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A maioria dos erros consiste apenas em que não aplicamos corretamente o nome às coisas. – Espinosa – da minha coleção de frases.

Continuamos a saga deste blog caçando mitos.

Já defendemos que não existe a tal sociedade do conhecimento, que a sociedade da informação é uma fantasia, que fazer a gestão do conhecimento é coisa de Papai Noel e agora vamos argumentar contra o termo gestão da informação.

Não há nenhuma possibilidade de se fazer gestão da informação.

Explico.

De um lado temos a rede armazenada de registros, livros, jornais, revistas, arquivos, imagens, sons, que acessada podem (veja bem, podem) se transformar em dados, informação, etc.

Do outro, a rede de neurônios, que ativada,  (veja bem, podem) formar o que chamamos de memória, inteligência, conhecimento, sabedoria e toda a nossa capacidade cognitiva.

Estas duas rede não funcionam sozinhas, isoladas, mas em processo dialético.

Tanto o cérebro para funcionar precisa de informação, como o pulmão precisa de ar,  da hora que acorda até dormir, como a informação, em estado de registro, precisa do cérebro para ser acionada.

(Os cheiros, toques, barulhos, etc, são tipos de informação.)

O cérebro e os registros, ao se encontrarem, formam a memória RAM do ser humano.

Ao se separarem, voltam a objetos sem vida.

Só existem no encontro.

Vejamos.

O livro na cabeceira é apenas um livro numa  cabeceira .

Uma pessoa dormindo no meio da tarde, é apenas uma pessoa dormido no meio da tarde.

Quando aquela pessoa acorda e abre o livro começa a ler, aproxima, estabelece o encontro mágico entre a sua rede de neurônios com a rede de letrinhas que está naquele livro.

Da qualidade desse encontro, na capacidade daquela rede de neurônios se relacionar com aquela rede de letrinhas é que temos um processo informacional/cognitivo –  rico ou pobre.

Não é possível separar no momento em que se estabelece essa pororoca informacional/cognitiva o que é exatamente a informação do que é o conhecimento.

É um processo interativo em que não há separação entre eles.

Qualquer tentativa de coisificar cada coisa, ou o  processo caímos em uma atitude reducionista, que empobrece o que o ser humano tem de diferente – e digamos mais nobre – em relação aos outros animais: capacidade que já nos levou à montanha e ao abismo, conforme o gosto de cada freguês e de cada civilização.

Exatamente o mesmo processo de se fazer uma vitamina de abacate.

O abacate é o abacate, o leite é o leite de, e o liquidificador é o liquidificador.

Já diria um gênio. 😉

Quando estão separados podem ser visto enquanto objetos isolados, mas que não compõem o processo final, mais rico e elaborado, de se fazer a vitamina.

É importante um bom abacate? É.

Um leite sem data de validade vencida? Sim, certamente.

Um bom liquidificador? Muito bom!

Mas para se ter a boa vitamina, é preciso monitorar cada parte, tendo em vista o processo.

A medida de cada coisa para se ter uma boa vitamina.

Quando se perde a visão do todo, do processo, perde-se o sentido cada item em separado.

É impossível separar naquele exato momento da batida no liquidificador, no momento da junção das coisas, quando o leitor está lendo o livro na cabeceira, o que é leite ou abacate.

Não existe, portanto a possibilidade de se fazer gestão da informação.

Você pode no máximo fazer a a gestão do abacate.

Ou seja, gerenciar os registros armazenados. Organizá-los de uma forma que fiquem disponíveis para a hora de se bater a vitamina, mas devem ser vistos como elementos de um processo e não separados, o que faz toda a diferença.

Mas aí você pode dizer.

“Ah…Gestão da informação é só um apelido!”

O problema dos apelidos, é que eles acabam confundindo, criando departamentos, cursos, MBAs, pós-graduações, que acabam se perdendo na parte, sem começar pelo todo.

Se o processo tem um nome, está na hora de usá-lo!

Não existe também a possibilidade se fazer a gestão da rede de neurônios das pessoas, a tal gestão do conhecimento.

Tanto informação quanto o conhecimento só podem ser vistos em processo.

Não se pode gerenciar o processo, pois ele é individual e acontece dentro da cabeça de cada um, numa relação impenetrável, como tem repetido Aldo Barreto, na sua longa trajetória.

Ou melhor, você pode convidar todo mundo para uma festa, escolher o melhor DJ, colocar cerveja gelada no melhor congelador da Brastemp, convidar os amigos mais animados.

Mas nada garante que alguém vai dançar.

Esse é o mistério.

Mas – parte-se do princípio que se você gerenciar bem o ambiente da festa – tem tudo para bombar.

É o que nos resta: gerenciar o ambiente para que tudo aconteça, o resto é por conta do outro.

Na qualidade desse encontro entre a rede de neurônios e a de registros é que teremos um bom resultado, chegando ao objetivo final, que  é o que vai sair de concreto desse cada vez, mais ou menos rico, processo a informacional-cognitivo.

