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Sou muito mais provocador do que pesquisador – Nepô – da safra de 2011;

(Aviso: texto que estou amadurecendo aos poucos, ajude.)

Muita gente afirma por aí que os blogs não são uma ferramenta de ciência.

Alguns pensadores já chamaram até os blogs de espaço para textos efêmeros. 😉

Há um preconceito em relação aos blogs em geral.

Tenho para mim que os grandes pensadores do passado (como ocorre com alguns do presente) nunca deixariam de fazer do blog, pelo menos, como seu caderno de rascunhos.

Os  blogs, a meu ver, deveriam ser o centro da produção da ciência!

Todo o pesquisador deveria ter um blog e fazer dele um caderno público de anotações para servir de referência/divulgação da continuidade do seu trabalho.

Hoje, não faz mais sentido em pensar em pesquisas prontas e acabadas.

Estamos saindo das verdades sólidas para as líquidas.

Dos textos para as telas.

Das pesquisas concluídas para as pesquisas permanentemente em processo.

Obras em construção livres e abertas no mundo digital.

O pesquisador lê texto, faz resumos, assiste aulas e guarda isso tudo para ele?

Tem lógica isso? Em que planeta?

Vejo entre meus alunos isso, cada um anotando individualmente, mas sem um espaço coletivo ou individual em rede, que possam colaborar e reduzir esforços.

Pior, não só estaria colaborando com a comunidade em torno dele, mas também com o seu próprio trabalho em um exercício de consolidação pública.

Claro que pode ser um blog individual ou coletivo, ou dentro de uma rede social de pesquisadores, pouco importa, mas um espaço digital de publicação sem tanto compromisso, passível de discussão, comentários e ainda com a possibilidade de ser rastreado pelo Google para permitir que outros pesquisadores que estão no mesmo tema espalhados por aí se encontrem para trocas.

 

Além disso, o papel do blog ganha uma relevância fundamental na Ciência 2.0 em termos de custo e tempo. Para conhecer vivenciamos algumas etapas meio distintas:

Insight –> Hipótese –> Pesquisa –> Conclusões. 

Tem-se uma brilhante ideia sobre um dado fenômeno, acreditando de que o que é visto ou feito de uma determinada maneira poderia ser feita de outra.

São estes insight que vai virar  hipótese.

E é esta hipótese que servirá de base para a pesquisa.

A hipótese será  mais ou menos original, mais ou menos eficaz.

Quanto mais original e eficaz, melhor.

A hipótese, entretanto,  é a base da ciência, pois é a partir dela que todo o resto se desenvolve.

Digamos que se você parte de uma hipótese pouco eficaz, todo o trabalho de pesquisa sofrerá dessa consequência, não tem jeito.

As boas hipóteses, entretanto, economizam tempo e recursos.

Quanto mais eficazes, melhor, pois se perderá menos tempo em hipóteses que já foram questionadas, ou que podem ser pensadas de forma mais sofisticada.

O problema atual da academia é que, apesar de ser haver espaço de debates, principalmente presencial, os pesquisadores trabalham, em sua maioria, de forma isolada muito mais baseados na troca de papel do que na digital em rede.

Há pouco espaço para jogar ideias para o alto para ver como quicam de forma mais despretenciosa.

Cada um no seu canto, produzindo com seus orientadores.

Ficam restritos a um relacionamento com seus pares/orientadores em ambientes fechados e as hipóteses são resultados desse debate restrito.

São, por tendência, hipóteses mais pobres e menos relevantes para a sociedade.

Seriam mais relevantes se pudessem sofrer um processo maior de debate.

Tem lógica?

Assim, hipóteses que desdobram pesquisas, dissertações, teses, que levam anos são pouco debatidas na sua raiz.

O que leva a uma perda de tempo incomensurável, pois se a hipótese fraca ou equivocada está jogando tempo e dinheiro fora, concordas?

Assim, de maneira geral, os blogs (ou redes sociais científicas)  seriam um ótimo instrumento para discutir hipóteses, antes dos pesquisadores irem para campo, além de um diário de bordo, um divulgador permanente do processo da pesquisa e não apenas do seu resultado final.

Poderia ir se atualizando/discutindo e melhorando o processo a cada post.

O que hoje não é feito, infelizmente.

A Capes, por exemplo, ignora blogs de pesquisadores.

Ignora-se solemente o esforço que muitos estão fazendo em prol da ciência e da sociedade!!!!

Capes 1.0: Ciência séria é no papel e em publicações reconhecidas

(Pior, estimulam publicar em revistas que o próprio pesquisador que escreveu tem que pagar para ler!!!)

