Projetos 2.0 eu entendo que seja olhar para o chão, mas não deixar nunca de continuar olhando para o céu – Rômulo Rocha, funcionário que participou do Wikishop, discutindo o projeto 2.0 na Dataprev – da minha coleção de frases.
(Este artigo em inglês / English.)
(Foi completamente revisto no dia 01/10/09.)
Como disse aqui no blog esta semana há em curso dois movimentos colaborativos na sociedade atual.
- Um tecnológico – o amadurecimento de uma dada tecnologia (Internet) que permite a colaboração a distância (muitos para muitos), através de ferramentas 2.0, depois de séculos de ferramentas unidirecionais, também a distância;
- Um ideológico – que pode ser entendida como a prática de trabalho em grupo colaborativo, que ocorre desde os tempos das cavernas, independente de qualquer tecnologia, que pode fazer uso, ou não, de ferramentas para ampliar as fronteiras de determinado espaço fisico. Assim, o uso de tecnologias colaborativas não nos leva necessariamente à colaboração, mas abre um amplo leque, que pavimenta a estrada para a participação voluntária, ou não, como veremos adiante.
Depois, é preciso perceber que dentro da implantação de tecnologias 2.0 há a possibilidade de extrairmos dois tipos de colaboração:
- A colaboração involuntária – cliques, ações do tipo, compras, baixar programas, atos que você se faz por necessidade ou desejo, intrinsicamente ligada ao ato de navegar, mas que, inconscientemente, sem saber, está contribuindo para que o sistema registre suas ações e trace um perfil pessoal e de determinado grupo, além de cada página ou conteúdo contido nesta. É uma novidade no mundo digital em rede, pois em tudo que fazemos agora deixamos agora rastros digitais, o que não era possível na Idade Mídia, nos livros, jornal, rádio e tevê. Nesse tipo de colaboração, a partir das ferramentas adequadas, você não gasta tempo para contribuir com o todo, pois é natural, faz parte da própria ação, do processo, perde-se se não se usa esse rico material;
- A colaboração voluntária – são ações que você deliberadamente expressa uma opinião, comenta, dá nota, avalia, bloga, wikeia, tagueia, responde a enquetes que dependem basicamente da vontade, da ação voluntária e da motivação, em última instância, para colaborar. Esta você precisa se dedicar um tempo para que possa ocorrer.
Essa percepção conceitual do processo nos ajudará bastante a pensar projetos 2.0 nas Intranets das empresas.
Há, assim, três movimentos diferentes de implantação, que podem ser paralelos, ou não, na implantação de Intranets 2.0.
Vejamos.
- Fase 1 – alterar a maneira que pensamos o trabalho, basicamente uma mudança cognitiva, para aceitar a introdução de ferramentas colaborativas involuntárias no processo atual, passando a ter uma nova forma de controle sobre os registros, arquivos de trabalho. Essa mudança consiste em deixar de salvar o resultado do trabalho no “meu HD”, ou no repositório fechado do meu departamento. Este fato mexe com os seguintes sentimentos arraigados na geração que está no mercado de trabalho atualmente: medo de perder poder, vergonha de se expor, corporativismos departamentais, jogos pequenos de poder, entre outros.
- Fase 2- início de uma nova forma de trabalho, através da implantação gradual de ferramentas 2.0, que permitam se beneficiar da colaboração involuntária, oriundas da Internet colaborativa, diretamente no trabalho do dia-a-dia, através da publicação em áreas abertas, eliminando, inclusive, a ideia de que projetos de desse tipo levará as pessoas a trabalhar mais. Não levam, pois como vimos acima, a colaboração involutária é automática, intrínseca ao navegar. Muda-se apenas a rotina de salvamento dos registros, antes fechadas e agora passam a estar abertas para acesso geral, permitindo também a complementação de dados por quem acessa (comentários, notas, tagueamento, etc) que com buscas, relevância pelos cliques (como faz o Google), etc. Desta forma, torna-se a curto, médio e longo prazo as atividades menos repetitivas, pois se saberá o que o outro fez e eu farei melhor em cima do trabalho já feito e em menos tempo, eliminado mais e mais a burrice coletiva involuntária atual para a inteligência coletiva involuntária; 😉
- Fase 3 – colaboração plena, tanto voluntária e involuntária, através da colaboração de todos, através de uma mudança de postura e de aproveitamento do “clique nosso de cada dia”. Espera-se que com o tempo e novas práticas da colaboração involuntária se faça menos tarefas repetitivas, pois se achará mais facilmente o que quer, se reduzirá o trabalho redundante. A experctativa é que com essa colaboração involuntária o tempo que se perde, procurando coisas, se reduza e passe a sobrar mais para a aprimoramento das rotinas, da forma que se faz as coisas, dedicando-se mais à inovação e menos para a repetição e duplicação de esforços.
