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Anota: as ferramentas desintermediadoras da Internet não vieram melhorar o atual modelo de gestão, mas criar um novo modelo mais compatível com um mundo muito mais povoado!

Versão 1.0 – 15 de agosto de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Saiu um relevante artigo sobre a experiência do Governo do Rio Grande do Sul, na Revista PoliTICs de Maio de 2012:  “Políticas de uso de ferramentas Web 2.0“.

(Recomendo conhecer a publicação.)

O artigo narra a tentativa de usar ferramentas 2.0 no Governo Tarso Genro, através de algumas iniciativas, são elas:

  • O Governador responde – seleção de perguntas de cidadãos/cidadãs, uma é escolhida para resposta no final do mês;
  • O Governador escuta – audiências públicas, nas quaias escuta cidadãos/cidadãs;
  • Agenda colaborativa – sugestões de onde o Governador e secretário deveriam ir ou priorizar, em função dos problemas.

Criaram também contas no Twitter (1642 seguidores) e Facebook (726), em outubro de 2011.

O projeto é considerado “pioneiro” no uso das redes sociais pelo governo.

De fato, tais cases são tão raros na área pública, que sempre são bem-vindos, pois mostra a vontade de tentar. Assim,   vale cumprimentar o esforço para tentar abrir espaço do Governador para ouvir e conseguir trabalhar mais diretamente com a população.

(Bom lembrar que foi no Sul que tivemos um dos melhores exemplos de desintermediação, através dos orçamentos participativos do PT, principalmente em Porto Alegre, que acabaram sendo um pouco esquecidos.)

Porém, vou fazer um prognóstico sombrio: quanto mais sucesso tiver o atual projeto do Rio Grande do Sul, mas ele vai fracassar. Quanto mais seguidores, pedidos de audiência, de perguntas, mais frustração vai gerar.

Digamos que essa experiência denota o que podemos chamar de uso de novas tecnologias sobre um velho modelo de gestão, que não consegue mais atender a um cidadão/cidadã empoderado pelas novas mídias.

Ou seja, procura-se, melhorar a estrutura do Governo, através de maior diálogo do Governador com os cidadãos/cidadãs, via uso parcial das novas ferramentas, mas não se propõe mudar a forma de Governar – o modelo de gestão do diálogo e da informação.

Há, como acontece no blog do Planalto, outra experiência bem debatida, o espaço para a participação, para a filtragem, para a moderação, para a avaliação, para, só então, uma possível decisão diferente do Governo, que mantém a maneira de governar da mesma maneira.

Veremos que caminha-se para uma armadilha 2.0 – vou explicar por quê.

Repito: o diagnóstico do case apresentado na revista é simples e até cruel:  quanto mais o projeto crescer com este modelo informacional, ou digamos “ter sucesso”, mais vai fracassar. Ele pior será, quanto mais se massificar.

Detalhemos.

Note que o número de seguidores, tanto no Twitter, como no Facebook, comparado com os 10 milhões de moradores do estado do Rio Grande do Sul é uma ainda parcela mínima das mínimas.

(Vivemos no Brasil esse bolsão do passado, pois temos um grupo altamente conectado e a imensa maioria da população ainda na fase do analfabetismo digital – o que nos dá uma ilusão de estabilidade e de é possível algo como esse do Rio Grande do Sul.)

Imaginemos que o projeto vá ganhando adeptos e mais e mais pessoas vão sugerindo propostas e mais propostas, mas agendas, mais audiências, querendo mais e mais falar com o governador.

Aos poucos, vai se precisar de um canal de rádio, um programa de televisão, um 0800, algo como “sai da casa, não sai da casa”, no estilo do BBB.

As mídias verticais nos levam a isso, não por que elas são malvadas, são apenas as limitações de uma mídia vertical por natureza, que não nasceu para dialogar, apenas para passar uma mensagem única e fechada para milhões de pessoas.

A ideia de governar pelo diálogo hoje só é possível no Rio Grande do Sul, pois o universo dos gaúchos representados nesse diálogo é mínimo.

É como se pudéssemos viver a ilusão que o total dos gaúchos é algo em torno de 2.000 pessoas que estão no Twitter ou no Facebook.

Só que a dimensão deve ser projetada.

Como atender, com esse mesmo modelo, 10 milhões de gaúchos?

Essa é a questão.

E pergunta-se: a proposta atual 2.0 resolverá isso?

Sim, desde que vire se transforme em uma rádio e uma tevê de massa e não através de de redes do diálogo, como é a Internet.

Ou seja, estaríamos fingindo que estamos começando tudo de novo, pois a maneira de ver o problema continua a mesma, só mudaram as ferramentas, como elas hoje são ainda pouco acessadas, essa ilusão é evidente.

Imagine, portanto, que tenhamos 1 milhão de perguntas e, ao final do mês, o Governador responde a apenas uma delas, como é hoje.

Que diferença isso terá no governo e nos problemas da população?

Cada vez mais “sucesso do projeto”, em termos de número e participação, mais vai gerar frustração, que é o que está ocorrendo na maioria deles de tentativa de “diálogo digital”, com ferramentas novas, porém com pensamento de gestão antigo, tanto na área pública como na privada.

Anota: as ferramentas desintermediadoras da Internet não vieram melhorar o atual modelo de gestão, mas criar um novo modelo mais compatível com um mundo muito mais povoado!

O projeto, na metodologia atual, será cada vez mais impraticável e insustentável, pois tentará se atender muita mais gente, com ferramentas muito mais poderosas,  com as mesmas poucas pessoas.

O que vai acontecer internamente nos gestores do projeto?

