Quem quiser nascer tem que destruir um mundo – Herman Hesse – da minha coleção de frases;
Muito bem, estamos nadando no mar das empresas 2.0 e muitas ondas aparecem do nada.
Estou lendo e gostando bastante do livro “Concepção dialética da história” de Antonio Gramsci, conhecido pensandor de esquerda italiano, que faz uma discussão ali sobre filosofia e história.
Ele diz:
- Os conceitos humanos são históricos, mudam conforme a conjuntura;
- Existem diversos deles no mundo, se degladiando pela hegemonia;
- Toda linguagem contém os elementos de uma concepção de mundo;
- E que, nem sempre, temos a consciência de que nossa concepção do mundo não é nossa, mas adotamos, em função dos outros que estão a nosso redor, não chegamos a ela, mas fomos levados e, diante de argumentos outros, colocamos aquela crença como um ato de fé.
O resgate de Gramsci é interessante, que, como comunista, que viveu preso em uma prisão de Mussolini, pode ser considerado um filósofo da mudança. Para ele, só há sentido se há uma junção do mundo real com o mundo imaginado pelos filósofos, o que, por incrível que pareça, nos ajuda a pensar esse mundo de ruptura Web.
(Não tenha nunca preconceito com as ideias, as melhores podem vir de onde se menos espera.)
Quando defende-se uma mudança como essa de empresas 2.0, basicamente, uma nova maneira de fazer a gestão dos registros e de como as pessoas se relacionam, através de uma nova tecnologia esbarramos em outras filosofias vigentes, que questionam a nova que aparece!
Vou listar algumas ditas numa boa pelas pessoas em várias palestras que promovo, que vêm da experiência delas, válidas, pois resumem realidades sentidas, nem sempre refletidas, mas que merecem ser ouvidas e discutidas, pois é justamente aí que está a implantação do projeto, na mudança da maneira de pensar a empresa:
- O mundo 2.0 é mais um modismo;
- Não é possível viver sem hierarquia;
- As redes sociais são perda de tempo/As redes sociais são boas para entretenimento e não para serem implantadas dentro de empresas;
- As pessoas agora vão passar o dia a criticar os outros e vai se perder o controle do que é feito internamente;
Para estas questões, há algumas respostas possíveis:
- – O mundo 2.0 é mais um modismo;
Há uma mudança em curso, que tem afetado todos os setores: música, telecomunicações, indústria do livro, nova forma de relacionamento com consumidor, chegada de um concorrente finalmente contra a Microsoft (Linux), a própria Internet.
O que une todas estas mudanças é o advento de uma nova tecnologia (que permite mais liberdade de comunicação) e uma ideologia embutida nela (pelo direito do espaço individual e coletivo de troca), que desfaz verdades passadas, filosofias arraigadas, trazendo ao mundo novas filosofias.
A melhor resposta para essa visão de considerar tudo isso um “grande modismo” são exemplos.
Infelizmente, no Brasil há poucos “Cases” de empresas realmente 2.0. Vivemos um momento similar ao início da Web quando se dizia, naquela época, que ela era colaborativa e muitos filósofos do contra, pediram:
“Me mostra, me mostra, cadê, só vejo meia dúzia de pessoas em listas de discussão”.
Hoje, quando 80% dos internautas brasileiros usam redes sociais, parece que a ideia da colaboração, vingou.
A inovação da comunicação está vindo de fora para dentro.
Já obrigou as empresas a usar o email, os sites internos e externos e agora chegou a vez das redes sociais e, pela primeira vez, vai obrigar a uma mudança mas profunda da gestão e da hierarquia.
O problema que uma empresa que é arrastada, perde a oportunidade das que vão chegar na frente.
É preciso, assim, monitorar casos concretos, principalmente lá fora e ir abastecendo o pessoal com exemplos!
E ir minando o pessoal mais arraigado à filosofia atual.
Tal como esta pesquisa aqui na Ásia:
Web 2.0 goes mainstream in Australian enterprises
http://www.itwire.com/content/view/28313/53/
- – Não é possível viver sem hierarquia;
Concorda-se em gênero, número e grau com isso.
Ninguém ousa dizer que agora as empresas 2.0 não terão hierarquia, mas elas serão diferentes. É o mesmo caso de um professor em sala de aula, depende de como ele “leva” os alunos. Deixa perguntar? Faz trabalhos em grupos?
Estimula a interação aluno-aluno?
Existem, assim, aulas e aulas, didáticas e didáticas.
Depende da cabeça do professor e de nenhuma tecnologia, que pode até ajudar, ou até atrapalhar, como já relatei aqui.
O problema que nossa hierarquia, principalmente a brasileira, vinda de Portugal, é autoritária, vertical, feudalista e, por que não, pouco inteligente, abafando e dificultando a inovação.
Ou seja, trata-se de uma nova forma de hierarquia mais aberta, com outras formas de controle.
Ela precisa ser implantada por uma questão de velocidade.
Lá fora, o mundo caminha de um jeito (marcha 5) e aqui dentro, de outro (marcha 3).
