Não podemos usar velhos mapas para descobrir novas terras – Gil Giardelli – da coleção;
Faz tempo Thomas Malthus escreveu um livro relevante.
“Um ensaio sobre o princípio da população ou uma visão de seus efeitos passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona.”
Nele, Malthus define que o problema humano é o sexo. 😉
Não, longe da mesma abordagem de Freud.
Na sua lógica, o humano gosta do sexo, por isso, tem filhos.
Quanto mais filhos, mais demanda social.
Quanto mais demanda social, mais necessidade de produtos e serviços.
E, segundo Malthus, como a capacidade produtiva era finita, haveria crises.
O humano cresce em escala geométrica e a produção em escala aritmética.
Ele apresenta soluções meio heterodoxas para resolver o problema, do tipo controle da população, redução de apoio aos pobres, o que o colocou na periferia dos pensadores, mas a lógica de Malthus faz sentido.
E é vital para entendermos a Internet!!!
Os críticos do inglês argumentaram que faltava algo na equação de Malthus: inovação.
Assim, quanto mais gente, mais necessidade de produzir e, por sua vez, mais necessidade de inovar.
Ou seja, o humano supera a equação de Malthus inovando, criando formas novas de atender novas demandas, vide o peixe e o trigo trangênico, por exemplo.
Beleza.
Porém, a chegada da Internet demonstra que faltava mais um elemento na equação: a informação.
O que nos leva a:
Quanto mais gente, mais necessidade de produzir e, por sua vez, mais necessidade de inovar. E quanto mais necessidade de inovar, mais de flexibilizar e agilizar os ambientes informacionais.
Numa equação pós-Malthus:
Ou seja, quanto mais gente tivermos no planeta – e o que não falta gente hoje em dia (7 bilhões) – mais teremos necessidade de ambientes informacionais dinâmicos.
Bingo!
É uma equação que justifica o surgimento de tempos em tempos de revoluções da informação, a partir do aumento radical da população, como tivemos antes do surgimento do livro impresso (200 milhões para 400 milhões).
E agora com a Internet (um salto de 1 bilhão, em 1800 para 7 bilhões em 2010.)
Temos hoje uma “gravidez” de novos ambientes mais democráticos para inovar e produzir mais e melhor para mais gente.
Assim, podemos ainda colocar outro parâmetro, que nos leva a repensar a necessidade da democracia.
Há, assim, uma relação de ambientes informacionais, inovação e democracia.
Os ambientes informacionais vêm resolver demandas de inovação e precisam criar um ambiente geral na sociedade mais propício para isso.
Os modelos mais verticais migram para modelos mais horizontais.
Desse ponto de vista, o fim da monarquia para a república nos levou para algo mais aberto, no qual o cidadão passou a escolher o rei, que era “indicado” por Deus/Papa.
O rei pode ser deposto e colocado outro no lugar.
Tal mudança criou o ambiente produtivo que temos hoje bem mais dinâmico do que o feudalismo.
E isso só foi possível pela Revolução da Informação do papel impresso.
Hoje, o modelo democrático é burocrático demais para a demanda de inovação que necessitamos.
Teremos que mudar!
Essa é a fase que estamos começando a entrar.
O modelo democrático que estamos hoje não é mais adequada ao salto populacional que tivemos, assim como a forma de produzir.
É preciso um Crt+alt+del na civilização, como propõe Tapscott.
A ideia de representantes periodicamente escolhidos que nos representa tem se mostrado lenta e pouco eficaz.
Quer-se (por necessidade) votar toda hora, como já demonstra algumas iniciativas (ver vídeo).
Motivo: os problemas são maiores, mais urgentes e mais dinâmicos.
Não dá para esperar o pessoal voltar do recesso!!!!
Iremos construir uma democracia 2.0, participativa, on-line, por causa da necessidade de inovar, por causa da produção, por causa do aumento da população.
Com essa demografia nossa democracia é precária.
E essa é a base da revolução social que está prenhe no centro do planeta.
Chutando aqui e ali a barriga da mãe Gaia.
O novo mundo vai nascer, pois é uma demanda básica para resolver a crise produtiva.
A equação de Malthus é viável e agrega valor, estava apenas incompleta.
Que dizes?
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Reinvente-se!
Olá Nepô,
Acho que como todo insight divisor de águas, no começo só a gente entende. hehehe
Mas tem um que de sabedoria das multidões neste raciocínio, eu fecho com você.
