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Toda vez que a invenção é arbitrária, ela não sobrevive – Ferreira Gullar – da minha coleção de frases.

A massificação é a chave para as rupturas nos ambientes informacionais.

Ocorreu esta semana um debate interessante sobre a expansão dos robôs na sociedade, veja aqui.

Acredito cada vez mais que a próxima era informacional estará baseada na nossa relação com agentes inteligentes, que tomarão decisões por nós, para nos proteger do caos informacional que a Web 2.0 e sucessoras estão criando.

Isso, na verdade, já começou com os programas anti-spam, mas não caracterizam uma nova era informacional.

Para zerar as Web 2.0, 3.0 e chamar algo como “Robonet”, decretando o fim da era Internet teríamos que cumprir algumas etapas, a partir do que vimos na história de outras mudanças informacionais.

Explico abaixo o raciocínio lógico que nos levará até ela.

Vejamos.

Tenho trabalhado há tempos com as idéias das ecologias cognitivas de Lévy: Oral, Escrita e Digital, que prefiro chamar de redes:

Mas sempre um fato me incomodou.

Se vivemos a ecologia escrita e criamos uma era em torno dela, como ficam os meios de comunicação de massa, que não estão baseadas na palavra impresssa?

Havia algo entre o escrito e o digital.

Mas exatamente o quê?

Será que podemos pensar as eras daquela maneira?

Pois a idéia não é apenas pensar no passado, mas tentar prever os fatores que podem nos levar a novas eras informacionais no futuro!

Talvez em Lévy mais interessante não seja nos basearmos nas ecologias cognitivas, porém nas diferentes interações humanas que sugere, como fator estruturador: um-um, um-muitos, muitos-muitos.

Na verdade, estas três interações humanas sempre estiveram presentes desde os tempos das cavernas, mas limitadas ao espaço físico.

O que assistimos na história é o desenvolvimento humano para transceder essas barreiras, através de novas e novas plataformas de trocas de ideias, que se desenvolvem em paralelo e não em degraus, como a ideia de Lévy poderia supor, a princípio.

Ou seja, com a expansão das civilizações, sentimos necessidade de nos expandirmos nas fronteiras do espaço físico e, algumas vezes, no tempo, evitando o limite imposto pela barreiras que limitam nossas trocas de ideias.

Útil em um dado momento, a conversa na caverna, por exemplo, com o crescimento da população, sua separação em diferentes regiões e complexidade das trocas de todo o tipo,  exigiu a sua sofisticação, exigindo quebras de barreira.

Notemos, por exemplo, como vemos na figura abaixo, que a comunicação um-um, a inicial,  nunca  deixou de se expandir e evoluir à procura de vencer distâncias, ao longo do tempo,  ou mesmo a vontade do ser humano se expressar para muitos ou estabelecer trocas de várias pessoas debatendo.

Fomos construindo tudo em paralelo!

Ver figura:

interacao humana

Essa abordagem poderia tornar mais complexo o estudo das redes de conhecimento do passado. Talvez, o motivo que muitos autores preferem demarcar mais o tempo.

Mas ao observarmos ess multi-processo, essa evolução contínua e paralela,  podemos pinçar nas mudanças o que REALMENTE faz e o que não faz a diferença.

Podemos observar, assim, que o fator prepoderante das mudanças sociais em torno das plataformas do conhecimento não está propriamente em uma nova tecnologia, mas ao permitir que um tipo de interação, limitada pelo espaço, se expanda e se massifique ao ponto de se tornar hegemônica, o canal principal e mais dinâmico de troca de idéias.

Neste exato momento, entramos em uma nova era!

Portanto, repetindo com outras palavras: o que podemos caracterizar uma nova época informacional não está no surgimento da tecnologia em si, mas quando um determinado tipo de interação limitada por algum tipo de barreira espacial, ganha um determinado suporte, que permite a sua massificação.

Assim, não tivemos uma ecologia da escrita.

Mas a ecologia ou rede do um-muitos, que se inicia desde as cavernas, mas que chegou na sua fase de maturidade com o suporte do livro impresso, que a massificou.

O livro impresso não trouxe para a humanidade o um-muitos, mas o massificou a distância.

O que é algo diferente, pois se insere nesse ambiente do rádio e da tevê, ampliando ainda mais esse alcance, que se inicia com os tambores.

Explico, pela figura acima, que podemos constatar que a vontade da expressão de um para muitos sem limites regionais já aparecia com o tambor, que era limitado no seu alcance e na possibilidade do tipo de mensagem transmitida, o mesmo podemos dizer dos sinais de fumaça, ambos tataravós do rádio e da televisão.

A interação a distância um-muitos só ganha relevo, assim, com o livro impresso, pois é naquele suporte informacional, que se consegue ampliar o uso e passa a ter importância social, em função do novo tipo de possibilidade de troca de idéias.

Antes, o livro manuscrito era uma experiência, rica, interessante,  periférica, preparatória para o salto que iríamos dar, mas não tinha impacto social, pela limitação de uso.