A visão reducionista, muito usada hoje em dia, que separa o abacate do leite, que transforma tanto a informação, quanto o conhecimento em objetos sem sentidos, enquanto elementos,  é um dos principais problemas da gestão da nossa civilização, cada vez mais carente de uma boa vitamina.

Essa visão, que parte de uma teoria equivocada nos leva a erros práticos gigantescos.

Cegos cuidando da tromba (geastão do conhecimento), do rabo (gestão da informação)…mas é, afinal, um elefante?

Só há a possibilidade ao se tratar de informação e conhecimento de se fazer gestão dos ambientes, nos quais vão ocorrer os processos informacionais cogntivos: a feitura da vitamina!

Assim, Gestão de ambientes de conhecimento. Ou, se preferir, gestão dos ambientes informacionais, no qual as pessoas e os registros convivam em harmonia, se sintam confortáveis,  tendo habilidades e capacidades para exercer a sua tarefa, recebendo os subsídios informacionais que precisam, de forma confiável, no tempo adequado.

Meta: tornar amigável os ambientes de produção de informação e conhecimento, tendo como foco o melhor resultado, conforme a missão de cada organização, país, grupo, pessoa, etc…

Ou seja, do processo de se fazer a vitamina, na qual o abacate, o leite e o liquidificador são partes fundamentais do processo, mas com o objetivo de se fazer a melhor vitamina e não o contrário.

Seja lá o que for esse contrário. 😉

Concordas?

11 Responses to “Não existe também Gestão da Informação!”

  1. Marcelo Coelho Vieira disse:

    Prezado Carlos,
    Acompanho seu blog há algum (pouco) tempo e a sua visão lança sempre luzes sobre estes assuntos hoje tão (de)batidos e, não raro, mal entendidos.
    Para uma compreensão completa de qualquer tema, concordo que seja importante (senão essencial) entendermos exatamente o que cada termo quer dizer.
    Neste seu post, entendi que é importante separarmos “Gestão” (algo que devemos ter o controle e a capacidade de mensurar) da “Informação” (algo que não temos o controle e nem a capacidade de mensurar, pois encontra-se em uma área inacessível externamente).
    Mas vejo também que só “gerir o ambiente” é insuficiente para alcançarmos os resultados desejados pois temos também (e talvez principalmente) o elemento humano processando estas informações. Então, além da gestão do ambiente, temos que reforçar neste caso a gestão de pessoas. Ambiente bom + Pessoas preparadas = Resultado positivo nesta era que estamos vivendo.
    Esta visão está certa ou deixei de ver alguma coisa pelo caminho?
    Um grande abraço,
    Marcelo.

  2. alessandraq disse:

    Vou responder o seu post com uma frase que vou colocar no meu post.

    Você não pode ensinar nada ao homem; você pode apenas ajuda-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo.

    Galileu Galilei

    Beijos,

    Alessandra

  3. […] O conhecimento passa a ser coisa, a informação passa a ser coisa, pois nós somos coisas. […]

  4. cnepomuceno disse:

    Marcelo, isso mesmo.

    A idéia é que recuperemos o humano na gestão da nossa civilização, incluindo as pessoas na empresa, que precisam de todos os recursos informacionais (dados e tecnologia) para poderem criar o novo.

    Mas é bom que se diga que as pessoas estão num ambiente, no qual tudo isso faz parte.

    Por isso a visão sistêmica, holística, ecológica do ambiente informacional tende a facilitar o trabalho.

    Concordas?

    Theresa e Alessandra, valeu.

    Ale, vou pegar a frase emprestada para a minha coleção.;)

  5. Marcelo Coelho Vieira disse:

    Concordo totalmente. É isso mesmo, uma “visão sistêmica, holística” sobre a questão.
    Acredito muito no lema “dividir para conquistar”, contudo, percebo atualmente as pessoas compartimentalizando demais as questões e, como consequencia, perdendo o foco na questão principal, que são os Resultados. E estes só se conseguem através das Pessoas e dos Processos. Juntos.

  6. […] no momento de mais uma explosão informacional, é necessário caminharmos em direção […]

  7. […] Gestão da informação – termo utilizado de forma indevida, já que a informação é uma ação cognitiva e sempre relacional, não podendo ser gerenciada ou gerida. Pode-se, no máximo, gerenciar documentos.  Mais sobre o tema; […]

  8. Lucineia disse:

    Olá passei para conhecer o espaço!
    Achei seu post interessante, sou graduada em CI e durante minha graduação não tive a oportunidade de debater a tematica que voce coloca aqui.
    De fato acredito na Sociedade da Informação e do Conhecimento, na Gestão da Informação e tudo mais que vc contradiz. Respeito sua opinião e seu quea mesma tem fundamentos. Mas, não concordo com voce.

    Este fim de semana irei ler um texto que fala, basicamente, isto que voce relata aqui.

    Então quem sabe da próxima vez não poderei ser mais objetiva na defesa de meu ponto de vista..rsrs…

    Até breve!

    Bjos

  9. […] de blog: já trabalhei aqui questionando o conceito de Gestão da Informação.; Trabalho no conceito apenas para lembrar que estamos migrando para outra coisa. Acredito […]

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