E acho que a chave disso é uma palavra que faltou no texto DIVERSIDADE.
Leandro, com certeza diversidade e qualidade de demandas, mas é importante lembrar que há 210 anos tínhamos que colocar para 1 bilhão de pessoas, algo em torno de 3 pratos de comida na mesa, ou seja, 3 bilhões. Hoje, com 7 bilhões, 21 bilhões de pratos todos os dias, sem falar em todo o resto.
Isso faz uma grande diferença em termos de logística e, por sua, vez em demandas de informação, concordas?
abraços
Nepô.
Claro que sim Nepô.
E refiro-me a diverdidade de ideias (não demandas), e roubando a equação de muitos: informação + interação = muito + ideias.
James Surowiecki defende ideias semelhantes em Sabedoria das Multidões, mas usa a lógica do mercado preditivo para mostrar por que quanto maior o coletivo, mais inteligente são as decisões.
Abraços,
Nepô,
Concordo plenamente com a premissa de que nosso modelo hierárquico não funciona mais.
Compreendo e aceito o seu conceito de pressão populacional obrigando à revisão de processos, mas não consigo ir muito além de compreender, não tenho muito a acrescentar nesse sentido.
O que acredito convictamente a cada dia que passa é que estamos mudando radicalmente de modelo econômico, saindo de uma sociedade competitiva, onde as empresas surpreendem seus consumidores com novos produtos e serviços, para um capitalismo colaborativo, onde os consumidores não esperam ser surpreendidos, esperam cocriar.
É uma mudança radical, que muda os valores, imagem, comportamento e competência das empresas e dos consumidores. Muda a comunicação e muda o marketing. Muda o rumo do dinheiro. Logo, muda o poder e a organização da sociedade.
É um círculo virtuoso. A inovação caminhou para o processo colaborativo. A tecnologia, facilitadora desse processo, também caminhou no sentido colaborativo e trouxe junto ferramentas que possibilitaram esse comportamento em toda a sociedade. A sociedade, chamada a participar, absorveu esse novo conceito e começou a bater na porta das empresas, que estão sendo forçadas a entrar no jogo.
Por outro lado, as pessoas chegaram com suas emoções, agora o coração participa do jogo. E a paixão vem junto, com as grandes causas: um mundo melhor, mais colaborativo, menos hierárquico, mais comprmetido com a sustentabilidade, etc..
Viajei????
Não é possível absorver tudo isso no antigo modelo. Não é possível atender a esse volume de pessoas, agora com muita informação, opinando, cocriando, se proliferando, agora com acesso a tudo e a todos, com voz, querendo participar do projeto.
Estamos na iminência de um novo Big-Bang. A sociedade está pulsando!
Joyce, concordo com tudo.
O grande desafio é transformar essa constatação, quase uma convicção nossa, em argumentos + exemplos + encadeamento + abertura de espaço nas organizações para escutar + tomar decisões estratégicas na medida da necessidade.
Esse é o resumo da grande dificuldade dos agentes de mudança 2.0.
Concordas?
Pois é. Eu que estou envolvida em planejamento estratégico digital de várias empresas venho tendo grande dificuldade em realmente avançar para uma mudança estrutural na forma de se pensar o negócio.
Dá até desespero. Concordo que vamos ver muitas empresas se inviabilizando nos próximos anos.
Olá Joyce e Nepô,
Não sei se entendi bem quando você (Joyce) diz que estamos saindo de uma sociedade competitiva.
Eu discordo desta afirmação, pois vejo que a essência não mudou. O que direciona as decisões empresariais em geral continua sendo o retorno financeiro, a necessidade de sobressair perante os demais.
É justamente o contrário. O aumento da competitividade faz com que as organizações busquem saídas antes não pensadas para se manterem vivas. Faz com que mudem alguns valores para absorver um novo comportamento do consumidor, provocado pelas facilidades de interação e disponibilidade de informação existentes hoje.
Acredito e conheço casos de empresas com valores mais humanos, mas a visão sustentável também é uma visão capitalista, de quem quer se manter vivo por mais tempo, e já consegue enxergar mais a frente.
Como exemplo, basta ler o business case de iniciativas como o Peer2Patent, para ver que elas não atendem a um pensamento mais humano ou altruísta. Neste caso, a colaboração foi uma das únicas saídas sustentáveis encontradas pela organização (USPTO).