Deste ponto, passa-se a comentar, taguear, blogar, discutir, aprimorar. Isso é facilitado, ainda mais, se houver um reforço da empresa em valorizar, do ponto de vista funcional, quem colabora voluntariamente com o todo.
Essa atitude passa a ser estimulada e reconhecida como uma peça importante pela comunidade, bastando o monitoramentos dos dados extraídos da própria rede (de baixo para cima, via meritocracia), como já é hoje na Internet, através de visitas, seguidores, assinaturas de blogs, etc.
A resitência corporativa é considerar que se passará a não ter mais controle, o receio de não saber o que é iniciativa ou desobediência, questões atuais de empresas que querem inovação e agilidade, passando o poder mais e mais para as pontas, mas mantendo normas de convivência.
Na verdade, passa-se a pensar a gestão da empresa, em um modelo de Gestão por redes, que desenvolvi melhor neste post.
Essas três fases resumem a meta de projetos 2.0 e é para onde as empresas lá fora estão caminhando, veja o trabalho do Jakob Nielsen, com comentários em português e espanhol.
Nos projetos que estou envolvido nessa área pude perceber que a primeira resistência está justamente em aceitar que a implantação de projetos 2.0 muda a forma de trabalho atual.
Ou seja, quer se implantar a colaboração em rede digital, mas sem mexer na empresa atual de hoje.
Um mito!
Que levaria necesariamente a sobrecarregar as pessoas, trabalhando mais e fora do expediente!
Se for assim, tem algo fora de foco!
O que se faz, logo de cara, é mudar a forma de trabalho para que não haja repetição, através da mudança dos repositório dos registros digitais, fruto do trabalho do capital intelecutal de cada empregado/colaborador.
Ou seja, um repositório 2.0 anti-redundância e repetição, participativo, e salvo automaticamente.
O que acontece, por falta de informação exata do que virá, pois é novo, é que as pessoas resistem bastante na tentativa de se criar atividades que não mudem a forma operacional de trabalho, uma fuga, para manter a empresa do jeito que está, sem a introdução de ferramentas colaborativas, mas criando ações falsas, fakes, fantasiosas para evitar o processo de mudança.
Se a direção da empresa não está firme nesse propósito, esquece!
Tem que ter um mega PAI-trocínio!
É muito fácil continuar a defender (com unhas e dentes) que colaborar e trabalhar são coisas diferentes.
(Essa concepção parte de uma uma visão equivocada do que é conhecimento, que nos leva a esse tipo de atitude, veja aqui.)
Isso deve ser denunciado e duramente combatido na implantação destes projetos 2.0, pois há um forte movimento para ficar nas empresas 1,5: com algumas ideias ou até algumas ferramentas 2.0, mas com uma forma de encarar o trabalho de forma antiga, gerando necessariamente mais trabalho burro e repetitivo, fingindo que é 2.0.
Não é.
De fato projetos desse tipo são basicamente mudanças na gestão.
Na forma, que vemos as redes.
As empresas são redes e assumem que precisam fazer a gestão delas internamente, usando o que há de mais dinâmico nessa prática, a partir da experiência da Internet.
Trata-se, assim, basicamente da mudança da forma de trabalho (do registro em local fechado para aberto) e, em última instância, de gestão da empresa, de um modelo de passagem de um controle da informação mais verticalizado (de cima para baixo) de um mais solto horizontalizado (de baixo para cima) com novas formas de controle, a partir da experiência da Web, em redes.
