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O diálogo enriquecedor é aquele que ambos os lados estão dispostos a rever o tempo todo forma e conteúdo – do meu novo e-book de frases;

Estávamos discutindo tecnologias cognitivas na turma da Facha e uma aluna levantou a hipótese de que a guitarra é uma tecnologia cognitiva.

(Tecnologias cognitivas são aquelas que expandem o poder do cérebro, podendo chamar também da inteligência ou do conhecimento.)

Levei um susto, pois era uma afirmação nova e diferente, já que estava eu o tempo todo pensando em computador, caneta, Internet, etc…

Ela defende.

“Música é uma extensão do cérebro, não é?”

É…o papo foi cortado para passarmos o filme Lutero, mas a questão rondou a minha cabeça.

E temos várias questões interessantes aí.

O argumento da aluna nos leva a um refinamento do conceito “tecnologias cognitivas”.


Que vou passar a chamar de tecnologias cognitivas pragmáticas e abstratas.

As pragmáticas, do tipo um computador, um lápis, um papel, um livro, etc são usados quase majoritariamente para produzir conhecimento que visa um determinado fim para solucionar problemas práticos: resolver uma fórmula, projetar um produto, desenvolver uma tese;

E as abstratas que nos levariam a expandir o cérebro, o que envolve toda a arte, importantes para a saúde mental, para sua expansão, mas são usadas não para um determinado fim pramático, mas como algo que será útil para a pessoa, a levando, inclusive, a melhorar a sua capacidade cognitiva, podendo utilizar para esse fim um lápis, um livro, um computador porém sem fins práticos.

Para facilitar, a primeira nos permite gerar novas tecnologias.

As segundas, não.

Não há juízo de valor, mas apenas uma classificação útil, o que nos leva a outra questão sobre um debate honesto que é o objetivo que nos leva a estar juntos, naquela sala de aula.

O curso “Estratégia de Merketing Digital” da Facha  visa, a meu ver, tentar responder a um problema da sociedade:

“Como gerar valor humano e social para a sociedade com a Internet?”.

Assim, o foco daquele curso teria mais interesse para responder a essa questão, através da análise das tecnologias cognitivas pragmáticas, podendo apontar que existe outro campo das abstratas, porém o foco principal é discutir a primeira e não a segunda.

O que nos levaria a uma constatação de que em debates honestos existe uma diferença entre questões relevantes e interessantes.

A questão levantada pela aluna é interessante, que daria horas de discussão em uma mesa de bar, andando na praia, porém para o foco da discussão, que tem um objetivo específico não é relevante para o objetivo daquele grupo.

E isso é o papel do animador da Inteligência Coletiva que tem que preservar o foco principal, o motivo que levou a todos a estarem ali juntos em um de semana a noite, com perspectivas profissionais.

Dito isso, independente de qualquer coisa, o espaço aberto pela questão inusitada, me levou a aprofundar o conceito e melhorar minha percepção do que responder nessa caso.

O que avançou minha percepção na forma e no conteúdo, o que é sempre interessante quando nos deparamos diante de questões novas, que podem ser as mais estranhas ao aparecerem, mas com o tempo vão sendo digeridas e transformadas.

Um senso incomum extremamente útil para expandirmos nossos aquários.

Agradeço a aluna por me fazer avançar.

E ter a sinceridade (e coragem) de trazer suas inquietudes, pois é com elas que a humanidade avança, desde que haja um debate honesto, no qual todos querem se auto-coovencer.

Que dizes?

10 Responses to “O interessante e o relevante”

  1. Karol Felicio disse:

    Muito legal Nepô! Foi muito importante a participação de nossa colega, trazendo a arte para o conceito da cognição, assim como é muito importante o seu papel de nos trazer para o foco do assunto, depois de – sempre – viajarmos um pouco.
    Debates honestos geram frutos. Obrigada por estimula-los.

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Valeu Karol…viajar sem perder a bússola jamais! 😉

  3. Katia Paim disse:

    Obrigada a vc, Nepô. Por dar espaço a expor minhas inquietudes sem, entretanto, perder o foco do debate. De toda forma, fico feliz em saber que não fiquei sem resposta e contribuí para o aprimoramento do conceito de tecnologias cognitivas. E vc agiu diplomaticamente como um bom mediador, manteve os interesses do coletivo, da turma, sem sufocar uma manifestação individual. Obrigada! Sinto-me orgulhosa por levantar o interesse que motivou a este post.