Eu ainda estou com o Steven Johnson quando ele defende que o pensamento local é, por si só, capaz de gerar ordem sustentável. A ideia de todos pensando num bem maior me soa como necessidade de controle, o que contraria a essência do que estamos “defendendo” aqui.
Joyce e Leandro,
Leandro vc diz:
Ela disse:
O que acho interessante nesse aspecto é resgatar a necessidade do setor produtivo. Para que ele serve?
Na essência, tirando aqui e ali, produzir aquilo que mantém a sociedade viva.
Para isso, ele oferece produtos e serviços.
Quanto + os produtos e serviços se encaixam nas demandas e possibilidades de determinado grupo + ela gera valor.
E mais tem o tal “retorno financeiro”, o que chamo de motivação.
A diferença entre um ambiente “competivivo” (e vivo) e outro direcionado (tipo um socialista) seria que o primeiro se motiva por retorno financeiro e o segundo por uma pseudo-fé no bem de todos.
Assim, continuamos no ambiente competitivo, mas, a meu ver, há um novo verniz na ética, por causa da transparência, não estamos entrando em Xangrilá, mas apenas em um capitalismo que a maneira de impor e de gerar lucro a qualquer preço, se reduz.
Por fim, gostaria de acrescentar para Joyce, quando ela diz:
Já temos, Nokia x Apple; Blockbuster x Netfix; Apple x I.Música, Amazon x Editoras tradicionais;
A onda vem de dentro das indústrias do softwares, passando pelas de informação, comunicação, que estão mais no centro da revolução da informação e começam a se expandir.
As primeiras sentem mais e rapidamente, as outras vão demorar mais um tempo, mas vão também.
Grato pela visita e comentários,
Nepô.
PS, Leandro não comentei esta parte, pois precisaria entender melhor o que vc quis dizer:
Olá Nepô,
Bem exposto.
Quanto ao último trecho de meu comentário, posso estar viajando, acontece de vez em quando, ainda bem. Mas o raciocínio é o seguinte:
Lembra quando no livro Emergência Johnson fala sobre o processo de auto-organização dos formigueiros. Um formigueiro dura 90 vezes a média de vida de uma formiga (15 anos vs 2 meses). E evolui. É um modelo sustentável, mas nenhuma formiga tem a capacidade de pensar no todo. Não há um raciocínio consciente sobre o bem de todos ou o futuro do formigueiro. Cada indivíduo decide resolver o seu problema, de modo auto-organizado.
Nosso paralelo seria uma cidade de 7200 anos sustentável e auto-organizada (90 vezes a expectativa do homem, joguei 80 anos). Não temos nenhuma.
O pensamento local de cada indivíduo deveria ser o suficiente para tornar uma comunidade sustentável. Ao tentar olhar para o todo, de algum modo estamos empregando uma tentativa de decidir o coletivo, ou seja, agir sobre um espaço que não é nosso, controle.
Talvez as formigas possam nos ensinar algo.
E claro que não estou falando de anarquia. É apenas um ponto que me incomoda.
Um abraço.
Oi Nepô,
O seu texto toca em vários pontos interessantes que renderiam uma longa discussão. Vou me deter em um deles: a questão da democracia 2.0.
Eu confesso que não tenho muito clareza sobre como isso poderia acontecer. Não há dúvida de que o sistema representativo atual está mais do que desgastado. Mas como mudá-lo?
Eu fico muito desanimada com o futuro da nossa política quando vejo a votação do Tiririca, por exemplo. Do meu ponto de vista, o problema maior é esse: como pode um cidadão votar sem se importar com a consequência do seu voto? Quanta gente vota ainda por conta de uma dentadura ou algum tipo de vantagem pessoal?
Então, talvez aqui no Brasil o primeiro passo seja ampliar alguns movimentos que já existem de acompanhamento da atuação dos políticos eleitos, usando de forma mais competente os recursos da rede para isso.
Porque reclamar dos políticos é fácil. Bem mais trabalhoso é refletir mais profundamente sobre seu voto e acompanhar de forma contínua aquele que ajudou a eleger. E, claro, acompanhar só pelo noticiário não vale, porque sabemos que ele é parcial, senão tendencioso.
Então, a meu ver, algo que pudesse usar a rede para melhorar nossa política de uma forma participativa seria um processo bem trabalhoso. Imagine milhares de cidadãos montando de forma colaborativa um imenso banco de dados sobre a atuação de nossos políticos, no executivo e no parlamento. Com informações fidedignas, baseadas em fatos comprovados, como já é feito por algumas entidades não governamentais, mas dando uma outra dimensão. Muito mais do que só clicar sim ou não numa escolha plebiscitária. Será que o povo se animaria?
