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As pessoas colaboram voluntariamente quando consideram que podem, de alguma forma, mudar o mundo – Nepô – da minha coleção de frases.

Fala-se em Inteligência Coletiva e relacionamos o conceito à Internet:

“A rede traz Inteligência Coletiva”.

“O objetivo da rede é a Inteligência Coletiva”.

De fato, pode ser.

Depende de diversos fatores.

E pode-se dizer que temos ferramentas hoje que nunca sonhamos para resolver problemas de forma coletiva a distância, vide Linux, Wikipedia, etc…

  • A Inteligência é, assim, a nossa capacidade cognitiva de articular diferentes informações para resolver problemas.
  • A Inteligência coletiva seria a nossa capacidade cognitiva de resolver problemas de forma conjunta, através da co-laboração, do trabalho junto, em redes eletrônicas, a distância, ou, fora delas, presencialmente, conforme cada caso, ou até um misto dos dois;

Os humanos sempre tiveram e sempre terão problemas que precisam de mais gente para ajudar a pensar, seja para ganhar em velocidade, profundidade, qualidade e posterior adesão.

(Quem discute e compartilha do resultado, tem mais facilidade de adesão futura, conforme li e concordei com o livro do Horácio Soares, “O Tiro e o Alvo“.)

A opção pela resolução dos mesmos, via Inteligência Coletiva, do trabalho colaborativo em rede descentralizada, depende de uma postura diante do mundo.

Ou seja, esbarra-se em questões que pedem redes descentralizadas, com as quais as redes centralizadas não se adequam bem.

E, ou, adota-se redes descentralizadas como forma de resolver problemas que as redes centralizadas e controladas pelo status quo não deixam para ter controle das mudanças.

Papo de poder, mermão!

Estou lendo o livro “Levar Adiante“, a biografia de Bill Wilson, um dos idealizadores dos alcoólatras anônimos.

Bill Wilson

Eles tinham um problema: não conseguiam parar de beber.

E viram que só o compartilhamento coletivo dos problemas, da partilha de seus “pecados”, ao invés de uma confissão para o padre, da força mútua, era possível ver uma luz no final da boca da garrafa.

Optaram, assim, pela rede descentralizada, sem líderes, sem estruturas formais, sem patrimônio: um modelo completo, já consolidado, de rede descentralizada, que pode ajudar bastante na tarefa de criação de projetos 2.0.

(O tema, aliás, começa a ser estudado pelos pesquisadores web, veja aqui no “Quem está no comando“, um livro maravilhoso, que fala do poder autônomo dos apaches, do AA, das redes de distribuição de música e da diferença da aranha, que tem uma cabeça central e patas; e da estrela do mar, que não tem nem cabeça e nem patas!)

Se você cortar a estrela do mar, ela se divide e não morre...

O AA e grupos similares de mútuo-ajuda são claramente projetos de inteligência coletiva, sem tecnologia, que vêm dando bons resultados.

A rede descentralizada é adequada, se formos analisar, para a maioria dos problemas, nem todos, diante da rede centralizada, na qual o poder central tem mais controle.

A rede descentralizada dá poder às pontas, mas, por outro lado, define regras de conduta geral que todos seguem para manter a ordem sistêmica.

Não é algo sem controle, mas de um controle diferente, mais auto-regulado, precisando, como veremos adiante, de um propósito maior.

É assim que funciona os grupos dos anônimos e é assim que funciona o Wikipedia, Rede dos desenvolvedores do Linux, etc…

Paulo Freire

Ou seja, tal como na colaboração a distância na Web, os grupos de mútuo ajuda,  a Pedagogia do Oprimido do Paulo Freire, o Teatro do Oprimido de Augusto Boal, os orçamentos participativos do PT são todas propostas de redes descentralizadas, que se utilizam da Inteligência Coletiva, como filosofia, para resolver problemas antes tentados e não conseguidos, através de redes descentralizadas.

Note que todos sem ajuda de redes eletrônicas!!!

Algo que me chama a atenção em todos os exemplos é a necessidade de uma causa maior para que as redes descentralizadas emplaquem.

As redes centralizadas, pelo controle rígido, depende menos da vontade das pessoas, pois há uma fiscalização maior. As pessoas trabalham, pois se não o fizerem sabem que serão punidas de alguma forma por quem está no comando.

As descentralizadas precisam da motivação, de espaço para a iniciativa, portanto, pedem  um objetivo maior que transcenda o ego de cada um. Algo que desperte o bem comum, deixando para a auto-regulação de seus membros também qualquer tipo de punição.

E trabalha-se, portanto, pela motivação e não pela fiscalização, tal como:

  • – Criar uma enciclopédia mundial de graça;
  • – Um sistema operacional livre para todas as pessoas;
  • – Ajudar compulsivos a lidar melhor com suas compulsões (bebida, narcóticos, jogos, prostituição, cigarro, etc.)

O que nos leva a uma reavaliação interessante sobre projetos de redes descentralizadas em empresas e instituições, as tais redes sociais de colaboradores internos, de consumidores, etc…

Será preciso que a visão das instituições se amplie e não se reduza somente ao lucro e ao dinheiro, importantes, fundamentais, mas não necessariamente mobilizantes.

