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 Estamos falando de códigos de redes, que estão mais abaixo do que os códigos que até então estávamos acostumados a conhecer e a gerenciar.

A expressão: “as organizações são feitas por pessoas” é interessante, mas nem sempre real.

Mais real seria dizer que as organizações são feitas, infelizmente, por poucas pessoas.

A taxa de influência das pessoas nas mudanças organizacionais varia, porém são sempre abaixo do que se gostaria para que possamos dizer que são “feitas por pessoas”.

Acredito ser mais adequado que as organizações são feitas por códigos criados e mantidos por pouca pessoas que têm o direito de alterá-los.

Quanto maior, mais antiga, vertical, fechada e menor grau de inovação do setor, mais a organização, infelizmente, condiciona seus colaboradores do que o contrário.

Isso vale para qualquer instituição, país.

Há uma tensão permanente, porém com a corda sempre é mais grossa para o lado que está mais no alto da pirâmide.

 Digamos que podemos afirmar que as pessoas são muito mais condicionadas pelas instituições de plantão do que o contrário.

Processos, regras, normas, leis, relações procedimentos internos e externos são instrumentos para a perpetuação desse condicionamento.

Assim, as instituições são feitas por processos, aos quais as pessoas nem sempre podem questionar, ou mesmo mudar.

 Mudanças organizacionais/institucionais ocorrem em contextos muito particulares, diante de conjunturas específicas, principalmente nas crises, quando mudar é o último recurso. As organizações são feitas, portanto, por processos, que condicionam às pessoas.

Por outro lado, pessoas não atuam sozinhas na sociedade, diretamente.

Por nossas mais variadas limitações, precisamos das instituições para sobreviver: família, escola, partidos, organizações públicas e privadas.

Assim, a sociedade e o ser humano são condicionados pelas instituições de plantão, com taxas variáveis, maior ou menor, conforme cada contexto.

Os processos criados e pouco mutantes das instituições, assim, condicionam a sociedade.

Até aqui, pode-se questionar a taxa, mas podemos dizer que há um nível de condicionamento.

Os mais otimistas dirão que o ser humano tem mais espaço e os pessimistas menos.

 Há, porém, nesse contexto uma nova teoria no ar na relação condicionado/condicionantes.  Lévy, se for lido nesse contexto e de forma mais detalhada, defende que as instituições sociais  são fortemente condicionadas, em alguns momentos da história, pelas topologias das redes cognitivas.  Isso é algo novo e inusitado

(Na verdade, ele fala de outra forma com outros conceitos, mas estou interpretando).

O que Lévy sugere, é que novas topologias das redes cognitivas condicionam, por baixo, de forma inapelável, as instituições e a própria sociedade.

Como vemos na figura abaixo:

As pessoas “pilotam” a redes, mas elas têm um certo grau de autonomia como agentes de mudança em separado, tirando um mito da neutralidade tecnológica, que é bem difundida.

Não saem fazendo passeata, mas criam ambientes e uma modelagem mental com as quais as passeatas pedindo mais descentralização podem ser mais facilmente feitas e desejadas, conforme conjuntura social, política e econômica.

O que é algo que vai hoje contra o senso comum, ainda mais nas Ciências Humanas.

Há uma onipotência humana  que considera o ser humano detentor de todas as possibilidades do mundo e com baixa taxa de condicionamento, ainda mais por alguma tecnologia.

Na análise das forças condicionadas e condicionantes da sociedade, teríamos, então:

 Antes da nova teoria das redes de Lévy (e vários outros):

 Instituições e seu códigos -> Humano.

 Depois:

 Nova topologia da rede ->  Instituições e seu códigos -> Humano.

 O código das redes estaria mais profundamente enraizado na sociedade e teria certa independência de ação, de influência, além daquela que imaginamos.

Ou seja, são independentes aos códigos institucionais de plantão.  A nova topologia introduz um novo código de desregulação e descentralização, vindo mais debaixo de uma área que até então estava na sombra das nossas teorias.

Quando se alteram as topologias de rede, a sociedade muda, pois passa a operar em uma nova topologia de troca, que condiciona as ações humanas, que estão mais acima.

Como isso ocorreu em momentos longínquos da história, não podíamos relacionar causa e efeito. Porém, agora estamos vivendo essa migração topológica. E tudo que altera a sociedade, deve fazer parte do radar de todos que têm que administrá-la.

Podemos dizer, assim, que os códigos institucionais atuais foram construídos em cima de uma topologia de rede passada, que conseguiu ser absorvida e “domesticada” pelas instituições, criando a sociedade que estamos acostumados. Com os novos códigos, estamos tendo mudanças que vêm de outro agente de mudança, do qual não estávamos acostumados: os códigos topológicos da rede.

Há, assim, um  gap topológico entre quem já utiliza a nova e a velha topologia e isso é a base mais complexa quando pensamos em estratégias organizacionais para fazer o alinhamento.

As organizações e seus processos atuais estão em um tipo de topologia do lado de dentro e surge uma nova topologia do lado de fora.

Quebra-se, assim, de forma inusitada, a sequência lógica e o poder das organizações sobre a sociedade e as pessoas: essa é a base para compreender uma certa autonomia de uma revolução cognitiva aos códigos institucionais atuais.

