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Inovar, a meu ver, o dilema de um mundo hiperpovoado mutante, passa por uma rediscussão dessa base filosófica humana: o que somos e como nos relacionamos com o mundo? Só conseguimos inovar, de fato, e ver o mundo um pouco mais próximo do que ele é, quando conseguimos aumentar a taxa do verdadeiro-eu e reduzir a do falso.

Versão 1.2 – 25 de junho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Estou lendo um livro antigo do Krishnamurti “A questão do impossível“, herança do meu pai.

Tenho vários dele aqui espalhados pela casa.

Tem um lado dele que me agrada: temos que ver a vida sempre como se fosse tudo novo, porém isso é possível em um mundo em que temos que acordar, trabalhar, cuidar dos filhos, sobreviver?

Acho que melhor do que ser absoluto e radical, trabalhar com taxas.

Procurar, o máximo possível, recriar nossa visão de mundo.

E aí já podemos começar a trabalhar melhor.

Dito isso, o filósofo de origem indiana diz que quem comanda nossa vida é o nosso cérebro, que estabelece uma relação deturpada entre quem observa e a coisa observada.

O cérebro, (já colocando outras leituras no meio, tal como a de M.J.Ryan, “O poder da adaptação“) diz que para economizar energia ele cria hábitos, que funcionam muito bem quando não há mudanças radicais.

Porém, sempre vivemos mudanças radicais em nossa vida.

E quanto mais nos deixarmos levar pelo piloto automático do nosso cérebro, menos tivermos consciência dele, mais dificuldade teremos para lidar com mudanças.

E isso é mais crítico em um mundo que muda mais rápido.

Ao estabelecer essa divisão entre a coisa do lado de fora e de dentro, ou o fato e a versão, a pessoa perde a capacidade de ver, pois o lado de fora está sempre em movimento e o de dentro parado, criando uma divisão.

Segundo ele, nossa mente é entorpecida, viciada e só consegue analisar os fatos com nossas perspectivas passadas.

Gosto da frase que li recentemente do Talmude:

Krishnamurti não estabelece um método (tem horror a eles), pois acha que qualquer metodologia serve para nublar a mente.

O importante é apenas olhar como olhamos.

Ou seja, ao invés de procurar olhar para fora, olhar para como olhamos, que seria uma forma de acalmar esse “ser que olha que é e, ao mesmo tempo, não nos representa”.

E assim conseguir ver diretamente, ou o mais diretamente possível.

O simples exercício de estabelecer essa divisão:

  • Alguém que olha por mim;
  • O olhar sobre esse que olha por mim, nos acalma;
  • E nos permite, de algum ponto intermediário, ver, de novo, o novo.

Teríamos a possibilidade de criar um vão entre o trem a plataforma. 😉

(Mind the gap!)


Admitimos, assim, que somos, na verdade dois: um que olha automaticamente e pilota nossa vida – que muitos chamam de ego,  piloto automático, caixa; E outro dentro de nós, que olharia para esse de fora – vou chamar esse conflito de embate permanente entre o falso e o verdadeiro-eu.

Apenas um embate sem vencedor.

Talvez, sejamos o resultado dessa luta – com um vencedor a cada minuto, hora, dia, semana, mês, ano, década, vida, enfim.

Somos mais ou menos eu mesmo a cada dia, sabendo sempre que nunca seremos totalmente o verdadeiro-eu o o falso.

Somos a luta e a taxa possível entre estes dois.

Tal ideia da divisão humana entre dois seres (um que olha por nós e outro que deveria olhar o que olha) e a harmonia dessa relação nos daria uma pista do que seria o amadurecimento.

Amadurecer seria a capacidade de perceber (de dentro para fora) como os condicionamentos da sociedade se armazenaram e como são ativados, em que circunstâncias para que possamos desarmá-los.

Tal exercício permanente nos permitira ver o mundo de forma diferente e não mais sempre com olhos do passado, dogmaticamente.

Impedindo de ver de novo, o sempre novo, a partir da ideia de que o rio nunca para de correr.

Muitos consideram que esse “pilotice” automática é algo inerente ao ser humano e irrreversível.

São nossas neuroses, nosso círculo vicioso, que poderiam ser mais ou menos conscientes, a nos levar a cometer mais ou menos insanidades.

Seríamos sempre guiados pelos nosso condicionamentos, que nos ajudaram e ajudam a sobreviver.

A sociedade é conservadora para sobreviver – um conjunto de falso-eus ambulantes.

(Será que aquele filme Zumbilânida é uma sátira a isso?)

Nessa linha, Bradshaw, psicólogo americano, defende que, de fato, existe uma mistificação, criada como uma proteção humana em função da nossa “domesticação”.

Nascer e ser civilizado tem um preço, que nos leva a reprimir e criar uma máscara social para recebermos lascas de amor.

