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Vergonha 1.0

Quem não cria oportunidades de reflexão sobre as dificuldades ortográficas do idioma não pode nunca exigir que o aluno escreva certo – Artur Gomes de Morais da minha coleção de frases;

Implantamos um projeto de blogs em uma empresa.

Cada funcionário tinha o seu.

E uma cliente, que coordenava o projeto, confessou:

“Nossa,  tremi no meu primeiro post!”.

A outra:

“Não publiquei nada, pois ainda não está consolidado”.

A geração-fu (aquela que não nasceu na Internet, mas esta caiu em cima delas) tem vergonha.

Uma vergonha 1.0.

Fomos educado em um mundo consolidado.

No qual, mais importante do que o jogo, importava-se se o uniforme estava adequado.

Revisava-se muito.

Deixa ver se está bom.

Pera, ainda não.

Depois.

Havia a vergonha, o medo de errar.

O tempo era o de cidade do interior.

Pouca gente, pouco movimento, poucos incidentes ou acidentes….

De todo mundo de tarde na pracinha, olhando as andorinhas.

O mundo hoje é um grande rascunho.

Passamos do:

Revisa antes de publicar…

…para o: publica-se  e depois vai revisando.

(Por isso dei o nome no meu blog de rascunhos compartilhados.)

Ontem mesmo o Ivan me mandou um email, sugerindo correções em alguns termos de um artigo.

Estava certo!

Fui lá e arrumei.

Acontece, às vezes, de um Twitter conter erros de revisão, na pressa…

Eu sei que isso faz parte do fluxo.

Tem coisa errada no blog?

Com certeza, atualizo minhas ideias todos os dias e isso tem um preço.

E daí?

Não é rascunho?

Lê quem quer….ajuda quem pode e se incomoda quem não está no jogo, preocupado se as meias estão encardidas…

Um blog (ou qualquer ferramenta de publicação aberta/barata), que serão as ferramentas que mais e mais serão as armas dos pensadores 2.0 (individualmente e coletivamente), não precisam conter  consolidações.

É um tornar-se.

O texto aqui é um canal aberto para discutir, para agregar gente.

Não vale em si mesmo, mas como um trampolim para o pulo.

Ah, tá errado aqui e ali, ajeita-se, naquilo que atrapalha, que é descoberto.

É tão fácil….

A vida não é assim?

Ninguém é 100%….

Se formos esperar consolidações, o trem passa por cima.

A vida não é consolidação, é movimento.

Claro, que se for uma ponte é bom que esteja pronta para passar carro. 😉

Mas não é o caso de um post. expressão de ideias fluidas, que é um espaço de debate.

Tem um outro fim – não em si mesmo.

É degrau, não escada.

(Veja mais a polêmica do conhecimento como um fim em si mesmo.)

Aprendemos, por exemplo, na escola o português, como se fôssemos dar aula de português.

O objeto direto imperfeito subordinado ao que mesmo?

A língua é uma ferramenta de troca, dinâmico.

Na escola, cria-se um elefante, aonde deveria ter um rato!

(Ensina-se a se expressar, quem quiser dar aula de português, entra fundo na gramática. Ou vai-se na gramática para resolver problemas de escrita. E não o contrário, como é hoje!)

Hoje a escrita na web, que será o espaço majoritário de expressão, deve ser entendida, aqui, quase como um discurso oral/escrito, que vai se consolidando e ajudando a posicionar, refletir e discutir.

Claro que não é erro proposital, mas como parte integrante do processo.

A nova geração tá nessa.

Tem outro tipo de vergonha, mas não a de se expor ou de errar.

Uma vergonha 2.0, pós-web!

O ambiente pede isso, colaboração e velocidade.

Seremos um mundo pior?

Não, mais adequado.

A vida se adequa ao meio.

Gostemos, ou não.

Diário do blog:

A novidade deste post é a expressão “geração-fu”, pois muita gente vê tanta mudança e se pergunta: logo agora, não podiam esperar um pouco? 😉

Que dizes?

