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Existem alguns níveis de reengenharia do pensamento humano.

  • Revisões metodológica bem próximas aos problemas;
  • Revisões teóricas acima das metodologias;
  • E revisões filosóficas, acima das teorias;
  • E revisões filosóficas das cosmovisões filosóficas;
  • E ainda revisões filosóficas das macro-cosmovisões filosóficas, que é o topo do topo da revisão possível feita por alguém – não existe esforço intelectual maior do que este.

Ayn Rand, assim, poderia ser definida como macro-filosofa, pois trouxe para si a tarefa de promover crítica de macro-cosmovisões filosóficas, começando com os gregos (Platão versus Aristóteles), passando pelos modernos e chegando aos contemporâneos.

Pode-se criticar a moça por vários motivos, mas, antes de tudo, é preciso compreender o desafio que abraçou para poder compará-la com outro alguém.

Note que macro-cosmovisões começam com os gregos e vêm descendo por determinados pensadores  que levam séculos ou milênios para se disseminar, virando sub-cosmovisões e se embrenharem pela sociedade em formas de agir e pensar.

Quando Rand critica as contradições e virtudes da sociedade moderna, consegue enxergar longe, pois percebe influências das grandes correntes filosóficas, causas e efeitos e onde fomos bem e mal.

É por isso que nos debates de televisão, ela sempre parece meio fora de contexto, pois está dois degraus acima, não só do senso comum, mas do senso incomum ou do hiper senso incomum.

Assim, antes de debater Ayn Rand e suas ideias é preciso situar que tipo de  intelectual ela foi: um dos raros filósofos que se propôs a debater macro-cosmovisões, ao ponto de sugerir uma própria: o objetivismo.

Rand se situa ao perceber que poderíamos dividir as sub-cosmovisões em duas linhas: coletivismo e individualismo.

Se propõe a criticar, assim, os coletivistas e suas diferentes, sub-cosmovisões: religiosas (cristianismo) e políticas (marxismo, nazismo).

E mostrar como as “boas intenções” podem resultar em ter consequências funestas.

Só nesse nível de debate você consegue juntar a causa da cosmovisão criada há milênios com as consequências que ocorrem na sociedade hoje.

Talvez, só lendo Ayn Rand, salvo engano, alguém é capaz de juntar alguns ensinamentos básicos do cristianismo com a chegada do Nazismo por causa do altruísmo (por mais incrível que isso possa parecer.)

E é por isso que a moça foi e continua sendo dinamite pura.

E mais: talvez tenha sido a primeira com viés radicalmente liberal, que tenha chegado a esse tipo de estágio de macro-abstração e, por causa disso, transformado o liberalismo de sub em macro-cosmovisão.

Assim, podemos dizer, em síntese, que Rand se propôs a duas tarefas gigantes:

  • revisar os efeitos de macro-cosmovisões, a partir de Aristóteles e Platão e as diferentes sub-cosmovisões, que vieram disso, em particular religiosas, além do socialismo e do comunismo, que chamou de coletivistas;
  • e sugerir a reorganização do que era uma sub-cosmovisão liberal, ou da cultura que se tornou hegemônica,  através do Objetivismo, que é alinhamento de várias áreas da cosmovisão liberal, ou uma macro-cosmovisão organizada.

Apresenta, assim, algo bem prático, porém extremamente profundo,  para que liberais possam debater e agir de forma filosoficamente coerente.

“Se você é liberal toma aqui uma macro-cosmovisão filosófica organizada para pensar e agir sobre o tema”.

Defendeu, assim, que a sociedade aberta e liberal precisa de um uma macro-cosmovisão que passa NECESSARIAMENTE por determinadas posturas metafísicas, epistemológicas, éticas, políticos-econômicas e artísticas.

Defende que um liberal tem que ter, antes de tudo, coerência filosófica não só para aprimorar a sociedade atual, mas defendê-la quando atacada em áreas que não se percebia antes.

Rand percebeu que a maior parte dos liberais são, no fundo,  meio liberais, ou liberar em contradição, pois não conseguem ter a dimensão filosófica do que estão REALMENTE abraçando.

Cria, assim, espécie de “sala filosófica liberal de auto-reflexão” e chama todo mundo para sentar e refletir sobre como anda pensando e agindo em vários aspectos.

No fundo, quando sugere o Objetivismo, está refundando o pensamento liberal em outras bases, através de agenda de debate e conduta de forma organizada.

Rand, por fim, tira o liberalismo do seu viés puramente econômico/político (de algo que realmente dá certo e é melhor) e coloca no alto da montanha (de um projeto humano capaz de substituir, inclusive, as religiões).

Rand é o que chamo de “monstra” intelectual, mente macro- disruptiva, que merece mergulho profundo na sua obra, pois não é algo corriqueiro e nem de leitura que caiba numa viagem de metrô.

É ponto de partida, a meu ver, para o extenso debate de revisão liberal, no terceiro ciclo, a partir do digital, que detalhei aqui no meu e-book, que acabo de reescrever:

Liberalismo 3.0:  por que vivemos hoje no Brasil um surto liberal?

É isso, que dizes?

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