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Toda linguagem contem os elementos de uma concepção de mundo – Antonio Gramsci – da minha coleção de frases;

Continuação da parte I, ver aqui.

valor

O Jornal Valor publicou semana passada uma revista especial sobre Comunicação Corporativa, com o título “Sem Fronteiras“.

Considero a debate  com os profissionais de comunicação de várias grandes empresas do Brasil como um marco, um balizador importante na tarefa de todos que querem influenciar para a ampliação do mundo 2.0 no país.

Vou usar bastante esta discussão em sala de aula, palestras, no blog, pois resume o pensamento dos comunicadores responsáveis pelo futuro da comunicação das principais empresas brasileiras.

(O Valor bem que podia disponibilizar a fita, pois acho de fundamental importância para toda a comunidade que estuda o assunto.)

Compreender o senso comum e suas divergências é o primeiro passo para proceder a mudança.

Aquele grupo reunido é responsável pela política de comunicação das grandes empresas.

O que pensam baliza muita gente.

É a tropa de elite do mercado.

O que acontece ali se espalha para o resto.

Ali, a meu ver, claramente temos diferentes análises (ou diagnósticos) diante das mudanças do mundo 2.0 em curso.

Uns, acham que muda tudo e outros consideram que, no fundo, não muda tanto.

Claro, que isso vai depender de alguns fatores:

  • Situação da empresa que trabalha, com impacto maior ou menor;
  • Perfil da pessoal, mais ou menos conservadora, prudente, ou do temperamento mais ou menos arrochado diante do novo.

Muitos percebem a mudança na forma de controle da informação, que considero o epicentro da grande virada, que não é tecnológica, mas de poder, como detalhei na parte I deste tema.

Mesmo quem acha que muda muito, entretanto, vê mudanças no âmbito da comunicação, algo como “com a mesma empresa eu mudo a forma de me comunicar com a sociedade”. “Eu fazia do jeito “a” e agora farei do “b”. Eu não vou entrar agora, pois posso esperar. Deve-se ou não entrar?, etc….

Mas, pergunta-se seriamente:

  • Será que a empresas continuam a mesma quando temos uma nova forma de controle da informação?

( a última ruptura similar que temos notícia – do livro impresso – não deixou pedra sobre pedra. Será igual?)

  • Quem pode garantir que sim?
  • E se mudarem não seria bom nos anteciparmos a isso?
  • Que dados podemos ter que nos dariam mais sustentação que as empresas mudarão radicalmente a forma de operar?

Talvez seja este o principal erro de diagnóstico da maioria.

Fala-se em aprofundar mais a quantos metros de profundidade? Todos devem estar muitos envolvidos no dia a dia e consideram que dá para ir improvisando.

O problema é que se você entra em um areia movediça, quanto mais se mexe, mais afunda!

Uma empresa 2.0 exige uma nova maneira de operar.

O acionista já não é o dono sozinho.

Como dividir esse poder?

Eis a questão!

mergulho

Vejam na tabela o que achei mais interessante do diagnóstico, das ações em curso e meus comentários como abertura para um debate.

(Obviamente que os trechos abaixo podem não refletir o conjunto de ideias, sugiro lerem a íntegra e, se o Valor abrir, o áudio completo, que deve ter sido bem mais rico do que saiu na Revista.)

Quem disse

Diagnóstico Sobre ações

Comentário

Fernando Thompson

(Vale)

