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Estive anteontem com os alunos da turma do MBA de Gestão de Conhecimento, do Crie/Coppe/UFRJ para a minha ministrar a minha disciplina “Conhecimento em Rede”.

E resolvi registrar aqui mais um exercício de reflexão que gosto de fazer em sala de aula, pois nossa visão sobre informação sempre se baseia em algo sólido, consolidade, em arquivos, documentos, pastas.

Quando, na verdade, o importante para que tudo aconteça é o processo, a cultura e, fundamentalmente, as pessoas.

Bom, o que levanto em sala de aula….

  • Quando um livro é informação?
  • Ou quando uma batata é comida?
A batata só é comida em processo....

A batata só é comida em processo....

Comecemos por essa última indagação.

A batata quando nasce é uma raiz em possibilidade, uma comida em potencial.

Ou um “registro alimentício” passível de virar informação na boca de um usuário guloso.

Muitos gostam de chamar de dado, mas mesmo para um dado, precisa estar em movimento. Um dado é um lobo e a informação, a matilha.

Gosto da viagem que fiz no Gengibre sobre o assunto nas minhas últimas férias.

Voltando à batata.

Quando crescida, colhida, lavada, cortada, frita, empratada, engolida, mastigada, digerida e enzimada a batata passou por todo esse processo, mas nunca, de fato, foi comida, substantivo.

Para observar a batata enquanto comida só é possível ao longo do processo. Se um ciclo todo ocorrer você pode dizer que aquela batata específica virou comida, outras tantas apodreceram.

Veja que somente quando a batata já não é mais nada, desde que jantada ou almoçada, ela vira comida apenas no passado, pois é uma realização que depende de um processo, diretamente ligado ao uso que determinada pessoa fez daquele alimento.

Não existe comida enquanto estado, substantivo.

A comida é um estado relacional, que depende do uso que fazemos dela.

Uma fruta é apenas uma fruta, se for comida, virou comida.

Ou seja, a batata é um alimento, mas não quer dizer que aquela específica vai virar comida.

O mesmo ocorre com um determinado livro.

)

Um livro não é batata!/ 🙂

Um exemplar que está em uma prateleira.

Enquanto papel com tinta ele é potencialmente um conjunto de registros parado e inútil, a espera de um processo informacional.

É apenas um registro, que pode se transformar em um dado, uma informação, ou mesmo um conhecimento.

Se for queimado, por exemplo, foi um livro queimado, que não serviu para nada. Ou se for em japonês, na mão de quem não conhece o idioma é apenas um conjunto de desenhos sem nexo, que pode ser vir de suporte para a porta.

Mas não é dado, nem mesmo informação.

Para se transformar em informação precisa ser, antes de tudo, catalogado para ser encontrado, pego, lido, compreendido e ter criado algum significado, que se incorpore de alguma forma na rede complexa do cérebro de quem o leu e voltar, a qualquer momento, através de um determinado estímulo, o que podemos chamar de conhecimento.

Assim, a informação não existe enquanto substantivo, mas só pode ser vista em processo, em potencial, a ser realizado, a partir de uma determinado conjunto de ações, igual à comida e a batata.

A informação só é possivel em movimento.

Um livro é apenas um dado, um conjunto de folhas inúteis, até que entre em relação com um dado leitor, que tem capacidade de se relacionar com ele.

Oferece um potencial diferente, obviamente, do que uma cadeira, uma mesa, uma planta.

Assim, como a batata, enquanto comida, do que um pedaço de madeira, uma garrafa plástica ou uma borracha.

O livro e a batata só serão informação e comida, a partir do processo em que vão estar inseridos, antes disso, são insumos armazenados, potencialmente úteis para virar outra coisa, mas só a partir de um dado movimento.

Parados, são apenas um futuro ovo a ser posto por uma galinha.

Náo conte com o ovo na galinha...

Náo conte com o ovo na galinha...

O que nos leva a dizer que a informação só existe em movimento. E, de prático, o que é a missão com quem lida com ela e com conhecimento, antes de tudo, é ajudar para que o processo se dê.

Que ela realmente vire comida.

O que significa o envolvimento cada vez maior do usuário que vai entrar no jogo. O investimento, assim, é na relação dos insumos com as pessoas e não apenas nos acervos, nas batatas e nos dados, pré-informação e na tecnologia.

Sem relação, não há nenhuma informação.

Qualquer processo informacional que não leve em conta a importância da relação do usuário com os registros disponíveis está fadado a se tranformar em algo inútil.

É um processo do umbigo do profissional da informação e do conhecimento com ele mesmo, que finge que está lidando com a informação, mas, na verdade, está fazendo a gestão do vazio.

Se já era assim no passado, imagina agora com a Web!

Ou seja:

Informação e água parada só criam mosquito.

Concordas?

4 Responses to “Aula MBKM – Quando a batata é comida?”

  1. Rodrigo Cotrim disse:

    Ok…concordo.

    Partindo do pressuposto que para se gerar conhecimento é necessário um conjunto administrar um conjunto de fatores e influências…ainda acredito no termo “gestão do conhecimento”…

    Abraços!

  2. cnepomuceno disse:

    Rodrigo,

    discutimos a questão no outro post sobre gestão de conhecimento e papai noel, sugiro a quem chegue que dê uma olhada.

    abraços,

    obrigado pela visita,

    Nepomuceno.

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