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Acabo de reler o artigo Informação, Comunicação, Conhecimento: Evolução e Perspectivas  de Amarildo José, publicado em 2007, na Revista Transinformação.

 

O texto está muito próximo da minha tese de doutorado, pois discute o papel do conhecimento e da informação, procurando uma visão histórica.

Logo no início o autor diz o seguinte:

” Pensar uma sociedade contemporânea implica, obrigatoriamente, buscar a forma como esta entende, consome e apropria-se da informação. Sob certa perspectiva, pode-se associar a evolução da sociedade ocidental, pós-Idade Média, como intimamente ligada aos diferentes processos de produção, distribuição e consumo informacional, ocorridos ao longo do tempo”.

Concordo totalmente e isso implica em se abrir um estudo – que se aprofunda em várias áreas – do papel da informação e do conhecimento nas mudanças sociais. Defendo, como o autor, que “algumas inovações tecnológica nesta área (TICs) influenciam de forma significativa o contexto social, alterando fortemente a maneira como os indivíduos passam a interagir e a integrar-se na sociedade”, (pg 40).

E mais:

” A nova base social, embora excludente por sua própria natureza, passa a ser estabelecida sobre esta nova cultura informacional, não sob alguns aspectos isolados do cotidiano, mas tornando-se o próprio suporte do novo paradigma que se estabelece. Assim, muda a forma como nos relacionamos, consumimos, trabalhamos, ou, de forma mais abrangente, como entendemos e nos relacionamos com o mundo”.

O autor aqui assume o ponto de vista que a cultura informacional é a peça-chave que possibilita as grandes mudanças sociais, que, por cima dessa nova cultura, age com suas relações de poder. É uma visão nova que ganha corpo, com as contribuições de Lévy, Castells, Barreto, entre outros.

O autor opta por fazer uma análise dessas mudanças, a partir da invenção da imprensa por Gutemberg: “Para o que nos interessa nesse estudo, podemos eleger como a primeira das grandes revoluções tecnológicas…”.

(De fato, a maior parte dos estudos, até por questões de dados, trabalham muito bem com o período pós-prensa. Mas essa influência das TICs pode ser vista, desde o surgimento da fala, da escrita, do alfabeto…)

O autor, faz o recorte a partir da prensa e afirma que:

” Mas, é a partir do aparelho de impressão de Gutemberg que a informação ganha um aspecto público, grandemente facilitado pelo barateamento e facilidade de multiplicação e circulação informacional”, pg 41.

Sim, é fato, antes da prensa havia um uso restrito dos livros feitos a mão, mas, entretanto, a informação oral, que circulava na sociedade, a meu ver, tem que ser considerada um espaço público de circulação de idéias, sem um registro formal, o que nos permite analisar as mudanças anteriores e termos ainda mais subsídios para compreender a Internet, através dos movimentos de mudanças nos ambientes de informação, comunicação e conhecimento. 

A plataforma oral ganha com o livro a possibilidade de registro em larga escala.

Como o autor destaca logo a seguir: ” A nova visão do conhecimento procura organizar, de forma lógica e sistemática, as habilidades dos antigos artesões, revestindo-as de um caráter científico utilitário, possibilitando desta forma o surgimento da educação moderna”, pg 41 e continua (…) citando Burke…”o Renascimento, a Revolução Científica e o Iluminismo – não foram nada mais que o surgimento à luz do dia (e mais especificamente em palavra impressa) de certos tipos de conhecimento popular ou prático, com a consequente legitimação por certas instituições acadêmicas”, pg 41.

O que nos dá uma idéia de uma continuidade de mudanças de diferentes plataformas que vão da entropia para a explosão da informação. Da passagem da plataforma oral para a escrita. E desta para a impressa.

O texto ainda aborda pontos interessantes como a padronização do início do capitalismo x a atual personalização. 

Gosto também desse tipo de abordagem: ” As novas tecnologias da informação acabam por influir de forma decisiva, na maneira pela qual esta passa a ser produzida e a circular.”

Esse ponto de vista nos mostra claramente que a cada nova plataforma a informação passa a circular e ser produzida de forma distinta. Como é o caso da Internet, quando ele aponta:

“(…) torna-se uma relativa ruptura com a antiga forma unidirecional da informação e sua consequente padronização de conteúdo, próprio da cultura de massa”. (pg 41).

Como o texto é ainda de 2007 e fruto da tese que deve ter começado bem antes, ao falar sobre o novo usuário ele diz “na qual o indíviduo, em muitos casos, deixa de ser apenas receptor para tornar-se um selecionador de conteúdo”, pg 41.

Eu diria mais hoje também um fornecedor de conteúdo.

A comparação entre o ambiente informacional antes da Internet e depois da Internet também está bem representado, através do quadro abaixo:

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O artigo termina, como começou, destacando a grande mudança de paradigma que teremos:

” O que muda é a forma como esta passa a circular e, portanto, a ser demandada e disponibilizada para a sociedade. Muda o tempo de distribuição, muda a simbologia de acesso e, sobretudo, muda a forma como o capital passa a ser apropriar do seu valor”, pg44.

Sugiro a leitura da tese do autor, que deu origem ao artigo citado.

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