O que marca, portanto, a relevância e a chegada de uma nova era, assim, não é propriamente a tecnologia em si, mas uma nova possibilidade de tipo de interação, que viabiliza uma forma mais dinâmica de troca de idéias a distância que se massifica e – a partir de um dado momento – ganha escala.

Passando a se transformar um fenômeno social, pois a troca de idéias, gera novos conceitos e novos conceitos, ações de mudanças na sociedade.

Assim, podemos afirmar que quando um tipo de interação já existente, consegue um suporte acessível, barato o suficiente que possa ganhar escala, temos o início de um novo ciclo de mudanças sociais e uma nova era informacional:

  • Assim, a fala foi o suporte da massificação do  diálogo um-um;
  • O livro impresso, do um-muitos.
  • E a Internet que com a banda larga,  expandiu o muitos-muitos;
  • Sendo a próxima era a ser moldada com o surgimento de outro tipo de interação, a partir da massificação de dado suporte, especulo, do um-robô, que espera uma plataforma que o massifique no futuro, o que demarcaria o fim do ciclo Internet como conhecemos.

(A Web 2.0 na verdade se assemelha a passagem do livro manuscrito para o livro impresso, quando expande definitivamente a um-para muitos, encerrando o ciclo oral humano, baseado no diálogo um-um.)

Isso, dizendo e outra maneira,  já nos dá ferramental para nos antecipar a nossa próxima era, que seria, um novo tipo de interação humana, na qual agentes inteligentes, através de softwares de inteligência articial, passariam a aprender com seus usuários, tanto em ações voluntárias (você o instruindo) ou involuntárias (ele aprendendo sozinho com meus hábitos).

(O melhor exemplo disso hoje são os programas anti-spam.)

Os agentes diferem de um programa tradicional de computador, que só agem conforme o seu comando, ou programação.

Os agentes inteligentes terão mais liberdade para tomar decisões informacionais. Algo como já ocorre (para o mal e para o bem) nos aviões mais modernos, como pudemos ver na discussão da queda do Boeing da Air France.

Essa nova interação um-robô poderá caracterizar uma nova Era, desde que tenhamos um suporte desses agentes, que possa se massificar e mudar hábitos.

O que marcaria o fim da Era Internet e o início de uma nova, talvez em muito menos tempo do que imaginamos.

É fato que a nova interação um-robô, não existente nas cavernas, e  só foi possível, a partir do mundo digital, bem como uma mais adiante podemos especular a possibilidade dos robôs-robôs.

Viagem?

Essa nova etapa das plataformas do conhecimento só terá significado social e relevância quando se massificar e definir o hábito cotidiano de boa parte da humanidade, principalmente aquela que influencia os demais.

O post acima, ainda em elaboração, é  um resumo, aliás, do que tenho concluído ainda preliminarmente na minha tese de doutorado.

O que dizes?

9 Responses to “O eu-robô: a nova era da informação?”

  1. Gustavo disse:

    Acredito também na robotização da web. Mas gostaria de saber sua opinião sobre a personalização da informação. Vai ser minha monografia esse período em jornalismo, e se puder me ajudar também!!! :).

    Excelente trabalho!
    abs

  2. Durante a leitura deste (excelente) artigo, fiquei com Wolton na cabeça quando ele diz que primeiro surge a necessidade social da ferramenta, depois a possibilitamos para fazer a nossa revolução, como foi no caso da prensa, das mídias de massa e agora, alguns dizem o mesmo da internet. E fiquei me perguntando; precisamos dessa interação um-robô? E a resposta é assustadora, porque “sim, precisamos disso” ou até mesmo já esperamos por isso há um bom tempo…

  3. cnepomuceno disse:

    Cândida, qual o livro dele você fala, fiquei curioso.

    Sim, acredito nessa necessidade social, que chamo de latência.

    Vontade de ter algo mais dinâmico.

    E depois bum!

    Pois é os robôs estão chegando….
    Estão chegando os robôs..

    Tks pela visita,
    Nepô.

  4. Nepo, o livro que falei de Wolton é o “Internet, e depois?”, editado no Brasil pela Sulina, na coleção Cibercultura. Ele traz uma visão crítica sobre a euforia que temos com a rede. Concordando com ele ou não, é uma leitura que vale a pena.

    Acompanhando sempre as discussões por aqui.
    =]

  5. cnepomuceno disse:

    Cândida,

    boa dica, vou correr atrás.

    Nepô.

  6. Nepo, boa tarde!

    li a sua matéria no IMaster, muito interessante como compara com o Levy. Estou fazendo o TCC sobre Robotica Educacional. Gostaria de saber da sua parte como essas nova era, pode influenciar nesse foco da Robotica Educacional? Como os agentes inteligentes agem?

  7. cnepomuceno disse:

    Carolina,

    acredito que coletando dados involuntários, analisando e tomando decisões.

    Veja o exemplo da Amazon ao oferecer livros por perfis similares, é um agente inteligente.

    É um novo ramo que quando se popularizar terá um impacto bastante forte, leia a reportagem da Veja desta semana com várias informações sobre isso,

    abraços

    Nepô.

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