  4. Isabela disse:

    A primeira vez que li um post seu foi no iMasters quando falou sobre Filosofia da Tecnologia e concordei que temos que pensar em como usar tudo isso que estamos criando/recebendo, pq entender e acompanhar tudo não é possível. Tenho tentado acompanhar os seus posts, gostei da forma que escreve. E adorei a coleção de frases =) também gosto de colecioná-las.
    Num outro post fiquei confusa com o termo “tecnologias cognitivas”, fiquei me perguntando se dizia respeito às tecnologias que ajudam alguém a aprender ou às que ajudam alguém a ensinar. E tentei, por definição, encontrar “o que seria uma tecnologia não-cognitiva?” para ver se compreendia melhor, mas não consegui. Porque na minha cabeça, qualquer tecnologia (tudo bem que aí entramos na questão do que é e do que não é tecnologia também, rs) é cognitiva uma vez que estamos trabalhando o tempo todo com nossos esquemas e modelos mentais (estruturas cognitivas) quando interagimos com o mundo.
    Hoje, nesse contexto que vc explicou, compreendi melhor =) Mas ainda me pergunto o que seria uma tecnologia não-cognitiva?

  5. Nepo,
    O post mostra claramente que a sua vida não é fácil, você tem que “rebolar” intelectualmente para assimilar e responder a todas essas interferencias criativas. 
    Outro ponto interessante do post, é quando você fala sobre o papel do do animador de inteligência coletiva. Parece ser fundamental ter a habilidade de saber podar as idéias de 
    todos para, no fim, fazer com que cresçam juntos na direção mais produtiva. Essa questão me fez pensar novamente na relação alunoXprofessor. Em um cenário em que os 
    alunos estão cada vez mais acostumados a 
    serem ouvidos, a maioria dos professores 
    são treinados para não ouvir, e se esforçam 
    para que as coisas continuem da mesma
    forma. Em resumo, não rola”Fala que eu te escuto” na 
    grande maioria das salas de aula. 
    Forçando um pouco a barra, este post me fez voltar a pensar que este também é o papel das empresas e das marcas para as suas novas inicitivas, elas devem assumir o papel de agitadoras da inteligência coletiva dos seus funcionários, fornecedores e clientes.É  aí que volto nas idéias que enxerguei na frase que você mandou hoje por email:
    “O espaço de trabalho do profissional de comunicação não é tecnologia, mas o ambiente de diálogo”

    Abs,

    Luiz

  6. Carlos Nepomuceno disse:

    Katia, eu que te agradeço pela expansão cognitiva do meu aquário!

    continue inquieta!

    Nepô.

  7. Carlos Nepomuceno disse:

    Isabela disse:

    “Hoje, nesse contexto que vc explicou, compreendi melhor =) Mas ainda me pergunto o que seria uma tecnologia não-cognitiva?”

    Isabela, sugiro para se aprofundar, o livro “O Homem faz-se a si próprio” do Childe, bem antigo.

    Tecnologia seria tudo aquilo que o ser humano desenvolve para ajudá-lo nas suas atividades, que são extensão do seu corpo: garfo, faca, cadeira, carro, avião, refinaria, casa, roupa, etc…

    Nos permite sobreviver.

    As tecnologias cognitivas tem a característica de serem a extensão do nosso cérebro e nos ajudam a melhorar ainda mais seu potencial, tal como o lápis, o papel, o computador, o computador em rede, o livro, o jornal, o rádio, a televisão…

    A tecnologia cognitiva seria um meio para desenvolver outras tecnologias. Quanto mais nos sofisticamos essas tecnologias mais potencial temos para desenvolver novas tecnologias.

    Seria isso, ficou mais claro?

    Grato, por perguntar…

    Valeu a visita,

    Nepô.

  8. Carlos Nepomuceno disse:

    Luiz Eduardo Garcia disse:

    Nepo,
    O post mostra claramente que a sua vida não é fácil, você tem que “rebolar” intelectualmente para assimilar e responder a todas essas interferencias criativas.

    Luiz, na boa, é justamente esse diálogo com os participantes dos encontros que me ajuda a repensar conceitos e teorias.

    Se você utiliza isso como expansão, flui muito bem.

    Confesso que quando a Kátia perguntou e até insistiu senti um desconforto e toda vez que sinto algo assim, trago para um laboratório mental e fico matutando por que me senti assim, o que deveria ter feito de diferente e o que poderia aprender com aquele fato.

    Faz parte, a meu ver, de quem quer trabalhar com educação, antes, mas muito mais agora.