Funcionam na rede centralizada, mas não vão adiante nas descentralizadas!!!

Talvez, para que haja um envolvimento em redes descentralizadas, seja necessário que exista uma causa maior, um envolvimento que faça bem para cada um e para um todo, o bem comum.

Eu faço por que quero, pois vejo o resultado mais geral disso no futuro!

As organizações, caso isso se comprove, terão que, além de querer resolver problemas de consumo, pensar em algo maior, como já vem sendo feito nos projetos de envolvimento social. Ou seja, as redes devem visar o bem da sociedade em primeiro lugar e o resto é consequência, podendo até ser o lucro de alguém, desde que em nome de um bem maior.

O que nos leva a pensar que as redes descentralizadas em torno de projetos de co-criação, as tais redes sociais, devem envolver os participantes, não por benefícios individuais que dividem, mas algo que todos ganhem e que a sociedade também usufrua no médio e longo prazo, mesmo que todos ganhem alguma coisa no processo.

Um bem estar? Um sentimento de dever cumprido? O reconhecimento?

Se for isso, pergunta-se no espanto de uma caixa alta e negrito: ESTAMOS PREPARADOS?

Vamos pensando…por aqui…

Que dizes?

7 Responses to “A inteligência coletiva não é filha da Web!”

  1. Fuzaro disse:

    Muito bom,

    compartilho da idéia que existe um “sentimento”, diriam psicologos, arquétipos, que emergem da sociedade e se manifetam em formas materiais como produto da inteligência coletiva como : Wikipedia, Software Livre. (Steven Johnson em Emergência cita alguns outros.)
    A comunicação exerce um papel fundamental neste processo, com as tecnologias disponíveis aumentando a participação e a colaboração a consequência e a aceleração dos resultados visíveis, estamos aí diante de produtos cada vez mais elaborados fruto do conhecimento coletivo.
    Coloco outra questão : Estão preparadas as estruturas que de alguma forma são remuneradas por fazer este papel ? Estas estruturas/empresas cumprirão o papel de levar os desafios mais além ou tentarão suprimir e dificultar a organização da sociedade em redes de compartilhamento e colaboração tentando regular o uso do meio?
    Veja lei do azeredo e outras iniciativas cerceantes de utilização do meio.

  2. cnepomuceno disse:

    Fuzaro, estamos diante da ruptura.

    Empresas terão que se reiventar.

    E nos momentos de ruptura, sempre haverá os beneficiados (que a defenderão) e os prejudicados (que a combaterão).

    Os visionários que a inventivarão. E os conservadores que tentarão atrasá-la.

    É do resultado destes conflitos que teremos o futuro da Web.

    Que dizes?

    valeu a visita e comentário!

  3. Synesio Neto disse:

    Na minha opinião, enquanto a sociedade não mudar a mentalidade das vantagens e benefícios individuais, estaremos desperdiçando uma oportunidade ímpar de desenvolver, de fato, essa inteligência coletiva, colaborativa e descentralizada.

    Digo isso, pela modo como essas novas ferramentas estão sendo utilizadas e difundidas. Exalta-se mais a capacidade e o poder de abrangência da tecnologia, do que a oportunidade de desenvolver projetos que envolvam os participantes a resolver problemas em nome desse “bem maior”.

    Muito se fala em comunicação, mídias e marketing digitais, como um caminho sem volta, onde quem não se adequar ficará para trás, pessoas cada vez mais on-line, mostram diversas estatísticas (algumas podem ser até questionáveis), etc. Quase como uma lavagem cerebral, onde uma opinião divergente é punida como na inquisição do séc. XIV.

    Mas do que adianta a tecnologia, a conectividade instantânea, as redes digitais, se elas estão sendo utilizadas por mentalidades 1.0?

    Vejo estudantes, profissionais e pessoas afins da área digital, estudando maneiras “inovadoras” de vender produtos e serviços num discurso de: “As marcas precisam estar onde o consumidor está”. Pagam-se blogueiros, anúncios em sites, ações em comunidades, etc, todos escolhidos estratégicamente. Cria-se um buzz enorme (muito pela abrangência da tecnologia), pessoas comentam, condordam, criticam… são levadas pela “onda” criada e deixam de se questionar.

    E em que a sociedade se beneficiou? Onde o coletivo participou? Houve um consumo consciente? Sustentável?

    Fica a reflexão…

  4. Fantástico. Vou utilizar o exemplo do AA na palestra que vou participar, na UFRJ.
    Abraços!

  5. Carlos Nepomuceno disse:

    Keith,

    no livo “Quem está no comando?” o assunto é abordado,
    uso o exemplo em vários momentos aqui no blog…este talvez com mais destaque:

    http://nepo.com.br/2009/12/14/o-que-o-aa-tem-a-ensinar-ao-mundo-2-0/

    Outra 0pções:
    http://www.google.com.br/search?sourceid=chrome&ie=UTF-8&q=aa+Nep%C3%B4st

    Grato pela vista, depois me conta como foi a palestra.

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