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A quarta revolução industrial pode robotizar a humanidade” – pg.114. “A revolução industrial pode ser divisionista e desumana” pg.14 – do livro “A Quarta Revolução Industrial” de Klaus Schwab.

As duas frases expressam uma forma estereotipada de pensar o papel das tecnologias na sociedade.

Este conceito que podemos chamar de Tecnologias com Ideologia própria nos remete a ideia de que a humanidade mora numa casa e as tecnologias do lado de fora num canil.

E aí alguém chega lá, olha para dentro do canil, e diz: “cuidado com aqueles pitbulls que vocês estão criando, pois podem te morder”.

Pitbulls são seres vivos que não são humanos – tecnologias são parte da espécie humana, estão dentro e em torno de nós.

Nós somos tecnologias vivas, cercado de humanidade por todos os lados.

Não há uma casa e um canil, mas uma tecnoespécie que incorpora tecnologias na sua jornada e as civiliza no tempo.

Imaginar que há tecnologias desumanas é o mesmo que imaginar que há latidos descachorrados

Se olharmos para o passado nada foi mais radical e assustador do que o domínio da energia nuclear e a possibilidade de jogarmos bombas atômicas por aí.

Imagino que muitos Schwabs lançaram centenas de livros iguais a este.

Certamente, muitos pensadores da época – com a ideia de tecnologias ideológicas – previram que “a era nuclear pode destruir a humanidade” bem como que “pode ser divisionista e desumana”.

Se é tecnologia não tem como ser “desumana”, pois não é feita por uma outra espécie, de outro planeta, mesmo que seja por um grupo específico de pessoas, aquelas pessoas são pessoas e são humanas.

Tecnologias – todas elas – são fenômenos humanos e coletivos, pois precisam de grupos de pessoas para criá-las e desenvolvê-las. E usá-las de diferentes maneiras que serão de alguma forma civilizadas para que tenham limites.

Tecnologias não saem por aí explodindo-se atomicamente.

Elas surgem, têm um período de estranhamento (no qual perfis de pensadores no estilo Schwab assustam todo mundo para defender determinado tipo de ideologia) – e depois se tornam invisíveis mais adiante, reguladas pela lógica humana de alguma forma.

Mais um exemplo?

Aviões foram criados para transportar passageiros, depois se usou nas guerras e até para destruir as torres gêmeas.

Não podemos dizer que há um uso desumano dos aviões nas guerras, mas uso humano dos aviões de diferentes maneiras, regulados pela sociedade.

Assim como tivemos os tacapes, as flechas, as espadas, os revólveres, etc.

A ideia de Klaus Schwab é de que vivemos uma encruzilhada, na qual haverá um caminho na direção de tecnologias humanas “que podem nos levar a uma nova consciência coletiva e moral, baseada em um senso de destino comum”, pg 114.

E um outro caminho “que robotizará a humanidade e comprometerá nossas fontes tradicionais de significado – trabalho, comunidade, família e identidade” – pg 114.

O que temos aqui é uma visão centralizadora do mundo, no qual se vê uma disputa política de poder em que temos “homens maus” e “homens bons” que vão escolher um lado o outro do futuro.

E aí se cria um tal de Fórum Econômico Mundial, do qual é um dos fundadores, que vai “guiar” a humanidade contra diversos perigos, incluindo este da robotização.

Schwab, assim, transforma tecnologia em ideologia – na qual existe um caminho do bem (aquele que ele defende) e o do mal (aqueles que não concordam com seu pensamento) .

Esse tipo de visão – de uma entidade central responsável pelo destino da humanidade – é algo que lembra bem os discursos coletivistas no século passado, de um centro redentor que sabe o caminho versus a visão pró-indivíduo da ordem espontânea.

Neste último, não se tem receio de que cada indivíduo exerça a sua liberdade, pois é no somatório destas liberdades, na interação espontânea, que o ser humano consegue prosperidade e paz, civilizando, inclusive as tecnologias.

Evitando o caminho de um centro redentor que sabe o melhor caminho paras todos.

É isso, que dizes?

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