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Quando começamos a falar há cerca de 70 mil anos, podíamos dizer que tínhamos certa simplicidade cognitiva, pois havia apenas uma forma de comunicação entre todas as tribos e entre-tribos.

A oralidade se manteve como única forma de comunicação humana durante, pelo menos, 2/3 da nossa existência no planeta.

Criamos a escrita, há cerca de 5 mil anos,  para poder lidar com  aumento da taxa de Complexidade Demográfica.

O Sapiens –  tenho repetido isso aqui à exaustão – é a única espécie que cresce demograficamente e, por causa disso, precisa promover, de tempos em tempos, inovações na comunicação e na administração da espécie.

A escrita quebrou a barreira da oralidade do tempo e lugar e permitiu, além da construção da memória humana, que se pudesse criar novos modelos de administração mais complexos.

Não haveria Império Romano, por exemplo, sem a escrita manuscrita!

A chegada da escrita (primeiro a manuscrita e depois a impressa) sofisticou o ambiente, pois passamos a ter que lidar com duas linguagens em paralelo na sociedade:

  • Pessoas analfabetas, que não sabiam ler em sociedades que já dominavam a leitura;
  • E povos ágrafos que não dominavam a escrita e eram basicamente orais.

Quando refizermos a história, a partir dos novos conceitos da Antropologia Cognitiva (que considera a chegada das novas mídias e aumentos demográficos como eixo central das macro-mudanças humanas) precisaremos rever a história das religiões e dos modelos de governo.

Por exemplo, veremos que o Cristianismo se expandiu justamente pela difusão da Escrita Manuscrita, que permitiu o surgimento do grande Império Romano.

Roma aderiu ao Cristianismo, pois não haveria chance de haver  imperador politeísta. Era necessária a tríade: escrita  – monoteísmo – império.

E ainda que a invasão dos “bárbaros” que decreta o fim do Império Romano Ocidental (476 DC) é feita justamente por tribos ágrafas, numa luta entre duas civilizações: uma que só falava e outra que falava e escrevia.

Hoje, temos algo ainda mais complexo.

Temos duas antigas  linguagens (Oral e Escrita – vou descartar os gestos como relevante) que estão se reposicionando no novo milênio.

E ainda uma terceira, a dos cliques (binária) que está surgindo, permitindo novo modelo de administração e de sociedade.

Há uma democratização da oralidade e da escrita e, ao mesmo tempo, o uso inicial da linguagem digital dos cliques (binária), já sendo adaptada para novo modelo de administração (a Curadoria).

O nível de complexidade é muito maior, pois não temos mais penas dois mundos em paralelo (o da escrita e da oralidade) se revezando, mas agora um terceiro, dos cliques.

E mais: a oralidade e a escrita se democratizaram e isso tem forte impacto na sociedade.

O quadro é muito mais complexo do que sempre foi, compatível com  mundo de 7 bilhões de habitantes e sua imensa diversidade.

Viveremos no novo milênio com três ambientes cognitivos distintos em muitas vezes em paralelo, duelando entre si, com seus diversos representantes, com seus projetos específicos.

(O  totalitarismo islâmico e o bolivarianismo, por exemplo, são representantes típicos do pensamento oral/escrito manuscrito.)

Qualquer estudo estratégico mais eficaz do novo milênio terá  que saber analisar estas três dimensões, em separado e como se potencializam em direção à grande macrotendência do milênio: a descentralização inevitável, como detalhei aqui.

É isso, que dizes?

 

 

One Response to “A sobreposição de linguagens”

  1. […] Detalhei aqui como há, ao longo da história humana,  jogo de linguagens muito pouco estudado pelos historiadores. […]

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