Existem três tipos de empresas (e pessoas). As que fazem as coisas acontecer, as que ficam vendo as coisas acontecer e as que se perguntam: O que aconteceu? – Philip Kotler, da minha coleção de frases.
Toda sociedade tem necessidades de consumo para sobreviver, que geram demandas.
As demandas são os problemas do dito “mercado” que empresas públicas e privadas vêm atender.
A razão de existirem.
Quanto mais conseguem resolver estas necessidades velhas e novas, gerais ou específicas, mais valiosas passam a ser para toda a sociedade.
(Falei um pouco sobre isso aqui.)
Assim, quanto mais formos no planeta, mais espalhados seremos por todo o globo.
E, como mostra o passado recente, mais concetrados tenderemos a viver, em megalópolis.
E, por sua vez, mais e mais sofisticadas e complexas serão nossas necessidades enquanto coletivo.
O que exige mais sofisticadas plataformas empresarias (público e privadas) para oferecer, no tempo certo, produtos e serviços para a população, ou como queiram, seus clientes em escala cada vez mais global.
Na procura de realizar sua tarefa de antender as demandas toda plataforma organizacional trabalhou desde o início, como agora, sempre com dois movimentos distintos em termos de processo produtivo para solução destas demandas:
- O processo produtivo em si – tudo aquilo que envolve diretamente a produção para solução do problema. Dar aquilo que se necessita a um valor considerado justo ou possível por quem demanda;
- E as informações necessárias (se quiserem conhecimento também) para que o processo produtivo ocorra e toda a logística da concepção da solução do problema à entrega final ocorra, de forma cada vez melhor.
Sem informação não há processo produtivo. E sem processo produtivo não há necessidade de informações.
Nossa primeira plataforma empresarial, antes da revolução industrial, foi a dos indivíduos – artesões, que produziam e comerciantes que negociavam o que sobrava, um conhecimento passado de pai para filho;
Com o aumento da população depois da Idade Média, criamos a plataforma das máquinas, que substituíam as individuais para ganhar escala, substituindo a força braçal, por equipamentos.
(Só possível pelo surgimento do livro impresso, que guardou nas páginas o conhecimento para que esta nova parafernália pudesse funcionar e ser melhorada gradualmente.)
Na evolução das plataformas das máquinas sentimos necessidades da acelerar o processo produtivo e o processamento da informação para continuar atendendo mais e e melhor mais gente, movidos também pela competição entre diferentes plataformas empresariais.
Assim, o computador foi introduzido nos dois processos, permitindo o armazenamento digital, que guarda cada vez mais em um espaço menor e calcula de forma mais rápida e barata.
Vemos, assim, hoje computadores e robôs do chão das fábricas aos escritórios, para realizar as duas funções, produzir e processar a informação necessária em em torno dessa ação.
Portanto, podemos dizer que inauguramos um outro ciclo: o da plataforma digital, a partir de 1940, com a larga utilização dos computadores nas empresas para apoiar na sua produção de bens e serviços, ampliando a capacidade cognitiva humana.
A introdução das redes digitais eletrônicas, por fim, em 1990, inaugura um novo momento na escalada destas plataformas.
Toda a digitalização dos processos e das informações ficam, agora, passíveis de acesso a distância, via rede, por toda a cadeia produtiva – agora também do lado de fora das empresas.
Os bancos de dados, onde os registros ficam depositados, ora protegidos localmente permitem agora o acesso de qualquer lugar, a critério de seus donos, como mais uma forma de acelerar o processo produtivo, permitindo que fornecedores e consumidores possam consultá-lo e, assim, continuar a escalada oferta/demanda que dá o tom desde o início da humanidade:
Atender bem (o que implica rapidez e qualidade) a uma população cada vez maior.
Nesse cenário, a plataforma digital colaborativa estabelece uma outro paradigma para as empresas que querem ganhar escala.
Precisam estar em rede com o objetivo de atender de forma mais precisa seus consumidores, com o mínimo de recursos possíveis de seus fornecedores. Ou seja, através de uma interação cada vez melhor com seus colaboradores, externos e internos, criar uma vasta rede de relações entre todos, de tal forma, a conseguir competir em um mercado cada vez mais complexo e dinâmico.
Hoje, ao se falar em Governo 2.0 e Empresas 2.0 nada mais estamos falando do que abrir bases de dados, antes inatingíveis, para que o usuário principalmente externo não só possa acessar (fase 1 da Web), incluir dados e trocá-los com outros usuários (fase 2) e, agora, produzir também aplicativos por sobre estes registros (fase 3).
