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A melhor forma de resolver um problema é colocando-o fora do seu contexto – Einstein – da minha coleção de frases;

Hoje, se fala muito em desintermediação.

Esse nome complicado para definir algo comum e banal que acontece toda hora por aí na rede.

Usuário colocando vídeo no YouTube, fotos no Flickr, leitor comentando, incluindo textos e imagens em jornais. essa festa toda, sem a necessidade de alguém estar ali controlando.

Puxa, a Internet é 10 por permitir isso, não é?

Mas saiba que não é a primeira e nem será a última a criar essa sensação de alívio e encantamento…

Os ciclos contínuos de desintermediação, a meu ver, são fenômenos cíclicos informacionais da sociedade humana e não da Web em particular.

(Este é um um tema que abordei na metáfora do ordenhador de vacas e o apicultor.)

Vamos ao ponto.

Imagine uma biblioteca de 1800.

Se alguém precisava de um livro, recorria a quem?

Ao BIBLIOTECÁRIO em caixa alta de plantão.

Sem ele…… esquece.

Era muito livro e prateleiras, para poucos bibliotecários.

O leitor era bibliotecário-dependente, mesmo que este organizasse tudo direitinho nas estantes.

O aumento constante de livros e leitores nos levou a procurar uma forma de tornar aquele acervo mais útil para a humanidade, com acesso mais rápido por quem ali aparecia.

A ficha catalográfica, que criava uma relação do livro à estante, foi uma grande desintermediação.

Deu ao usuário o acesso rápido e direto ao acervo sem passar necessariamente pelo intermediário bibliotecário.

Reduziu o tempo de acesso ao livro, diminuindo a relação com o intermediário.

O mesmo acontece na minha repetida história (para quem já assistiu alguma das minhas palestras ) da rede dos engarrafados.

Com um volume pequeno de carros, Teresópolis no Rio de Janeiro, não tem ainda 170 mil habitantes.

Lá, os táxis não circulam pelas ruas, esperam o freguês ligar para o telefone da praça.

Os engarrafamentos são raros e, quando ocorrem, pequenos.

Não há, portanto, um helicóptero como no Rio de Janeiro, com seus quase 6 milhões de habitantes, para localizar na rua os engarrafamentos diários e divulgar pelo rádio com milhares de ouvintes ansiosos.

No município do Rio, por exemplo, via CBN ou Globo, para se administrar o volume enorme de carros, cria-se a figura do Genilson Araújo, o repórter aéreo, que vai nos ajudar a lidar com esse problema.

Um intermediário aéreo.

Que já em São Paulo (cidade) com seus 11 milhões de estressados não faz tanto sucesso.

Há muito mais engarrafamento do que Genílsons possíveis no ar!

Note que há uma diferença de quase o dobro de habitantes do Rio (6 milhões) para São Paulo (11 milhões).

Os engarrafamentos são tão frequentes e constantes que um Genilson não consegue mais manter o parcial equilíbrio do sistema informativo.

Há uma necessidade urgente de desintermediar o acesso à informação sobre os engarrafamentos, como na biblioteca do passado, dando mais poder ao uisuário, que passa, de certa maneira,  a ficar mais próximo da organização do sistema.

Note, entretanto, que apesar de uma diferença clara entre carros e livros, o movimento de desintermediação é similar.

No caso do bibliotecário, há uma descentralização da informação, ao se  transferir da memória do bibliotecário para as fichas catalográficas, descentralizando o controle, permitindo que mais gente saiba e possa se virar sozinho para descobrir “onde está o que nas prateleiras”.

No caso da rede dos engarrafados, apesar de se tentar um helicóptero, que se mostra ineficaz, transfere-se o poder, do controle aéreo, sem condições físicas de estar em todos os lugares,  pedindo a ajuda para a rede dos usuário de celular (onipresente).

Os Deuses das ruas!

A rede de celular dos engarragados é mais eficaz  do que a do helicóptero,

E já tem substituto à vista..

A rede dos GPS engarrafados, via satélite, que avisam das retenções, sem a interferência humana.

(São Paulo, tô fora!)

São  desentermediações distintas, mas que têm no seu núcleo a mesma lógica.

Vejam a figura:

Nela, podemos ver o conceito de Galileu da Similitude.

O que diz o sábio.

Quando um determinado sistema de informação cresce em volume, até determinado tamanho a ponto de ficar “ingovernável”, o ambiente muda de formato para sobreviver. da “Forma A” para a “Forma B.

Já entrando com minha pesquisa do doutorado, posso dizer que há nessa passagem um “ponto de saturação”, que nos leva a um processo de “desintermediação”, viabilizando uma nova forma, através da chegada de uma nova tecnologia, a ficha catalográfica ou o celular, no caso dos engarrafados.

Assim, há também da  forma “A” para a “B” há uma mudança de controle da informação.

O intermediário transfere poder aos usuários para ganhar velocidade.

Traz, assim, necessariamente os usuários do sistema de um lugar mais longe para mais perto do acervo, ou até como participante ativo do processo, tornando, com essa atitude, o sistema de novo “governável”, porém com uma nova forma de controle mais horizontal e descentralizada.

