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Hoje, caminhei ouvindo a entrevista de Augusto de Franco sobre educação, aqui neste link (http://www.youtube.com/watch?v=tuPvOifsXqI). 

A conversa acabou rolando, “ao vivo”, no Facebook.

Várias coisas me passam pela cabeça, já fiz um primeiro post e este é o segundo.

Como disse lá no primeiro, Augusto já está do outro lado da rebentação.

Peça fundamental para entender o mundo que estamos vivendo.

Porém, tem coisas que são diferentes nas nossas abordagens e eu gostaria de pensar um pouco sobre discordâncias aqui para incorporar mais o que ele diz e sedimentar aqui no meu discurso e tentar provoca-lo.

Talvez tenha sido o William James que problematizou que pouca gente estudou os filósofos naquilo que tinham de temperamento humano. E que muito do que pensaram se deve ao seu próprio jeito de ser, formação, cultura, etc.

Assim, conforme entro nesse mundo da interação, percebo que criamos uma espécie de colcha de retalhos paralela em que vários perfis, singularidades, vão complementando um cenário maior, ora se complementando e ora se questionando em uma tensão em que quanto mais cada um for singular melhor para os outros.

Pelo que conheço dele e isso é reforçado nessa entrevista de cima, sua abordagem é baseada fortemente na análise da rede e sua configuração, topologia, que lhe permite fazer essa análise, porém muito fortemente baseado no fenômeno atual e pouco no passado.

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Talvez a minha crítica principal a seu pensamento.

Eu já tendo mais a “beber” da Escola de Toronto, com uma abordagem mais histórica de estudos comparativos entre rupturas similares a essa que estamos passando, oral, escrita e digital, na linha inicialmente de Pierre Lévy (do livro Cibercultura) e depois do pessoal de Toronto, do qual Lévy é filho meio bastardo, tal como McLuhan, Innis, Havelock e Ong, principalmente.

Por isso, chamo de Revolução Cognitiva e, como Lévy, considero que não é a primeira.

Na entrevista, para mim, a grande novidade foi a sua problematização sobre estados-nação e o questionamento sobre seu futuro. Já tinha lido algo sobre isso em um livro pouco badalado do Lévy sobre isso “Ciberdemocracia”, em que ele defende a necessidade de uma governança mundial diante da rede e dos problemas que perpassam fronteiras.

Mas isso não é/era algo que está/estava presente no meu pensamento, no discurso do dia-a-dia. Achei que faz bastante sentido. E me inquietou a discussão sobre termos no futuro diferentes mundos. Sobre isso, não pensei muito. Talvez haja uma nova configuração, pensar, pensar, pensar.

O que me incomodou foi o fato de Augusto defender a ideia de que agora estamos em uma sociedade em rede e antes não era rede, era pirâmide, era hierarquia.

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Aqui faz falta, a meu ver, a Escola de Toronto, pois com eles aprendi que temos redes diferentes tal como a rede oral, que era mais horizontal, mas limitada ao mesmo tempo e lugar. A rede escrita depois impressa e depois eletrônica, que liberou a mensagem do tempo e lugar, mas a empacotou e a fechou. E agora a rede digital, que é um mix de tudo, de forma completamente diferente.

Note que, com isso, não estamos analisando apenas o presente, mas ganhando mais elementos para a análise com o passado.

No que tenho visto, a atual passagem, como até diz Lévy, é um resgate do mundo oral na sua troca, agora no digital, criando uma espécie de parênteses cognitivo (tem um pessoal na Dinamarca que lida com isso, da escrita impressa principalmente).

Ou seja, tivemos o oral mais horizontal, quebrado há 6 mil anos pela escrita e agora uma volta a algo oral, mas com outro perfil completamente diferente.

Não consigo, assim, ver a rede impressa-eletrônica como não rede, como ele defende.

Acredito que é uma rede centralizada, sem liberação de canais, assim como foi o pré-papel impresso.

Assim, não estaríamos entrando para uma rede e saindo da não rede. Mas saindo de uma rede centralizada para uma rede descentralizada (como o Facebook e o Youtube) e algumas experiências de redes distribuídas (tal como o P2P).

Porém, notem bem, para outro modelo de rede completamente diferente, pois as tecnologias digitais são outra coisa. É possível comparar, mas com muitas ressalvas.

