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“Enquanto houver separação entre o observador e a coisa observada, haverá divisão” – Krishnarmuti;

Versão 1.1 – 20 de junho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Um mundo mais conectado é muito mais dinâmico do que um menos conectado.

Um mundo mais povoado nos leva a problemas mais complexos e mais urgentes, o que acelera ainda mais a taxa de velocidade das mudanças.

Um mundo hiper-povoado e hiper-conectado acelera a demonstração de problemas, pois o que estava mais oculto na era cognitiva impressa/eletrônica está vindo à tona com força na nova era digital.

A escola atual foi concebida para um mundo com uma alta taxa de imobilidade,  de repetição e de baixa criatividade.

Um mundo da linha de montagem, baseado na hierarquia piramidal, na qual o paciente, o consumidor e o aluno, entre outros, não tinham tanta voz. Estamos passando, basicamente, para um mundo, no qual o cidadão tem mais voz do que no passado e isso muda, como toda revolução cognitiva, a maneira que estamos no mundo.

Um mundo com taxa maior de mobilidade, nos condiciona a uma escola mais criativa, pois o mundo pede mais inovação.

Não é o mercado que nos leva a uma nova escola, mas o novo mundo, no qual o mercado também está inserido, que nos coloca nesse impasse!

O ciclo dos produtos se reduziu, bem como o da duração de uma empresa – buscar sempre um novo paradigma é preciso.

Mudar ou morrer!
A escola, que é uma ferramenta humana para se viver melhor, deve ajudar a sociedade a formar um novo perfil de aluno, que possa ser mais adaptado a esse mundo mais rápido e mais líquido.

(Note bem que não é o alinhamento a um aluno com computador, mas um aluno que vive em um mundo no qual o computador acelerou as coisas e que ele precisa agir e pensar de forma diferente por causa disso para, inclusive, resolver os problemas que o computador traz.) 

Uma escola mais líquida e mais criativa nos leva necessariamente à aproximação do professor e dos alunos à uma maior modificação da realidade.

Se o aprendizado torna-se apenas um processo de transmissão de idéias, reduz-se a taxa de criatividade e aumenta-se a do adestramento.

Altas taxas de adestramento nos levam a perda da capacidade de criar.

Podemos dizer que a realidade no ambiente de aprendizado é apresentada, através do material didático, baseado em assuntos geralmente desencadeados e particionados para que se possa ter um controle e um método de ensino padronizado.

Assim, quanto maior for a separação entre o autor das ideias e o aprendizado mais alienante este será.

A migração para uma escola mais criativa passa necessariamente pela possibilidade de alteração  do material didático, a partir do diálogo estabelecido entre os alunos, guiado pelo professor (uma pessoa com mais experiência na discussão do problema em voga e especializado a facilitar a interação e recriar materiais didáticos, a partir da interação presencial e a distância).

O material didático, além de mutante, deve não mais estar focado em assuntos, mas ser direcionado para problemas.

  • Assuntos são cumulativos, não são multi-disciplinares e causam barreiras entre professores e alunos.
  • Problemas são sempre renovados, multi-disciplinares e aproximam professores e alunos.

O material didático deve passar, assim, do estado mais sólido, baseado em assuntos desconexos para um mais líquido de problemas com discliplinas encadeadas.

O material produzido por estes encontros, baseados no diálogo, devem ser armazenados de tal forma a permitir sua contínua alteração, através do uso intenso de tecnologias cognitivas colaborativas (em especial documentos wiki).

  • Os professores da escola mais sólida fizeram do material didático a sua identidade, potência.
  • Os professores da nova escola mais liquida devem fazer da recriação do material didático, da facilitação, da promoção da conversa a sua nova identidade e potência.

A escola mais liquida tem como principal missão o resgate do diálogo para recriação da realidade, produzindo constantemente um material didático também líquido e colaborativo.

Assim, existem dois tipos de tecnologias cognitivas que vão ajudar a escola mais liquida:

  • as presenciais, principalmente a fala e a escuta (tendo um espaço para registros rápidos do diálogo tal como um quadro branco, que pode ter recursos digitais);
  • e as distantes, através do computador em rede sempre voltadas para a melhoria do diálogo, através de plataformas com boa interface colaborativa, promovendo a conversa aluno-aluno (de todos que estão focadas em dado problema) e professores (de todos que estão focados em dado problema), sem distinção de idade, local, série, escola.

O uso do computador em encontros presenciais para a promoção do diálogo e recriação de material didático é um veneno.

A falta do computador para encontros não presenciais para a promoção do diálogo e recriação de material didático é um veneno.

O computador em encontros presenciais pelos alunos deve ser criteriosamente utilizado, apenas como instrumento para o ensinamento do seu próprio uso, pois, do contrário, o diálogo presencial terá muito mais dificuldade de ocorrer, devido à dispersão que ele traz para a atenção – principalmente dos mais jovens. Não acredite em geração multi-tarefa!