É o preço para aumentar a velocidade.

Obviamente, mudando-se a cultura de uso, tanto do administrador quanto de quem o utiliza.

É, objetivamente, uma passagem de poder necessária para manter o barco navegando com tanto “contâneirs”.

Note que essa passagem do contrloe “A” para o “B”, enfatizo, altera, mas não elimina a necessidade do mesmo.

Se estabelece uma nova forma de administração, algo mais próximo de uma auto-gestão, como se tem visto na rede com a Web 2.0.

(Sempre haverá controle e regras em um dado sistema que se diz útil para um coletivo.)

Por fim, como já disse, objetivo dessa mudança de forma visa o aumento de velocidade do fluxo informacional, já desenvolvi um pouco mais isso neste post sobre a lógica matemática na Web.

Ou seja, o usuário da biblioteca consegue achar mais rápido o livro e o engarrafado sair ou não entrar em determinado engarrafamento, ficando, teoricamente, menos tempo em cada um,  sabendo sempre em prazo menor o que está acontecendo ou achando o que procura.

Assim, o que defendo, portanto,  é que a tão falada desintermediação na Web não acontece agora como um fato isolado, mas faz parte de uma lógica dos sistemas de informação de maneira geral.

Segundo Galileu, há uma mudança de forma, mas, em particular, no que observo e estudo nos ambientes de informação e, portanto, nos ambientes de conhecimento, a mudança se dá através de uma nova tecnologia cognitiva, que vem para eliminar um determinado  intermediário “que está atrapalhando o fluxo”, visando ganhar mais velocidade e manter o sistema em equilíbrio.

Ou se preferirem, em um “caos menor”, como é o caso das ruas de Sâo Paulo, até se atingir um novo ponto de saturação e se implantar uma nova forma, como já aparece a rede dos engarrafados, via GPS, não eliminando necessariamente a anterior, mas a incorporando.

Um exemplo?

O Orkut já assiste ao Ning que dá ao usuário poder de criar seu próprio Orkut (uma rede social própria), mais uma desintermediação, já dentro da própria Web.

(Quem usou o Ning foi o Gabeira na última eleição para prefeito no Rio.)

Um espiral contante e cada vez mais rápido, se a população não parar de crescer às taxas atuais, gerando mais consumo, mas necessidades informarcionais, pressionando todos os sistemas de conhecimento do planeta a ganhar mais velocidade.

Como ondas a bater mais e mais rápido em cada praia, exigindo pranchas e manobras cada vez mais ágeis.

A Internet, a meu ver, é a resposta informacional-tecnológica para manter viva e com saúde cognitiva  nossa população de 7 bilhões de habitantes.

Concordas?

7 Responses to “O mito da desintermediação”

  1. Marcos Cavalcanti disse:

    E esta desintermediação alcança lugares impensáveis, como a enciclopédia. Como poderíamos imaginar que trnasferiríamos dos especialistas o poder de definir o significado das palavras? A Wikipedia é hoje a enciclopédia de referência, e não mais a Britânica. Resta a questão da perda de qualidade (ganhamos em velocidade e alcance, mas perderíamos em qualidade). Será? Num primeiro momento, talvez. Mas todos os caras que participaram da Britânica podem colocar seus verbetes na Wikipedia. Será que eles só fariam isto em troca de dinheiro? tenho minhas dúvidas…

  2. […] Fazer com que ela seja cada vez maior, produtiva, relevante e sem ruído, surgindo, então, a figura do apicultor, que espelha a nova forma que a sociedade vai funcionar, com uma horizontalidade maior do que tínhamos antes. […]

  3. cnepomuceno disse:

    Marcos,

    a velocidade seria utilizada quando necessária.

    E isso venho desenvolvendo como novidade para lidar com sabedoria diante da avalanche da informação.

    É preciso ser lento para apreender o conceito, o cenário, o geral, o que está na lógica, mas rápidos ao difundir isso e trocar sobre isso.

    Ou seja, se for tudo na velocidade, perde-se em qualidade e em visão geral de cenário.

    Há que se saber usar a velocidade com inteligência, precisando em vários momentos, parar o carro para olhar a vista.

    A pilha de cada vez mais rápido, é falsa.

    Por isso, que brinco que para a pseudo-sociedade da informação e do conhecimento só a gestão da sabedoria salva!!! 😉

    abraços,
    tks pela visita,
    do amigo
    Nepô.

  4. […] inventamos a representação parlamentar, no século XVIII, com a Revolução Francesa, queríamos desintermediar o poder dos […]

  5. […] inventamos a representação parlamentar, no século XVIII, com a Revolução Francesa, queríamos desintermediar o poder dos […]

  6. […] Vem para equlibrar a forma que trocamos informação, conhecimento, em um processo constante de desintermediação. […]

  7. […] mundo 2,0, assim, desintermedia, desierarquiza, desburocratiza, deixando a informação fluir de outra maneira, trabalha-se as […]

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