    Forçando um pouco a barra, este post me fez voltar a pensar que este também é o papel das empresas e das marcas para as suas novas inicitivas, elas devem assumir o papel de agitadoras da inteligência coletiva dos seus funcionários, fornecedores e clientes.É aí que volto nas idéias que enxerguei na frase que você mandou hoje por email:
    “O espaço de trabalho do profissional de comunicação não é tecnologia, mas o ambiente de diálogo”

    Sim, como estamos tendo que aumentar a velocidade da inovação, me parece que esse tipo de profissional que gera diálogo tende a ser cada vez mais valorizado no mercado, ao longo do tempo….e volto com a ideia de que estamos deixando a ilusão de profissionais de comunicação para fomentadores sempre de inovação, que é a melhor métrica para quem promove qualquer atividade desse tipo na sociedade.

    Valeu visita!

    Abs,

    Luiz

  9. Ivan Pereira disse:

    Caro Nepô, bom feriadão!

    Acho que a sua aluna pontuou muito bem ao considerar uma guitarra como uma tecnologia cognitiva, assim como é um lápis, um computador ou qualquer outro instrumento que permita exercer ou melhorar o desempenho de qualquer atividade laboral e não refinando mais do que outras tecnologias quaisquer, as quais servem devido às suas peculiaridades aplicativas.

    Mas vejo como equivocada a ilação de que a música é uma extensão do cérebro. Música é uma forma de linguagem para comunicar ou expressar sentimentos e não para estender a capacidade cognitiva, porque é pautada por um código de escrita, da mesma maneira que a modalidade literária, uma vez que está restrita às claves e notas musicais assim como a linguagem está restrita aos alfabetos e regras gramaticais. Não há como estender tais linguagens, mesmo considerando uma produção improvisada ou metafórica. É preciso sair dessa dissonância cognitiva.

    Acredito ser preciso manter foco na perspectiva sistêmica para se compreender a cognição humana depois do aparecimento das novas tecnologias digitais, porque temos aí um novo paradigma que, se entendermos a mente humana sob o requerimento de numerosos métodos e teorias, será preciso reunir psicologia, filosofia, neurociência e lingüística, porque, na verdade, há uma transversalidade conceitual e uma interdisciplinaridade contextual. Daí, a inteligência artificial.

    Também, não concebo que um instrumento tecnológico, simples ou sofisticado, seja o lápis ou o computador, o tambor ou a guitarra, possa produzir conhecimento, porque ele somente é usado quando já existe o prévio conhecimento do usuário. Estes artefatos considerados cognitivos, assim o são porque permitem, durante o processo de uso, produzir inovações na capacidade de expressar o próprio conhecimento para fins pragmáticos através do empenho e progresso na habilidade do usuário. Por isso, não acredito em expansão de cérebro ou mente, mas em transformação incremental, pelo fluxo de saber operacional que avança como em qualquer processo. E isso acontece por estímulos psicológicos e filosóficos, apoiados na neurociência e na linguística, explicando assim a aparição do talento ou da intuição, ampliando o efeito do produto pela maior habilidade operacional sem, no entanto, implicar em expansão cerebral.

    Cérebro é um espaço onde quanto mais se bota, mais vazio se percebe e instiga. Assim é como me sinto quando evito uma dissonância cognitiva.

    Sempre penso em processador e interface, como o lápis e o papel, como o computador e a tela, como a guitarra e o som. Ambos estão comunicando, ambos usam linguagens para seus programas. As tecnologias se justificar através das interfaces, porque estas portam as mensagens que aquelas ajudam apenas a produzir. E estes resultados ou saídas sistêmicas é que poderão gerar a expansão das mentes ou dos conhecimentos dos destinatários. Não dá para pensar assim?
    Um grande abraço!

  10. Carlos Nepomuceno disse:

    Ivan,

    vc disse:

    “Também, não concebo que um instrumento tecnológico, simples ou sofisticado, seja o lápis ou o computador, o tambor ou a guitarra, possa produzir conhecimento, porque ele somente é usado quando já existe o prévio conhecimento do usuário.”

    Faria um reparo, não produzem conhecimento, apenas expandem a possibilidade do cérebro humano .

    Todos os conceitos têm uma função…sem função, os conceitos ficam voando e servem para tudo.

    Nesse caso há a necessidade de separar tecnologias (gerais) das cognitivas que não são a mesma coisa.

    Vc pergunta:

    “Não dá para pensar assim?”

    Sim, dá..mas é algo interessante e não relevante para o meu propósito que é ajudar a separar tecnologias que hoje estão emboladas.

    Um bom papo para viajar, mas para o meu propósito, não acredito relevante.

    Que dizes?

    abraços,

    ps- valeu a visita, estava sentindo falta de sua sabedoria.

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