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Nada que tem valor é desconhecido –  Nilton Bonder – da coleção;

(Continuo a discussão sobre conceitos e teorias, viáveis e inviáveis, que começou neste post.)

Há no mundo um critério da procura da “verdade”, da “realidade”.

Os filósofos passaram por acreditar que a realidade existia, depois que era subjetiva, histórica e, por fim, de que, além de histórica, é parcelada.

Ou seja, um conceito ontem, muda amanhã.

Não em continuidades, mas em rupturas.

Estabelece-se algo chamado “conhecimento”, através de pessoas que o constroem, seja autores isolados ou dentro da academia, seja o cidadão comum com seus botões, blogs, nas comunidades on e off-line.

Com métodos de aferição.

Mas o que seria uma teoria ou um conceito válido ou inválido?

São aqueles que confrontados, através de experimentações geram valor humano e social.

O senso comum, inclusive na Ciência, dirá que são aqueles que são “comprovados à luz da verdade”.

Mas que luz é essa?

De que verdade?

(Vou caminhar por um mar novo e diferente. Me ajudem a elaborar melhor.)

Quando Galileu, através de percepções e cálculos, defendeu que a Terra não era o centro do universo estabeleceu, através de uma nova lógica, uma nova teoria.

A partir dela, podemos construir uma nova visão de mundo.

Era uma teoria que tinha valor, mesmo que na época não fosse atribuído a ele, pelo contrário.

Ou seja, o valor não é algo que se mede no momento, mas se revela ao longo do tempo.

Uma boa teoria seria aquela que dura mais tempo, que transpassa modelos, sistemas, interesses, invejas, mesquinharias.

Uma determinada lógica, que junta “A” com “B”.

Assim, gênio é aquele que demora mais tempo para ver seu “recorde científico” batido.

Independente qualquer coisa, a humanidade na relação com a natureza escolhe as ideias que seus antepassados formularam para seguir adiante.

São teorias e conceitos de valor, pois se mostraram úteis na prática para resolver problemas de todo tipo.

São verdades que ficam.

Mesmo aquelas que foram depois questionadas, serviram por um período e foram fundamentais para fazer o contraponto para o futuro.

São as ideias que ficam, pois são úteis ou foram úteis por um longo período.

É um critério da verdade: aquilo que se consolidou ao longo do tempo.

Cabe à academia (e todos os setores interessados na geração de valor) ir trabalhando, percebendo, intuindo, comprovando quais são os conceitos e teorias que vieram para ficar, a partir de uma série de métodos de aferições.

E por uma lógica que tem mais bom senso, a partir de um diálogo honesto ir apontando com uma lanterna caminhos para a sociedade.

A verdade assim, seria aquela que gera valor para a humanidade seguir viagem. Aquelas ideias ou teorias que não nos ajudam a ir adiante são descartadas.

Note que ideias com interesses (de classe) por exemplo serão desmascaradas como tal ao longo do tempo.

Calma, isso não se mede em pouco tempo e precisa suplantar as barreiras dogmáticas e ideológicas, da disputa de poder, sempre presentes, que ocultarão e tentarão questionar teorias.

Conhecer é lutar sempre contra o senso comum de determinada época!

O mundo gira.

Quem consegue suplantar – dentro dos limites possíveis – com novas ideias ajuda mais a esse processo, não se deixando levar pelo que é conjuntural, mas nos levando ao estrutural, naquilo que consegue demonstrar relações de fatos que se repetem em uma certa semelhança, mesmo que sejam históricas e datadas.

Seria o novo que é viável.

A procura de “leis” relacionais pelas quais causas, efeitos e consequência se dão.

  • Schumpeter, por exemplo, sugeriu que as inovações humanas são divididas em incrementais e radicais.
  • Darwin de que a natureza tem uma lógica evolutiva.
  • Freud de que sempre houve sexualidade nas crianças e um inconsciente, sendo o humano inimigo da sociedade, tendo essa que criar leis e normas para se proteger dele.

São teorias de valor, pois passamos a analisar determinados fenômenos de outra maneira e eles, mesmo que tenham evoluído e alterados com o aprofundamento nos levaram a tomar decisões sobre determinados problemas da humanidade, a partir dessas teorias viáveis.

Que nos ajudam a enxergar melhores fenômenos que se repetem, pois fazem parte da atividade humana.

O conhecimento, assim,  deveria ser o instrumento de todos que tem atitudes filosóficas, a procura das teorias viáveis, aquelas que deverão mais adiante fazer com que a humanidade possa olhar determinado fenômeno de outra maneira, superando assim como vemos tal coisa e procurando novas maneiras de nos relacionarmos com ela.

Portanto, a ideia vigente que existem diversas verdades em paralelo não pode servir de justificativa para cada um ter a sua verdade, independente da lógica e do diálogo.

Depois dessa, de muita discussão, pode-se chegar a impasses afetivos-cognitivos que impeçam os participantes da discussão de ir adiante, mas não necessariamente de que as duas ou mais teorias têm o mesmo valor, pois a que resistir ao tempo terá se mostrado mais eficiente.

Com o tempo, a história demonstrará quais serão aquelas que a humanidade pelo bom senso acabou adotando, mesmo que dure bastante tempo para isso.

Assim, uma teoria viável é aquela que gera valor na capacidade humana de resolver seus problemas presentes e futuros.

E isso seria a busca da “verdade”, rompendo a ideia de que é possível conviver com várias “teorias”.

O critério da “verdade” será sempre coletivo.

(Note que não se trata aqui da verdade dos vitoriosos, mas aquela que resiste até a estes.)

O que há não são várias teorias paralelas, mas apenas nossa dificuldade de diálogo entre quem as professa e a possibilidade de ouvir o que o outro argumenta de contraditório na nossa.

Dizer que há várias teorias em paralelo é se render a dificuldade que temos da comunicação, de cada um tentar admitir o que há de contraditório na sua, acima dos interesses e dos dogmas, na medida do possível.

É isso…

Que dizes?

One Response to “Viabilidade e valor”

  1. concordo muito. hahaha. na psicologia aprendemos que, ao sentir-se ameaçado, o ego infla e domina a situação (me lembrei do baiacú). acho que tantas mudanças tão bruscas na nossa civilização, têm soado o alarme egóico e levantado suas defesas (nesse estado o homem não tem maturidade para considerar o outro, tudo que importa é a manutenção do próprio ego). afinal, a participação em dialogos construtivos é peripécia para poucos. ainda. eu espero.

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