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(Aviso: peço aos religiosos para não confundir o conceito de Deus com Deus da sua crença pessoal ou do seu grupo. Não estou promovendo aqui debate religioso, mas de Ciências Humanas e o papel da religião na Macro-História.)

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Antes de qualquer filosofia, a placa-mãe da placa-mãe de qualquer sociedade é como se responde as antigas e permanentes frases, sempre sem resposta, de onde viemos, para onde vamos, por que estamos aqui?

Como tudo isso não tem explicação, aparece o conceito de Deus, Deuses ou Não-Deus.

É algo que constitui a identidade dos povos e das pessoas.

O que há de novo nesse debate é alguns links que podemos fazer da influência no conceito de Deus da Demografia e das Tecnologias das Trocas.

Por se algo estruturante socialmente, o conceito de Deus será mais próximos de nossas demandas civilizacionais.

Deus, a cada fase da história, será aquilo que precisamos que ele seja.

Quando vivíamos em pequenas aldeias ou em civilizações de baixa complexidade, a tendência eram vários deuses, o politeísmo, muito ligado à oralidade.

Cada tribo tinha o seu conceito de Deus, não unificado.

O aumento demográfico e a demanda de conexão cada vez maior entre as diferentes tribos, demandou o surgimento da escrita manuscrita, nova linguagem de trocas (a primeira a distância), que permitiu o surgimento do monoteísmo.

O monoteísmo só foi possível com a chegada da escrita, pois Deus psicografa para alguém (Moisés, Jesus, Maomé) e se tem um “livro sagrado”, que serve de base para a difusão daqueles ensinamentos.

Sem escrita não haveria o velho ou o novo testamento e nem o alcorão.

O monoteísmo escrito permitiu que tribos desconhecidas acreditassem no mesmo Deus, o que viabiliza civilizações maiores, pois você é diferente de mim, porém segue a filosofia do mesmo Deus.

Podemos dizer que haverá, assim, impacto com a chegada de novas linguagem, como temos agora na Revolução Digital, no conceito de Deus.

Há uma demanda hoje por um novo ciclo de descentralização política, social, religiosa, similar à chegada da prensa, quando o monoteísmo foi questionado.

Podemos defender que a chegada do Papel Impresso, em 1450, com as reformas que se seguiram, questionou pela ordem:

  • o totalitarismo violento e centralizador da Igreja Católica;
  • o papel da religião na política;
  • e a negação de várias crenças em paralelo.

De certa forma, Deus deixou de ser o elo aglutinador das tribos e isso ficou a cargo da República, com seus conceitos de liberdade de pensamento, incluindo credos.

Colocamos Deus em uma esfera mais etérea e muito menos prática e cotidiana.

Do ponto de vista de pensamento, o pai da Sociedade Moderna foi Darwin quando defendeu que o ser humano não teria vindo de Adão e Eva, mas era um processo natural de evolução.

Ou seja, não foi a criação de um centro, mas das pontas em processo descentralizado de trocas.

Essa é a base conceitual que permitiu a fusão das ideias primeiro de Adam Smith e depois de Darwin, que deu alguma validade religiosa ao capitalismo, um sistema de produção mais descentralizado.

Mais Darwinista.

Isso retirava, do ponto de vista subjetivo, o conceito de centro produtor de norma e leis e, de certa forma, admitia que a sociedade poderia se organizar de forma mais aleatória, a partir das trocas e interações.

Um conceito de Deus precisou ser superado para que o novo sistema econômico da sociedade moderna avançasse.

Sem a Prensa, não haveria Adam Smith ou Darwin e sem Darwin e Smith não haveria o liberalismo e nem república e nem capitalismo.

Houve uma descentralização do conceito de Deus para que tudo isso fosse possível!

Porém, se admitia de que, apesar de que deveria haver mais descentralização, tal processo ainda era feito por gestores de carne e osso.

Passamos para um monoteísmo organizacional, repetindo o modelo tribal do chefe, sub-chefe, curandeiro, etc nas atuais organizações modernas, que são ainda filhas da topologia da escrita.

Gestores laicos, entretanto, e não mais papas e reis escolhidos por Deus, mas pelos próprios homens e com ferramentais cada vez mais científicas.

O século XXI, entretanto, marca o final da Era Cognitiva Oral e Escrita e do que podemos chamar de Monoteísmo Escrito.

Há o o surgimento da linguagem dos ícones, que introduz na sociedade o uso intenso na área administrativa da Inteligência Artificial terá impactos profundos no conceito de Deus.

O atual Deus vai atrapalhar o avançar de tudo isso.

Haverá um novo ciclo de descentralização ainda mais radical, pois os processos terão que ganhar muito mais autonomia para as trocas. Teremos que acreditar em robôs e isso vai contra o conceito atual de Deus para muita gente.

Como o Uber, milhares de pessoas terão que ser coordenados por milhares de consumidores, gerenciadas por robôs.

Tudo isso nos faz pensar que haverá uma profunda revisão do atual conceito de Deus. A fé naquele gestor de carne e osso, que substituiu os papas e reis entra em processo de nova revisão.

Uma nova ordem artificial que não vem mais do centro e nem é apenas humana (apesar de ser feita por humanos), que ordena e organiza a sociedade precisa encontrar respaldo nas crenças.

O Deus 3.0 precisará dar lugar a algo muito mais etéreo, terá que ser muito mais artificial, descentralizado.

Ou um Não-Deus, ou multi-Deuses espalhados em diversas tribos, reduzindo bastante o espaço das religiões atuais.

Muitos dirão que vêm justamente o contrário. E têm razão.

Vemos religiões monoteístas crescendo em todos os lugares. Porém, elas não expressam o futuro. Ao contrário, querem justamente pela força impedir que este se estabeleça.

O que me deixa otimista, como demonstra a Macro-História, é de que o futuro sempre se impõem pelo convencimento e não pela força.

A força atrapalha, adia, mas não impede as  mudanças, pois as demandas obrigatórias sempre falam mais alto.

Temos 7 bilhões de almas para atender com demandas objetivas e subjetivas e isso não se resolve com reza.

O futuro para se estabelecer vai precisar rever o atual e primitivo conceito de Deus. Um Deus 3.0 será colocado no lugar.

É isso, que dizes?

 

 

 

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