O tempo de resposta tem que ser o mesmo.
E hoje não é!
E isso implica em se repensar a hierarquia atual para uma nova, mais dinâmica.
Aliás, o que muita gente já fala há anos, mas agora tem tecnologia, cultura e motivo de sobra para sair do papel.
- – As redes sociais são perda de tempo e/ou – As redes sociais são boas para entretenimento e não para serem implantadas dentro de empresas.
E-mail pode ser perda de tempo, tevê, rádio, jornal, um bloco de papel na sua frente, trata-se de uma forma de comunicação original, que depende de quem está “pilotando” o processo.
Ou seja, instalar redes sociais nas organizações depende muito do foco que será implantado.
Existem diversas ferramentas de redes sociais, algumas propícias para alguns casos, outras para outros e cada uma com sua característica de melhor uso.
É preciso tempo de maturação.
A Rede Social em si não é nem isso e nem aquilo.
Diga-se, entretanto, que embutido nas redes sociais vem algo muito interessante.
Que é juntar o login a foto da pessoa.
Com ela, a Web deu a cada usuário uma presença virtual, que é fundamental dentro da empresa, para que se possa rapidamente saber quem é quem, quem faz o que, o que cada um acabou de fazer.
Isso é fundamental.
O pessoal de Gestão de Conhecimento procurava tanto ferramentas de competência, o Orkut já mostrou o caminho mais fácil.
A redes social corporativa 2.0 começa com o espaço virtual de cada um, a mesa virtual, que passa a reunir tudo que a pessoa faz lá dentro.
Isso, por si só, é um grande salto quântico nas empresas de hoje!
- As pessoas agora vão criticar os outros e vai se perder o controle do que é feito internamente;
Toda empresa tem banheiro.
Todo banheiro tem porta.
E na solidão daquele espaço cada um escreve o que quiser.
É comum ter funcionário escrevendo contra chefe na porta de banheiro?
Por que não?
Ninguém quer ser demitido!!!
Por que agora na rede aberta, onde cada um não está sozinho, pois coloca login e senha vai ser diferente?
É curioso, não?
As vantagens mais evidentes, por fim, de implantar projetos 2.0
- 1- troca entre diferentes setores;
- 2- saber quem é quem e quem faz o que;
- 3- repositório único de documentos, que permita se aprender com cliques, comentários, ações que a cada dia, os usuários fazem involuntariamente;
- 4- permitir que a latência de cada empregado saia para fora de forma natural, estimulando que ideias novas passem a circular.
Não, não é fácil, mas é preciso, por mais ondas que venha no meio da noite bater contra o barco!
Que dizes?
Nepo,
Recomendo a leitura do artigo “Seu chefe está espionando?”, do André Bernardo para a quase falida Revista Seleções de set/2009. Nele, se fala muito que o empregador, por lei, pode controlar o acesso à internet e demitir por justa causa caso algo saia do controle. Até aí, depende muito do que se faz com o acesso. Um dos casos é de um rapaz que foi demitido após utilizar o e-mail da empresa para passar um “material impróprio” para os colegas de trabalho. Mas, se ele tivesse levado uma pilha de revistas Playboy e colocado à disposição na mesa da secretária, a atitude do chefe poderia ter sido a mesma. Não é por causa da web, é pela falta de bom senso do empregado.
O problema não está na forma, mas na atitude que se toma, e isto as “empresas não 2.0” não enxergam. Atitudes que se tomam COM ou SEM internet, ou núcleo web, ou rede social… As empresas não aceitam que a web não veio pra mudar o mundo corporativo, o mundo corporativo que precisa da web para sustentar ou ressuscitar certos valores, como as redes sociais resgatando o valor da conexão e relação entre pessoas. Falar que “não vai haver mais hierarquia” é obsoluta ignorância.
Leandro, sábias palavras…
É isso estamos resgatando certos valores, que a tecnologia nos permitiu relembrar, grato pela visita e comentário.
Nepô.
Nepô, como sempre, suas colocações são perfeitas, só gostaria de agregar que todas estas resistências elas são agravadas no mundo das empresas públicas brasileiras, mesmo aquelas de TI, com tendências a modernização tecnológica. É uma mudança cultural grande, pirncipalmente na hierarquia, e aí argumentos contra irão surgir feito pipoca.
Abraços.
Carlos,
Muito bom o seu texto. Como eu já disse em outro comentário, os “donos” dos empreendimentos serão sempre os opositores às filosofias que os defenestrem do pedestal que eles criaram para si mesmos. Sejam eles empreendedores privados ou encarregados de gerir o bem público.
Luiz Ramos
Leandro, veja se consegue escanear e mandar que coloco o link aqui.
André, é isso, acho que temos que encarar como algo ideológico, mas vamos em frente, pois o futuro ao novo pertence.
Luiz, grato mais uma vez, pela presença, sim o novo traz agrotóxicos que matam o passado, mas, de alguma forma, poluem o futuro, num jogo de perde e ganha,
valeu a todos,
Nepô.