Bom, são só algumas ideias.
bjs
Oi Bia,
Tem um pessoal fazendo um trabalho bacana nesse sentido, que é a Webcitizen.com.br. Eles têm dois projetos em beta votenaweb.com.br e eulembro.com.br. É o início de algo colaborativo envolvendo votos e eleições bem interessante.
Leandro, não quis em momento algum afirmar que o modelo colaborativo reduz a gana das empresas. Muito pelo contrário. “A frase ‘estamos saindo de uma sociedade competitiva” talvez dê essa interpretação. A palavra ‘competitiva”está mal empregada. Devia ser autoritária ou algo do gênero.
Meu entendimento é que a sociedade quer participar mais de todos os processos. Mas o que vejo são as empresas, governos, instituições em geral, fingindo que acham bacana mas, na sua maioria, quando partem para uma transparência maior e inclusão do consumidor/cidadão o fazem por falta de opção. Uma vez um CEO de empresa me disse algo como “eu odeio essa intromissão do consumidor. Antes eu tinha que prestar contas apenas aos acionistas”. Isso é o retrato do momento em muitas organizações, empresariais ou não. Para eles, alguma coisa está fora de ordem.
E concordo com o Nepô que muita gente está afundando no meio do caminho. Muitos porque não queiram mudar, muitos porque não conseguem mudar, não conseguem entender a nova dinâmica que está se instaurando.
Fui!
Bom feriadão para todos.
Leandro, Bia e Joyce,
começando com Leandro, a ideia do formigueiro é válida e acredito que cada vez mais só conseguiremos atuar bem em grupos, como vem ocorrendo.
Vejam que no passado segmentamos e especializamos para poder administrar um volume grande de informações.
Deu no que deu, como a piada do cardiologista que diz:
“Sim, morreu, mas não foi do coração!”. 😉
Acredito que a colaboração sempre foi a arma humana de sobrevivência e esta estava no bolsão da informação da época.
Hoje, para conseguir lidar bem e não nos perdemos em especializações, teremos que trabalhar melhor em equipes, a rede vem ajudar a fazê-lo a distância, o que nos obriga a rever como conversamos no presencial, já que desaprendemos: não sabemos mais conversar.
O que faria sentido na ideia das formigas, dando o desconto das diferenças, claro, faz sentido.
Bia, suas questões são pertinentes.
Vejo o voto do Tiririca, como outros votos nessa eleição, como um processo de inclusão social.
Nós falamos em inclusão, mas o que significa, de fato, incluir socialmente?
É trazer um passado, um conjunto de ideias, raivas, ódios, opressões à luz do dia.
A continuar a democracia, com o voto obrigatório (que defendo por causa disso, para trazer a voz que não viria de outra maneira) precisamos, de forma conjunta, entender que o Brasil é muito mais o Tiririca, do que o Mercadante, ou o Aécio.
O que é preciso é aceitarmos que vamos pagar um preço (muito caro) pelos quase 500 anos seguidos de ditadura (social, política e econômica), quando esse voto Tiririca não podia ser exercido.
E não adianta colocar isso para debaixo do tapete, é preciso pensar em projetos de 20 anos, no qual se possa apostar em elevar, de fato, e sem oportunismos imediatos, essa nova geração para que possam mais adiante se ver de outra maneira e votar de forma mais consistente.
O desafio, a meu ver, é conseguirmos partidos, ou um partido, que consiga aliar inclusão social radical com capitalismo colaborativo.
Acredito que estamos grávidos de algo assim, questão de tempo.
Joyce, essa ideia que você coloca é muito rica:
Nesse aspecto, temos, como agentes de mudança desse novo mundo, tentar identificar quem quer e consegue mudar, criando discursos para estes, no primeiro momento, pois precisamos de princípios e exemplos para usar naqueles que não conseguem, que têm mais dificuldade de ousar e partir do abstrato.
Já considero que esse discurso/percepção é o nosso grande instrumento de ação.
O blog, minhas aulas, palestras, encontros, papos servem para afiar essa ferramenta, no que eu chamo do desenvolvimento de debates honestos, que é o que precisamos criar para conseguir coo-vencer as pessoas pela lógica e não pela força da fumaça do marketing do “vai por mim” e do “não me pergunte como cheguei as minhas conclusões”,
Concordam?
valeram visitas,
abraços
Nepô.
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