Não podemos usar velhos mapas para descobrir novas terras – Gil Giardelli – da minha coleção de frases.
Ao completar 50 anos no ano vem de sua inauguração, cabe saber:
Brasília foi uma boa?
Deu mais ganho ou prejuízo para o país?
O que nos leva a uma discussão sobre a implantação de redes virtuais ou espaços físicos de concreto e tijolo, pois ao se pensar estragegicamente é preciso projetar cenários, a partir de acertos e erros do passado.
Em Brasília, apostou-se tudo no tangível e nada no intangível.
Qual país do mundo, na época, ousou tal loucura?
Quantos construíram capitais no deserto?
Las Vegas, a capital do jogo?
(Lá, parece que o resultado foi melhor, pois o jogo é algo que termina em si, não organiza, apenas joga-se.)
A batalha entre o conceito de prédios físicos centralizantes versus redes eficientes está sempre em voga, quase sempre tendendo para o primeiro, pois há recursos, se vê “resultados” ilusórios, ao invés de resultados “que importam”.
Inclusive hoje, que marcam sucessos e fracassos.
Umas dão só a sensação do poder, mas não eficiência.
Querem dois exemplos?
Um positivo, que apostou na topologia da rede descentralizada:
Marcelo Leite escreveu sobre o assunto, neste último fim de semana, na Folha, ao contar a capacitação brasileira no campo da Biologia Molecular:
Em lugar de abrir uma repartição científica e construir prédios, os estrategistas da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) tiveram o bom senso de fomentar uma rede virtual de laboratórios. Alguns pesquisadores realizaram seu sonho de consumo: sequenciadores de DNA de última geração. Dividiram o genoma da bactéria e saíram a campo. (Ver mais.)
Um negativo, que apostou na sede física e não na topologia da rede descentralizada:
Pude ler o artigo: “Ministério enterra rede de estudo de fóssil“, que saiu semana passada na Folha:
Cinco anos depois de ser lançada, consumindo R$ 6,1 milhões e sem produzir nenhum trabalho científico, a Rede Nacional de Pesquisa Científica em Paleontologia foi discretamente declarada extinta pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Sua prestação de contas inclui notas fiscais de “coquetéis, festas e shows” (…) Seu legado, contudo, é modesto: resume-se ao prédio de sua sede (localizado em Peirópolis, distrito de Uberaba), um sistema de videoconferências, duas caminhonetes e um micro-ônibus. (Ver mais.)
Num mundo de projeção futura, precisamos saber o que vai acontecer adiante.
A proposta, por exemplo, do Governo da criação da Petro-sal, com o número máximo de 130 funcionários, por exemplo, é de uma estrutura centralizadora, com prédio e funcionários fixos, escolhidos por concurso.
Escreve, questionando este modelo, Claudia Safatle, do Valor Econômico, lembrando o passado recente:
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), criada em dezembro de 1972, nasceu a partir de um compromisso das autoridades da Aeronáutica de que seria uma empresa para regular o setor com, no máximo, 600 funcionários. Hoje, a Infraero emprega 28 mil trabalhadores, administra 67 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais de logística. (Ver mais.)
As redes digitais vieram para ajudar a mudar o mundo, emperrado pelas estruturas verticalizadas, e descentralizar ainda mais as organizações, que precisam de ar para inovar.
Assim, fazer o futuro é projetar um mundo em redes horizontais digitais, mais e mais descentralizadas.
Pergunta-se à cidade cinquentenária:
- Quanto perdemos com tudo isso?
- Quanto isolada está Brasília do país?
- Quanto gastamos por ter essa estrutura que não pulveriza e sim centraliza?
Sim, JK estava com pressa, queria 50 anos em 5.
Geralmente, a pressa, como vemos, ainda hoje, é inimiga da descentralização!
Concordas?