“A sociedade exige que se esteja mais conectado, seja mais transparente. (…)Quem pensa que vai controlar o que acontece na rede está redondamente enganado (…) o nosso trabalho no fundo continua o mesmo”. “Sou meio cético com essa onda de que tem que entrar na rede social. Quando se destampa a panela, se vê o que se quer e o que não se quer. (…) Acompanho os blogs dos formadores de opinião (…) Como sou uma indústria de base, não uma de consumo, posso ficar de fora. Vocês têm outra dinâmica”. Thompson percebe que há uma mudança na forma de controle. Mas, por outro lado, acredita que a rede social é algo lá fora. Que é possível de se entrar ou sair. Hoje, todos estamos a mercê desse novo tipo de troca de ideias, que gera uma nova fora controle da informação, ainda não assimilada por quem detém o atual poder. E mesmo as indústrias de base agem na sociedade e dependem dela para que possam ir adiante sem traumas. Considera, entretanto, que a função no fundo continua a mesma. É uma mudança maior. Ver abaixo um posicionamento diferente de Augusto Rodrigues(CPFL), que se aproxima mais do que penso.
Rodolfo Guttilla(Natura) “Sua grande contribuição é colocar a empresa conversando com seu consumidor”. “O custo de inovação pode cair drasticamente se você colocar o seu consumidor a serviço da criação de seus produtos”. A conversa, entretanto, tem duas vias. Imaginar que o consumidor vai colaborar sem cobrar um custo de mudanças internas das empresas não vai acontecer. Não será um caminho, como estamos acostumados, de mão única.
Ana Clauda Pais(Holcim Brasil) “Antes levava um tempo até a informação chegar e ter a resposta, não tinha a velocidade atual”. “Antes se tinha o mote de falar o que é bonito e esconder o que é ruim. Hoje se diz: “Tem coisas ruins e estamos melhorando” (..) Temos – o comunicador –  o papel de antecipar. Na verdade, se o gerúndio “estamos melhorando”, tem uma data e uma eficácia, tudo bem. O problema é considerar que muda-se o discurso e não a prática. A empresa precisa se repensar. O estamos melhorando pode ser entendido – como muitas vezes é – como manipulação. A ideia não é eles lá esperando, mas eles participando do processo, melhorando junto conosco. O que exige a tal nova empresa 2.0.
Augusto Rodrigues(CPFL) “Se pensarmos na forma como nos comunicamos muda tudo. Não estamos conseguindo nos comunicar a esse mundo novo”. “É um brutal desafio” …(…) Acho que vamos ter de revolucionar o modelo de gestão da área de comunicação, a forma de operá-la, o perfi do profissional, etc” Gosto da dúvida, mais do que das certezas. Vejo um diagnóstico mais próximo do que percebo. Uma mudança radical que exige um grande desafio. E esta ideia de revolucionar o modelo me parece mais próxima do que tem ocorrido no mercado. Acrescentaria de que não é apenas a comunicação que muda, ela aponta a mudança, mas o que está em ebulição é uma nova sociedade, valores aos quais as empresas já estão e irão mais e mais se adaptar.
Claudia David(Crop-Science) “Já tive crises geradas a partir de mídia social que forma parar na mídia impressa”. “Descobri que há pessoas favoráveis que estão em cima do muro (…) se são formadores de opinião, e passei a dar subsídios para que falasse com base”. Na verdade, é o início do processo, mas por que não formular novos projetos e ideias de forma colaborativa com quem critica e apoia? Incorporando ideias para a estratégia da empresa? Não seria melhor a médio e longo prazo? Co-criar?
Gislaine Rossseti(Basf) “É uma nova temática, uma nova demanda, um novo jeito de fazer comunicação, mas ainda é preciso se aprofundar”. “Não dá mais para a área de comunicação fazer sozinha uma política de como vamos nos relacionar com as mídias sociais (…) uma política baseada na atitude e na confiança…(…)a informação hoje não se controla (…) a empresa é transparente com ou sem as mídias sociais (…) Depende muito da natureza do negócio”. Gosto da abertura para se aprofundar e da ideia de que a relação com o mundo externo não é um problema que a  comunicação vai resolver de forma isolada, mas através do envolvimento de outras áreas. Boa também a visão de que se trata de mudança no controle. Suspeito que há formas de se reduzir a falta de controle, como sugere a Claudia, que é atuar junto com os “influenciadores”. Só acho que não deveria ser consultando depois, mas co-criando. E gosto particularmente da ideia que transparência é um conceito, que vale para qualquer situação. Porém, mais do que ser transparente é necessário aprender a dialogar e a mudar, pois se não muda não é diálogo e, no fundo, não se é transparente!
Ana Gabriela Dias Cardoso(Usiminas) “Exige um redesenho, um novo modelo de fazer comunicação”. “Hoje, falamos e o mundo discute e devolve de uma forma que muitas vezes a gente nem sequer consegue prever, por mais que tente”. Aponta um redesenho, o que demonstra abertura, mas considero que o modelo não passa mais por nós enviamos e eles retornam, mas nós co-criamos todo o  processo, que é aonde existe o real (des)controle, ou seja, está se mais perto do que vai ser gerado apenas se você estiver fazendo e construindo junto.
Maurício Bacellar(Tim Brasil) “Devemos estar em mídia social? Se não se entra por entrar, por um modismo”. “Ou se posiciona estrategicamente ou não se posiciona”. A ideia de entrar, ou não, volta aqui. Vê-se como mídia digital participar do Orkut, Twitter, etc. O problema é que muitas empresas ainda estão com a cabeça no controle da informação passado. E vêem o mundo externo com algo que vai se entrar. O que vemos é o início, que começou lá fora, de uma mudança na forma de comunicação, que será incorporada para dentro. E pela mudança do controle, altera a forma da empresa operar. Não se trata, repito, de entrar, mas de se posicionar sobre como vamos mudar internamente para ajustar a velocidade de dentro com a lá de fora.
Paulo Pompillo(Grupo Pão de Açúcar) “Esta mídia expõe mais. Se você tiver o mesmo posicionamento não estará exposto” (…) Hoje não dá mais para acharmos que vamos comunicar usando a linguagem do passado” A frase curta me parece que aponta para transparência? Caso sim, é um processo, mas a transparência necessariamente não é diálogo. Está tudo aberto, mas eu não necessariamente  mudo. Não é uma questão de linguagem. O que muda não é a linguagem, mas, repito, a forma do controle da informação, que exige agora o resgate do conceito da própria comunicação: diálogar, e quando de fato se deve, mudar.

One Response to “A dificuldade do diagnóstico – parte II”

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