Não é, portanto, anarquia, mas um novo tipo de gestão operacional, mais coerente com a atual velocidade do mercado e extraindo tudo de bom que a Internet tem trazido para o mundo, gerando mais inovação e valor, em última instância!
(Tudo ficará mais fácil de ser aceito, quando o concorrente começar a implantar a ideia. O problema que você estará atrás dele!)
Assim, projetos 2.0 são um combate frontal à neurose do mundo atual que torna antagônico os termos trabalho e colaboração.
É preciso, portanto, repensar, redefinir, recolocar o termo co-laboração (trabalhar juntos).
Escreva no quadro:
Não existe diferença entre colaborar e trabalhar!
Não existe diferença entre colaborar e trabalhar!
Não existe diferença entre colaborar e trabalhar!
Não existe diferença entre colaborar e trabalhar!
(Aliás, o centro de implantação da Intranet 2.0 do HSBC.)
Ou seja, passo 1, pensar de forma diferente o ato em si do trabalho.
Hoje, nós eu-laboramos.
Bom, resumindo tudo em outras palavras para não deixar margem de dúvidas.
Nós somos pagos para produzir registros cognitivos e o resultado desse trabalho não está disponível para toda a organização. Quando está, não permite que quem visite cada um destes registro colabore de forma involuntária, através das novas ferramentas colaborativas 2.0, clicando e acrescentado relevância.
Ou mesmo de forma voluntária, comentando, dando nota, para tornar cada resultado do trabalho efetivo mais relevante, inovador e preciso.
Evitando assim jogar dinheiro (resultado do capital intelectual) pela janela!
Por fim, a introdução de ferramentas colaborativas no processo de trabalho, muda necessariamente o local de onde salvamos, sem aumentar em um segundo o tempo gasto com isso.
Como disse a Sara na Dataprev:
“Não pode criar problema, mas tem que ser uma solução!”
Ou seja, ao se trabalhar e salvar em lugares públicos corporativos não se está trabalhando mais, mas está se salvando o resultado do nosso trabalho de forma diferente, sem aumentar em nada o tempo atual gasto.
Escreva no quadro:
Se um projeto 2.0 aumentar a carga de trabalho das pessoas está com o foco errado;
Se um projeto 2.0 aumentar a carga de trabalho das pessoas está com o foco errado;
Se um projeto 2.0 aumentar a carga de trabalho das pessoas está com o foco errado;
Se um projeto 2.0 aumentar a carga de trabalho das pessoas está com o foco errado;
Um modelo similar ao que o pessoal de sites de software já fazem há anos, veja a tabela abaixo:
Ou seja, ao invés de se fazer trabalho dobrado, mais e mais a organização 2.0 evitará repetições.
E se dedicará à inovação, colocando as pessoas prontas para se chegar a segunda fase, a da colaboração voluntária, justamente do tempo que vai sobrar com o fim do trabalho repetitivo.
Espera-se um trabalho mais motivado e usando a mente de forma mais criativa.
Conseguiremos?
Que dizes?
Meu caro, desculpe usar este espaço, mas estou desenvolvendo uma pesquisa de mestrado sobre ciberativismo e gostaria de sua opinião. Qual o e-mail que posso enviar mais detalhes?
Lucas: nepomuceno@pontonet.com.br
abraços,
Nepomuceno.
[…] Veja mais detalhes sobre projetos de Intranet 2.0, aqui. […]
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Eu sou tutor na Espanha de cursos EAD de Comunicação Digital pagos pelas empresas para seus empregados. A implementação de novas ferramentas têm sucesso absoluto quando é o próprio trabalhador o que percebe os benefícios. Mas quando é a organização a que os deve perceber (e primeiro valorizar), falta-lhes vontade, falta-lhes mudar sua filosofia de trabalho. Como dizes, não é só fazer as coisas mais rápido e melhor, é fazer coisas de jeito novo e fazer de jeitos novos.
Alberto, concordo inteiramente.
O problema é a mudança cognitiva, a mais difícil, tende-se sempre a trabalhar, assim, com tecnologias, que é mais fácil, mas não dá resultados,
abraços,
grato pela visita,
Nepô.