- O sucesso do Twitter se dá – e muito – pela abertura da base de dados para que um conjunto de empreendedores/programadores possam ampliar a sua repercussão, produzindo produtos para agregar valor ao 0riginal: veja o exemplo aqui;
- Do IPod de permitir que usuários criem aplicativos para seu produto;
- Ou do Google com o Google Maps, em que todos podem criar aplicativos sobre as fotos dos satélites;
- Ou mesmo o WordPress, no qual escrevo este post, que abre seus códigos e permite que usuários/programadores criem em cima do produto mais e mais aplicativos para aperfeiçoá-lo.
Ou seja, não basta apenas a plataforma colaborativa, mas a criação de uma rede humana em torno do projeto!
Ouvi de uma pessoa lá em NY, no evento Web 2.0, sobre o tema Governo 2.0:
“Não basta colocar o PDF, é preciso também abrir a base de dados, de tal forma que cada cidadão/programador que saiba criar uma API possa fazê-lo das mais diferentes maneiras”.
É uma fase na qual a preservação do valor das instituições, para ganhar velocidade e qualidade, depende da co-criação, em torno de bancos de dados e relação direta com os robôs do chão da fábrica das empresas, na qual o usuário passa a participar efetivamente do processo produtivo.
É uma forma de se garantir que o resultado final fique a seu gosto, reduzindo o desperdício do que a empresa tem que fazer baseado nas hoje já antigas pesquisas de mercado, sempre imprecisas e facilitando, assim, mais e mais a logística, pois tudo se transfere para a relação usuário-plataforma.
É a potencialização de recursos, colocando o usuário dentro da fábrica, encomendando direto no banco de dados, o que antes era feito, através de previsões, além de inventando novos produtos, como é o caso da Camiseteria, ou do Fiat Mio para ficarmos apenas em dois exemplos de co-criação entre os milhares existentes.
Um novo capitalismo que suscita uma relação mais estreita e de confiança entre a plataforma agora digital e colaborativa e sua rede de agentes, sendo que o consumidor faz parte dela.
É uma ruptura na maneira de se trabalhar e, portanto de pensar.
Há um outro controle informacional em curso, similar o que tivemos com a era do livro impresso, que está, enfim, sendo destronada depois de quase 500 anos.
O que estava fora, agora tem que vir para dentro, em uma relação muito mais próxima.
O que era um namoro, ou uma relação “ficante”, tem que virar casamento!
E suspeito que uma nova forma do capitalismo floresce, marcando uma forte ruptura na relação empresa/cliente/fornecedor/rede de parceiros/competidores.
Estamos de certa forma voltando, em outro patamar, aos tempos de artesões, mas agora para a massa.
É individual, mas é para todo mundo.
(Quem discute isso bem, e fala muito de co-criação em escala global é Prahalah no livro “The New age of Innovation“. )
Sob este ponto de vista, o que faz a diferença é a qualidade da plataforma colaborativa, no hardware, no software e, principalmente, na rede de comunicação em torno dela, baseada na confiança, que se estabelece.
(Vide as corretoras de venda de ações, que hoje basicamente são plataformas para home brokers, com valores agregados na relação, além da cada vez melhor, rápida e segura tecnologia.)
As empresas deixam de ser uma plataforma de produção isolada, com base de dados fechadas, e passam a uma plataforma colaborativa em rede, abrindo as bases de dados e estimulando que todos possam criar, sozinhos ou em grupo, em cima dos dados ali depositados, em uma relação direta do consumidor com a prancheta do designer e o robô da fábrica.
Co-criem, desde que seja comigo.
Portanto, quem fará a diferença neste mundo 2.0 serão justamente aqueles que estabelecerem a melhor rede de colaboração entre todos os agentes necessários no processo produtivo, melhorando mais e mais a plataforma e a relação com os que a usam.
Vivemos a época das empresas abertas eletrônicas, digitais, colaborativas e de massa.
Aprendendo e ajustando com seus acertos e erros, gerando mais e mais valor, em uma relação cada vez mais estreita e em rede global, funcionando mais com um enxame de abelhas, que vira para lá e para cá ao sabor do vento das demandas, sempre mutantes.
Leve, leve, leve….
É isso.
E você vai ficar aí lendo tudo isso calado? 🙂