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“Toda história é contemporânea.” – Benedetto Croce – da minha coleção de frases.

Por indicação do prof. Marcos Veneu da Casa de Rui Barbosa, a quem recorri por e-mail, conheci Jaques Le Goff, defensor de uma nova forma de se encarar a história, que muitos chamam de a “Nova História“.

Para Le Goff:

“O passado continua sendo interpretado, sempre é urna leitura contemporânea que se faz e, na compreensão do passado, temos de integrar essa leitura renovada, sempre recomeçada”, em entrevista que pode ser lida aqui. Ou também podem ser vistas suas idéias no  livro Memória e História em texto completo.

(Aliás, descobri este site scribd.com, que tem muitos livros e artigos em texto completo. Para ler é direto, para baixar; exige cadastro gratuito.)

Ou seja, novos dados, documentos, equipamentos, fenômenos, conceitos, cabeças surgem e aparecem  que nos possibilitam olhar o passado de forma diferente.

Outra idéia interessante do autor é que não existe a história do homem, mas a história do homem em sociedade, sempre relacional.

Somos fruto do nosso meio e podemos, a partir da relação que estabelecemos com seus diferentes aspectos criar a história relacional com esse meio.

Assim, o estudo histórico seria sempre o estudo relacional do homem com alguma coisa:

  • a história da relação com a natureza;
  • a história da relação com os filhos;
  • a história da relação com o poder.
  • a história com a informação, com o conhecimento, etc ( o que é a nossa praia aqui.)

Ou seja, nunca o homem isolado. Nunca um objeto, mas sempre um em relação ao outro.

Parece óbvio, mas todas as biografias dos GRANDES mitos mostram que nem sempre se vai por esse caminho.

Essa visão nos daria sempre a possibilidade de um trabalho sistêmico, holístico e ambiental de cada estudo, analisando o geral para compreender o específico.

Ainda destaco do que li de Le Goff a idéia que o mergulho no passado deve ser feito, a partir da procura de certas regularidades, comparatismo das história das diversas sociedades e das diferentes estruturas.

Com isso, é possível procurar modelos (não necessariamente únicos) que possam explicar fatos do presente que ocorreram no passado, para que possamos melhor compreender o que ocorre hoje.

O que Le Goff nos ajuda para compreender o mundo 2.0?

  • 1- a compreensão mais ampla da Internet passa pelo estudo da evolução da relação do homem com os ambientes de conhecimento e de informação na história, que acontecem agora e aconteceram no passado;

(Vejam bem dos ambientes de conhecimento e não da história do livro, do rádio, do computador, etc,  mas da relação do ser humano com estas tecnologias, em um ambiente.)

  • 2- é preciso, então, a partir da percepção que estes ambientes de produção de conhecimento ou informação se movem, compreender seus modelos, regularidades para que possamos ter mais clareza nos movimentos atuais da Web e possíveis (vejam bem prováveis) passos futuros, a partir de modelos passados;

Assim, o estudo histórico dos ambientes de conhecimento do passado passa a ser uma releitura da sociedade, a partir de um fenômeno novo que nos mostra que o que achávamos que era montanha é vulcão.

Le Goff passa a ser mais um autor-chave para o capítulo da abordagem histórica sobre os ambientes de conhecimento da minha tese de doutorado em andamento.

Por fim, destaco o que acho que é a missão de quem quer compreender para valer a Web, a partir da história.

Le Goff:  O historiador é um “especialista das mudanças das sociedades” – e nós especialistas nas mudanças nos ambientes de conhecimento da sociedade.

E a sua função é “introduzir alguma racionalidade na história  vivida e na memória” – através de regularidades que podem nos mostrar melhor o que de fato é novo ou já aconteceu muitas vezes antes.

Indico o pensador aos amigos de jornada.

E fecho com a frase que ouvi do Prof. MarcosVasconcellos na palestra da FGV:

“Aquele que não conhece história, está condenado a repeti-la” – George Santaiana – também da minha coleção de frases.

5 Responses to “A nova lógica da história para compreender a Web”

  1. Marcelo Coelho Vieira disse:

    Entendo que estudar história deve ser sempre um exercício de entender principalmente o contexto da época, a partir daí os seus personagens e motivações (quase sempre associadas ao Poder Sócio-econômico).

    De fato concordo com a questão que, ao revisitar os fatos históricos lançando sobre eles novas luzes, podemos perceber coisas (nuances e sombras) que antes passaram despercebidas (mas que estavam lá o tempo todo).

    Assim, a história passa a ser coisa viva (os fatos são imutáveis, a interpretação deles não).

    Por fim, o entendimento do presente e uma visão do futuro passará necessariamente por uma compreensão do passado (não da “decoreba” de suas datas e personagens, mas das “entrelinhas”).

    Infelizmente vejo poucos historiadores (em especial os professores desta matéria em nossas escolas) com esta compreensão, digamos, histórica.

    É isto mesmo ou viajei demais?

  2. cnepomuceno disse:

    Marcelo, é isso aí..foi o que quis dizer, mas se ambos viajamos, não sei .;)

    abraços

    Nepomuceno

  3. Rany disse:

    E é por falta de conhecimento histórico – e sobretudo na falta de INTERESSE por ele – que vemos grandes corporações, com “super profissionais”, darem grandes passos para trás.

    Esta postura provém de muito “conhecimento-técnico-MBA” e pouco pensar nos processos de comunicação – que é o que estamos fazendo na aula.

    E vamos saindo da caverna!!

  4. cnepomuceno disse:

    Rany,

    assim espero, voltar à caverna e sairmos dela mais conscientes.

    abraços,
    Nepô.

  5. […] estudiosos da nova história admitem que temos que repensar a maneira como estudamos o […]

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