentos”;

2- essa visão, entretanto, esconde uma realidade de que os procedimentos são uma ferramenta para resolver determinados problemas. Não são, na verdade, de ninguém, pois quanto mais eficientes forem, melhor para todo mundo. No fundo, quanto mais nos separarmos deles e podemos vê-los de uma forma distante, melhor será para que possamos revisá-los;

Mas o modelo de controle informacional 1.0 nos levou a essa identificação perversa do acervo com o gestor.

A passagem do mundo do controle 1.0 para a nova forma de controle 2.0 é a mudança de que os procedimentos não pertencem a ninguém. São bolas em uma determinada mesa e todos devem lutar para que elas ajudem e não atrapalhem.

É, assim, preciso um desprendimento da relação eu-meu.

Para algo eu-nosso.

E todos contra o mal procedimento!

As raízes desse apego, entretanto, tem uma causa mais profunda.

Os procedimentos ou qualquer coisa armazenada em um dado acervo tinham um tempo longo de maturação.

Ficávamos tanto com eles que nós acostumávamos.

E, por consequência, acabávamos casando com eles.

Entretanto, agora, é necessária uma revisão na forma de nos apaixonarmos pelo conhecimento.

Hoje, é melhor nos acostumarmos muito mais a “ficar” com ideias do que mesmo  namorar ou pior: casar de papel passado com elas.

O conhecimento, ao invés de  substantivo,  sempre foi um verbo –  nós é que não víamos!!!

Hoje, precisamos encará-lo com um verbo em processo, no máximo, um substantivo prá lá de abstrato!

Estamos avançando com ele e vamos alterando, conforme vamos entrando em contato com os outros e novas visões, algo típico de um mundo novo de cada vez mais fluxos.

Portanto, hoje o  conhecimento tem se caracterizado muito mais um pão em um lago de girinos.

Rodando para continuar relevante.

Do que uma pedra no meio do lago, paradinha.

Assim, precisamos rever a nossa antiga solidificação de ideias, tanto na questão da posse como do tempo.

Quanto mais vierem nos questionar, melhor, pois mais vamos aprender.

E não o contrário.

Não sou meu conceitos, estou hoje com estes, até que algo ocorra para que eu possa evoluí-los;  E quanto mais rápido e de forma consistente, melhor!

É uma mudança radical de postura em relação ao  conhecimento aprendido.

Que mexe diretamente nas nossas inseguranças e na relação eu-meu.

É bom, assim, nos colocarmos fora do jogo o tempo todo para melhor jogar.

Os conceitos não nos pertencem, pois eles estão fora de nós!

Todos coo-vencemos uns aos outros – e e avançamos e não fulano con-venceu ciclano!

Este é o espírito, a mudança cognitiva fundamental, que está por trás do mundo 2.0, que estabelece uma nova forma de controle e da relação que tínhamos com a informação e o conhecimento.

E é o grande salto que cada um tem que individualmente se propor a fazer, se quiser jogar bem o novo jogo!

Ou seja, estabelecer uma separação do eu-com-o-meu.

E do conhecimento enquanto  verbo e não mais substantivo.

Há uma sinuca de bico casca grossa que precisa ser solucionada.

Pergunta-se: já estás com o taco na mão?

Diz…

8 Responses to “Cara a tapa”

  1. Rodrigo Leme disse:

    Nepô, excelente como sempre. Eu já convivi com procedimentos o suficiente para saber que o dono raramente é o menos capacitado para avaliá-los. Isso acontece muito por sermos também condicionados a enxergar o mundo por meio de indicadores: vendas, leads, unidades produzidas e atuar em cima destes números, e não da experiência gerada por eles.
    Eu gostaria de saber – na prática – como se aplica um conceito wiki de gestão de procedimentos. Existe algum exemplo disponível de como se constrói essa rede, em termos de dinâmica, local de acesso e níveis de permissão?

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Rodrigo,
    que eu saiba, não.
    O livro “empresa 2.0 para dummies” ainda não saiu 😉

    Eu diria algumas coisas sobre isso:

    Empresas menos monopolistas, com mais competição e necessidade de inovação, já tem algum tipo de processo mais democrático, por necessidade.

    O Wiki para estes vai ser apenas uma ferramenta facilitadora, ou seja, a tecnologia.

    Vai se ter mudanças de cabeça, mas já é prática.