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A história nos ajuda, assim, a ver outras passagens, pois quando tivemos a chegada do papel impresso, houve justamente essa abertura de novos canais de expressão, que foi de uma rede mais centralizada para uma menos centralizada, o que nos levou ao final de tudo a Revolução Francesa, passando pela renascença e iluminismo.

Por isso, que meu otimismo com a chegada da Internet é mais parcial, pois acho que há um movimento circular de abre e fecha.

Fiz, assim, uma relação entre a complexidade demográfica e os movimentos de abertura e fechamento das redes para algo mais ou menos centralizado ao longo do tempo, pois sempre há alguém que se destaca, que acaba organizando melhor as novas estruturas de poder e passa a dominar, de alguma forma, o novo meio.

Chamei isso de pêndulo cognitivo, que vai para a contração e a expansão. Na contração, a rede tende a ser mais centralizada e na expansão mais aberta, independente da tecnologia cognitiva disponível, pois sempre se encontrará um jeito de cooptá-la para os interesses particulares.

Isso pode ser uma regra?

Assim, não vejo uma expansão contínua. Isso só me veio por comparação histórica.
Percebo hoje, por exemplo, que nem bem já inauguramos a Internet e já temos os usuários todos concentrados em novas redes descentralizadas com seus canais individuais, já com um conjunto grande de problemas, tal como no Facebook e Youtube.

Mudando de assunto, gosto bastante quando ele coloca de forma limpa a crítica de que hoje temos escolas certificadoras (que ensinam de forma fechada) versus os ambientes de aprendizagem. É cristalina a ideia que ele apresenta de que a escola hoje cada vez mais será uma certificadora e não mais um espaço de aprendizado que se dá fora dela.

Fato.

Augusto me esclarece, finalmente, a diferença entre ensino (algo que vem fechado) para aprendizagem (algo que tem que ser criado) e vai na linha do espírito do tempo que está por aí em vários lugares.

Fala de algo novo que vou pesquisar mais sobre educação “interativista” ou algo assim, que é que o aprendizado tem que se dar na interação. Isso bate bem com as discussões que o psicanalista Ricardo Goldenberg fez sobre terapias abertas.

Critica a abordagem do aprendizado por problemas. Eu concordo com ele se entendermos problemas como algo que quem escolhe é alguém de cima, mas se pensarmos problemas como algo que vem debaixo e juntar isso com o interativismo, temos algo interessante.

Ele cita Manuel de Barros e saca uma frase preciosa que vou usar daqui por diante: “Tudo que eu não invento é falso”.

E coloca essa relação incestuosa que é a questão evidente de que o papel da escola atual é preparar mão de obra para a empresa atual. E digo eu: se a empresa atual pede apertadores de botões, que venham os apertadores de botões.

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Porém, não acho que é esta escola. Toda sociedade terá a escola igual aos meios produtivos. Por isso, acho que os meios produtivos vão mudar e, por sua vez, a escola.
Faria, por fim, uma única ressalva sobre as tecnologias de maneira geral.

Augusto defende que elas não provocam mudança, mas que se inserem dentro de mudanças que já estavam na sociedade. A sociedade pede que cheguem, usa a expressão “permite”.

Eu teria discordância nisso, pois não podemos falar de tecnologias de forma geral, mas separar em várias e destacar o papel das tecnologias cognitivas que são elas que dão a base para nosso cérebro criar as redes humanas.

Quando mudam, o cérebro muda e a sociedade muda, dentro da ideia da tecno-espécie. Ou seja, não podemos ver o humano como um ser sem tecnologia. Nós vivemos em uma tecno-sociedade condicionados pelos limites e possibilidades que elas oferecem a cada época, pois moldam nossa maneira de pensar e agir. Claro que com uma margem para atuarmos sobre isso.

Assim, no caso particular das tecnologias cognitivas, e isso sigo a escola de Toronto, há algo de condicionante no nosso cérebro, que não é apenas algo que a sociedade permite, sim permite também, mas há algo de independente nas tecnologias de maneira geral e nas cognitivas em particular, pois elas acabam por moldar e limitar ações por suas características.

Ou seja, é uma relação mais dialética de toma lá dá cá.

É isso.

Bom, passear com Augusto vendo o Cristo Redentor.

2 Responses to “Concordâncias e discordâncias – Dialogando com Augusto de Franco – Parte II”

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