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Se você não tomar conta do seu ego, ele toma conta de você – Nepô – da minha coleção de frases;

Outro dia escrevi sobre a dupla Tico e Teco na nossa cabeça.

Que chamei o Ego e o Lego.

  • O ego é onde armazenamos o passado, as tradições, na qual a sociedade tenta se preservar, criando em nós um piloto automático, podemos chamar também de (pr) ego; 🙂
  • O lego é a nossa capacidade de olhar para esse ego e recriar esse legado, inventando e fugindo desse domínio, a tal inteligência.

No ego estão armazenados os dados, as informações e os conhecimentos que temos do mundo.

O lego é a nossa capacidade de linkar tudo isso de forma individual e criativa, quando possível, saindo da manada, da caixa e da maneira padrão que nos habituaram ver as coisas, reconstruindo o aprendido com alguma liberdade.

Entretanto, há um outro elemento importante que compõe esse tripé que é a consciência, que está por baixo dos dois.

Os dois primeiros estão no nível do pensamento e a segunda da intuição, da ligação das pessoas com as coisas subjetivas, não ditas, das emoções.

Como no desenho abaixo:

ego_lego_consciencia

A maioria dos filósofos orientais atribui à violência do mundo atual ao fato de acharmos que somos o nosso Ego, ou o piloto automático, que guia nossas vidas.

Segundo eles, vivemos hoje com o seguinte modelo relacional com o mundo:

ego_lego_consciencia2

Ao não pensarmos nas coisas e nos deixarmos levar, como mulas, aceitamos os dogmas e os reproduzimos sem parar, multiplicando a violência, movidos pelo nosso ego, sempre condicionado.

(É no fundo o tema recorrente de Quentin Tarantino, mais explicitamente no filme “Bastardos Inglórios“, só que ele não vê saída, em um grande labirinto em que a violência se multiplica mais e mais, inclusive no seu próprio filme em uma escalada cada vez maior.)

O trabalho zen, budista e os ensinamentos de Gandhi, em contra partida, vão justamente na direção oposta.

Na nossa capacidade de olhar de fora esse ego, através da consciência, e poder perceber o quanto ele é condicionado, parando em nós a violência e não a multiplicando =  mais sabedoria e menos violência.

Quando se pensa sabedoria, entretanto, coloca-se a obtenção da mesma no tempo, ou confunde-se com acúmulo de conhecimento.

Mas a sabedoria pode ser vista também, como é minha opção, como algo não cumulativo, mas relacional.

Somos sábios ao nos libertar mais e mais a relação com nosso ego condicionado!

Assim, do meu ponto de vista hoje, pelo que  tenho lido e visto na prática, a sabedoria não se dá no acúmulo, mas na relação que se estabelece a cada dia com o nosso ego. Na nossa capacidade de desenvolver uma capacidade de olhá-lo de fora.

Ou seja, próximo ao que dizem desde a década de 30 os grupos de anônimos de mútuo ajuda (muitos para muitos) do mundo todo para se livrar de qualquer compulsão:

Só por hoje eu vou olhar meu ego de fora e não vou beber, cheirar, etc, pois é ele que o quer e não a minha consciência.

(Falei mais sobre compulsões e com detalhes da informacional aqui.)

Entretanto, além da relação ego-consciência, acredito que existe um outro elemento: o lego, nossa capacidade criativa.

Ao estabelecermos uma nova relação com o ego, abre-se um espaço e começamos a ver o nosso condicionamento de fora, o que dá a cada um, conforme sua capacidade de sair dos dogmas.

Ou seja,  nossa capacidade criativa de ver o quanto estávamos manipulados por ele.

O Lego tem essa capacidade de recriar esse legado, a partir de um determinado olhar sobre o ego conservador e repetidor, tanto em saber lidar com ele, ajudando a consciência nesse papel, como também, de repensar sobre o legado, o conhecimento, introduzindo a inovação e o pensar fora da caixa (egóica).

Acredito que a filosofia oriental e o conceito do ego e da consciência são peça-chave para a sinuca de bico que nos metemos.

A não-violência é justamente a nossa capacidade de viver o momento presente e interagir com os demais e com o planeta, reestabelecendo nova relação com a consciência, aprisionada, repensando o legado compulsivo e repetitivo que nos metemos, pendurados no (pr) ego.

(E isso é a base ideológica-filosófica da nova relação com os consumidores, que chamei de folksonomarketing.)

A Web introduz em parte a cultura da colaboração, criando uma falsa ilusão de um novo mundo,  mas não resolve a questão da relação consciência-ego.

Esse desafio, não é tecnológico, pois é uma ideologia, uma filosofia que precisa ser recolocada como fundamental para nossa relação com a vida.

A rede coloca de novo em pauta a discussão da colaboração humana, mas não pode trazê-la a esse nível mas profundo, pois ela é individual e diária na sabedoria de cada um em olhar seu ego de fora, só por hoje.

(Estamos, aliás, ao contrário, em pleno aprofundamento em larga escala de uma onda de compulsão informacional, através de todas as ferramentas que nos aprisionam ao invés de nos libertar e ainda e chamamos isso tudo de moderno!!!)

Relembro o @samadeu: “A pior prisão é aquela que você não sabe que está preso”


(Foi o que comecei a discutir, a partir do debate da RioInfo, este ano.)

Se queremos, assim, sair do mundo da mera conexão web, (muito forte e difundida),  para o da verdadeira comunicação (muito fraca e cada vez mais perdida), como sugere Dominique Wolton, no livro “Internet, e depois” é necessário começar a repensar quem realmente somos e quem achamos que somos.

E, por fim, de fato como pensamos.

Ou, melhor, como achamos que pensamos.

É isso, felizmente, ou infelizmente,  não depende do Lula, do Obama, do seu pai, da sua mãe, do Papa, nem do bêbado da esquina liberar, mas apenas de você ir adiante, através de uma relação mais sábia com o ego e o lego.

E aí as coisas se complicam….não?

Diz!

4 Responses to “O ego, o lego e a consciência…”

  1. […] E de como pensamos sobre eles. Cognição e afeto, uma dupla sertaneja. O lego e o ego. […]

  2. marcelo disse:

    Carlos (ou nepô?),
    Interessante tua abordagem. Nunca achei que iria encontrar um artigo desta profundidade hipernavegando a partir do webinsider! 🙂
    Acho que você se interessaria pelo trabalho de Kalle Lasn:
    – Livro: Culture Jamming
    – Fundação e site: http://www.adbusters.org
    Trata bastante de uma questão de condicionamento mental (ele chama de ¨mental environment¨) pela repetição de mensagens vinculadas a meios corporativos, como publicidade, AP etc. Confira, vale a pena.

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    Marcelo, grato, vou dar uma olhada!

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