    Outras empresas mais pesadonas, se quiserem migrar para esse mundo novo, vão passar por revisão de percepção e depois implantar a tecnologia.

    Não é nada de outro mundo, desde que se estabeleça os diálogos necessários para que todos passem a ver os problemas nos processos como um inimigo de todos, sem donos.

    É um jogo contra a vaidade de cada um e contra os donos dos atuais processos.

    Até aqui se vai, a implantação deve ser feita também de forma colaborativa, através de encontros focais, de conversa aberta e diálogo.

    Não tem como dar errado, se todos se engajam e pensam num bem maior.

    Estarei sendo diálogo-otimista?

    O futuro me dirá.

    E assim que aprender blogarei. 😉

    Que dizes?

  3. Alessandra disse:

    Acho que você é um otimista!
    Mas se não formos como mudaremos aquilo que está velho e ninguém se da conta?
    O mais importante nessa história é investir na mudança do eu.
    Sem o eu consciente de que nada lhe pertence de fato, o apego e a posse continuarão atrapalhando os processos.
    A empresa e as pessoas precisarão de muito trabalho e análise para evoluir e cooperar, compartilhar e dividir e principalmente se comunicar.
    Bjks,

    Alessandra

  4. Ivan Pereira disse:

    Nepô disse: — O conhecimento, ao invés de substantivo, sempre foi um verbo – nós é que não víamos!!!

    EMHO, conhecimento é, ao mesmo tempo, verbo e sustantivo. Depende do momento da constatação, porque quando se está frente ao decupar ou conceber um conhecimento temos um substantivo. Então nos afastamos, fisica ou mentalmente, e voltamos ao instante anterior, então, o conhecimento já é verbo, porque fluiu, porque em estado processual.

    Afinal, todo verbo é um processo e todo particípio passado é a sua saída, o tal “output”.

    Isto é, o conhecimento nunca é o mesmo para um mesmo indivíduo. O que determina ou informa a diferença é a capacidade perceptiva ou a aplicação de cada um. E esta diferença pode ser um avanço ou caducidade conceitual. Tudo passa… Tudo flui…

  5. Carlos Nepomuceno disse:

    Ivan, admiro sua cabeça e forma de pensar.

    Realmente, poderia dizer, concordando e discordando, que o conhecimento é um falso-substantivo.

    Todo mundo fica na arquibancada torcendo para que ele saia de falso para verdadeiro, mas ele se mostra falso.

    Pois quando ele está, digamos parado, ou em um processo solidificado, ele é um verbo enrustido, dentro de um substantivo.

    Há, porém, falsos-substantivos mais falsos do que outros, por exemplo, o conhecimento que tenho da cidade do Rio de Janeiro, que é mais falso (sólido, menos mutável) do que a minha opinião sobre a Internet, que é mais declaramente mutante, a partir dos inputs que recebo.

    Sei que você vai ser rebelar com o conceito do falso verbo, mas o que seria de um blog, que não fosse provocar os seus habitantes? 😉

    Forte abraço,

    Nepô.

  6. Ivan Pereira disse:

    Cê tá certo! Realmente, concebo a ideia de falsos verbos, porque há verbos mentirosos ou em conflito com, ou negando, uma verdade.

    Verbos são substantivos em ação ou sofrendo ação, porque todos os substantivos são elementos sistêmicos acionados ou em compasso de espera para serem alocados a um processo qualquer.

    Ora, há falsos verbos porque há falsos processos… Ou processos induzindo inverdades, como nas contrainformações com finalidade estratégica.

    Por disso há falsas-falsidades como expressão de uma linguagem dupla, ou informação contra-fluxo nas estratégias de camuflagem com o objetivo (verbo) maior e pela penetração sutil, porquanto baseada em “esclarecimentos” que nada mais são que uma tentativa de varrer as tradições filosóficas, compelindo novas distinções entre “verdade” e “falsidade”.

    Normalmente, vemos isso nas ambiguidades das dialéticas que objetivam controlar os fluxos de conhecimento e padronizar a sabedoria para controles políticos e sociais.

  7. Carlos Nepomuceno disse:

    Ivan, você pareceu o Caetano agora, são tantos não, entre não, dialéticos, que eu diria, ou não. 😉

    Valeu!

    Vamos adelante!

  8. […] Dar os produtos e os serviços a tapa para serem co-aperfeiçoados. […]

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