Suponho que o AA seja a sociedade mais democrática do mundo – Bill Wilson – da minha coleção de frases;
Acabo de ler o “Levar Adiante” de Bill Wilson, “a história de como a mensagem de AA chegou ao mundo inteiro”.
O livro, a meu ver, é de grande interesse para quem estuda o mundo 2.0.
É uma metodologia clara de rede descentralizada, com efetivo sucesso.
Os grupos dos anônimos têm uma taxa de recuperação de doentes dependentes do álcool muito maior do que qualquer método tradicional isolado.
O método começa a ser desenvolvido nos anos 20, do século passado, bem antes de falarmos de colaboração em rede digital.
Ou seja, se enquadra dentro da colaboração como método, o que todos nós procuramos implantar agora em um ambiente em rede digital, que favorece ainda mais esse tipo de iniciativa.
(Falei desse tipo de colaboração como método aqui.)
Em resumo para quem está com pressa, o que fica do livro:
- A colaboração funciona quando é uma necessidade vital para solução de dado problema que não tem outra alternativa;
- A capilaridade trona-se ncessária para ampliar a atuação e deve ser baseada na auto-gestão das pontas, a partir de regras simples e claras;
- É preciso egos equilibrados pelo método da rede, que deve preservar o anonimato, e não estimulados por este, gerando uns acima dos outros, o que cria ruídos;
- E, principamente, resultados tangíveis e claros para se apostar mais e mais no método descentralizado.
Para quem quer se aprofudar e tem tempo, seguem os 7 pontos que destaco no livro para aprendizado para montar redes descentralizadas, na Web ou fora dela:
- a colaboração é o centro do processo, sem ela não haveria o sucesso que AA consegue. Ou seja, não é uma rede descentralizada e colaborativa por opção, mas como única solução para um dado problema, antes insolúvel pelos métodos tradicionais. Os membros percebem o quanto ganham colaborando e vêem esse método como única alternativa;
- a rede descentralizada, assim, surge para apresentar uma saída para um problema de uma doença que atingia milhares de pessoas, que precisavam de tratamento que qualquer tipo de outra solução não atingiria tanta gente com tanta eficácia, a um custo baixo, já que os grupos são auto-suficientes e auto-governados;
- para haver a descentralização, isso é mostrado no livro, tiveram que criar uma metodologia em duas partes, que é resultado da experiência acumulada dos grupos. Ambas, muito simples e lembrada a cada reunião para dar sustentação. A) o método de como se recuperar “Os doze passos“. B) e um de como estruturar a própria rede “As doze tradições“. Bill Wilson quando vê o crescimento do processo luta para implantar esta último, mesmo com resistências de vários membros, que permitiu a total independência do AA de algum tipo de centro, deixando cada grupo ser criado e se desenvolver, com liberdade. As duas metodologias são discutidas periodicamente em encontros nacionais, de cinco em cinco anos (segundo o livro, não sei se ainda é assim.);
- um fato que me chamou a atenção é de que os grupos de AA não visam um fim em comum, uma ação concreta, uma meta, um objetivo coletivo, mas apenas individual, de melhoiria de relação com uma determinada doença. Ou seja, não há, assim, disputa de egos. Cada um tira do processo, o que pode para atuar em outras instâncias da sociedade. A colaboração visa a melhoria cognitiva e talvez seja a garantia de tanto sucesso;
- destacaria ainda, nessa área do ego, nenhuma posição fixa de poder, pois todos e só os membros do grupo são coordenadores e prestadores de serviço, temporariamente “servidores e instrumentos de consciência coletiva;
- destacaria, ainda, o anonimato perante a sociedade como um dos fatores que fortalece esse tipo de relação de egos mais equilibrados, com ninguém querendo aparecer mais do que os outros. Ou seja, para a rede descentralizada fluir é preciso que a briga de egos esteja baixa e, por causa disso, entre outras coisas, criaram o anonimato perante a sociedade para que não houvesse inveja de fulano aparecendo mais do que os demais (algo que talvez o Wikipedia esteja perdendo o prumo, com seus editores, agora, se sentindo dono do pedaço, detalhei isso aqui.)
- outro ponto interessante é o da auto-sustetação de cada grupo, o que permite a sua capilaridade e seu baixo custo, geralmente utilizando-se de locais gratuitos, como Igrejas, clubes, ambientes públicos, todos baseados e regidos por um livro, que sofre ajustes ao longo do tempo, a partir da experiência.
Que dizes?
Penso que redes com um único líder ou alguém que se impõe, sempre tendem a falhar… Todos que fazem parte de uma rede assim, almejam chegar no topo e isso gera disputa, e disputas nunca dão certo.
O problema é que o ser humano não gosta de abrir mão do poder que possui, independente da extensão desse poder… As pessoas, em sua maioria, não são tão colaborativas assim, querem ter destaque, ser importantes. Acho que grande parte da culpa disso é a tendência da mídia em exaltar essas pessoas de destaque.
Quando fiz o Riobodycount com o Dahmer, batíamos muito nessa tecla. A imprensa queria saber quem éramos nós, e nós queríamos falar o que era o site. Eles queriam saber se tínhamos passado por alguma tragédia pessoal para lançar o site, qual era nossa profissão, família, passado… E o endereço do site só. A idéia se perdia, a pessoa se tornava mais importante que a idéia… Tentamos o máximo que pudemos guiar as entrevistas para o site, ignorando as perguntas pessoais, mas chegou uma hora que não dava mais e simplesmente paramos de aceitar entrevistas. Perdeu todo o sentido…
Essa necessidade que a mídia tem de fabricar celebridades, impulsiona ainda mais essa competitividade por ser famoso, ter mais seguidores, ser líder, estar no topo. Mas pra que? Como o mundo vai ser melhor se você estiver em destaque? As pessoas não pensam nisso… Guiadas pelo Ego nunca pensam nisso.
Vinicius,
bacana, acho que essa relação rede x ego é uma ficha que está caindo agora.
Pensava nos dois em separado, mas não como algo que faria sentido um com o outro.
valeu o comentário que reforça a ideia,
abraços,
Nepô.
Sobre este assunto de relação com ego e colaboração, destaco uma entrevista do Valor com Fernándes-Aaróz:
“Existem dois tipos de motivação, em duas partes do cérebro. Uma é altruísta. Você faz o bem e ajuda sem querer nada em troca. Outra que é ativada quando você recebe algum tipo de incentivo externo e que funciona de uma forma mais egoísta. É a parte do cérebro que se empolga quando você toma drogas ou está no auge da atividade sexual. O problema é que os dois lados não conseguem funcionar ao mesmo tempo. Se você colocar muita pressão nos incentivos financeiros pode matar a motivação por altruísmo”.
Valor, 29/11/09.
[…] quer aprofundar o tema, sugiro o livro “Levar Adiante“, que conta a trajetória de Bill Wilson, um dos fundadores do […]
[…] Levar adiante – Bill Wilson; […]