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Não tenhamos ilusões, a internet não veio para salvar o mundo – José Saramago, da minha coleção de frases.

(Bom, ainda vou continuar a falar um pouco sobre as coisas que circularam na minha cabeça depois do debate da RioInfo.)

Existem algumas premissas teóricas para pensarmos sobre o papel da Internet no mundo.

  • 1– sempre vivemos em redes de conhecimento.  Tivemos a rede da fala, a rede impressa (livro industrial), do som (rádio) e da imagem (tevê). A Internet é uma evolução das anteriores, ainda mais horizontal, veloz e com mais alternativas. É a mais complexa criada, até então.
  • 2– as redes são elementos fundamentais para nossa sobrevivência e sua topologia define as estruturas de poder social. (O  novo livro do Castells que saiu fala muito sobre isso.) Muda-se a topologia, muda-se, a médio e longo prazo a gestão das instituições, de um modelo de rede mais hierárquica para outra mais descentralizada, o que chamei até de uma nova forma de abordar o problema: Gestão por rede;

  • 3– esse fenômeno, apesar de parecer espontâneo, natural e despertar o encanto, é sistêmico. Não é a primeira vez que as redes mudam sua topografia, não sera a última. Isso ocorre, a meu ver, toda vez que a quantidade de habitantes e sua demanda informacional é maior do que a capacidade da rede atual em permitir, em tempo hábil, a troca de ideias. Quanto mais formos, mais exigências teremos e mais complexos canais precisaremos para gerar inovação e novos produtos, necessitando, para isso, horizontalizar a rede, eliminando gradativamente intermediários, para abrir novas pontos de troca e reduzir a pressão pela demanda de informação;
  • 4– mudanças topográficas na rede, então, não alteram padrões humanos na relação com outros seres humanos, mudam as cognições, mas não a forma que nos relacionamos com nós mesmos. Ou seja, se apostarmos apenas na revolução social, baseado na tecnologia, teremos novas estruturas de poder renovadas, com novas injustiças, no lugar das antigas. Vale a pena brigar por elas? Claro que sim, mas são limitadas ao se pensar num cenário maior. Colocaremos mais um rei (Google, no caso, e os poderes agregados que vêm e se aliam com eles – vide China) no mesmo trono, com os nossos antigos novos problemas;

  • 5– as redes sociais na Internet, hoje tão badaladas, não são o primeiro exemplo mundial de colaboração horizontal. A rede social da escrita, do livro impresso, a partir de 1500, que nos possibilitou inventar a academia, por exemplo, tinha também seus links (citações), o somatório de experiências, um grande Orkut do papel, que mudou o mundo com ideias e, depois, produtos.

Vejam o que informa  Burke, após o surgimento do livro industrial, o que foi considerado por MacLuhan como a primeira mídia de massa, como todas as outras que vieram depois:

Cerca de três ou quatro milhões de almanaques foram impressos no século XVII na Inglaterra, bem como em Veneza, com quase dois milhões de cópias, resultando, no geral, através do trabalho de 500 editores, na produção de mais de 16 mil títulos com 18 milhões de cópias na Europa. Para comprovar a mencionada “explosão”, registra-se que, por volta de 1600, aproximadamente 400 academias haviam sido fundadas apenas na Itália e poderiam ser encontradas por toda a Europa, de Portugal à Polônia. (Uma história social do Conhecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.)

(Aliás, não existe nada mais colaborativo fora da rede do que o fazer acadêmico, com todos os seu problemas.).

Não acreditem agora que a colaboração é uma novidade. É apenas mais um movimento  necessário, como antes, para que avançássemos enquanto espécie. (Não se iludam!). Ou seja, colaborar na rede (como na academia) não nos levou ou levará a uma nova civilização.

Mas é mais um processo de troca, por necessidade, não por desprendimento, dentro de um novo suporte, a rede da vez.

Ou seja, colaborar é e sempre será utilizado para sanar problemas de sobrevivência informacional e não pode ser encarado de forma alguma como mudança filosófica da condição humana, que exige uma discussão geral e mais funda na nossa natureza, que a rede, infelizmente, não traz com ela, como o livro não trouxe!

Colabora-se por necessidade!

É preciso, assim, urgente, continuar e aprofundar o estudo histórico das  rupturas similares das redes no mundo, sem o qual não conseguiremos, nunca, ter a dimensão exata do que estamos passando, pelo que devemos acreditar e que mudanças farão realmente grande diferença para as gerações futuras, incluindo aí uma visão filosofica, mais voltada para a sabedoria no aspecto amplo do que o reducionismo do conhecimento utilitário, como vemos hoje.

Se não for assim, vamos confundir o velho que se atualiza, com o completamente novo.

E o novo que aparece nesse movimento, como algo velho.

Por enquanto, é isso!

Concordas?

Mais sobre reflexões pós RioInfo, aqui.

6 Responses to “5 verdades necessárias sobre a Internet”

  1. Pedro disse:

    Nepo, eu vejo mta gente falando em novas profissoes, podendo citar a “analista em redes sociais” como a mais nova febre.
    Na minha opinião, o cara para ser analista de redes sociais ele no minimo deveria ter uma doutorado em antropologia, sociologia ou coisa do genero
    rss

    Quando vc disse…”Se não for assim, vamos confundir o velho que se atualiza, com o completamente novo”, seria mais ou menos isso ?

    Eu lembro que me relacionava com as outras pessoas antes de orkut e do twitter rs

    Ou seja, um especialista em redes sociais seria um cara que sabe mto mais do que trabalhar com o orkut ou o facebook

    Seria uma cara com bons conhecimentos em marketing digital (analise de dados…) e principalmente conhecimentos filosoficos.

    falei mta besteira ou é mais ou menos por esse caminho ?

  2. cnepomuceno disse:

    Caro Pedro,

    agora, será necessário que as empresas tenham um profissional que fomente redes.

    Chame do jeito que quiser.

    O perfil:

    – Compreender redes humanas (RH);
    – Saber diagnosticar (RH);
    – Criar ações que facilitem que elas fluam.

    Não existe um curso de formação para isso, tem que ser inventado.

    Não, vc não falou besteiro, trouxe questões intessantes, grato pela visita,

    Nepô.

  3. Marcos Carneiro da Silva disse:

    Caro Nepumeceno. O que você tem a dizer sobre a gestão do conhecimento no âmbito da tecnologia da informação. Marcos – Recife/PE.

  4. cnepomuceno disse:

    Marcos, veja meu post de hoje sobre energia, acho que ajuda:

    http://nepo.com.br/2009/09/23/tudo-e-energia/

    abraços,

    grato pela visita.

    Nepô

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