16 Responses to “Vergonha 1.0”

  1. Camila Leporace disse:

    Gostei muito deste post, Nepô. Eu às vezes demoro para publicar alguma coisa no meu blog porque fico pensando demais sobre o texto. De repente, o melhor mesmo seria publicá-lo e ir vendo no que que dá, melhorando depois. As pessoas têm uma cobrança grande em cima de si mesmas e dos outros também. Não acho que devamos assassinar a língua e sair cometendo erro atrás de erro, mas isso não pode mesmo se tornar um obstáculo ao dinamismo, à fluidez que tanto combina com a Internet e com a época que vivemos. As aulas de português extrapolam, concordo. Costumo dizer que “falou ou escreveu, o cara entendeu, então a comunicação foi satisfatória” – não importa se houve erros de concordância, de regência etc etc. Especialmente quando queremos nos comunicar com pessoas em uma língua em que não somos fluentes, precisamos ter esse desprendimento. Muita gente tem vergonha, por exemplo, de falar inglês com um estrangeiro, com medo de cometer erros. Mas aí não fala nada? Não é pior? Perde-se muito com essa vergonha… bjs!

  2. Lana disse:

    Belo post! Twittei hoje. Isso me fez lembrar um programa de TV que fica procurando nos blogs e twitters de famosos os erros de português.
    Seu texto é uma bela resposta.

    Abraços!

    Lana

  3. Carlos Nepomuceno disse:

    Lana, pois é…

    bola pra frente,

    grato pela visita!

  4. Camila Leite disse:

    Parabéns por mais esse rascunho de excelente valor! 😉
    Não são só as palavras e ideias que mudam a todo o momento…Nós mudamos a cada segundo. Não sou exatamente a mesma de ontem. Finalizando o Livro “Presença”, gostaria de mencionar um trecho: “Os pensamentos, disse Nan, `passam um, depois outro, depois outro, dessa forma. A meioria das pessoas não consegue discernir os espaços entre eles. As pessoas evoluídas aprenderam que os pensamentos mudam a cada momento, a cada segundo. Estamos sempre sendo lubridiados por eles, porque os tomamos pela realidade”.

  5. Carlos Nepomuceno disse:

    Camilas (DVD e LP) ;),

    Leporace: sim, essa vergonha aparece em diversos momentos…tanto no escrever como no falar, em especial outra língua, muita gente vai considerar que este post, estimula o “Deus dará”, mas note que, da mesma maneira que no Wikipedia, eu vou lendo, relendo, recebendo sugestões.

    Na verdade, não existe post morto, mas posts vivos.

    Pois os posts são linkados, recuperados pelo Google, eu cito de novo, as pessoas revisitam e eu releio e mudo coisas, vejo erros.

    Ou seja, tornar disponível o que está em produção, o que é mancha, hoje tem relevância…pois é um processo de aprendizagem coletiva entre quem posta e quem lê, que pode comentar.

    Obviamente, eu tenho sentido isso, que quanto mais escrevo, menos erro cometo, e isso é engraçado, poderia ser o contrário, mas não é, vou ganhando ritmo e aprendendo a ver os erros mais comuns.

    Só se anda de bicicleta ou pega onda, quem se atira.

    Leite: é difícil pensarmos assim, pois vivemos – ou estamos saindo – de uma sociedade que para exercer a sua função, preciso consolidar sensos comuns.

    Aprendemos, desde quando deram aquele tapa na bunda, de que somos o que pensamos e isso era bom para a sociedade, pois esta ia devagar quase parando.

    A rede atualiza o mundo, pois com tanta gente junta, pensamos diferentes, vamos mudando conforme vamos nos encontrando, isso pode até parecer não tão evidente, mas ficará mais e mais.

    Acho que tem coisas mais perenes (jeito de ser) e outras mais mutantes (jeito de pensar).

    O problema é que muitas vezes o nosso jeito de ser é por causa do que achamos que somos, mas no fundo pensamos. E vive-versa, li ontem do José Castello do Globo que nós devemos tentar ficar entre o corpo e a alma, nesse meio de campo difícil.

    Possível?

    Valeram as visitas,

    beijo

    Nepô.