O setor de mídia digital vai crescer, como já deve estar, mais e mais, tornando inviável a moderação. É o que ocorre no New York Times ao tentar moderar os comentários dos leitores.

Vai se gastar uma fortuna com resultado cada vez piores.

Mais e mais gente, fazendo cada vez mais um trabalho mais e mais de forma inútil, pois vai tentar enxugar gelo com toalha molhada.

Será um massacre da serra elétrica 2.0! 🙂

Esse, na verdade, é o impasse da nova civilização, que saltou de 1 para 7 bilhões de pessoas e precisou inventar um novo meio de interação e de gestão para sair desse macro-impasse.

O novo modelo de gestão não é apenas feito de tecnologia, mas de uma nova filosofia (desintermediadora) , uma nova teoria (de que vivemos uma ruptura informacional e de gestão radical), uma nova metodologia (de menos intermediação e mais interação direta) e novas tecnologias (plataformas colaborativas, através de algorítimos).

O nosso modelo de gestão atual vertical, baseado na “autoridade máxima” (como está no texto) está se mostrando impraticável.

Quanto mais crescer esse modelo, mais impraticável será.

Repito, o seu sucesso será o seu retumbante fracasso.

Veja que o modelo é este:

Cidadão/cidadão -> mensagem -> moderação -> Governador decide/avalia  -> responde.

Note que o modelo de gestão é igual, estamos apenas entrando com uma nova ferramenta no meio, não há nenhuma desintermediação.

O que seria diferente? E como seria diferente? E como o sucesso seria um sucesso?

 

As experiências bem sucedidas na rede, fora das organizações tradicionais, nas empresas nativas, principalmente (para onde temos que nos mirar e guiar) muda o modelo normalmente tentado. Vamos para algo adaptado ao Governo:

Cidadão/cidadão -> plataforma colaborativa -> Governador programa a plataforma para que possa atender direto o cidadão, a partir de critérios, definidos em um algorítimo da plataforma.

É a gestão da informação do Youtube, Facebook, Twitter, Wikipédia, Amazon, Estante Virtual, Mercado Livre, Camiseteria, desenvolvimento do Linux, etc, etc….ou seja desintermediação, plataforma e usuário incluindo suas demandas, geridas por algoritmos.

Se por acaso em Pelotas 23.600 pessoas apontaram um problema na cidade e isso foi considerado pela plataforma colaborativa algo relevante, as ações do Governo são direcionadas para resolver esse problema, SEM INTERMEDIAÇÃO, a não ser pelo algorítimo da plataforma colaborativa.

Anota:

ISSO NÃO PASSA PELO GOVERNADOR OU PELOS SECRETÁRIOS!!!

  • Se for manutenção, se faz direto.
  • Se for algo novo, para ser construído, entra direto no orçamento participativo digital, como novo projeto.

O papel do Governador, junto com seus secretários, passa a ser com que a nova plataforma digital colaborativa, seja bem feita, mantida e aplicada, pois terá que selecionar e priorizar entre o sem número de pedidos dos mais diferentes, que serão feitos direto na plataforma.

Deverá haver c certificação real dos cidadãos/cidadãs, estabelecer peso de cada região dentro do Estado, áreas mais ou menos prioritárias.  Ou seja, o fazer político operacional migra para o algorítimo, que passa a ser o Governador digital colaborativo, de fato e de direito.

Essa plataforma deverá poder receber pedidos, via celular, computador, quiosques, televisão digital, etc.

Com essa pressão aliviada, pode se continuar fazendo audiências colaborativas, conversar com os gaúchos, pautar as audiências isso tudo é muito bacana, mas desde que seja a cereja do bolo da interação e não o bolo inteiro!!!!

Ou seja, quanto mais gente participar da plataforma, melhor será o funcionamento da mesma, pois terá um equilíbrio entre os diferentes pedidos.

O parâmetro aqui, ao final, é o tempo x atendimento de demandas, a precisão, a redução de custo e o trabalho em larga escala: quanto mais gente, melhor!

Vai se medir o resultado, através de uma população mais participativa e melhor atendida ao longo do tempo nas suas demandas.

Assim, comprando os dois modelos:

No modelo 1, o case apresentado pelo Estado hoje, podemos dizer que:  o tempo foi pouco reduzido e as demandas não melhoraram em qualidade, que é a medição final que dever ser feita. Há limite de participação.

No modelo 2, da plataforma colaborativa – podemos dizer que: o tempo foi reduzido com demanda melhor atendida com cada vez mais gente participando. Não há limite de participação.

A diferença entre os dois modelos é a seguinte:

  • Modelo 1 – mantém o mesmo modelo de gestão com uma comunicação um pouco diferente, mais aberta, porém vertical;
  • Modelo 2 – muda o modelo de gestão, estabelecendo uma comunicação completamente diferente, em um modelo horizontal.

Obviamente, que tal projeto não pode ser feito de forma radical e implantado direto no Estado, pois é uma forte mudança cultural. A exemplo da urna eletrônica deve haver zonas de inovação 2.0 para testes, para que a experiência, a metodologia, tecnologia, filosofia sejam absorvidas por todos.

Trata-se de uma nova cultura de gestão, de desintermediação, mudando o papel do Governador de intermediador de demandas, como é hoje, para um de “apicultor” de plataforma colaborativa inteligente, que o ajudará a governar com mais eficiência.

A missão é a mesma: tratar da melhor forma possível das demandas da população, mas de uma nova maneira.

Isso vale como base para a discussão em todos os projetos que chamamos de Governo 2.0.

É isso, que dizes?

 

 

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