Discordo. Um dos objetivos, ao construir Brasília, era ocupar o território nacional. Levar a população e o Estado para o Centro, o Oeste e o Norte do Brasil. Mais centralizada que a rede de poder e corrupção que havia no triângulo MG-RJ-SP impossível. O sudeste além de centralizar a economia nacional, decidia politicamente pelo país. Brasília chega aos 50 com menos glórias do que merece. É uma cidade bela, aprazível, que favorece a reflexão individual com seus amplos espaços abertos e livres. Brasília também, ao contrário do que dizem os cariocas, é muito mais cosmopolita do que o Rio de Janeiro. O carioca mediano costuma dizer que “em Brasília não tem nada”. Diferente do Rio, onde basicamente só se ouve e consome samba, em Brasília é possível ouvir do erudito ao “brega”, passando pelo jazz, pelo choro e pelo rock. Tudo servido por músicos refinados, em espaços agradáveis e com fartas porções de diálogos cultos, politizados e enriquecedores. Daqueles que abrem a mente e os olhos para outros mundos. Não é uma cidade provinciana como o Rio, onde se consome apenas o que se produz. Bom lembrar também que é a cidade que possui, proporcionalmente, o maior número de salas de cinema. Nada contra samba, teatro, televisão e funk. A impressão que tenho é que o povo de Brasília tem mais interesse por manifestações culturais de outros lugares e povos do Brasil e do mundo. Lá, o carioca parece bairrista, pedante, pouco politizado e limitado. O carioca parece um sujeito que se vangloria da geografia de sua cidade para esnobar outras culturas, parece um sujeito do culto ao corpo e a forma. Além disso, o carioca médio ostenta um “aristocracismo” decadente e melancólico. Outra coisa que me incomoda quando ouço críticas sobre Brasília é a marca da corrupção que estampa a cidade. É importante lembrar que o fedor de Brasília vem dos representantes que grande parte dos brasileiros manda para lá. Ao transferir a capital para o planalto central, pretendia-se colonizar o interior do país, organizar a administração e descentralizar o poder que algumas unidades da federação exerciam sobre toda a nação. Algo vem dando errado em Brasília, mas a culpa não pode ser atribuída aos mentores espirituais e intelectuais da cidade. O inferno é a mediocridade dos outros!
É isso ai, Bosco!
Fico imaginando como seria se a capital continuasse no Rio.
Será que o caráter e a moral dos nossos parlamentares seria diferente? Ou será que em função dos atrativos da cidade marailhosa, as notícias escandalosas teriam menor destaque? Fato é que Brasília sempre é lembrada pela má atuação dos parlamentares que representam toda a nossa nação. Entra político, sai político, não importa, o que fica é a lembrança do que eles fazem de errado.
Acontece que Brasília é muito mais do que a praça dos 3 poderes. Os pioneiros que aqui permaneceram, construiram famílias e deram origem as novas gerações, sabem que valeu a pena sair de suas origens.
Hoje, Brasília é uma cidade com incontáveis atrações culturais, gastronômicas, religiosas, ecológicas e o que mais se procurar. É uma cidade que luta para manter a sua identidade independente do motivo de sua construção.
Bosco e Mônica,
morei em Brasília e não tenho nada contra ela enquanto cidade, mas como conceito geral.
Não se trata de uma discussão Brasília x Rio, mas de um conceito de rede centralizada e rede descentralizada.
Grato pelos comentários,
abraços
Nepomuceno.
Disco rdo das respostas anteriores. Concordo com o Nepomuceno; Brasilia foi construida mas sem se construir ferrovias. Em um pais como o Brasil com este imenso territorio, a falta de ferrovias foi um erro, tanto do Juscelino como de todos os presidentes que estiveram no pode antes deste. Não podemos depender somente da industria rodoviaria e do espaço aereo. Se pensarmos um pouco, o Brasil fica atras de todos os paizes neste quesito. No Rio já estavam todos os Ministerios, Assembleias Legislativas e Judiciarias. Predios bonitos e artisticos. Atualmente, abandonados e muito sem manutenção
Miriam, o que quis dizer que se apostou nas pirâmides e não nas redes (ferroviárias, telefônicas, etc) que faria que pouco importassem aonde estava o poder.
É uma reflexão quando pensamos sobre o futuro, pré-sal, novos prédios em Brasília, etc…
O Governo fala agora em fibra ótica para todo o país, seria ótimo que viesse aliado em repensar o modelo centralizado também já que agora teremos o trem digital circulando.;)
abraços, grato pela visita
Nepô.
Rerforça esta tese, o artigo de Sardenberg
http://arquivoetc.blogspot.com/2010/04/carlos-alberto-sardenberg-brasilia-um.html
A contrução de Brasília não foi só um grande erro, foi uma grande loucura.