  6. Simone Evangelista disse:

    Adorei o post, Nepô! Eu me identifiquei bastante, pois, apesar de ser da geração Y, muitas vezes me pego com essa tal vergonha 1.0, que acaba tolhendo até nossos pensamentos. Fiquei a pensar sobre como mudou a nossa relação com o tempo. Se antes todo trabalho era definitivo, hoje temos rascunhos eternos, o que é bom. Pena que nem todo mundo que tem um blog faz como você, que volta nas discussões, faz correções quando necessário. O que eu vejo por aí é muita gente apagando erros como se eles nunca tivessem estado lá…

  7. Lili disse:

    Perfeito Nepô! Imagina que comecei no Jornalismo em uma Remnigton com aquela fitinha corretora branca e volta e meia me via voltando com o carro (ai meu Deus, a máquina de datilografar tinha um carro!) para corrigir os erros. Isso era para que o “copidesque” (uma espécie de professor de português na Redação, com aquela caneta vermelha na mão, marcando como que com sangue todo seu texto que você acreditava piamente estar perfeito!) não pegasse um errinho. Hoje? Bem, escrevo melhor, acredito, mas sem a menor paranóia de ir acertando, corrigindo. O prazer de escrever sem ser o factual (no meu caso, jornal) é esse delicioso exercício de deixar as ideais fluírem. Depois, dou uma relida. Mas nada mais daquele monstrinho “copidescando” tudo.

  8. Confesso que tenho um pouco de vergonha 1.0, mas não totalmente online, na verdade a vergonha veio quando descobri que meus pais liam meu blog pessoal, inclusive quando meu pai falou que colocou como página inicial no computador do trabalho, e que mostrou aos amigos… A partir dali confesso que me policiei mais para não escrever qualquer coisa por lá…
    Mas aí entra outra questão, da imagem que eu acho que meus pais têm de mim e tal, na verdade a que eu QUERIA que eles tivessem 🙂
    Mas aos poucos vou trabalhando isso, sempre estive MUITO online e considerava (e na época realmente era) um mundo separado… Hoje em dia é que tudo se misturou, antigamente não existia nem a pretensão de se conhecer alguém, com quem você conversava por mensagens, ao vivo. Hoje, muitas vezes você conhece a pessoa ao vivo antes de online e ainda preciso me acostumar com isso, com o fato de que existem pessoas reais lendo e interagindo comigo 😛

  9. Carlos Nepomuceno disse:

    Vinicius, legal seu depoimento.

    Temos essa “ilusão” mesmo de dois mundos.

    E talvez seja isso que deixe as pessoas com essa vergonha 1.0 aflorada, o que meus amigos vão dizer?

    Mas, há na rede um dado interessante, ela traz luz na sombra.

    E isso vale para tudo, desde empresas, governos e na vida de cada um.

    Esse lance de viver o lado “A” de um jeito e o “B” de outro, é algo que criticamos no outro, mas no fundo vivemos.

    O N. Rodrigues até dizia:

    “Se todo mundo souber da vida privada de todo mundo, ninguém mais vai falar com ninguém”. 😉

    A privacidade hoje é preservar o que não queremos do lado A e do Lado B, mas é preciso ter coerência entre os dois…

    A pensar mais..

    Valeu!

  10. Carlos Nepomuceno disse:

    Simone,

    vou comentar um lance interessante:

    “Se antes todo trabalho era definitivo, hoje temos rascunhos eternos, o que é bom. Pena que nem todo mundo que tem um blog faz como você, que volta nas discussões, faz correções quando necessário. O que eu vejo por aí é muita gente apagando erros como se eles nunca tivessem estado lá…”

    Simone, vou te dizer uma coisa, já vi blogs que vão deixando os erros marcados. Mudei isso e aquilo e mostro para todo mundo que mudei.

    Pensei sobre isso, não tanto, nunca ouvi ninguém defendendo isso, bem ou mal, mas não vejo necessidade disso.

    Vou lá mudo, não digo nada a ninguém.
    E minha motivação não é esconder, mas apenas ter um texto legal para quem vai lê-lo. Aquele mundo de rabiscos, marcas, etc…não gosto, acho que suja o texto.

    Acredito que seria muito bom – ter na ferramenta do blog – um histórico do post, com as marcas de mudança, eu deixaria aberto para o pessoal que quiser ver esse tipo de detalhe.

    Mas, a meu ver, deve ser tão pouca gente, tá todo mundo com pressa e quer o melhor de forma rápida.

    Penso assim, aberto a discutir, pois nunca fui confrontado com uma visão distinta.

