Estarei no final de março proferindo palestra no 65º Encontro da ABMI – Associação Brasileira de Mercado Imobiliário, em Natal. Eis o meu primeiro estudo das macro-tendências daquele setor para as próximas décadas.
A partir das mudanças advindas da Revolução Digital, podemos analisar o futuro do setor da seguinte maneira, a
- ocupação do solo;
- construção dos imóveis;
- novas demandas dos consumidores;
- novos modelos de vendas;
- novas formas de financiamento.
Ocupação de solo:
Um dos efeitos da Revolução Digital é a possibilidade cada vez maior do trabalho a distância. De atingir grandes públicos de forma descentralizada e distribuída.
Podemos dizer que as megalópolis são filhas das limitações de mídias que tínhamos. E a tendência agora é a redução gradual e radical da necessidade de descolocamento para um determinado lugar para se trabalhar.
O conceito de qualidade de vida tende a ser cada vez mais relevante e a ideia de se ficar várias horas parado em engarrafamentos não faz parte do cardápio da nova geração.
Duas tendências:
- Forte demanda pela ocupação de novos territórios longe das grandes cidades, com acesso rápido e seguro a aeroportos e centros de reuniões centrais ou descentralizados;
- Forte tendência pela criação de bairros-cidades, que atuarão como cidades vivas onde se viverá e trabalhará, com baixo deslocamento para fora dele.
Reduz-se, assim, o conceito de bairro ou cidade dormitório.
Áreas que hoje não são valorizadas podem passar a ser e grandes oportunidades com a descentralização das megalópolis nas duas direções vão surgir.
Construção de imóveis:
Está havendo forte tendência para o uso de Inteligência Artificial, Participação de Massa e Uberização das relações trabalhistas para a construção de Imóveis.
Ao longo do tempo, a construção de imóveis tenderá a se utilizar destes três aliados:
- Inteligência Artificial, que substituirá gradualmente coordenadores e gerentes nos canteiros de obras, definindo a ordem e o ritmo das atividades;
- Uma participação muito mais efetiva e ativa dos novos proprietários no processo da obra, através de visitas programadas, acompanhamento por câmeras, etc;
- E a uberização das relações trabalhistas com trabalhadores sendo avaliados constantemente, inclusive pelos compradores, estando contratados, enquanto forem bem avaliados.
Novas demandas de consumidores:
Podemos apontar algumas macro-tendências:
- Desapego;
- Personalização;
- Sustentabilidade;
- Automação.
Desapego:
O novo consumidor estará mais voltado para usar do que ter. Esta é forte tendência, pois a mobilidade será maior e o apego que nós e nossos pais e avôs tiveram e tivemos por imóveis tende a se reduzir.
Haverá oportunidades para espaços que serão utilizados no modelo AirBnb, cada vez mais sofisticados.
Com tendência a se valorizar espaços internos para que se possa trocar constantemente de dono, quem está usando pode alugar e sair para outro usar.
Personalização:
A ideia de que todos receberão, no caso de compra, o mesmo apartamento tende a se reduzir, cada vez mais se valorizará a diversidade e se obrigará a pensar formas, viáveis economicamente, para interferência maior do consumidor na sua unidade.
A construção será uma espécie de grande base para que cada um possa desenvolver, dentro dos limites da engenharia, a sua própria unidade.
Sustentabilidade:
Mais e mais as questões ecológicas, com redução de custos, se tornarão mais e mais prementes.
Automação:
A conexão de todo o imóvel e uso intenso de aplicativos para controle de tudo será uma demanda cada vez maior.
Novos modelos de vendas:
A ideia de intermediadores tenderá a ser cada vez menos relevante, com forte tendência para a reintermediação, através de Plataformas de compra e venda, diretas entre compradores e vendedores.
Novo modelo de financiamento:
A possibilidades de fundos de micro-investidores para a construção será cada vez mais utilizado, sendo dos próprios proprietários ou apenas investidores.
Ondas:
A história demonstra que mudanças a partir da chegada das mídias não são homogêneas e nem uniformes.
Há regiões do planeta e nos países e nas cidades que são mais propícias às novas tendências e outras, ao contrário, podem radicalizar em direção ao passado.
Há risco e oportunidades nas duas pontas.
Muitos que acreditam que o futuro não virá acabam por apontar e apostar nestes bolsões reativos, porém o novo mercado tende a se tornar hegemônico mais adiante e mais investimento e retorno.
Quem sai na frente, conseguirá ter um diferencial competitivo, pois vai se aculturar antes e desenvolver processos que serão imbatíveis em relação ao modelo passado.
E acabará por ocupar o espaço de quem apostar apenas no mercado reativo. Pode-se atuar nos dois, mas sempre com consciência para onde está o futuro e o que está se tentando tirar ainda do passado.
Pela ordem, tendem a aderir primeiro às macrotendências acima apontadas:
- nova geração;
- quem tem maior poder aquisitivo;
- regiões com grande circulação de pessoas e ideias, mais afeitas à novidades;
- usuários com uso intenso das novas mídias, que passam a ser influenciados cada vez mais pelos novos paradigmas.
Assim, não procede a pergunta de quando estas tendências vão ocorrer. Já estão ocorrendo aqui e ali e abrindo oportunidades e riscos para os que atuam neste mercado.
Se pensarmos em décadas, tais tendências irão cada vez mais estar presente na vida dos nossos filhos e netos.