Algumas vantagens de se fazer a pesquisa apoiada por um blog:

  • Conhecimento de hipóteses similares e pesquisas;
  • Mais aprofundamento das hipóteses, fortalecimento, mudanças de rumo, etc;
  • Exercício constante da escrita mais aberta, evitando entrar no “academês”;
  • Conversas para balizar a relevância da pesquisa/ a partir da hipótese para a sociedade, pois o blog é aberto e não fechado apenas para a academia.

Assim, os blogs/redes sociais acadêmicas seriam  os novos  espaços  relevantes para o debate das hipóteses, mais ainda como se diz por aí: para a divulgação científica ao longo de todo o processo da pesquisa, balizando, ainda mais, quem está fazendo o que exatamente, via Google.

Além disso, a pesquisa, conforme vai andando pode ir sendo postada no blog, numa espécie de pesquisa aberta para que os interessados naquele campo possam ir acompanhando.

Isso vale para qualquer área e em qualquer tempo e acho que ninguém pode jogar pedra nessa proposta.

Os argumentos contra tal prática são a perda de ineditismo e cópia das ideias.

Ineditismo num mundo chacoalhado de informações?

Talvez em 5% dos casos isso faça sentido, quando se fala de patentes, mas na área de ciências humanas/sociais isso me parece algo do século retrasado!

Mais:

  • – pela velocidade das mudanças, precisamos de mais agilidade e flexibilidade para discutir hipóteses, pois cada vez há menos tempo e recursos a serem desperdiçados;
  • – e diante da mudança radical de paradigma no estudos de fatos sociais/humanos o blog pode ser um instrumento fundamental para acertos de rumos.

Vou falar desta segunda (quebra de paradigmas), em particular.

A hipótese de Lévy e de vários outros pensadores é de que estamos entrando em outra era da civilização e que  o papel da comunicação, informação e do conhecimento está/estava sub-valorizado na maneira que olhamos a sociedade.

Não há nas teorias sobre a sociedade/seres humanos a previsão/consequências de  rupturas informacionais como a atual.

Tais mudanças  são capazes de alterar bastante a  sociedade e, por sua vez, repensar a maneira que olhávamos o humano e nossas ações

O que seria o fim de um paradigama sobre a sociedade sem rupturas informacionais, utilizando o conceito de paradigma de Kuhn.

Tal mudança provoca a necessidade da revisão de vários fenômenos sociais, que devem ser revistos em função de rupturas informacionais, como a chegada do livro impresso e da Internet, por exemplo.

Não sabíamos que estávamos tão a mercê destes fatos!

Mas a realidade, que é a nossa principal professora, está dizendo que estamos, estávamos e estaremos!

Kuhn afirma que em momentos assim as pesquisas baseadas no paradigma passado perdem o valor, precisando um novo olhar para readequar a eficácia das novas hipóteses, diante da nova maneira de pensar.

Muitos podem afirmar: vivemos um novo paradigma?

Bom, basta olhar em torno para você me dizer.

Digamos, a meu ver, que estamos diante de um divisor de águas na maneira de se pensar a sociedade, que deve passar a ser incluído como um FORTE elemento.

A maioria da academia hoje na área social e humana ignora esse tipo de ruptura, bem como, a incorporação da ruptura da Internet, digamos, na forma e no conteúdo, como se tudo fosse ficar igual como antes.

Será?

Fecham-se num mundo e criam suas hipóteses num paradigma pré-revolução informacional, o que é uma loucura!

Acham que podem pensar a sociedade sem incluir as mudanças provocadas pelas redes digitais?

Vide o resultado em pesquisas cada vez menos eficazes!

E cada vez mais esparadrapadas teoricamente.

O espaço dos blogs/redes sociais para discutir as hipóteses desse tipo ajudariam nesse momento de crise de visão, pois poderiam ainda mais abrir o debate, problematizando hipóteses que não passem pela questão dessa quebra do paradigma.

Debater com pessoas/pesquisadores/provocadores que têm outras visões, enriquecendo o início de tudo, evitando-se ir adiante em paradigmas que podem estar completamente equivocados na sua raiz, pois:

Nunca perdemos tanto tempo falando de coisas tão ultrapassadas!

Não se pode afirmar que Lévy e os demais estejam na direção mais eficaz, mas também não se pode ignorá-los, como muita gente tem optando claramente.

Ou seja, os blogs/redes sociais estão e devem cada vez mais se incorporar à Ciência, da mesma maneira que o papel impresso passou a ser o nosso instrumento principal, questão de tempo e geração.

Assim, se você vai pesquisar, sugiro um blog ou uma rede social para te guiar/ajudar/divulgar/pensar.

Que dizes?