Sem diálogo, atenção, empenho em aprender de forma coletiva – não há escola líquida!

As tecnologias cognitivas devem, portanto, sempre estar voltadas para ajudar – e não atrapalhar o diálogo.

A nova escola mais líquida deve, assim, ajudar a formar alunos mais preparados do que os atuais a recriar a realidade mais mutante. Alunos que possam adquirir mais capacidade para se comunicar, de aprender com seus pares, recriando a realidade, em grupo, em rede, seja presencial ou a distância.

A melhor forma de fazer essa migração é através da criação de ilhas (zonas franca) de inovação, nas quais a nova cultura do diálogo deve ser criada sem a intoxicação da escola tradicional.

Ou seja, qualquer tentativa de migrar a escolha sólida para a líquida no ambiente atual será invalidada, pois a cultura anterior (atual) é muito mais dominante do que a nova, eliminando a sua eficácia e capacidade de demonstração de seus méritos. Deve-se fazer essa experiência, de tal forma, a isolar o novo do velho – pois são duas CULTURAS DE ENSINO incompatíveis entre si.

Não, não há, a médio prazo, a opção de se manter a escola sólida.

É apenas uma questão de tempo e principalmente custo (quanto mais se adiar, mais caro e menos planejada e eficaz será a migração!!!).

O mundo mudou com a chegada de um novo ambiente cognitivo (sem volta), que nos traz, cada vez mais, à tona a realidade do que, de fato, é viver com 7 bilhões de pessoas – as alegrias da diversidade e as agruras de termos que nos apertar cada vez mais.

A escola –  que é uma ferramenta para ajudar a melhorar o mundo – deve mudar da atual borboleta para um beija-flor para continuar a exercer seu importante papel.

E não, não é batendo mais a asa, ou fingindo que está beijando flores, que vamos fazer essa mudança!

É isso,

que dizes?

2 Responses to “Os desafios da escola líquida”

  1. Sergio Storch disse:

    Você foi brilhante, Nepô! Uma escola para o diálogo, e o diálogo estimulado pelos problemas, não pelos assuntos! Sua fala nos abre para novas fronteiras de questionamento:
    1. como expandir as formas de diálogo na escola (aproveitando o que vem sendo descoberto e inventado, tal como as desconferências, world cafés etc.);
    2. como criar condições para que professores, eles mesmos, se abram para o diálogo com seus pares;

    Uma grande indagação que tenho, e não me ocorre nenhuma pista, é como definir métodos de avaliação do desenvolvimento que induzam à abertura e não ao fechamento em torno da matéria, e que sejam estimulantes e não persecutórios. Você pensa entrar nisso em algum momento?

    A leitura do teu texto me valeu o dia.

    Um grande abraço
    3. como aferir as capacidades que os alunos desenvolvem, de forma para que eles mesmos se abram

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Sérgio,

    acho que o ponto principal é: estamos entrando em uma nova cultura de ensino, mudanças no ambiente cognitivo tem esse poder.

    Assim, estamos passando de uma necessidade de escola para outra.

    Diante disso, temos que rever modelos. Você pergunta:

    “1. como expandir as formas de diálogo na escola (aproveitando o que vem sendo descoberto e inventado, tal como as desconferências, world cafés etc.);”

    Sim, precisamos inventar novos métodos para que o diálogo seja feito..dentro de um material didático fluido…. são várias iniciativas..

    2. como criar condições para que professores, eles mesmos, se abram para o diálogo com seus pares;

    Bom, é uma nova geração de professores, dentro de uma nova cultura, que é muito mais estimulante…precisamos reciclar os antigos e preparar os novos – que ainda estão com essa cabeça, complementa a ideia termos zonas de inovação para experimentar o novo, isso é importante, pois não se transforma borboleta em beija-flor, apenas batendo mais a asa…

    “Uma grande indagação que tenho, e não me ocorre nenhuma pista, é como definir métodos de avaliação do desenvolvimento que induzam à abertura e não ao fechamento em torno da matéria, e que sejam estimulantes e não persecutórios. Você pensa entrar nisso em algum momento?”

    Bom, uma que tenho usado é auto-avaliação, a outra avaliação pelos pares, os próprios alunos e complementada pelo professor, note que pode-se ter o rastro da participação dos alunos nas atividades não-presenciais, o que dá a possibilidade de saber se a pessoa leu, colaborou, participou etc…isso tem que ir melhorando.

    “3. como aferir as capacidades que os alunos desenvolvem, de forma para que eles mesmos se abram”

    Acho que temos que ter espaço para que os alunos possam se auto-avaliar, avaliar o processo, os professores, tudo está em aberto…

    Vamos adelante.

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