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Quanto mais teconologia tivermos, mais filosóficos teremos que ser.

A hiperminésia é a doença que causa a exacerbação da capacidade de retenção que impede a separação entre aspectos relevantes e irrelevantes dos eventos, segundo Roberto Lent em “Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência”.

Exatamente o oposto da amnésia, a hiperminésia faz com que a pessoa lembre de tudo, mas tenha dificuldade de articular as coisas.

Arriscaria a dizer que estamos vivendo fortemente traços  dessa doença na atual sociedade.

Tem muita gente à beira da internação.

Vivemos colados à tela de um computador recebendo informações e cada vez menos conseguimos juntar lé com cré.

Em todas as minhas palestras o tema ansiedade da informação aparece.

Como lidar com tanta informação?

Já disse aqui que o que vivemos não é o excesso de informações, mas o da fofoca.

Entende-se aqui fofoca por tudo aquilo de supérfluo que consumimos, que não nos leva a lugar nenhum.

Tecnologia e explosão informacional precisam de sabedoria.

(Sugiro ouvir meu podcast no Gengibre sobre a diferença entre dados, informação, conhecimento e sabedoria.)

Vejam a figura da situação ideal para agirmos:

piramide da sabedoria

O paradoxo é o seguinte: quanto mais eu recebo registros e os articulo na minha cabeça os dados, informações e conhecimentos, menos tenho sido capaz de me separar deles e tomar decisões com sabedoria.

Quantidade e qualidade não se juntam.

Estranho né?

Ou seja, quanto mais perto estou do problema, menos capacidade eu tenho de observá-lo a distância e ter uma clareza para resolvê-lo.

Contraditoriamente, no momento de mais uma explosão informacional, é necessário caminharmos em direção contrária.

É preciso reduzir a carga da informação na fofoca e se concentrar no que amplia, para nos basear nossas decisões cada vez mais na  sabedoria e menos no dado, na informação e no conhecimento, todos processos cognitivos.

Precisamos em todas as esferas e urgente:

  • Ampliar o conhecimento histórico para discernir o que é bobagem do que importa;
  • Aprofundar o estudo da filosofia para perceber o que é lógica do que é papo furado;
  • E resgatar a importância da arte (poesia, artes plásticas, literatura, teatro, etc)  para ampliar a maneira que vemos o mundo – menos numeral e mais intuitiva.

A tecnologia é neutra.

Uma faca serve para cortar o pão e matar o outro. Depende do psicopata que está lanchando. 😉

Quanto mais tecnologia injetamos na veia, mais temos que fortalecer nossos traços humanos, valores, ética, amplitude de horizontes.

É preciso humanizar o mundo tecnológico e não o contrário!!!

Parece estranho, mas quanto mais estudo para entender a rede, mais livros tenho comprado nos sebos para estudar a história das coisas.

Pense na forma que você tem tomada as decisões na sua vida e na sua empresa.

Quanto mais perto você estiver dos registros, dos dados e até mesmo da informação ou do conhecimento “neutro”, mais você estará sendo tático e menos estratégico.

A tática só funciona se ela fizer parte de um contexto geral, de um cenário adequado.

E cenário não se ganha fofocando, seja em que ferramenta da moda estivermos no momento, mas sim alargando seu horizonte, através da filosofia, história e arte, dando-lhe amplitude da sabedoria.

É doido?

É, mas me parece que é por aí que a cobra se enrosca.

Que dizes?

Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos Fundamentais de Neurociência
ROBERTO LENT

7 Responses to “A sociedade da hiperminésia”

  1. felipe manhães disse:

    Eu acho que é tão complicado absorver quanto filtrar.
    Absorver demanda tempo, fontes variadas e ligação com o que acontece a todo instante.
    Filtrar demanda fontes confiáveis, carga histórica e filosófica – como vc disse – para um bom discernimento e, principalmente, interesse.
    No final das contas, filtrar de maneira correta e ter controle sobre o que realmente importa, para quem filtra, necessita que se pesquise para classsificar as melhores fontes, que se tenha senso crítico bastante desenvolvido para finalmente absorver o resultado disso.
    Não parece uma bola de neve? Qto mais vc quer filtrar, mais vc precisa absorver pra conseguir filtrar =)

  2. mariacera disse:

    Este post seu me fez relembrar por que sou uma historiadora da ciência… ótimo post.

  3. cnepomuceno disse:

    Felipe e Maria,

    na verdade, tenho chegado a uma fronteira, ainda tênue que me diz que a melhor forma para lidar com o redemoinho de informações é justamente a nossa capacidade de olhá-lo de fora.

    Ou seja, cada vez menos, com mais sabedoria, pois o que realmente muda é muito menos do que nossa vã ansiedade considera.

    Dentro, não conseguimos nos posicionar.

    Estou preparando novos posts que aprofundam esse paradoxo moderno.

    Grato pelos comentários,
    Nepomuceno.

  4. profpardal disse:

    É verdade!
    Mas com o meu problema de saúde “mental” não consigo reter as informações mais importantes da minha vida!

  5. […] Individualmente, estamos vivendo intensamente a hiperminésia. […]

  6. cnepomuceno disse:

    Saiu uma boa matéria sobre o tema do tempo, aliando, inclusive os princípios budistas com a necessidade de se parar para pensar.

    Saiu no dia 26 de abril.

    De Karla Medeiros – título Tempo.

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