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Aos poucos fui tentando transformar não mais as coisas, mas a mim mesmo
Herman Hesse – da minha coleção de frases;

(Atualização deste post mais antigo.)

Volta e meia me deparo com o entusiasmo dos tecno-otimistas.

Agora, foi o Gil (que é um cara espetacular) que responde sobre o assunto em  uma entrevista do Nós.

O pessoal dá uma cutucada nele e pergunta se ele não veria a web com otimismo demais?

Lembraram de algumas pimentas que fico jogando nos tecno-otimistas – só por prazer.

Já está virando um esporte aqui na rua. 🙂

Gosto do entusiasmo, mas fico provocando reflexões.

Ele, como muitos outros, estão maravilhados (e com razão) com as possibilidades da Internet.  Acabam extrapolando seu potencial e, a meu ver, por um motivo que é a confusão entre  entre os conceitos  de civilização e humanidade.

Assim, concordo com a euforia deles de que a civilização terá um upgrade com a chegada da rede.

E temos realmente motivos para comemorar e até estarmos otimistas.

Já vesti esta camisa e desfilei bastante pela rua com ela. 🙂

Que o mundo vai dar uma guinada, a meu ver, é quase uma questão matemática.

Sete bilhões de pessoas precisam de um novo ambiente de conhecimento, mais horizontal, colaborativo, o que nos fará mudar toda a sociedade.

Sem ele, não saímos da crise de invoação produtiva em que nos colocamos.

Porém, esse processo é algo que mexe com a nossa cognição, na ordem das necessidades humanas, no nosso lado material, profissional.

Ou seja, é uma necessidade, um ajuste sistêmico e não uma evolução da humanidade em si, mas uma acerto na civilização mais povoada, mantendo os seus problemas intrínsecos na relação de cada um consigo mesmo e deste com os demais.

Mais computadores, ou mais Internet, nos fará conectar mais, mas não nos leva direto à comunicação. (Leiam Dominique Wolton.)

Pelo que se vejo mais e mais por aí, ao contrário!

(Vejo mais gente plugada e se alienando, do que o contrário. Estarei pessimista viajante?)

Separaria, assim, a civilização em algo concreto e necessário para vivermos, ligado à nossa cognição, pensamento, coisas práticas a serem resolvidas, obrigação.

E a humanidade, algo que é opcional, a partir das bases estabelecidas, que nos permitiria ir além, através de uma melhoria na nossa capacidade afetiva, de relacionamento e de comunicação.

A primeira é obrigatória e a segunda opcional.

A primeira é construída ao longo dos anos.

A segunda renasce a cada dia.

A primeira é conhecimento.

A outra sabedoria.

Obviamente que quanto mais homogênea a civilização, mais humana é, mais sabedoria temos.

É uma moeda de duas faces, uma vai com a outra.

Mas apenas se conseguirmos sair da primeira, que é a mais fácil, e, paralelamente, nos ligarmos na segunda, a mais difícil.

Assim, considero que a civilização 2.0 será mais adequada ao novo número de habitantes, mas não é necessariamente melhor do que a anterior.

É mais funcional, ponto!

Apostar tudo nessa direção, é deixar de lado o esforço humano que temos que fazer em outra direção para tentar elevar a capacidade afetiva da humanidade.

E isso passa pelo desenvolvimento do autoconhecimento, das nossas capacidades afetivas, da relação saudável com o ego, através da comunicação nós com nós mesmos e com os demais.

E não é algo que se chega nunca a um lugar, é um caminho, mas que se pode pender para um lado mais humano, a cada dia, tendo uma melhoria geral,  ao longo da estrada, se refletindo na civilização de cada geração.

Ou seja, precisamos estar bem para resolver problemas.

E não resolvermos problemas para estar bem.

Ou ainda melhor, ir ficando bem e resolvendo problemas, para irmos adiante…

E com envolvimento direto nos rumos da civilização, uma dando suporte a outra, pois sem condições básicas, com fome, por exemplo, ninguém consegue ter equilíbrio.

É ser transcedental no acidental do dia-a-dia. 🙂

Difícil?

Quem disse que é fácil.

(Somos a seleção de milhares de espermatozóides que conseguiram ganhar a corrida na linha de chegada do óvulo.)

Ou seja, a cada dia deveríamos  acordar e lutar  para levar o mundo com mais afeto e não no piloto automático, como a tecnologia sozinha nos faz crer.

Esforço individual que, somado, pode vir a ser coletivo.

Com menos ego e mais sentimento.

Entre um equilíbrio do que deve ser feito com o como deve ser feito.

E este é o problema do tecno-otimismo: apostar que só a cognição vai nos salvar, como achavam, aliás, os iluministas do passado, quando surgiu o livro na sociedade.

Consideravam:

Quanto mais livro, mais culto.

E, por consequência, mais humanos seríamos.

Deu no que deu:

Hitler mandou matar milhões de dentro de sua biblioteca de 36 mil exemplares, na qual  devorava livros toda noite.

Hei Livro!

Que diz?

3 Responses to “A diferença entre civilização e humanidade”

  1. Simone Evangelista disse:

    Concordo com a dicotomia que você propõe, Nepô! No entanto, questiono os termos que voce escolheu: civilização versus humanidade. Posso estar viajando, mas, na minha opinião, a humanidade não está necessariamente atrelada à uma evolução positiva da espécie. Afinal, não seria humano (e, portanto, imperfeito) se alienar, por exemplo? A propósito, não creio que você seja pessimista, é apenas um otimista que não deixou de lado a objetividade, rs. Beijos!

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Simone, boa questão…

    acredito que humanidade…seria o coletivo humano ou
    tratar tal pessoa com mais humanidade….de forma menos agressiva, opressora, etc…

    Permitiria esses dois lados.

    E aí usaria humanidade nessa direção….dizendo que a procura de algo mais “humano” seria mais próximo do ser de cada um e menos do ego automático….

    Mas vou pensar um termo melhor…Tks

    Por enquanto, tá indo esse mesmo .;)

    Valeu visita.

  3. Mauricio Batarce disse:

    Olá caro Carlos,

    Realmente sou obrigado a concordar com boa parte do que disse e acredito que tenho lutado frequentemente para humanizar cada vez mais a comunicação pública. Como você, também sou escritor e sei que o sentimento às vezes é muito mais presente do que a fria tecnologia. Mas nesses poucos anos que atuo no setor público (três anos aproximadamente), sou obrigado a confessar: só viver do humano não dá. Tecnologia é fundamental e é uma mão na roda para nosso trabalho como comunicadores. Pelo menos aqui em Pedreira, cidade de pouco mais de 40 mil habitantes, tenho sofrido muito por essa minha tendência humanista e tenho que matar um leão por dia para tentar fazer as coisas acontecerem. Como sinto falta da santa tecnologia…

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