Portanto, não somos amados pelo que somos, mas pelos que os outros gostariam que nós fôssemos. Viramos o que as pessoas querem, apesar da raiva e dos problemas que isso causa nas nossas vidas.

Com mais, ou menos intensidade isso deixa marcas.

O problema que é algo tão inconsciente que essa máscara passa a ser nós mesmos (sem saber que a criamos).

(Um parênteses grande para falar das taxas –> 

Depois de muito pensar sobre estes temas (ou qualquer outro), amadureci que nós nunca podemos analisar nenhum fenômeno em termos absolutos, pois se tudo é um fluxo em movimento, na verdade, temos variações de “pressão e temperatura”.

  • Um leite pode ferver, desde que colocado na panela.
  • Se não for para a geladeira, estraga.
  • E ingerido vira outra coisa.

O leite tem suas características mutantes, conforme alguns contextos.

Uma boa teoria, na verdade, é aquela que identifica forças em movimento, aquilo que traz a desordem na ordem, em que circunstância, como que relação – tornado-a mais adaptativa aos fatos.

Podemos dizer, assim, que temos taxas de análise para qualquer fenômeno, o que a medicina se utiliza bastante na Epidemologia.

Trabalha-se com probabilidades e não com doenças absolutas.

Isso se consegue como?

Analisando o passado para se projetar o futuro.

Portanto, temos individualmente, em grupos (micro) e na civilização (macro) taxas de consciência desse outro eu, a cada circunstância, em cada pessoa, grupo, a partir de variantes.

Fim do parênteses grande)

Assim, alguns estão mais imersos no seu falso-eu e outros menos, pois conseguiram por várias fatores reduzir o controle do falso-eu sobre suas vidas.

Isso não quer dizer que fulano consegue exercer seu verdadeiro-eu, porém que consegue taxas melhores comparadas apenas com o seu passado e não com os outros, pois cada um tem uma estrada distinta.

Ele é mais verdadeiro do que já foi antes, o que não quer dizer que não possa retroceder.

As maiores taxas do verdadeiro-eu (digamos assim) nos permitem olhar para as coisas com mais estranhamento, como se víssemos pela primeira vez algo que está sempre do nosso lado.

Algo que os poetas e os filósofos procuram constantemente para recriar.

Por fim, se olharmos em termos da macrocognição (análise do macro ambiente de cognição global), estamos saindo de um mundo, no qual tivemos décadas (séculos?) de forte controle da circulação de ideias, pelo ambiente cognitivo de plantão fortemente verticalizado.

Esse tipo de situação nos leva para uma decadência cognitiva (como disse nesse post), no qual a taxa de falso-eu é coletivamente mais alta.

Por quê?

Um dos caminhos para a redução da taxa do falso-eu é o diálogo, a conversa, a troca, o que ficou coletivamente limitado em um mundo com ideias fortemente controladas.

Uma revolução cognitiva, como muitas novas ideias circulando, como estamos vivendo agora, nos condiciona coletivamente para uma redução da taxa do falso-eu, pois recebemos mais estímulos para sair de dentro do nosso casco (de tartaruga humano).

Aumenta-se, independente o esforço individual de cada um, a taxa de verdadeiro-eu no mundo, criando espaço para a inovação que estamos percebendo, novas iniciativas, etc…

Há uma melhora do índice que vem de fora para dentro.

Essa é uma hipótese.

Como já dissemos, tal fenômeno é temporário e transitório.

O trabalho individual de olhar para o que em nós é falso continua e é o que faz diferença em cada um e não no todo, pois deve existir também o movimento que vem de dentro para fora, aproveitando-se ou não das macro condições.

É o amadurecimento que não é condicionado, mas algo que parte do livre arbítrio e da capacidade de perceber esse falso-eu. Ou de crises que o falso-eu nos coloca, que nos joga necessariamente para uma mudança!

Inovar, a meu ver, o dilema de um mundo hiperpovoado mutante, passa por uma rediscussão dessa base filosófica humana – talvez agora o condicionamento seja mais nocivo para o todo do que foi antes.

O piloto automático nos impede de mudar a taxas que são hoje necessárias.

Só conseguimos inovar, de fato, e ver o mundo um pouco mais próximo do que ele é, quando conseguimos aumentar a taxa do verdadeiro-eu e reduzir a do falso, pois do contrário iremos repetir o que nos foi condicionado!

E podemos nos perguntar: será que teremos que ser mais espiritualizados para poder ser mais inovadores? E o falso-eu é algo que vai cada vez mais atrapalhar um mundo hiper-povoado? Teremos uma mudança da taxa do falso-eu por necessidade de sobrevivência?

Ou o mundo que estamos entrando terá uma taxa de falso-eu reduzida do que foi no passado e se estabilizará em outro patamar?

Não sei, a pensar.

É isso,

Que dizes?

 

One Response to “O piloto automático e as mudanças”

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