Está se formando pela nova topologia um novo humano condicionado por uma nova topologia de rede nova e virgem, antes das instituições condicionadoras (novas ou velhas) aderirem a ela e conseguirem domesticá-la para um novo ciclo de (re)  intermediação.

Dessa maneira, como dizia o “Capitão McLuhan”:  a nova topologia passa a ser a mensagem – ou melhor: a topologia agora é outra!

Há, assim, uma defasagem entre o novo humano (que já nasce no novo ambiente), que passa agora a ser recondicionado pela topologia e não mais apenas pelas instituições, criando uma crise entre os dois ambientes.

Isso ocorre mais claramente na nova geração, que vive dois mundos paralelos, entre entre duas forças condicionantes antagônicas, pois são duas topologias distintas.

Veja a figura:

As teorias de plantão sobre a sociedade, que procuram explicar o fenômeno, de maneira geral, partem do princípio anterior do condicionamento das pessoas às organizações e por isso são teorias antagônicas , pois uma não incorpora o novo agente de mudança: a topologia de a rede em mutação.

Estamos olhando, simplesmente, para códigos distintos!!!

Uma para os já conhecidos. E outra descobrindo uma camada mais abaixo: novos códigos topológicos da rede.

Estamos, portanto, claramente diante de uma ruptura paradigmática, assim como tivemos a análise da evolução por Darwin, o Inconsciente por Freud, chegamos agora a uma nova ruptura: a da influência das topologias de rede na história do mundo.

Não se pode obrigar ninguém a concordar com Lévy, mas o que ele propõe de forma clara – se for lido de forma mais aprofundada – é claramente a proposta de rever como a história muda, trazendo um novo elemento, um novo código topológico de redes, que antes estava invisível. É uma proposta de guinada no pensamento e não de continuidade do mesmo.

O que há de novo na teoria da rede cognitiva é que ela aponta um grau de condicionamento da sociedade, das instituições (organizações inclusive)  a novos códigos topológicos – um campo de estudo, de códigos mais baixos da sociedade, que, até então, não lidávamos.

E agora não só podemos conhecê-lo, como gerenciá-lo, o que nos leva a começar a pensar em uma gestão por redes, que vai lidar com esse novo campo e ajudar as instituições a poder gerenciá-lo de forma mais eficaz.

Pode-se, sim, se aceita a teoria da quebra de análise dos novos códigos topológicos, incorporar as demais teorias, rearrumando com o novo paradigma, mas não o contrário, pois trabalha-se com nova lógica, novas descobertas e novos fatores condicionantes, a partir dali, com práticas e alinhamentos bem diferentes do que estamos acostumados.

Por isso é algo mais preto no branco, pois antes era assim e agora é assado, como sugere Kuhn nas grandes rupturas paradigmáticas da ciência – considero que agora é o caso.

Ou seja, não estamos diante da revisão de duas teorias similares, que partem do mesmo paradigma e códigos, mas é a descoberta de um novo código topológico, até então desconhecido, que funda um novo paradigma teórico, que exige revisão do que pensávamos anteriormente.

Uma quebra paradigmática das forças que influenciam a história e a própria humanidade.

Agora, precisamos conhecer e tentar gerenciar em outro nível mais abaixo, o que muda completamente o alinhamento organizacional que deve ser feito depois da chegada da Web 2.0, que introduz uma nova topologia de rede.

  • De um lado está Lévy, que diz que estamos na sociedade digital em rede, pois está olhando para os códigos mais abaixo – o que nos leva para um gerenciamento de mudanças;
  • Do outro, Drucker, quando fala da sociedade do conhecimento, pois está olhando para os códigos mais acima, os organizacionais e mais conhecidos – que nos leva a outro.

(Como detalhei aqui)

Por isso, podemos falar na oposição de uma teoria à outra (sociedade do conhecimento x sociedade de uma nova topologia de rede), pois partem da observação de códigos diferentes, uma mais superficial e outra mais profunda.

Como ocorre também na medicina que estuda os códigos genéticos ou na física, ao estudarmos  os movimentos quânticos.

E é esse o centro do diagnóstico que temos que fazer n sociedade para tomar as decisões sobre o que faremos com a chegada da Web 2.0.

  • Quem trabalha no mesmo paradigma, vai para um lado, não vendo o alinhamento necessário à nova topologia;
  • Quem trabalha no outro, por lógica, acaba indo para outro, incorporando a nova topologia como premissa principal do alinhamento a ser feito.

É isso.

Que dizes?

One Response to “O gap topológico”

  1. Stephanie Malulei disse:

    Nepo,

    No caso das redes cognitivas… posso dizer que , essas, são aquelas mesmas que já evidenciava Paul Baran. Seria uma rede descentralizada?!
    Esses mesmos modelos de rede podem gerar assim o que você chama de ” mutação cognitiva” criando assim novos parâmetros para o conceito de “redes sociais” e a partir daí podemos desenvolver a relação disso com o novo modelo de gestão?!
    A mudança em todo esse processo começa a “condicionar” novos comportamentos?!

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