    Me diga,

    beijos

    Lili, máquina de escrever?

    Pois é, tamos ficando velhos 😉

    Beijos

  11. Nepô, recentemente participei de uma discussão sobre como escrevemos hoje, seja em blogs ou em e-mails. A questão foi: “estão assassinando o português!” E eu respondi: “graças a Deus não é o da quitanda” (perto da minha casa tem uma quitanda cujo vendedor é português). Bem, a internet trouxe muitas mudanças e muitas delas são positivas. A Geração baby boomers não concorda com “erros”. Tudo tem que estar revisado, correto nos pingos e espaços. Não aceitam nem erro de digitação (aquele que invertemos ou trocamos a letrinha). A vergonha 1.0 impera nesta geração, mas o incrível é que tem gente da geração Y que sofre disso tb. Acho que o mais importante, como vc mesmo disse, é que o erro não é proposital e sim parte desse processo em que vivemos. Ainda bem que temos a vergonha 2.0, aliás, estou me questionando se me encaixo nessa…

  12. Carlos Nepomuceno disse:

    Dora,

    Jogue a vergonha 1.0 fora! 😉

    Beijos, valeu a visita

  13. Antunes disse:

    Nepô, vou radicalizar (um pouco): não existe blog “de empresa”! Porque se for, aí não é “blog”, é outra coisa qualquer, como um whitepaper de produtos/serviços, daí não estranha o fato das pessoas terem medo de escrever sem a garantia de estar 100% certinho…
    Para ser “blog” ou, para ser diálogo, tem que ser “pessoal” pois só pessoas dialogam, empresas publicam / fazem declarações / etc..
    Então, talvez, esse mundo 2.0 não pode ser “dirigido” pelas empresas, tem que ter raiz pessoal. Cabe às empresas, no máximo, darem um mínimo de liberdade para que se crie um ambiente propício para que o clima 2.0 se espalhe e dê frutos (penso o mesmo para o assunto inovação – que aliás, acho que tem tudo a ver).

  14. Carlos Nepomuceno disse:

    Antunes.

    precisamos, então, reavaliar o conceito de blog, veja aqui a minha definição.

    O blog é uma ferramenta, a meu ver, como site, chat, mensageiro, etc…

    São ambientes de circulação de ideias.

    Pode ser de um ou de grupos.
    Pessoal ou corporativo.

    O que você diz é outra coisa.

    Sua pouca fé que empresas possam conversar. É isso?

    Sob esse ponto de vista, teremos que rever a ideia de blogs coletivos.

    No fundo, o que estamos discutindo é a capacidade das organizações conversarem, como se fosse atores sociais e não estrutura sólidas.

    E isso passa longe da discussão dos blogs, concorda?

  15. Antunes disse:

    É isso aí, Nepô! (falei que eu ia radicalizar! 🙂
    Forcei um pouco a barra mas é isso mesmo que você concluiu. O foco não é a definição em si da ferramenta mas a essência da motivação que teve o blogueiro. Decidiu começar um blog por quê? Porque a empresa disponibilizou e convidou a fazer? Não deve sair nada de aproveitável daí… a começar pela auto-censura que isso vai gerar nas pessoas. Outra coisa, as empresas 1.0 sempre contrataram pessoas para produzirem (e a cobrança é cada vez maior), daí, de repente, do nada, vem com esse papo “pessoal, vamos parar um pouco de produzir e dialogar um pouco (mas não muito!)”???
    Desse mato não sai coelho! Isso me lembra a frase “hay govierno? Soy contra!” (só que aqui é empresa ao invés de governo).
    Diálogo e inovação não são produzidos em linha de montagem. Para isso você precisa dos corações das pessoas – e as empresas só contratam braços…
    (obs: você provocou, tá aí minhas bobagens… eheheh)
    Abraços!

  16. Carlos Nepomuceno disse:

    Antunes, gostei disso:

    ” Para isso você precisa dos corações das pessoas – e as empresas só contratam braços…”

    Sim, acredito que a guinada das empresas é por aí, pelo resgate de um certo princípio de gerar valor para as pessoas e isso parte por algo meio batido que vem do coração mesmo.

    Valeu,

    Abraços,
    Nepô.

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