 

9 Responses to “O papel dos blogs acadêmicos”

  1. Amanda disse:

    Olha Nepô, eu vou jogar umas ideias despretensiosas aqui, que me ocorreram num primeiro momento: tem muita gente que tem medo da exposição. Medo de receber críticas de terceiros – receber crítica de orientador já é complicado, de um bando de gente, então, tem que ter muita maturidade pra encarar. E também tem a questão de que o meio é a mensagem, ou seja, só o fato de você colocar seus estudos num blog, já muda totalmente o caráter da coisa toda – você vai pensar não só no objeto da pesquisa, mas em como ele vai aparecer num blog, em como atrair visitantes, em como você quer que ele se ligue a sua imagem, o ego do ser humano, enfim, uma série de fatores que podem influenciar na pesquisa e que antes tinham um peso menor ou inexistente. Mesmo com tudo isso, com esses “riscos” todos, eu acho um caminho muito bacana, o de rascunhar ideias num blog, cativar leitores e trazê-los (por que não?) para assinar com você uma hipótese. Creio até que será um caminho inevitável. Viajei?! Abraços

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Amanda,

    adorei seu comentário.

    Tem um livro que li há um tempo que se chama “vergonha tóxica”. E, na verdade, vivemos com vergonhas 1.0, digamos assim. Talvez, um salto de qualidade dessa nova geração é não ter vergonha de se expor, pois eles consideram que se todo mundo está se expondo, na média, eu vou ficar meio invisível.

    Tirando o narcisismo é uma preparação para um mundo que se expor é fundamental para que possamos superar alguns problemas.

    Outro dia quando falávamos sobre isso em um projeto que fiz de blogs em uma empresa, rolou esse papo da vergonha, que é uma forma do poder se manter no poder, já pensou nisso?

    Fico imaginando, projetando o objetivo da ciência, do que estamos falando?

    Os jornalistas também estão se sentindo nus, os médicos, os políticos, nossa sociedade está tirando uma certa roupa.

    Temos que saber superar essa barreira da vergonha em nome da procura da verdade menos iludida possível. 😉

    Se um pesquisador tem medo de se expor e ser criticado deveria pensar muito sobre se deveria fazer ciência.

    Ciência só avança no debate honesto, pensar no blog é pensar na pesquisa, imagine se a Capes apoia projetos assim, teríamos isso como parte integrante da pesquisa, o que seria um salto quântico na produção científica, pois teríamos uma ciência viva e atual e não algo amorfo mofando em uma biblioteca perdida que ninguém lê.

    Legal, que achou bacana, não é fácil de fato se expor.

    Sabe o que me apoia quando acho que estou sendo ridículo em expor frases, posts aqui no blog, penso que não somos imortais, que a vida tem um sentido e se você acredita na tua obra, vais ter momentos legais e outros nem tanto.

    E acelero.

    Grato pela visita e comentário,

    Nepô.

  3. Marcelo disse:

    Texto brilhante. Excelente visão 2.0, partindo para 3.0 …

    Se me permite, algumas humildes observações:

    – Em lugar de “É estes insight que vai virar hipótese.” para “É este insight” ou “São estes insights”
    – Em lugar de “principalmente presencial, os pesquisadores trabalham, em sua maioria, de forma isolada muito mais baseado na troca de papel do que na digital em rede” para “principalmente presencial, os pesquisadores trabalham, em sua maioria, de forma isolada, muito mais baseado na troca de papel do que na digital em rede” (se baseado concordar com presencial) ou “principalmente presencial, os pesquisadores trabalham, em sua maioria, de forma isolada muito mais baseada na troca de papel do que na digital em rede” (se baseada concordar com a forma isolada”
    – Em “irem para campo. além de um diário de ” faltou uma vírgula antes de além
    – Finalmente, ” argumentos contra tal prática são a perda de ineditismo e copia das ideias” faltou acento em cópia.

  4. Carlos Nepomuceno disse:

    Marcelo, grato, corrigi…abraços, Nepô.

  5. Amanda disse:

    Nepô, passei aqui pra ler seu retorno ao meu comentário e achei engrandecedor. Acho que é por aí mesmo – o que a vida quer da gente é coragem (um poeta já falou por aí). Muito feliz de encontrar blogs como o seu 😀

  6. Jaime disse:

    Muito bom seu post!
    Eu sou estudante, e acabei esbarrando em seu site/blog pelo twitter do Levy, que descobri quem era através da disciplina de comunicação multimídia. E no trabalho de conclusão de período, que era um site/blog para criarmos um texto coletivo e colaborativo, eu percebe um dos problemas que afastam as mentes acadêmicas desse ambiente que é justamente um paradigma de que tudo tem de estar extremamente correto e com português impecável. E o foco que se tem de ter nesse meio é a idéia central, e não os por menores gramaticais(não que o português formal seja dispensável).

    Eu tive medo de expor minhas idéias, nao por elas parecerem inusitadas, mas por criticas de um integrante(formado nas exatas) do meu grupo que sempre pesavam sobre o português, e culminavam por encerrar a linha de raciocínio.

    Desculpe se pareceu um desabafo.

    E meus parabéns pelo site!

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